Olhos De Aquarela escrita por Star


Capítulo 7
Iniciar Operação Descobrimento do Passado da Coala


Notas iniciais do capítulo

"Nunca teve vontade de saber o que aconteceu com você? Saber de onde veio ou quem são seus pais?"



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– O que há de errado com você?




Perguntou Alex, por fim, depois de caminhar por mais ou menos quinze minutos ao lado de uma Nina emburrada.




Os dois estavam no parque da cidade, caminhando lado-a-lado pelo caminho feito de pedrinhas redondas, e era óbvio o motivo pelo qual Alex escolheu aquele lugar como surpresa. Toda a grama verde que se inclinava com o vento, a água cristalina do lago à frente cheio de patos branquinhos e até mesmo as árvores formavam algo como um jardim do éden. Era um dos melhores lugares possíveis para um ex-cego se familiarizar com o sentido da visão, exceto pelo fato de que, desde que saíram do apartamento, Nina apenas olhava para os próprios passos, pensativa, e não falava coisa alguma. Finalmente, com a pergunta, ela se tocou de que talvez não estivesse sendo uma companhia exatamente boa.


– Nada, nada. É só que... – Deixou a frase morrer, enquanto tornava a abaixar a cabeça e encarar seus pés pelo caminho.

– Que...?

– Me sinto meio culpada por ter deixado a Dani sozinha. Ela está passando por um momento difícil... Eu deveria ter ficado lá com ela.

– Ah, isso – o garoto pareceu um pouco aliviado. – Não precisa se preocupar, baixinha. Você fez o que deveria fazer. Dani precisa de um tempo sozinha, pra livrar-se da tristeza, chorar tudo o que precisa. Mais tarde vamos falar com ela de novo. E anime-se logo, sim? A sua cara está começando a deprimir os outros. Juro, você já fez umas duas crianças chorarem.

Nina tentou sorrir e levantou o olhar para finalmente dar à paisagem a atenção que merecia. Haviam famílias espalhadas pelo parque e a risada das crianças correndo podia ser ouvida de longe – junto de uns gritos desesperados de “PELAMORDEDEUS VOLTA AQUI, MÁRIO ALBERTO! COLOCA ESSA CALÇA DE VOLTA! TODO DOMINGO É A MESMA COISA!!”. Era um lugar realmente agradável. Nina viu inclusive muitos casais sentados em toalhas de praia coloridas pela grama, puxando dentes-de-leões da terra e dividindo um lanche. Muitos casais, na verdade. Até os que traziam crianças as deixavam livres com um balão para correr e poderem passar um tempo a sós. Como ela e Alex estavam fazendo. Não, espera.

Por que isso parece tanto com um encontro?”, pensou, meio nervosa, a cabeça involuntariamente recapitulando revistas bobas adolescentes que ditavam os comportamentos certos e errados para um primeiro encontro. Nina corou. “Nós dois só viemos juntos para cá, para andar. Não faz sentido encarar como um encontro. Até passamos a noite juntos! ...N-NÃO, NÃO É NESSE SENTIDO! SAIAM, PENSAMENTOS RUINS!”

Nina apertou os olhos com força, chacoalhando a cabeça para ver se as ideias maliciosas derrapavam pelo ouvido e morriam de uma queda dolorosa até o chão. Seu conflito interno constrangedor foi interrompido por Alex, dizendo:

– Vamos, me fale mais sobre a sua vida.

– Ahn... Tá legal, só que não acho que eu tenha muita coisa pra contar.

– Tudo bem, afinal eu não sei praticamente nada sobre você. Fora o fato de que não simpatiza com coalas e tem sonhos quentes comigo.

Nina estancou, todo o sangue de seu corpo dirigindo-se às maçãs do rosto e entrando em combustão. Ela falou alguma coisa durante a noite? Tinha chamado o nome dele enquanto dormia? Mas ela sequer lembrava-se de ter sonhado com algo! então, então, então... I-isso era impossível, certo? Certo? “MEUDEUS, O QUE FOI QUE EU DISSE?”

– Calma, calma. – Ele riu, da forma que só conseguia rir quando a provocava. – Foi brincadeira. Na verdade, você dorme como uma pedra.

– Droga, odeio quando você faz isso... – Suspirou, regularizando novamente seus níveis de pressão.

– É necessário pra descobrir certas coisas. Por exemplo, que você realmente já teve sonhos quentes comigo. Se não tivesse tido, não entraria em desespero. Calma, também não precisa ficar tão nervosa – Defendeu-se ainda com um sorriso dos soquinhos fracos que ela tentou lhe dar.- Acho que você ia me contar a história da sua vida, não era?

