Sedução Da Noite escrita por Leelan Schaffer


Capítulo 25
Coração de morto ainda bate.


Notas iniciais do capítulo

Mas ontem eu recebi um telegrama
Era você de Aracaju ou do Alabama
Dizendo: Nêgo sinta-se feliz
Porque no mundo tem alguém que diz:
Que muito te ama!
Que tanto te ama!
— Zeca Baleiro



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P.O.V. LUCIAN

O laço de sangue estava chamando mais forte essa noite.

Lucian tombou a cabeça em suas mãos. Seus cotovelos estavam apoiados em sua mesa e seu corpo estava encurvado como se ele carregasse duas toneladas nas costas.

Porque é que eu a deixei ir naquela maldita festa? Lucian amaldiçoou.

Poucas pessoas sabiam que o laço de sangue não afetava somente os humanos escravos do sangue, mas também seus mestres vampiros. Era tudo sobre “pensar antes de sair dando seu sangue para os humanos beberem”.

Idiotice, é o que Lucian pensava.

Não é como se ele quisesse ter uma leva de humanos inúteis ao redor dele todas as noites.

Não você, mas há muitos outros que adorariam ter um restaurante em casa. Sua mente parecia ter vontade própria essa noite e estava aproveitando para zombar dele com freqüência.

É assim que começa. Ele imaginou. Quando você força muito o laço de sangue, é assim que ele começa a te afetar. Mais algumas noites disso e eu vou estar completamente louco.

Lucian passou a mão pelo cabelo exasperado.

O que é que ela estava fazendo com a cabeça dele?

Ele não podia sequer lembrar a ultima vez em que alguém havia mexido com ele dessa forma. O jeito com que Alexya o olhava, os sentimentos que ela despertava dentro dele... Ele quase poderia se sentir humano novamente.

– Inferno, eu devo estar ficando louco mesmo. – Ele murmurou enquanto olhava para o nada. – É a única explicação.

Sua cabeça pulsou novamente.

Droga, como será que ela consegue suportar essa maldita dor?

Lucian não conseguia imaginar o que haveria de tão bom naquela maldita festa para que ela quisesse passar por essa tortura mental de bom grado.

O que, não. Sua mente voltou a zombar dele. Quem!

Argh! Se ele apenas soubesse que as coisas seriam dessa forma... Nunca teria dado seu sangue para salvar a pele de Alexya.

– Você sabe que isso não é verdade. – Sabina entrou no escritório e o olhou daquela forma que só ela sabia como.

Sabina e Lucian se conheciam a o que? Duzentos anos?

Ela nunca havia sido sua escrava de sangue.

Mas era sua criança predileta.

Olhando Sabina parada ali em sua frente usando apenas um jeans rasgado no joelho e uma T-shirt branca, ele poderia ver os traços da garota que o socou no rosto quando Lucian tentou se aproximar o suficiente para se alimentar.

Ela era tão pequena, mas tão forte. Determinada.

Mesmo quando Lucian expôs suas presas e fez uma carranca assassina, Sabina somente franziu a testa e pensou que as sombras a estavam pregando uma peça.

Ela nunca teve medo.

Ao contrário. Assim que descobriu que Lucian era um vampiro, ela sorriu de forma maliciosa. Fez cerca de umas dez piadas as suas custas e somente ergueu uma sobrancelha quando ele lhe disse que não era sábio irritar um vampiro.

Foi amor a primeira vista.

Sabina era tudo o que ele não foi enquanto vivo. Ao contrário dele, ela enfrentou a morte, olhou ela nos olhos e ainda mostrou a língua. Era ridiculamente divertido e corajoso.

Ele precisava ter ela por perto, ele bem sabia. Ele não poderia deixá-la ir.

E ele não deixou.

Sabina nunca o olhou com nada menos do que amor. Ela não o odiava por tê-la condenado a passar a eternidade como um monstro. Ela havia abraçado a imortalidade e a moldado de forma a caber confortavelmente como um bonito vestido de festa.

Ela era orgulhosa e inteligente. Forte e determinada. E ele a amava como a uma filha. Uma filha que muitas vezes era uma dor na bunda, mas mesmo assim. Você simplesmente não escolhe as pessoas que ama.

Não, você não escolhe. Não é mesmo? Sua mente voltou a zombar.

– O que não é verdade, Sabina? – A voz dele soava tão esgotada quanto ele se sentia.

Ela ergueu uma sobrancelha para ele e cruzou os braços.

– O quê. – Ela bufou. – Alexya, Lucian. Você teria salvado ela mesmo se soubesse que eu arrancaria as tuas prezas com um alicate.

– E desde quando você resolveu que meus pensamentos são um livro que você pode abrir e ler quando quiser? Vou ter que colocar barreiras mentais até pra você, Sabina? – Ele dispara, irritado.

Sabina está a ponto de disparar raios com os olhos agora.

– Sim, seu idiota. Seria realmente bom algumas barreiras nessa tua cabeça oca. E quem sabe um chá de Camomila ou alguns socos. O que quer que te faça se acalmar e parar de projetar teus malditos pensamentos pra todo mundo nessa casa.

