Capitulo 3

De repente meu mundo parou. Nada mais importava. Não importava que a missão fosse suicida. Não importava que Alice e Jasper estavam correndo perigo. Não importava que Arthur existia ou que eu pudesse morrer.

Tudo que me importava estava ali na minha frente.

Bella.

Sorri como há muito tempo não fazia. Ela estava me dando esperança para continuar a lutar. Em alguma parte, dentro dela, ela sabia quem eu era. E eu iria ajudá-la a se lembrar.

“Matheo?” Bella disse me olhando curiosa

Despertei do meu devaneio em tempo de pensar em alguma coisa para lhe responder. Eu odiava isso, mas teria que mentir para ela. Para o meu bem. E para o dela.

“Bom” eu disse tentando parecer convincente “não que eu me lembre Bella!”

Ela me olhou interrogativa e imediatamente eu percebi que tinha falado demais...

Idiota! Pensava incansavelmente.

“Bella?” ela disse me analisando “Como sabe que eu prefiro ser chamada assim?”

“Eu..” as palavras fugiram instantaneamente! O que eu diria? A primeira desculpa esfarrapada que me viesse a cabeça... “é que.... bem, Alice e Jasper te chamaram assim... achei que não teria problemas em te chamar de Bella”

Disse a ultima palavra num tom próximo ao sussurro e acrescentei um sorriso torto para confirmar a mentira e para meu deleite e alegria vi Bella estremecer. Eu de alguma ainda mexia com ela. E, talvez, do mesmo modo como ela mexia comigo. Ah! Como eu queria ouvi-la sussurrar meu nome novamente!!

“Hum...” ela disse não se convencendo, mas resolveu deixar o assunto de lado. “Vou ver Alice agora. Até mais, Matheo” Ela disse meu nome de uma forma estranha, meio sussurrada é verdade, mas era como se ela soubesse que aquele não era meu nome verdadeiro.

O coração tem razões que a razão desconhece. Já dizia um velho sábio.

Fechei a porta do meu novo quarto e sentei numa pequena poltrona para pensar. Eu tinha uma longa missão pela frente.

As horas passaram demoradas enquanto eu pensava em tudo que estava acontecendo.

Ouvi passos vindos do corredor e em seguida Alice entrou no quarto com seu típico ar de fadinha, embora agora ela estivesse meio preocupada.

“Vamos” ela disse apreensiva “Aro e os outros estão nos esperando”

“Alguma coisa especial?” perguntei mesmo não querendo saber

“Eles não são do tipo que confiam nos outros, Matheo, você sabe!”

É.. eu sabia! Mas isso não melhorava o fato de que eu tinha que encontra-los.

“Alice, como eu posso esconder alguma coisa de Aro? Com um simples toque ele vai descobrir tudo!” Disse temeroso com o que podia acontecer

“Fique calmo!” Baixou o tom de voz em menos que um sussurro “Pedi a Bella que ajudasse”

A menção de Bella me ajudando me deixou feliz e preocupado ao mesmo tempo. Feliz porque isso era um sinal de que ela se preocupava comigo. E preocupado porque eu estava a colocando em risco.

Assenti fracamente com a cabeça e segui Alice para fora do quarto e depois pelos enormes corredores do castelo, até chegar ao amplo salão em que fomos recebidos anteriormente.

Havia muitos vampiros reunidos ali, provavelmente me esperando, e isso me fez perder a coragem. Era insano demais estar ali. Eles iriam descobrir.

Passei os olhos pela multidão tentando localizar os rostos conhecidos. Na verdade eu só queria um deles. Um par de olhos calmos e gentis que me faziam esquecer totalmente de mim e só pensar neles.

Olhei primeiramente para o trio soberano acomodado em seus enormes tronos.

Marcus. Aro. Caius.

Olhei para a guarda que estava magnificamente posicionada ao longo do salão, como se fossem estatuas perfeitamente entalhadas. Todos os rostos me eram estranhos, apenas vistos na hora em que cheguei.

Olhei então para o pequeno séquito que estava atrás dos tronos.

Alec.

Jane.

Félix.

Cada um deles carregado de rancor e ódio. E o pior, de poderes extraordinários. Continuei a percorrer com os olhos os membros do pequeno grupo.

Demetri.

Arthur.

Minha vontade de matar aquele vampiro. Por que? Porque ele estava novamente abraçado com a MINHA Bella!! E com pensamentos nada puritanos. O que me deixou mais puto ainda.