– Arg, tudo bem. – Nina revirou os olhos enquanto pensava por onde deveria começar. Na verdade, não havia um começo para ser contado, apenas um grande buraco negro no lugar onde deveria toda a memória que pertencia à sua infância. – Quando eu tinha mais ou menos seis anos, apareci quase destruída em um hospital. Os médicos disseram que alguém tinha me salvado de um acidente e me levado até lá, quer dizer, eles meio que deduziram isso, já que eu estava toda quebrada e nem de longe teria conseguido chegar até ali sozinha, mas ninguém quis dar o nome pra fazer uma ficha na secretaria. A tal pessoa só me deixou lá e sumiu, entende? O mais estranho foi que nunca ninguém apareceu pra me buscar. Não tinha nenhum casal desesperado que tivesse perdido sua filhinha por aí. Eu também não me lembrava de nada, o que não ajudou muito. Tudo o que veio comigo de antes foram muitos ossos quebrados, e por mais que me perguntassem tudo o que eu lembrava era meu próprio nome.

“Muitos médicos me disseram que isso poderia ser uma amnésia temporária causada pelo acidente que me machucou tanto. Mas os psicólogos - e acredite, eu fui a muitos desses -, disseram que eu passei por uma experiência ruim e a bloqueei, por isso não lembrava de nada. Virei uma hóspede do hospital, e passei a morar na ala das crianças, já que ninguém nunca apareceu para dizer quem eu era e me levar de volta.”

“Algum tempo depois a Eva entrou no hospital como uma voluntária, como você. Ela sempre foi muito carinhosa com todas as crianças, mas nós éramos realmente próximas e ela resolveu que me queria como filhote. Demorou algum tempo até a justiça aprovar a coisa toda e então eu vim morar com ela. Nós demos certo, apesar de tudo. Somos bastante solitárias, mas continuamos alegres, otimismo total. É engraçado vê-la tentando bancar a mãezona, apesar de ser mais desastrada e medrosa que eu. Você vai gostar dela. Eva está agora no sul cuidando dos pais dela que tiveram uma crise de catapora ou algo do tipo, coisa grave na idade deles. Sei que eu deveria trata-los como vovó e vovô mas nunca cheguei a conhecer os dois, e ela ter me deixado sozinha às vezes me dá a impressão de que não quer que eu os conheça – Nina fez uma pausa, meio pensativa. – Acho que Eva é viúva ou algo do tipo e quer evitar dar outras grandes emoções aos pais. Não sei muito sobre ela, na verdade. Ela não sabe sobre o meu passado, eu não sei muito sobre o dela e nós duas vivemos felizes deixando isso tudo quieto.

– É uma história e tanto – Alex disse, parecendo impressionado. - Nunca teve vontade de saber o que aconteceu com você? Saber de onde veio ou quem são seus pais?

– É claro que tenho, mas o que posso fazer? Não tenho nenhuma pista, e depois de sabe-se lá quantos anos de terapia ainda não consegui me lembrar de nada. Acabei me conformando.

– Quanta falta de atitude, se conformar com um pedaço da sua vida faltando! – Ele gritou, indignado. - Vamos mudar isso. Eu vou te ajudar a resgatar esse buraco negro da sua memória.

– Se em dez anos eu não descobri nada, por que seria diferente agora?

– Não é óbvio? – Fez uma pausa dramática, e continuou, com um enorme sorriso. - Porque agora você tem a mim!

Nina soltou um suspiro cansado, em total contraste ao entusiasmo do loiro.

– Ao invés disso não acha melhor só me contar um pouco sobre você?

– Nah, é bem mais interessante fuçar a sua vida. Vamos.

Alex segurou a mão da garota e começou a correr de volta por todo o caminho que já tinham percorrido.

– Como assim “vamos”? Vamos aonde? – Nina falou atordoada, enquanto era puxada aos tropeços.

– Pro hospital, óbvio. Não foi lá que a sua vida começou?


Depois de um trajeto de pouco mais de meia hora de ônibus, os dois chegaram ao hospital São Vicente de Paulo, o lugar que Nina mais visitou em toda a sua vida, fora a geladeira da cozinha. A garota estava contrariada consigo mesma e fazia anotações mentais sobre ter de começar a resistir ao entusiasmo quase infantil daquele loiro, ou iria acabar se metendo em problemas muito grandes.