Ele não se abala com as ameaças de Sabina. Na verdade, ele até acha engraçado. Ela não o machucaria mesmo que pudesse e ela sabe que ele sabe disso. Mas ela gosta de bancar a durona, na maioria das vezes. Geralmente isso o diverte. Não hoje.

– Eu agradeço a dica. Agora, se você quiser fazer o favor de se retirar... – Ele indicou a porta atrás dela. – Eu estou com uma dor de cabeça horrível e eu apreciaria um momento ou dois, sozinho.

Como se pra confirmar, sua cabeça pulsou novamente.

Lucian rangeu os dentes. Merda, eu odeio isso.

– Eu não sei quanto tempo você pretende ficar ignorando o que você sente por ela. – Sabina balançou a cabeça.

Lucian a olhou irritado.

– O que eu sinto ou não, não é da tua conta, Sabina. Quer fazer o favor? – Ele indicou a porta novamente.

– Certo. – Ela joga as mãos pra cima exasperada. – Fica ai sentado agindo feito um idiota enquanto ela cria cada vez mais laços com a vida humana dela. Você acha o que? Que vai conseguir manter ela por perto como escrava de sangue por tanto tempo como tem feito com Camilla? Você não é burro, Lucian. Sabe que isso nunca vai ser o suficiente.

– É o suficiente com a Camilla. – Lucian resmunga sem encontrar os olhos de Sabina.

Ele não quer admitir que ela possa estar certa.

– Sim, mas ela não é a Camilla. Mas você já sabe disso. – Ela diz solenemente e depois vira as costas e o deixa ali com seus demônios internos.

Merda, por que é que ela tinha que estar tão malditamente certa?

Por que é isso que ela faz. Sua mente esclareceu. Ela te faz enxergar aquilo que você não quer ver. E é por isso que você a ama.

Lucian tinha vontade de soca alguma coisa até não sobrar nada. Ele se sentia furioso e... Impotente.

Ele se levantou da poltrona e acabou chutando sem querer a lata de lixo que estava próxima aos seus pés. Papéis voaram pra todo lado e ele pensou seriamente em ignorar aquilo e ir até onde Camilla estivesse para que ela o distraísse dos seus pensamentos, mas o nome de Alexya impresso em uma das folhas o fez parar para ver do que se tratava.

Ele recolheu as folhas que estavam tão perfeitamente organizadas como se ela tivesse deixado cair ali sem se dar conta. Levou-as até sua mesa e voltou a se sentar, sua raiva deixada de lado momentaneamente.

Trabalho de Escrita Criativa

Lucian olhou para aquelas palavras por um breve momento, se perguntando se deveria ler o que Alexya havia escrito. Seria muita invasão de privacidade? Estaria ele fazendo o que há pouco havia acusado Sabina de fazer?

Não. Sua mente pulsou. Não é como se fosse um diário ou algo assim. É apenas um trabalho de faculdade.

Então por que ele sentia que estava fazendo algo errado?

Bom, foda-se. Era seu lixo, afinal. Ele tinha o direito de ler o que quer que ela tenha escrito naquelas páginas.

Lucian passou por algumas introduções e fichas técnicas, todas as coisas que ele julgava sem importância, até que ele se deparou com...

Ah, Meu Deus.

Estava tudo ali. Tudo, tudo, tudo!

Desde o momento em que ele se aproximou dela no bar do Metamorphose, quando ele a salvou do outro vampiro, quando ele deu seu sangue a ela e o que isso a fez sentir. O primeiro beijo dos dois, a briga dela com Camilla e... Deus, o sexo.

Ele havia lhe proporcionado seu primeiro orgasmo? Como ele pode deixar isso passar?

Lucian sentiu seus lábios se contorcerem em um sorriso e um sentimento de orgulho – e talvez um pouco de satisfação – preencheu seu peito.

Ah, Alexya...

Ele continuou lendo, decorando cada linha. Ele era um personagem, assim como ela. Mas tudo acontecia do ponto de vista dela e pela primeira vez ele pode realmente se ver pelos olhos dela.

Lucian teve que se conter pra não rasgar a pagina em que o tal Josh era mencionado. Kyle o havia mordido, ela havia escrito ali. Se aquilo fosse verdade, logo ele seria um lobisomem.

Depois ele teria que confrontar Kyle sobre isso...

Os olhos de Lucian corriam ávidos pelas paginas, pois sentia como se a qualquer momento as folhas fossem sumir de suas mãos ou que ele acordaria e descobriria que tudo não havia passado de um sonho idiota.

Alexya havia descrito a briga dos dois com uma exatidão impressionante e Lucian ficou ainda mais chocado ao ver como as palavras dele haviam machucado ela. E ela estava até começando a gostar de estar próximo a ele, e então ele foi lá e estragou tudo falando aquelas coisas pra ela e em seguida tendo Camilla em seus braços.

Mas... Lucian olhou novamente para as folhas em sua mão.