“CALMA EDWARD!” Pude ouvir Alice gritar em pensamentos “NÃO PODEMOS ESTRAGAR AS COISAS”

Estragar? Não. Aquele maldito ia ficar muito mais que estragado depois que eu acertasse ele. Ele não perdia por esperar. Eu iria resgatar Bella.

Bella.

Finalmente encontrei seus olhos. E neles encontrei mais uma vez a vontade de abraçá-la e te-la em meus braços.

Idiota! Me disse pela milésima vez. Ela não deveria fazer isso por você! Você não merece seu amor.

Mas seus olhos me diziam o que mais ninguém sabia. O que infelizmente nem ela sabia. Ela me amava.

Saí de meu estado de torpor antes mesmo de mergulhar nele. Não podia ficar admirando Bella. Não naquele momento.

Dei um passo a frente e ouvi a voz grave de Aro.

“Sinto muito pela pequena pausa” ele sorriu debilmente “tínhamos que nos alimentar. Certamente você compreende.”

Senti nojo e repulsa por suas palavras. Matar todas aquelas pessoas inocentes era crueldade. Até para um vampiro. Eles eram monstros horríveis.

Entendia agora porque Bella e Alice haviam fugido.

“Entendo” disse simplesmente

“Bom, Matheo, quero saber o que puder sobre você. Venha cá.”

Olhei para Alice que fez um pequeno aceno de cabeça e caminhei em direção a Aro.

Parei em sua frente e olhei em seus olhos.

Morte.

Foi o que eu vi.

Se os olhos são verdadeiramente a janela da alma, a alma de Aro estava a muito condenada.

Ele estendeu sua mão e esperou que eu repousasse a minha sobre a dele. Foi que fiz. Ele fechou os olhos e para entrar num tour particular pela minha mente. Tentei ouvir seus pensamentos, ver o que ele via dentro de mim.

Fechei meus olhos também e esperei as cenas da minha vida começarem a passar. Mas elas não vieram.

Nada.

Bella. Ela estava bloqueando minha mente. Talvez desde a hora em que eu entrei pela porta. Mas não importava. Ela estava me ajudando. Exatamente como Alice deveria ter lhe pedido.

Os segundos se passaram no mais puro silencio. Parecia que todos haviam prendido a respiração. Eu estava me preparando para morrer. Definitivamente.

Abri meus olhos. Aro ainda estava absorvendo a falta de informação que havia em mim. Ri internamente. Irônico não? Eu poderia morrer e estava rindo.

Ele retirou sua mão da minha lentamente e ao contrario de seu gesto calmo, quando abriu os olhos, estes mostravam a mais pura fúria.

Será que ele descobriu? Pensei aflito

De repente um falso sorriso apareceu em sua face.

“Parece que temos um novo hospede conosco. E parece que ele é talentoso.” Disse friamente “Espero que se junte a nós definitivamente. Por hora, pode conhecer o castelo e alguns membros do nosso clã.”

Ele se virou e voltou a se sentar no enorme trono, enquanto Alice, Jazz e eu saíamos do salão aliviados por ainda estarmos inteiros.

Entretanto a declaração de Aro havia causado certa agitação na mente dos vampiros, que iam de indiferentes a raivosos.

“ESTRANHO” Aro disse para si mesmo “É RARO DOIS VAMPIROS TEREM O MESMO DOM!”

“POR QUE ELES QUEREM FICAR?” pensava Alec desconfiado

“A ALICE VAI FICAR. MAS SÓ SE EU NÃO IMPEDIR” pensava Jane invejosa

“POR QUE ARO NÃO OS EXPULSOU?” Arthur pensava completamente exaltado.

Olhei para trás para poder encarar seus olhos, mas encontrei algo infinitamente melhor.

Bella dava um pequeno sorriso de satisfação e seu olhar agora estava aliviado. Ah! Como eu gostaria de poder ler seus pensamentos! Saber o que ela pensava sobre a nossa estadia.

Fui arrancado de meus devaneios por uma saltitante Alice.

“Nós conseguimos!” ela disse agitada e muito contente “Agora será mais fácil. Podemos continuar com o plano!”

Ela abraçou Jasper e eu sorri ante a alegria dos dois. Logo eu teria a minha amada para abraçar também.

“Obrigado” disse emocionado “Não teria conseguido sem vocês!!”

“Ora! Nos agradeça depois de termos cumprido toda a missão! Até lá, temos que nos ajudar!” Jasper disse nos trazendo de volta a realidade, embora esta agora estivesse muito mais suportável do que era antes.

