Colégio Interno escrita por Híbrida
Ele soltou uma risada debochada e eu ri baixinho, abraçando-o pelos ombros. Continuamos andando pelas até as quadras de tênis e encontramos uma delas vazia.
— Quer jogar?
— Sim! – gritei – Poderíamos fazer um bate bola jogo rápido!
— Mas o quê?
— Jogo de perguntas e respostas.
— Ah, sim – disse ele, assentindo e rindo baixo – Gostei. Vamos.
Entramos na quadra e cada um pegou sua raquete. Lá estava Gustavo, pulando feito criança e me fazendo rir.
— Eu começo – disse, sorrindo – Qual o problema de ligar no dia seguinte?
— Ué, porque não gostamos delas – disse, dando os ombros – Qual o problema de responder direito nossas perguntas.
— Vocês só perguntam coisas idiotas. Qual a graça de magoar alguém?
— Ah, nem todos são assim, Amanda. E por que as melhores amigas sempre sabem de tudo?
— Como se o melhor amigo não soubesse. Tem essa de menina pra namorar e ficar?
— Mas é lógico!
— Como é?!
Joguei a bola um pouco mais forte do que deveria, e do que o garoto estava esperando. Gustavo me encarou assustado. Sentou-se no chão e colocou delicadamente sua raquete no chão, erguendo as duas mãos como se tivesse se rendido.
— Como assim?! – gritei.
— É, tem menina que não foi...
— Ah, por favor, Gustavo, que machismo.
— Tem menina fácil, Amanda, entenda! Eu não vou namorar alguém que já pegou todos os meus amigos!
— Eu não acredito que estou tendo essa conversa contigo.
— Nem eu – disse, rolando os olhos – Mas e menino?
— Quê?
— Meninos pra ficar e namorar...
— Claro que não. Meninas não pensam assim. Se elas se envolvem com alguém, se envolvem no intuito de...
— Amanda, sem mimimi pro meu lado.
Ele balançou uma mão como se ela estivesse falando comigo, o que me fez rir alto e encará-lo. Como um ser humano podia ser tão estúpido e tão amável? Passamos algum tempo falando sobre assuntos completamente desconexos, já que esta era a habilidade especial de Gustavo.
— Desisto do tênis, podíamos fazer outra coisa.
— Tipo deitar e dormir?
— Não, tipo se sentar num lugar mais calmo, quentinho, com um delicioso cappuccino e um enorme croissant bem amanteigado...
— Eu nunca vi mulher pra comer mais que você, é absurdo!
Ele me segurou pela mão e caminhamos até a cafeteria, de novo. E adivinhem? Desirèe e Henrique ainda jaziam ali. Isso porque ela nem queria ir para lá. Ri baixinho.
— Ui, ainda estão aí?
— Para – resmungou Dê, escondendo a cabeça no ombro do garoto.
— Parei. Vamos, Gu, não fiquemos de vela.
— De novo não, pelo amor de Deus.
Ela riu e corou. Puxei Gustavo pelo braço e sentamos num canto mais afastado. Pedi meu cappuccino e mais dois croissants. Gustavo tirou a carteira do bolso.
— Vai pedir o que?
— A conta, antes que você invente de pedir mais alguma coisa.
— Mas você não precisa pagar.
— Porém, sou um cavalheiro.
— Para com isso, Gustavo.
— Não reclama.
Abaixei a cabeça e mordi o lábio, fitando-o por cima dos óculos de aviador.
— Reinicie o jogo.
— Quando vocês fazem isso... – disse, me encarando – Nos olham com esses olhinhos... É pra seduzir, é pra encher, é pra quê?
— Seu insensível – disse, encarando-o séria – Você realmente tá perguntando isso?
— Vale como sua pergunta?
— Claro que não, seu ridículo!
— Desculpe... Pode me responder?
— É involuntário. Significa que ela está interessada de maneira sincera – disse, rolando os olhos – O sorrisinho doce e morder os lábios depois.
— O mesmo motivo.
— Calúnia! – berrei.
Quando digo berrei, quero dizer a ponto de todas as pessoas da cafeteria me fitarem assustadas, até porque, eu havia berrado em português. Gustavo riu baixinho e abaixou a cabeça.
— Sério, pequena.
— Não seja mentiroso
— Quer ver? Henrique! – gritou ele.
— O quê?! – gritei em uníssono com o garoto. Cada um com uma entonação e por sua maneira, mas gritamos juntos.
— Venha cá!
Ele veio, puxando consigo Desirée, que me encarou assustada.
— Estamos fazendo um joguinho e precisamos da opinião de vocês.
— Os olhinhos – disse, interpretando – São pra seduzir, apenas encher ou porque estamos interessadas e emocionalmente envolvidas, Desirèe?
— Alternativa C.
— Obrigada!
— Isso é óbvio. – disse Henrique.
Ri e mostrei a língua pra Gustavo, que me empurrou de lado, fazendo-me emburrar. Ele riu e me puxou de volta, beijando o topo de minha cabeça.
— Ok. E aquele sorrisinho? – disse ele, interpretando.
— Seduzir e pegar todas que aparecerem e forem tontas de cair nele! – gritou Henrique, pulando.
Soltei um fonema desconhecido até por mim, apontando o dedo na cara de Gustavo e praticamente sambando em cima dele.
— Obrigada, Henrique – disse, sorrindo – Você é sempre útil!
— Muito obrigado pelo apoio, seu bostola – disse Gu, emburrado. Apertei sua bochecha, beijando-a logo em seguida.
— Alguém quer me explicar que quiprocó é esse aqui?
Mãos apertaram docemente minha cintura e me puxaram para trás. Senti um arrepio percorrer toda minha espinha e me contorci. Olhei pra trás. Gabriel.
"Não, Amanda, sua tonta. É o espírito de Cainho que voltou pra lhe assombrar". – pensei em seguida.
— Acha que é assim que as coisas funcionam, rapaz? Você chega, me abraça e fica assim?
Ele assentiu com um sorriso bobo, debochadíssimo, e apoiou o queixo no topo de minha cabeça. Desirèe muromurou um “awn” e eu bufei, entediada.
— Adoro fazer isso.
Rolei os olhos e mordi bruscamente o croissant. Gu me encarou e soltou uma risadinha cínica. Era linda, mas incrivelmente irritante.
Era como se houvesse um complô pra debocharem de mim.
— Quer mais um croissant? Parece estar com fome...
— E por que você está pagando as coisas pra ela?!
— Porque sou cavalheiro...
— Eu pago! – gritou Gabriel.
— Mas vocês são chatos, hein. Eu to sem fome, vou embora.
Saí andando, jogando o croissant no pratinho. Estava pronta para ir até o dormitório, mas dei meia volta.
— Isso aqui eu ainda quero – disse, pegando o cappuccino.
Levantei-me, trotando de volta para fora. Passei por Bruna e Lucas, então Pomme soltou-se delicadamente dele pra vir atrás de mim.
— O que houve, miss Draminha?
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