– Tudo bem, eis o plano-...




– Eu seguro e você bate? – Brincou, sem conseguir evitar.


Ssh, a coisa é séria. Quer ou não quer descobrir sobre o seu passado?

– Aparentemente não tanto quanto você.

– Vamos fazer o seguinte: eu já conheço todo o lugar então vou me esgueirar até a sala onde eles guardam os arquivos e pegar o seu registro, e você distrai todo mundo pra me dar cobertura – Seus olhos brilhavam enquanto ele falava, o que só servia para comprovar para Nina que aquele garoto era muito provavelmente hiperativo, e semi-autista.

– Ei, por que você fica com a parte boa?

– Porque eu sou muito bom – e abriu um sorriso enorme.

Nina se calou e mentalmente deu ênfase à seção “aprender como resistir ao sorriso desse loiro boboca” que está encardenada em sua mente. Um pequeno inconveniente lhe veio à cabeça, mesmo com toda a sua irritação.

– Mas Alex... Eu não consigo ver quando estou longe de você. – Comentou, constrangida por ter de lembrá-lo de sua deficiência esquisita, mas o garoto não pareceu se abalar.

– Vai ser rápido, baixinha. Não precisa se preocupar, eu volto pra você.

Nina corou, em total contrariedade aos seus neurônios permanentemente carrancudos com o garoto por tudo o que ele lhe aprontara nos últimos dias. Alex ainda sorria, animado com sua pequena aventura e sem perceber o quão tocante e frase de filme de amorzinho foi o que disse.

– Muito bem, plano entendido? Todos a postos. Iniciando operação descobrimento do passado da coala teimosa!

– Eu não sou teimos-...!

Antes que pudesse terminar de falar o loiro entrou no hospital. Ela sentiu pena por ele. Na verdade, quase riu. Alex parecia um esquilo hiperativo que caiu em um pote de café, ou um ex-viciado farejando novalgina, e todos estavam olhando para ele. Que péssimo espião!

Tudo bem, essa era sua deixa, o que poderia fazer para distrair todos alí? Hm, só uma coisa lhe vinha em mente, mas não poderia... Bem, quem está na chuva é pra se molhar, e já que estava em uma situação tão esquisita, vamos usar a ideia mais esquisita que vier em mente.

Nina respirou fundo para conseguir coragem, escancarou a porta e entrou berrando a todo pulmão:

– OH MEU DEUS! ESTOU CEGA! OH NÃO, SENHOR, EU ESTOU CEGA! POR QUE, MEU DEUS, POR QUE FIZESTES ISSO COMIGO?! SOCORRO, POR FAVOR, SOCORRO!

Imediatamente ela foi cercada por enfermeiros e outros pacientes curiosos com tanto escândalo. Nina sabia que provavelmente Alex estava rolando pelo chão de tanto rir em algum lugar, mas era bom que aquele loiro retardado aproveitasse a oportunidade de ouro, porque não há nenhuma mísera chance de ela fazer algo tão constrangedor novamente, não senhor!

– Acalme-se, meu bem, o que aconteceu?

– Aqui, deixe-me ver os seus olhos.

– Você tem plano de saúde?

Não sabia se era por culpa de toda as mãos, vozes e agitação ao seu redor ou por Alex estar se distanciando, mas Nina começava a se sentir tonta. E mais, sentia-se enjoada. Uma dor de cabeça terrível. E a pancada de dor nos olhos. Certo, era realmente culpa do loiro.

Antes de ter seu mundo apagado, Nina ouviu uma voz conhecida lhe chamar.

– Nina? O que você está fazendo por aqui?

Um homem de cabelos castanhos compridos presos em um rabo-de-cavalo, usando um jaleco branco e um estetóscopio estava vindo até ela. Pela voz o reconheceu como Ícaro, um dos seus médicos antigos. Aos poucos tudo ao redor foi escurecendo e a imagem do médico foi trocada por um borrão verde-claro.

Nina esforçava-se para não desmaiar, começava a achar ridículo que isso acontecesse toda vez. Uma hora ou outra teria de se acostumar com seu liga-desliga de visões.

Caiu de joelhos no chão, completamente zonza. Podia ouvir o médico espantando as pessoas ao redor e sentiu-se sendo colocada sobre uma maca. Era tão estranho, ela estava começando a se acostumar a ver as coisas, de modo que agora sentia como se estivesse flutuando em um espaço inacabável. Não fazia muita diferença quando estava em pé ou deitada, mas sabia que estava sendo levada para algum dos quartos do hospital.

