POV Thalia

Voltamos ao acampamento. Eu mal podia acreditar que Ártemis havia me deixado sair da Caçada por Leo! Eu senti um pouco da falta das minhas amigas, e principalmente da liberdade da vida de caçadora, mas estar com Leo era muito melhor, embora eu não confessasse isso a ele. Sabe, meu jeito de durona não era só na Caçada, eu sempre fui assim, e absolutamente não ia facilitar para Valdez.

No fundo eu até acho que ele gosta desse jeito. Gosta de desafios, vai saber...

Fomos recebidos com aplausos e fãs calorosos, como se nós fossemos os ganhadores do Oscar. Annabeth e Percy foram os que mais demoraram para sair da confusão dos campistas, todos queriam tirar foto com eles. Piper, Jason e todos os outros foram parados também, e deram milhões de autógrafos. Eu e Leo escapamos pelos fundos, e não fomos incomodados.

Alguns minutos depois, Quíron parou a bagunça e mandou que todos fossem para suas respectivas atividades, porque nós estávamos exaustos. Era verdade. Cada um de nós seguiu para seu chalé, e provavelmente os outros fizeram o mesmo que eu: tomaram um banho quente e desabaram na cama.

Acordei com Jason me cutucando.

- Olá maninha – ele disse animado – Você já dormiu um dia inteiro, já está de noite de novo!

- Oi... – virei para o outro lado.

- Sabe, é bem legal não ser sozinho no chalé! – ele disse contente.

- Uhum.

- Nós vamos fazer várias coisas juntos! – ele listou – Podemos conversar de noite, planejar umas peças para os Stolls, treinar alguns golpes secretos, e...

- Jason – eu abri os olhos – Vai querer uma festinha do pijama também?

- Ha ha, engraçadona. – ele torceu o nariz – Só estava enjoado de ficar sozinho.

- E o Acampamento Júpiter?

- Eu me acertei com Reyna, e decidi morar aqui para ficar junto com Piper. – ele espremeu os olhos – E você, hein mana! Quem diria, a durona desistiu da Caçada por Valdez!

Dei um soco no braço de Jason. Ele gargalhou e foi até a porta.

- Vamos jantar no chalé de Percy, porque se formos ao refeitório, é capaz de nos esmagarem com pedidos de fotos e tal. Vem logo que eu to com fome.

POV Grover

Nos reunimos no chalé de Percy. Todos menos Octavian, Reyna, Drew e a minha Juju, que estavam na enfermaria cuidando das fraturas. Algumas ninfas trouxeram uma comida especial, e eu comecei a devorar na hora.

- Grover, que horror. – Piper disse com cara de nojo.

- U que floi? – falei de boca cheia.

Todos riram.

- Até parece que você acabou de salvar o mundo sozinho – Nico brincou e abriu uma sacola do McDonalds.

- Ih, tá falando o que, rapá? – fechei os olhos e fiz uma posição de zumbi – Eu sou Nico, quero matar vocês! E depois comer o cérebro...

- Não foi nossa culpa, Grover... – Hazel disse.

- Era como se não tivéssemos nenhum controle sobre nós. – Frank fez uma careta.

- Tudo bem, galera, a gente sabe. – Leo disse, abraçado com Thalia.

- E o casal, como vai? – Annabeth disse, maliciosa.

- Thalia não é mais a mesma. – Percy riu – Agora ela tá mais delicada!

- Cala a boca, Perseu mogolóide. – Thalia corou – Quer cair pro fight?

- To dentro!

- Falando em casal, como é que tu tá, Jason? – perguntei, comendo uma latinha de Guaraná – Cara, foi sinistro, a Piper fez uma macumba lá e...

- Ei! – Piper me interrompeu – Não foi macumba, seu bode mal-educado.

- É mesmo! O que você fez, Piper? – Nico perguntou.

- Bem... – ela ajeitou o cabelo – Eu não sei exatamente o que fiz, mas conversei com a minha mãe depois. Ela falou que eu tenho um dom raro, que vem da família do meu pai. O meu tataravô era filho de Apolo e o dom da cura passou para alguns descendentes. Eu fui uma das que recebeu o dom.

- Além de linda, é talentosa – Jason puxou Piper e deu um selinho nela.

- Fala sério, gente, eu sou alérgico a romance – Nico fez uma careta.