“Matheo” Alice disse calmamente, embora ainda brilhasse em seus olhos a euforia recém adquirida “Vamos conversar. É importante.”

Eu assenti e os segui até o quarto deles. Assim que nos acomodamos, Alice começou a falar

“Acho que será mais difícil do que imaginamos.” Ela disse pensativa

“O que?”

“Bella recuperar a memória!”

“Por quê?” perguntei espantado “Por que acha isso Alice?”

“Bem, você sabe que você é a reencarnação de Alexander não sabe? O primeiro amor de Bella. Sua alma gêmea.”

“Sei” disse recordando de tudo que ela tinha me dito “Ela o reconheceu em mim. Éramos muito parecidos mesmo. Eu vi o retrato.”

“É.... ela era tão feliz naquela época! Sempre senti muito pelo que aconteceu com eles. E com vocês!” Ela acrescentou com o semblante triste “Mas” ela continuou “temo que ela tenha esquecido Alexander também!”

“O QUÊ?” perguntei alto demais.

Bella não podia ter esquecido Alexander.

Era sua alma gêmea.

Eram suas lembranças mais felizes.

E era eu de alguma forma.

Se ela não pudesse lembrar dele, talvez eu continuasse sendo apenas mais um vampiro na vida dela. Apenas um amigo ou um conhecido.

Não. Eu não podia deixar aquilo acontecer.

“Temos que descobrir o que aconteceu! Não vou perdê-la de novo!” disse desesperado.

Perde-la novamente seria o fim da minha existência. Não teria mais sentido viver. Não valia a pena a vida sem ela.

“Vamos tentar descobrir o que houve!” Jasper tentou me acalmar

“É! Nós já chegamos até aqui. Vamos descobrir um jeito de fazê-la lembrar.” – Alice disse confortadoramente

Olhei pelo vitral medieval que enfeitava a parede rústica do quarto e olhei admirado o por do sol. Era incrível como apesar dos milênios em que o astro rei fazia o mesmo movimento para se esconder na noite, cada vez que se presenciava o espetáculo ele era único e maravilhoso.

A porta se abriu e Bella entrou sorrindo para nós. O sol tinha perdido todo o seu encanto.

“Que bom que vocês poderão ficar!” ela disse nos olhando alegremente.

“Também acho ótimo poder ficar mais tempo com você Bella!!” Alice disse abraçando a amiga.

“Veio conversar comigo Bella?” Alice disse empolgada “Eu quero saber todas as novidades! Não deu tempo da gente conversar mais cedo”

“Eu sei” ela disse pensativa e pousou os olhos em mim “Mas não foi por isso que eu vim até aqui!” “Não agora!” Ela acrescentou quando viu a carinha da cachorrinho sem dono que Alice fez “ Vim convidá-los para um passeio por Volterra! O que acham?”

O rosto de Alice se iluminou.

“Adorei!! Ainda mais porque Volterra é maravilhosa a luz do luar! Vamos”

Ela mal terminou de falar e já estava puxando Jasper para fora do quarto. Parecia uma criança que iria ganhar um brinquedo novo.

Saímos do quarto e após caminharmos um pouco saímos do castelo.

Volterra era realmente magnífica. Sua imensas paredes de rocha entalhada davam a cidade um ar místico e austero.

As construções eram antigas, apesar de bem conservadas e aumentavam a sensação de que a cidade escondia algum misterioso segredo. Mal sabiam os humanos que ela realmente escondia um grande segredo. Terrível, porém grande.

Eu e Jasper andávamos maravilhados pelas ruas ladrilhadas e estreitas. Era nossa primeira visita a cidade e estávamos sendo conduzidos por duas guias fabulosas.

Além de serem lindas, elas conheciam muito bem a história e os mitos daquele lugar. E era com graça e simpatia que nos transmitiam seus conhecimentos.

De repente elas pararam como se tivessem sido iluminadas pela mesma idéia. Logo começaram a nos conduzir por um morro que levava há algumas ruínas antigas.

Jasper e eu olhamos estupefatos a maravilha que se estendia a nossa frente. Eram as ruínas de um antigo castelo medieval que tinha sido saqueado e arrasado por volta do século XII.

“Eu adoro esse lugar” Bella disse sorrindo alegremente

“Eu também” Alice disse com a mesma euforia “Estava com saudades daqui! Mas tenho mais saudade ainda do nosso cantinho!”