Alexya não havia colocado ali o momento em que ele viu Camilla de joelhos em sua frente. Provavelmente, ela já havia escrito o texto antes de presenciar a cena dos dois. Bom, menos mal. Ele já se sentia terrível em ver como havia machucado ela apenas com as cenas ali descritas. Ele certamente não precisava de mais nenhuma.

Mas, fosse o que fosse, o texto que ele tinha em mãos não era um diário ou algo do tipo. Alexya havia seguido em frente e escrito várias outras cenas, algumas que deixaram Lucian com um enorme sorriso no rosto – Ela havia descrito seu termino com Josh. – e outras que o fizeram franzir o cenho – Camilla acabou sendo morta por algum vampiro misterioso.

E então, algo que o deixou surpreso.

Ela confessava para ele que o amava e pedia que ele lhe transformasse em vampira.

“Decidi parar de lutar contra o que sinto por Lucian.” Ela havia escrito. “Tudo o que passamos juntos me fez perceber que eu não quero estar perto de ninguém mais a não ser dele. Mas eu ainda sou uma humana inútil, e eu quero – preciso – estar com ele de uma forma completa. Corpo e alma, por assim dizer. Eu sinto que estou pronta para deixar minha antiga vida para trás, desde que eu o tenha ao meu lado. Eu não pretendo olhar pra trás, nem sequer por um momento.”

E então, ela descreve de uma forma romântica e nada prática a troca de sangue e ela acordando como uma vampira para enfim poder se entregar de corpo e alma para ele.

Lucian terminou de ler as folhas e largou as costas pesadamente na cadeira. Isso era... Uau.

Ele não fazia nem idéia.

Claro, ele podia ler os pensamentos de Alexya, e por mais que uma ou duas vezes ele tenha feito isso, logo ele se cansou de sondar a mente dela e apenas a deixou manter seus sentimentos para si mesma. Quão errado foi isso?

Se ele soubesse o que ela estava sentindo...

Então o que? Sua mente o acusou. Não é como se você fosse considerar os sentimentos dela de qualquer forma. Não tente se enganar. Você é um vampiro de trezentos anos, então faça-se o favor de agir como um.

Deus, ele odiava isso. Seu lado primitivo lutando com seu lado racional. E então havia aquele pulsar irritante... É quase impossível de pensar com a cabeça martelando dessa forma.

Ele precisava ir até ela. Precisava consertar aquela situação. Se Alexya queria passar a eternidade ao seu lado, talvez ele devesse considerar isso.

Lucian sacou o celular do bolso da calça e ligou para a única pessoa que estava ordenada a cuidar de Alexya essa noite e mantê-la fora de perigo.

– Fala chefe. – A voz de Kyle mal era ouvida acima do barulho de musica alta e risadinhas femininas. “Kyle, você é tão engraçado” alguém havia dito próximo o suficiente para que Lucian pudesse escutar.

Era uma garota. Não, não era Alexya. Apenas uma garota comum.

– Kyle, eu quero o endereço da festa em que você e Alexya estão. – Ele tentou não soar muito irritado, mas era meio difícil considerando que ao invés de Kyle acompanhar os passos de Alexya e ficar atento para o caso de precisar protegê-la, ele estava flertando com algumas garotas universitárias.

– Claro. Tá tudo bem, Lucian? – Kyle perguntou nervoso.

Lucian virou os olhos. Por que todo mundo queria saber se estava tudo bem com ele? Não tava, caralho! Ele tinha ferrado com tudo e agora tinha que arrumar uma forma de concertar.

– Kyle, atenha-se ao que eu te pedi. Endereço. – Ele rosnou.

– Ta, claro. Eu só achei estranho, já que você poderia encontrar ela pelo vinculo e tudo mais. – Lucian podia sentir que Kyle estava dando de ombros do outro lado.

Merda, o que havia de errado com ele?

– Não é pra mim, idiota. Manda por mensagem. – Ele desconversou e em seguida desligou.

Lucian sacudiu a cabeça em quanto ria.

– Tô ficando louco de vez. Já começou.

Ele se levantou da cadeira e seguiu porta a fora. Fechou seus olhos por um momento e sentiu o vinculo puxando ele até Alexya de uma forma incrivelmente forte. Seria tão fácil encontrá-la.

– Eu acho que você vai precisar disso aqui. – Sabina lhe disse, enquanto jogava as chaves do carro em sua direção. – E agora some da minha frente.

Ele lançou um sorriso sacana em direção a Sabina, mas ela apenas virou os olhos e o enxotou com as mãos. Ele podia ver em seu rosto que ela estava tão ansiosa quanto ele.

Lucian entrou no carro e acelerou noite à dentro, enquanto deixava o vinculo assumir e lhe levar até Alexya.

Inferno, ele esperava que estivesse fazendo a coisa certa.


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Notas finais do capítulo

Gente, eu tenho que contar pra vocês que esse foi um dos capítulos que eu mais amei escrever, sério.
É tão bom poder entrar na mente do Lucian, ver a Sabina pelos olhos dele, entender um pouco mais sobre o Doce, Sexy e BadBoy Lucian que todas aprendemos a amar...
E eu espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu!
XOXO



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