— De vagabunda!

— Ah, é? Você acha isso? Vamos falar um pouco sobre ser vagabunda. A vagabunda aqui não tava com um cara enquanto sabia que ele era a fim de outra. A vagabunda aqui não teria “roubado” ninguém de você se eles de fato gostassem de você. Acho que o problema aqui não sou eu. Eu quero de verdade que você se foda! E você queria me irritar? Parabéns, Natalie. Você conseguiu.

— O que você...

— Eu vou sair dessa porra desse quarto. Ela não chegou aqui primeiro? Pois então.

— Amanda! – gritou Rodrigo – Para com isso, cara, sério! Tá chovendo...

Ignorei-o. ignorei os apelos de todos eles e o fato de estar de pijamas. Desci até a secretaria e me apoiei no balcão.

— Eu quero que me remanejem! – gritei. A moça se virou pra me encarar – Eu... Eu sou claustrofóbica! Minha cama fica longe da janela, e...

— Para de frescura! – berrou Desirèe.

E vi aquela coisinha pequena e branquela correndo até mim.

— Por tudo que é mais sagrado, se você faz uma merda dessas, ela vai achar que venceu, daí vai ficar insuportável, daí...

— Daí fudeu pra vocês – disse, rindo

— Exato.

Ela me abraçou com tanta força que eu simplesmente não pude deixar de ceder às suas vontades. Ela sorriu e a moça da secretaria me encarou. Apenas neguei com a cabeça e voltamos ao prédio do nosso dormitório. Passamos um bom tempo no térreo, na parte coberta, observando a chuva. Até que senti mãozinhas quentes sobre minha cintura.

— Você...Vai embora mesmo?

— A Dê me convenceu a ficar.

— Ah – disse ele, sorrindo – Isso é bom...

Assenti com  cabeça e passamos um bom tempo em silêncio, os três ali. Depois, agarrei o braço de Desirèe e Gabriel agarrou o meu, e assim subimos para o quarto.

— Ué, resolveu voltar, foi? – disse Natalie, um tanto irônica. Ignorei – Ei, eu to falando com vo...

— Foda-se.

— Quanta classe.

— Minha filha, eu tenho mais classe num fio de cabelo do que você toda.

— Isso é verdade – comentou Rodrigo, fitando o nada – Amanda é a mocinha mais classuda que eu conheço. Quero dizer, você também, Chloe, mas...

— Cala a boca, Rodrigo.

— Epa, agora ela vem agredir o pobre Rodrigo também! Fica tranquila, Natie, ele não quer seu homem não. Na verdade, ninguém quer. Mas né, pra segurar macho você precisa espantar todo mundo de perto dele...

Thiago soltou uma gargalhada estridente e me abraçou por trás, apoiando a cabeça em meu ombro com certa dificuldade, já que era um tanto mais alto que eu.

— Minha garotinha se defendendo so-zi-nha dessa vagabunda!

— O que foi que eu fiz pra ser considerada a vilã da história?!

— Ah, minha filha, você tava namorando um menino que sabia que gostava de outra. Isso não é algo muito legal, sabe.

— Mas eu não...

— Não se faça de burra! – gritou Henrique – Você é cega ou ta tentando fazer a gente de trouxa?!

— Nenhum dos dois – gemeu

— Então sabia o que o Gabriel sentia – disse Lucas, fitando-a. de repente, todos estavam unidos contra Natalie.

— O Gabes não sente nada – repreendi.

— Viu, ela pode falar!

— Mas a Mandie é inocente.

— Uma inocente que bebe vodka no café da manhã, tem seus problemas com cigarros, vive agarrada no macho dos outros, e...

— Escuta aqui, sua putinha de esquina... Você pode falar dos meus vícios, da minha conduta para com a sua pessoa, da minha falta de classe, pode falar do que você quiser! Mas quem eu abraço ou deixo de abraçar é problema meu e das pessoas as quais estou demonstrando carinho. Se eu abraço o Gustavo, se eu abraço o Thiago, se eu abraço a PUTA QUE LHE PARIU, o problema é meu. Você não tem nada a ver com isso, se partirmos do pressuposto que você não é dona de nenhum deles, a propósito, nenhum deles gosta de você. E eu duvido que qualquer um nesse quarto, agora, realmente goste. Porque você é a pessoa mais incrivelmente digna de pena com a qual já tive o desprazer de lidar. Tudo o que eu sinto por você é isso, sabe? Lástima. Nojo. Você não é digna do meu ódio. Eu me recuso a odiar alguém tão sujo e tão baixo quanto você. E pode ter certeza de uma coisa: se eu ainda estou aqui, não é pra lhe deixar irritada nem nada disso, eu estou aqui por todas as outras pessoas que se encontram nessa sala, que são seres humanos maravilhosos e não vou sacrificar o que eu tenho com eles por você. Fui clara?