– Tá tudo bem, Ícaro, eu estou bem... – Murmurou, ainda sem conseguir se mexer.

Sentiu um pedaço verde do médico encostar em sua testa, estava medindo sua temperatura.

– Tudo bem, Nina, vou fazer uma bateria de testes em você e lhe receitar alguma coisa, não precisa se preocupar.

– Não, eu estou bem.

– Quer algo para dormir? Pode ajudar. Aqui, Cecília, me traga uma dose de-...

– Já disse que estou bem! – Nina falou, mal-humorada, e finalmente conseguiu força nos braços o suficiente para se erguer e se sentar na maca.

– Oh, mesmo? Então por que entrou no hospital fazendo tanto escândalo?

Nina pensou em todas as desculpas possíveis que poderia usar, e infelizmente não eram muitas. Até mesmo a desculpa verdadeira parecia uma mentira descarada. O que levaria um cego invadir um hospital gritando que não consegue enxergar?

– Hormônios. – Respondeu, dando de ombros. Pode parecer uma péssima resposta, mas não é tão ruim assim se for considerar que a outra opção era “fingi estar cega pra ajudar um garoto que conheci semana passada a invadir o hospital e roubar meus arquivos”.

O médico suspirou.

– Nina, alguém sabe que você está aqui?

– Não e eu ficaria realmeeeeeente feliz se você não comentasse o assunto.

– Sinto muito, mocinha, mas vou ter de ligar para que alguém venha lhe buscar e lhe dar uma bronca. Não necessariamente nessa ordem.

– Mas Ícaaaro.... – Nina choramingou e viu um borrão verde menos vibrante que o do médico surgir na escuridão.

– Doutor Ícaro, estão precisando do senh-... Oh, desculpe, não sabia que estava com uma paciente.

– Sem problemas. Nina, eu volto logo. Me espere aqui, ok?

– Claro, senhor, mal posso esperar para levar mais broncas!

– Estou falando sério, sua cabeçuda. – O médico falou, e bateu de leve com sua prancheta sobre a cabeça da garota. – Se você não estiver aqui quando eu voltar, vou fazer uma ambulância ir busca-la na sua casa e mandar algum dentista sádico arrancar-lhe todos os dentes, sem anestesia.

Nina riu, aquela era praticamente a mesma coisa que Eva lhe dizia todas as noites quando queria manda-la fazer o dever de casa. Esperou que os dois borrões verdes sumissem de sua “vista”, e que os sons de seus passos se misturassem aos ruídos costumeiros do resto do local. Então se levantou com cuidado da cama e foi se arrastando pela parede até alcançar a porta.

Era tão estranho estar de volta à escuridão. Sentia como se quase pudesse ver todas as coisas em que tocava, mas então percebeu que estava apenas imaginando-as.

Seguiu deslizando a mão pela parede pela direção que tinha quase certeza ser a da recepção, o que lhe foi confirmado quando ouviu em alto e bom som a voz entediada de uma das recepcionistas, o pequeno borrão prateado, atendendo o telefone, junto do burburinho eterno da sala de espera.

Precisou soltar-se da parede para entrar no hall em forma de C que levava à saída. Era quase como uma sensação de queda livre, com exceção de que os borrões que via não passavam em um ritmo frenético vindo em sua direção; elas apenas permaneciam aonde estavam, tossindo, ofegando e conversando.

Depois de alguns passos firmes e cuidadosos, todos os borrões ao seu redor começaram a dançar como em algum tipo de ritual bizarro, e logo todos se misturaram em um furacão furioso que explodiu na sua frente. Era uma sensação nauseante e ao mesmo tempo eufórica. Voltava a enxergar novamente.

A primeira coisa que viu foi o loiro depois do balcão da recepção, pulando histericamente enquanto apontava uma pasta em suas mãos.

Nina sentiu uma vontade enorme de rir mas conseguiu se conter. Não deveria participar de mais de um escândalo no mesmo dia, e principalmente porque uma das recepcionistas estava prestes a se virar para o loiro, que, afobado do jeito que estava, não percebeu isso. Ela poderia reconhecer a pasta, e quem sabe se Alex não havia sido visto na sala de arquivos e agora era um fugitivo procurado dentro hospital?

Nina usou mais uma vez de suas prestigiosas habilidades ninjas-espiãs, e praticamente se jogou sobre o balcão tão rápido que mais parecia um meteoro despencando sobre a Terra.

