A delicadeza do amor escrita por dannie


Capítulo 6
Capítulo 5




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CAPITULO 5

- Seus filhos? – Murmurei, como para mim mesma.

- Sim.

Olhei demoradamente para as duas crianças que exibiam um sorrisinho tímido. Não deviam ter mais que dois anos de idade. Eram minúsculas. Loirinhas e tinham os olhos azuis. Era como se eu estivesse me quebrando...novamente.

- A babá não pôde ficar com eles...

- Oh...- Tentei abrir a boca e falar algo mas nada vinha à minha mente. Eu só processava que aquelas duas crianças eram filhos dele.

Do Rob. Com outra mulher.

E pelo pouco que eu tinha entendido ele estava criando. Os dois. Enquanto que comigo ele me deu dinheiro para que eu abortasse o meu bebê. A minha Julie. Quem disse que a vida era justa?

- Pensei que não viesse hoje.

Olhei de novo e as crianças tinham se afastado. Estavam sentadas no sofazinho perto, olhando algumas revistas.

- Eu...eu...vou pedir demissão...

- Por que?

- Oh meu deus! Eles são seus filhos! – Murmurei, aflita – Como pôde fazer isso comigo?

- É...Você não...É complicado.

- Nós não significamos nada para você não é?

- Kris...

- Eu...entendi. Você não era nenhum adolescente quando eu engravidei. Eu era...Meus pais não falam mais comigo...fui embora de uma cidade que gostava! Você sabe o que é trabalhar pra comer Rob? Sabe o que é se submeter a quase tudo...em ter que trabalhar até não pode mais? Eu sai daqui direto para a maternidade. – Fechei os olhos e uma torrente de sensações e lembranças de algum tempo atrás. Tudo tinha sido tão difícil. Tão complicado. – Mas sabe de uma coisa? Tudo isso valeu a pena! Tudo! É impossível substituir a alegria e alivio que eu senti na primeira vez que a minha filha foi posta em meus braços. Deus! Eu chorei tanto... Ela fez tudo valer a pena. Cada esforço.

- Eu não queria ter...dito aquilo...

- Mas você disse. Isso e mais outras coisas. Eu até poderia lidar com a desculpa de que você não estava preparado para ser pai. Mas não foi nada disso não é?

- Você não sabe...de nada.

- Há, eu sei sim. O problema não era você não é? Era eu. E a minha filha. Você é um MERDA de homem. Um mer-da. Engraçado que menos de um ano depois você já estava super preparado para ser pai...Que ridículo!

- Não é nada disso...Você está sendo ridícula...

- NÃO ESTOU NÃO! – Ele se aproximou alguns passos e eu gritei – Nem pense! Sai da minha frente! – Andei em direção ao departamento pessoal mas me virei, pela última vez – Quer saber? Você é um fodido estupido...Nós estamos melhor sem você...Você fez suas escolhas. Um dia vai querer saber como ela é...como poderia ter sido. Mas é tarde demais. Por mim, você nunca vai por os olhos na Julie... – respirei fundo – Cuide de seus filhos.

--

Sete meses depois...

- Mas mamãe...Eu não quelo ir...

Julie choramingou, enquanto eu colocava algumas roupas na sua mochila. Era seu primeiro dia na escola. Eu suspirei fundo, enquanto ela tirava o laço que prendia seus cabelos.

- Julia, amor...a escola é legal. Você vai aprender muita coisa lá. E conhecer amiguinhas...

- Não quelo mamãe!

Eu a peguei no colo, sentindo minha camisa molhar com suas lágrimas.

- Filha...por favor...Venha. – A levei ela no banheiro, enxugando o resquício das lágrimas e ajeitando melhor seu vestido. – Pronto. Tá ótima. Mamãe vai ficar esperando você do lado de fora...

- Jula?

- Juro bebê.

Ela agarrou minha cintura, olhando pra cima, iniciando um sorriso tímido.

- Eu vou poder comer cookies quando voltar?

-...e leite. Vai sim.

- Tá.

Já tinham se passado sete meses desde que sai da empresa. Os primeiros dias foram os piores. Às vezes me trancava no banheiro e chorava toda a mágoa contida, outras vezes eu só lembrava daquelas duas crianças inocentes. Elas não tinham culpa de nada. Só o Rob que tinha transado com a primeira mulher que via na frente e engravidou dele. Provavelmente ele tinha se casado ou algo assim.

Era terrível perceber que eu não tinha importância nenhuma, porque se tivesse ele não teria me pedido para me livrar do meu bebê. Foi insuportável perceber que ela podia simplesmente construir uma família com outras pessoas. Longe de mim.

Eu e a Julie nos mudamos para uma casa menor, longe da outra. Era mais afastada da cidade e eu trabalhava como garçonete durante o dia. Algumas vezes pedia para que a Lucia tomasse conta da Julie para mim. Eu sempre dava algum dinheiro à ela, que juntava para fazer uma boa faculdade.

Daqui a uma semana Julie completaria quatro anos. Era incrível como alguém que tinha saído dentro de mim, estivesse crescendo a olhos vistos. Ela ainda carregava o Senhor Urso para todo canto. Mas deixou a chupeta e agora ia para a escola. Seu primeiro dia.

