Minha cabeça foi empurrada contra a água e eu via o rosto do meu agressor completamente embaçado, meus olhos ardiam com a água salgada e meus pulmões já clamavam por ar, eu precisava sair dali, mas não havia como fugir, eu estava presa e minha visão já começava a escurecer e vi a minha vida passar diante dos meus próprios olhos.

“A foto já estava amassada em minhas mãos, meus olhos procuravam por todos os lugares o rosto da foto, mas eu não o via em lugar algum. Andei mais um pouco por entre os corpos suados e dançantes e não demorou mais do que 1 minuto e eu o vi servindo bebidas no bar do local onde estávamos.

Respirei fundo e me adiantei até o balcão e ele me olhou mal-humorado e cansado

– o que você quer? – perguntou-me

– Com licença, senhor, eu sou sua filha? – perguntei de volta e ele arregalou os olhos

– pensei que nunca me encontraria – ele sorriu – que ironia.”

“As mãos suadas e asquerosas passeavam pelo meu corpo sem qualquer prudência, meus olhos ardiam com as lágrimas que insistiam em cair, eu ainda era praticamente uma criança, mas quem ligava? Eu precisava comer e essa era minha única opção, eu sabia que aquilo era crescer prematuramente, mas eu não tinha tempo para ser jovem.”

“Eu corria de cabeça baixa enquanto todos gritavam blasfêmias para mim, e eu chorava, pra variar, como eles descobriram o que eu era nas horas vagas?

Eu procurava minha única amiga, Emmeline, ela devia saber de alguma coisa, eu precisava da ajuda dela, mas parecia que ela não estava em lugar algum. Olhei em todos os corredores e quando finalmente a achei, desejei não ter achado.

Ela ria tanto com as garotas que nós juramos odiar e quando me viu seu sorriso não diminuiu, ela me olhava friamente.

– o que você está fazendo com elas? – perguntei, enojada – nós somos amigas e as odiamos, lembra?

Ela jogou a cabeça para trás e caiu na gargalhada.

– Eu? Sua amiga? Você enlouqueceu – ela se aproximou de mim e seu rosto ficou a centímetros do meu – eu nunca fui sua amiga, Lily Evans, eu nunca seria amiga de uma perdedora, tudo foi parte de um plano maior.

Dei um passo pra trás e me senti tonta.

– Idiota - ouvi Bellatrix falar – você achou mesmo que Emmeline seria sua amiga? Imbecil

Me virei e corri novamente com tudo ao meu redor gritando que agora eu estava completamente sozinha e que a única amiga que eu tinha era, na verdade, minha inimiga”

“Eu suava e gritava, e quando sai daquele pesadelo eu clamei por ela, por minha mãe, e esperei que ela viesse e me abraçasse e dissesse que tudo ia ficar bem como ela sempre fazia quando eu tinha algum pesadelo, mas eu a esperei em vão, eu sabia que ela não estava lá para mim.”

“Eu gritava para que ele me soltasse, gritava por qualquer pessoa, gritei até ficar sem voz alguma, mas ninguém nunca veio me socorrer. Aquele era o pior dos homens, era o mais bruto dentre todos que já tive que suportar, nunca me sentira tão violada na vida, nem quando fui obrigada a fazer isso pela primeira vez, e aquilo pareceu durar uma eternidade e quando ele finalmente foi embora eu fui ao espelho quebrado e olhei meu rosto vermelho e machucado, eu não estava segura, eu não estava segura de ninguém”

O ar encheu meus pulmões e eu cuspi a água que ainda restava e eu tossi até minha garganta latejar, eu estava viva. Eu olhei para o meu salvador, e confesso que fiquei surpresa quando vi quem era.

Seus olhos chocolates estavam inundados de preocupação, suas mãos sujas de sangue e areia. Sangue. Eu olhei ao redor e vi um corpo deitado e uma poça de sangue ao redor da cabeça do sujeito. James Potter seguiu meu olhar até o corpo deitado na praia

– Não se preocupe, ele está vivo e teve o que mereceu – ele sorriu docemente.

E por impulso eu o abracei muito forte.

– Não deixe eu me afogar, por favor - sussurrei desesperadamente – eu posso ser encontrada, eu posso ser o que você salvou, seja lá o que for, eu posso ser, eu juro. – lágrimas inundavam meus olhos – salva, salva, salva.

– shhh – ele tentava me acalmar – eu nunca mais a deixarei.

No sonho, eu entrava em uma pequena capela decrépita em um lugar completamente deserto, eu me ajoelhava no altar de madeira podre e rezava por todas as calamidades do mundo e enquanto eu rezava grilhões eram presos em meus pulsos por pessoas invisíveis e eu gritava para ter de volta a minha liberdade e eles sussurravam de volta:

– você nunca foi livre.

Eu abro meus olhos e toco minha testa completamente molhada de suor, meu coração está batendo tão rápido que quase posso ouvi-lo, apesar da minha respiração acelerada e meus soluços involuntários. James acorda ao meu lado, ele procura seus óculos na mesa da cabeceira e me olha sonolento e confuso, ele pedia por explicações, mas nenhuma palavra saia dos meus lábios, mas ele me entendia, ele sempre me entendia, não precisámos de muitas palavras, nos entendíamos no olhar.

Ele me puxou contra seu peito e acariciou meus cabelos, logo minha respiração e meus batimentos foram diminuindo, mas meu sono estava tão longe de voltar...

– foi aquele sonho de novo, não foi? – perguntou

Eu apenas assenti contra seu peito nu.

– não se preocupe com isso, eles mentem pra você, você é forte e acima de tudo completamente livre e inalcançável – ele suspira – não deixe que eles roubem isso de você.

Em seguida, ele começa a cantarolar uma canção de ninar, a mesma que ele canta para Harry, nosso filho, todas as noites.

E mais uma vez, eu tive certeza de que explodiria de amor e lamentei por tantas pessoas não sentirem o mesmo que eu sinto: felicidade. Sinto pena daqueles que não tem uma vida tão plena quando a minha, mas ao invés de apenas sentir pena, eu rezo e torço para que essas almas perdidas e famintas de amor encontre aquele que a faça bem, porque, afinal, eu já fui um deles.