– EEEEEEEEI, BOMDIAADOREISEUCOLARPARLEVOUSFRANCESPODEMEDARUMAINFORMAÇÃO? – Abriu o seu melhor sorriso escancarado e hiperativo para a cara assustada da recepcionista.

A mulher tinha um rosto magro, de maçãs do rosto bem cavadas e não parecia ter mais de trinta anos, mas os óculos em forma de olhos de gato que usava a deixavam com ar de bibliotecária encalhada. Ela piscou algumas vezes, estranhando, mas logo voltou ao normal. Provavelmente já havia visto coisas bem piores por aquele hospital.

– C-claro. O que deseja?

Nina esperava que Alex percebesse que estivera perto de ser pêgo e fosse embora, mas ao invés disso o loiro permaneceu onde estava, olhando-a com a testa franzida como se perguntasse “o que está fazendo aí, coala? Vamos logo embora daqui”. Aquele loiro estúpido!

– Bem, eu gostaria de saber se... vocês... fazem... cla... reamento – Tentava manter a atenção da recepcionista em si, olhar para o loiro e fazer algum gesto que o mandasse ir embora, o que aparentemente estava além da sua capacidade de concentração.

– O quê? – A recepcionista estranhava ainda mais a atitude da garota, e estava quase se virando para ver para onde ela tanto desviava o olhar.

Nina pulou em cima do balcão.

– Clareamento! Nos dentes! Pra deixar branco, sabe? Acho que estou precisando, o que você acha?! – E abriu a boca, fazendo “aaaah”, ajoelhada em cima do balcão. Agora a recepcionista a olhava com medo, e Alex se escangalhava de rir lá atrás.

A mulher se afastou um pouco, olhando para sua boca, garganta e quase útero e Nina aproveitou a oportunidade para fazer um sinal agitado junto a um olhar raivoso para o loiro. Alex fez um sinal positivo com o dedão, ainda rindo, e saiu do hospital.

– Eu acho que está tudo certo com seus dentes... – Falou a recepcionista com cautela, temendo outro ataque de entusiasmo ou o que quer que estivesse circulando pelas veias da garota.

Nina desceu do balcão, visivelmente aliviada.

– Mesmo? Obrigada, então acho que não vou precisar. Vocês fazem um ótimo serviço por aqui. Se tivesse uma caixinha de sugestões, eu faria um elogio. Sério, é super coisa de primeira. Acho que vou indo, tchauzinho. Não precisa falar “volte sempre”, afinal, isso é um hospital, né? Haha. Não se preocupa, sei onde fica a saída. Beijo, abraço nas crianças!


Nina praticamente pulou para fora do hospital, afobada. Seu cúmplice de crime a esperava um pouco mais à frente, ainda rindo, com uma pasta debaixo do braço.




– Meu deus, você é hilária! Sério! Já pensou em ter seu próprio programa de TV? Já sei, vou te vender pra Fox!




– Haha, muito engraçado. Pegou a pasta certa, pelo menos?


– Claro que peguei. Que tipo de espião acha que eu sou?

– Do pior tipo, é claro. Me deixa ver.

Nina puxou a pasta magra de cor bege-clara, mas o garoto puxou-a de volta, segurando longe das suas mãos.

– Nãh-nãh. Em casa a gente lê. Tem que ter um pouco mais de suspense nessa história.











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Notas finais do capítulo

"VOLTA AQUI, MÁRIO ALBERTO! DESCE DESSA ÁRVORE! NÃO TÁ VENDO QUE TU TÁ ASSUSTANDO AS CRIANÇAS?! MÁRIO ALBERTO EU VOU TER QUE CHAMAR A POLÍCIA PRA TE TIRAR DAÍ DE CIMA???? NÃO É POSSÍVEL, TODO DOMINGO É A MESMA COISA, EU TÔ CANSADA DESSA PORCARIA, AINDA VOU TE LARGAR NESSE DIABO DESSE PARQUE PEGAR O CACHORRO E IR EMBORA PRO CEARÁ, NÃO AGUENTO MAIS MEU DEUS DO CÉU, MINHA MÃE ME DISSE QUE ESSE CASAMENTO NÃO IA DAR CERTO MAS MULHER É BURRA TEM QUE FICAR INSISTINDO PRA QUEBRAR A CARA MESMO. MÁRIO ALBERTO PARA DE MOSTRAR A BUNDA E DESCE DESSA PORRA AGORA!!!!"