Alice olhou cúmplice para Bella, que retribuiu o olhar.

Jasper olhou para mim curioso

“O que elas estão tramando?” perguntou-me

“Desculpe” disse após tentar ler a mente de Alice “Ela não quer que nós saibamos. Está desviando a linha de pensamento a cada milésimo de segundo! E adivinha? Ela não pensa nisso!!”

“Rapazes” Alice disse misteriosamente

Ela e Bella nos olharam.

Estamos encrencados! Foi o pensamento unânime.

Elas riam abertamente da nossa cara de espanto.

“Não se preocupem!” Bella disse fingindo tentar nos acalmar “Venham”

Alice pegou Jasper pela mão e começou a conduzi-lo por entre as ruínas. Bella a imitou e começou a me conduzir pela mão.

Mal prestei atenção ao caminho. Iria a qualquer lugar que ela me levasse mesmo.

De repente ela e Alice pararam.

“Estamos chegando perto” falou Bella gentilmente

“Vocês não vão estragar a surpresa!” Alice disse tapando os olhos de Jasper com as mãos, gesto que foi imitado por Bella

Como era bom sentir seu toque novamente. Suas mãos delicadas em meus olhos eram um presente com o qual eu não contava, mas estava imensamente agradecido por ter recebido.

Andamos mais um tempo, até que elas resolveram nos deixar ver onde estávamos.

Olhei ao meu redor maravilhado e pude ver que Jasper estava no mesmo estado que eu.

O lugar onde estávamos era lindo. Parecia ser o jardim do que um dia havia sido um castelo.
Haviam algumas colunas de estilo românico cercando o lugar, algumas estavam caídas, outras estavam pela metade e com algumas rachaduras. Mas isso dava ao lugar mais beleza ainda. O chão e as colunas estavam sendo tomados por pequenas plantas que contrastavam seu verde-escuro com o mármore envelhecido que ostentavam as colunas.

No centro do jardim havia uma fonte. No centro da mesma havia uma estatua de um anjo de asas enormes e um sorriso bondoso no rosto. A água que estava ali deveria ter sido depositada pela chuva, e de tão límpida que era, podíamos ver o fundo da fonte.

Ladeando o jardim, haviam muitas flores e algumas espécies de arvores frutíferas, que estavam carregadas de pequenas flores. Embaixo de algumas delas haviam bancos de madeira, certamente para o namoro de algum jovem casal apaixonado.

Alice puxou Jasper para um dos bancos e eles sentaram-se felizes pela companhia um do outro e pelo momento maravilhoso que estavam tendo.

“É lindo” eu disse tentando desviar minha atenção do casal feliz.

“É sim” Bella disse sorrindo “É meu lugar preferido aqui.”

“Quer caminhar?” perguntei querendo passar um tempo a sós com ela

“Claro”

Começamos a andar lentamente. Apesar de toda a velocidade que podíamos alcançar, nós estávamos sem pressa. Apenas aproveitando o momento.

Caminhávamos em silencio e de mãos dadas pelo meio das flores. Até que ela parou e olhou profundamente em meus olhos.

Mais uma vez me perdi na imensidão do seu olhar. Sorri fracamente. Era tão bom estar com ela novamente. Era tão bom vê-la perto de mim.

“Eu não sei porque” ela começou a falar “mais eu tenho a impressão de que te conheço!”

Como eu queria dizer a ela que sim, que ela me conhecia, que eu era o amor da vida dela e ela o amor da minha vida. Mas eu não podia. Não ainda.

“Eu também tenho essa impressão!” disse sorrindo torto “Deve ser porque simpatizei com você!”

Ela sorriu com minhas palavras e inesperadamente me abraçou.

Fiquei sem reação com sua atitude, mas logo retribui seu abraço.

Ficamos abraçados por bastante tempo, como se com esse simples gesto pudéssemos restaurar tudo que foi perdido.

Nos soltamos ainda sorrindo e resolvemos voltar para procurar Jasper e Alice antes que eles ficassem alegrinhos demais.

Voltamos para o castelo dos Volturi mais leves e felizes. Aquele passeio nos tinha feito muito bem.

Relutantemente fui para meu quarto, onde passei a noite pensando em Bella e em como poderia recuperá-la.

Fui interrompido aos primeiros raios do sol, com uma fadinha saltitante batendo em minha porta.

Abri a porta e ela entrou como apressada e com um enorme sorriso no rosto

“Descobri!”