A delicadeza do amor escrita por dannie


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

voltando a escrever...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/368505/chapter/4

Capitulo 3

De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos.

(JOSÉ SARAMAGO)

Sai da empresa com a minha cabeça estourando. Era inacreditável! De tantas empresas possíveis para ele trabalhar, Rob foi parar logo onde eu estava? Apertei meus lados da cabeça, movimentando, tentando fazer a dor passar. Ela ainda latejava quando estacionei o carro em frente ao prédio onde morava. Bati com força a porta para fechá-la. Era um veículo velho, mas ainda sim seria terrível se alguém o roubasse. Subi as escadas até o terceiro andar onde eu morava. Abri vagarosamente, encontrando a Marta vendo TV e a Julie arrastando o senhor Urso. Ela deu um gritinho animado quando me viu e correu em minha direção. Abracei seu corpo magrinho e cheiroso contra o meu.

- Mamãe! Você demorou!

- Desculpe docinho. – Beijei sua bochecha, a colocando no chão. – Desculpe Martha. Tive problemas no trabalho.

- Tudo bem, Kris. Só... Não pode se repetir. Você sabe. Eu... – ela olhou para o relógio – Tenho que ir querida. – Marta abanou a mão, saindo pela porta.

- MAMÃE! Olha, vem cá!

- Que foi pequena?

Ela saltitou até o quarto e pegou sua pasta, abrindo com atenção. Com suas mãozinhas pequenas tirou um papel de lá e me entregou.

- Pra você mamãe. Eu fiz. – ela afirmou sorrindo, deixando aparecer seu sorriso pequeno, mostrando um dentinho que faltava.

- É lindo, princesinha.

Era um desenho que mostrava nós duas. Cheio de tinta, lantejolas e outros materiais, papéis e tudo mais. Em cima de tudo, tinha uma seta que estava escrito mamãe, provavelmente escrita pela professora. Ela era muito pequena pra isso.

- Você gostou?

- Eu amei docinho.

- Que bom. – Julie estendeu os braços, pedindo colo. – O Sinhô Urso gostou também. Hun, mamãe... hoje a Bia estava falando do pai dela...eu tenho um papai também mamãe?

- Julie... – a afastei delicadamente, a pondo sentadinha na cama. Amarrei seu cabelo, puxando para trás e vi seus olhos verdinhos me encarando. Ela apertou de encontro a barriga o seu urso velhinho. Engoli em seco pelo menos umas três vezes, agarrando um pedaço de sua mãozinha pequena – É claro que você tem um pai, amor...

- Mesmo? – Ela piscou, abrindo um sorrisinho tímido. – Mas...

- O que meu amor?

- Cadê ele?

Como eu podia falar que ele não a queria? Que tinha nos abandonado a nossa própria sorte?

- Ele...não pode ficar com a gente, meu bem.

Seus olhinhos ficaram molhados e pequenas lágrimas escorreram por sua bochecha rosada. Meu peito apertou. Eu daria minha vida se precisasse para não ver a minha bebê chorando.

- Ele ta no céu, mamãe?

Eu podia mentir.

- Venha cá. – A peguei no colo. – Ele não ta lá, bonequinha. Só que tem pais que não podem ser pais entende? Ele não pode ficar conosco.

- Porque mamãe? Eu sou feia? – ela fungou.

- NÃO. Você é a criaturinha mais linda que eu conheço certo? Você é linda filhinha.

- Voxê também momy...

O resto da tarde passou voando e a Julie não falou mais sobre o pai. Ele tinha sido um idiota em rejeitá-la. Eu ainda lembrava com asco quando ele me ofereceu aquele estúpido dinheiro para que eu abortasse ou sumisse dali. Um verdadeiro idiota! Vê-lo hoje tão cheio de si entrando na empresa me embrulhou o estômago. Eu reprimi toda a raiva que sentia por ter que – agora – trabalharmos juntos.

Eu tinha quase certeza que ele não se lembrava de mim. Quase quatro anos tinham se passado desde àquela nossa última conversa. Provavelmente Rob não tinha associado o meu nome ao daquela menina que tinha engravidado dele.

Não o vi mais desde então. Trabalhei loucamente até o meu quinto mês de gestação e juntei com o dinheiro que ele me deu. Meus pais continuaram a me dar mesada e não gastei com nada. Minha barriga já tinha crescido bastante quando meus pais descobriram que eu estava grávida. Eles gritaram muito, meus pais me olhando com desprezo. Em uma semana, arrumei minhas coisas, peguei um ônibus e decidi reconstruir minha vida em Londres.

Ainda lembro que quando descia do avião, fazia um frio terrível. Coloquei o casaco sobre os meus ombros, observando o sol quase se pondo. Uma multidão chegava e passava apressadamente. Indo e voltando para casa.

Nós vamos ficar bem Julie. A mamãe promete.”

De algum modo ficaríamos bem. E ficamos.

- Mãe!

Pisquei os olhos, voltando ao tempo real. Julie tinha soltado os cabelos e tinha um biscoito de chocolate nas mãos. O copo de leite já estava vazio. A TV continuava ligada no desenho do Barner.

- Quer mais?

- Não, mamãe! Tá tocando...

- O que?

- Ali mamãe – Julie apontou com seu dedinho lambuzado o meu celular perto da mesa. Eu sorri compreensiva e me levantei. Olhei a tela, vendo um número desconhecido.

- Alô?

Mudo.

- Hey, alô...!

- Kristen?

- Eu mesma...

- É o Robert.

Minhas mãos ficaram inesperadamente úmidas e agarrei com força o celular, como se ele fosse cair ou algo assim.

- Senhor? O que...?

- Dá para parar de me chamar de senhor?

- Você é meu chefe... Algo errado no trabalho?

- QUE SE DANE O TRABALHO, KRISTEN!

- O que...?

- Você...tem mesmo uma filha?

- Tenho. – Respondi simplesmente, respirando fundo.

- E qual a idade dela?

Eu a olhei vendo TV e me afastei em direção ao quarto. Meu coração pulsava loucamente e era como se ele fosse sair a qualquer instante.

- Sabe, eu realmente pensei que você não tivesse me reconhecido...Mas você – ROBERT – continua o mesmo idiota de sempre! É CLARO que eu tenho uma filha...como você ousa!

- E...- Robert gaguejou – ela éminha?

- É minha. A minha filha é minha. Você só tem uma mínima participação entendeu?

- Eu quero vê-la.

- NUNCA! NUNCA...! Só por cima do meu cadáver que você vai magoá-la entendeu? Você não merece conhecê-la nunca! Você a queria morta!

- Kristen...

- Esqueça!

E bati o telefone, com as mãos tremendo. Quem ele pensava que era? Lavei meu rosto no banheiro, observando as olheiras por baixo dos meus olhos.

- Mamãe?

Eu me virei, ensaiando um sorriso e peguei no colo, apertando forte.

- Eu te amo sabia?

- Também te amo, mamãe...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A delicadeza do amor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.