- Vamos lá?

Prendi bem o cinto na parte traseira do carro, vendo a paisagem mudar um pouco. Eram quase meia hora até a escola. Algumas coisas boas aconteceram e ganhei algum desconto quando fui matricular a Julie. Era um grande alivio.

- Mamãe? – Ela sussurrou, tirando a franja do rosto. Se mexeu na sua cadeira.

- Que foi?

- A tia de lá vai gostar de mim? – Seu lábio tremeu.

- Claro que vai. Não se preocupe. – Ela agarrou forte o Senhor Urso que estava a seu lado e se calou. Talvez pensando um pouco mais sobre a escola. Ainda faltava um bom caminho para chegarmos e liguei o som. As notas musicais a fizeram abrir um lindo sorriso.

http://www.youtube.com/watch?v=XPBwXKgDTdE

(Mine, Taylor Swift)

Você estava na faculdade, trabalhando meio período servindo mesas

Deixou a cidade pequena, nunca olhou para trás

Eu tinha mania de fugir por ter medo de cair

Me perguntava por que é que nós damos uma chance ao amor se ele nunca dura

Eu digo "você acredita nisso?"

Enquanto estamos deitados no sofá

Naquele momento eu consigo ver

Sim, sim, agora eu consigo ver

Era engraçado ver o jeito que ela tentava imitar os sons e o modo como a Julie ria feliz acompanhando a melodia alegre.

- Você gosta dessa musica Julie?

- Sim! A Julie gosta muito mamãe.

Eu sorri, olhando pra frente, vendo o modo como ela ainda se referia a si mesma na terceira pessoa. Era algo que nunca mudava. Então, já tínhamos chegado à escola. Julie pediu para repetir a música umas três vezes.

- Chegamos.

Ela saiu timidamente do carro e agarrou minha mão. Andamos devagar até a sala. Algumas crianças também chegavam junto com suas mãos.

- Olá. – disse à jovem professora. – Essa é a Julie – falei, colocando ela na minha frente. A Professora balançou a cabeça, se abaixando até sua altura.

- Olá, Julie, sou Samantha. Ou Sam. Tudo bem?

- Julie...- chamei quando ela permaneceu quieta.

- Tudo, senhorita Samantha.

- Oh...que bonequinha. Pode me chamar de Sam. Porque não solta a mão da sua mãe um pouco enquanto a gente entra para conhecer seus coleguinhas.

- Tá.

- Mamãe?

- To aqui fora. – Beijei ambas as suas bochechas – Quando acabar a gente vai pra casa comer cookies lembra?

- Com leite? – ela sorriu, já desembaraçando das minhas mãos.

- Sim. Cookies e leite.

- Tá.

Ela entrou na sala, junto com a professora. O Meu bebezinho estava crescendo. Observei pelo vidro alguns minutos antes de me afastar e esperar no carro. Vi meu celular jogado no banco do motorista. Ele piscou de repente e eu atendi sem pensar.

- Alô?

- Kristen...sou...eu...

Fazia um longo tempo que eu não ouvia àquela voz. Meu coração disparou, enquanto senti o suor escorrer pela palma da mão que ainda segurava o aparelho.

- Não desligue...por favor, filha...

- Mamãe!

Ela parecia chorar do outro lado.

- Eu sei que você nos odeia...mas por favor...seu pai...Kristen...seu pai vai morrer...Por favor querida, ele está te chamando...por favor...

Eu engasguei.

Foi como se fosse hoje quando deixei um bilhete avisando que ia embora. Eu já sabia muito bem a opinião dele sobre eu ter engravidado com 17 anos. Minha mãe que descobriu primeiro quando comecei a enjoar e engordar. Algumas semanas depois meu pai soube. Ele parecia transtornado. Nessa época eu falei sobre o dinheiro que o Rob tinha me dado para abortar.

E aquilo fez meu pai se acalmar.

Me falando que era a melhor decisão.

Que eu era nova.

Deus! Era minha filha e parecia errado pra todo mundo. Era uma parte de mim. Meu pequeno milagre. Meu anjinho.

E todo mundo só queria que ela não existisse.

Dois dias depois eu parti e nunca mais falei com eles. Mas alguns fantasmas insistiam em bater à minha porta.

E por mais que eu odiasse o modo como ele agiu, era o meu pai.

Morrendo.

- Eu...

Ela suspirou do outro lado da linha.

- Ele está com câncer. Tem poucos dias...Por favor, ele não quer morrer sem falar com você, filha.

Oh meu deus...

Talvez eu fosse. Sim, era melhor... Colocar um ponto final em toda àquela situação.

- Eu não irei sozinha. – sussurrei.

- O que?

- Eu não abortei mamãe. Ela irá comigo... e se eu sentir qualquer hostilidade...qualquer coisa....eu vou embora...ouviu? Ela é minha filha. Não vou permitir que vocês...

- Estamos em casa. Você e... ela serão bem vindas...

"Nós temos que abraçar a dor e queimá-lo como combustível para nossa jornada." Kenji Miyazawa


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Notas finais do capítulo

não sei vcs mas acho essa história tão fofinha...meio que os personagens flutuassem...

Amanha sai novo capítulo!!



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