- Um dia você vai se apaixonar, Nico. – Annabeth disse.

- E vai amá-la mais que um McLanche Feliz. – Frank falou, e todos riram.

Nico ignorou os comentários e mordeu seu Mc Lanche Feliz.

POV Annabeth

Comemos em paz no chalé de Percy, e quando ficou tarde, o pessoal foi embora. Eu também comecei a me despedir, mas depois que Grover saiu, Percy segurou meu braço e me puxou para dentro, trancando a porta.

- O que foi, Percy? – eu ri surpresa.

- Ainda não tivemos tempo de conversar sozinhos. – ele sorriu e me deu um selinho.

Deitamos no chão e ficamos olhando para o teto decorado com estrelas-do-mar.

- Você se lembra que foi... – eu pigarreei – Enfeitiçado?

- Minha cabeça está muito confusa. – ele me olhou – Lembro de alguns pedaços desconexos, e fico sem entender algumas coisas.

- Qual a última lembrança sólida que você tem?

Percy hesitou e desviou o olhar.

- Lembro que cheguei com Stephanie no acampamento, eu a salvei de uma górgona... – ele hesitou um pouco – Depois os filhos de Afrodite organizaram uma festa de boas-vindas para ela, e eu comi umas flores de lótus.

- E? – eu perguntei com medo de ouvir a resposta.

- Não consigo lembrar direito o que houve depois.

Suspirei. Ele foi enfeitiçado nessa festa, mas eu ainda tinha uma pergunta e não sabia se queria ouvir a resposta.

- Por que está me perguntando isso? – ele procurou meu olhar.

- Você... Sentia algo por ela?

Percy me encarou por uns instantes com uma expressão estranha no rosto.

- Eu era forçado a sentir alguma coisa – ele disse, sério – Nada brotou de mim, era tudo fabricado. Era como uma hipnose.

- Mas, você sentiu algo?

- Annabeth, o que eu senti foi apenas atração física. Por dentro eu estava vazio. – ele continuou me olhando – Nunca senti nada de verdade por ela, nem por ninguém, além de você.

Desviei de seu olhar, e fiquei remoendo aquelas palavras, mas elas eram tão sinceras e límpidas como um riacho cristalino. O problema é que o nome daquela piranha ainda me causava náuseas, como se o tapa que eu tinha lhe dado no rosto não tivesse sido o último contato que eu teria com ela.

Percy se aproximou de mim e me virou de lado. Ficamos deitados, frente a frente nos encarando.

- E o Felipe? – ele perguntou ligeiramente irritado – Eu me lembro que vocês se beijaram.

- Ah. É... – meu rosto esquentou – Esqueça aquilo.

- Esquecer? – ele ergueu as sobrancelhas – É uma das imagens mais nítidas na minha mente. Você gostou dele?

- Não.

- Então por que o beijou?

- Ah, Percy, não vem mais ao caso – tentei contornar.

- Annabeth Chase – ele disse sério – Você sentiu algo por aquele cara?

- Já disse que não, você não acredita em mim?

- Acredito, mas então me fala por que você o bei...

- Porque eu tava com ciúmes de você com aquela vaca! – eu disparei sem querer.

Percy ficou me olhando, incrédulo, e começou a rir que nem um bobo. Meu rosto começou a ferver.

- Eu pensei que nunca fosse ouvir isso. – ele disse rindo, e se aproximando mais.

- Isso o quê? – eu me afastei, irritada.

- Que você tem ciúmes de mim. – ele sorriu, vitorioso.

Fiquei quieta, odiando ter falado aquilo. Eu absolutamente não gostava de dizer muito o que sentia, e Percy conseguia me deixar com mais vergonha que o normal.

- Se você continuar, vou pedir a Ártemis que me aceite de novo na Caçada.

Percy parou imediatamente de rir. Ele se aproximou novamente e ficamos tão perto que seu hálito fresco batia em minhas bochechas.

- Te ver como Caçadora foi uma das piores coisas que eu já passei. Grover me contou porque você fez aquilo. – ele disse com uma voz pesada – Prometa que nunca mais vai abandonar nada por mim.

- Hm... – fingi pensar – Acho que... Não.

- Annabeth! – ele reclamou e pousou uma mão em meu rosto.

- Você faria o mesmo por mim. – eu sorri.

 Ele tentou contra-argumentar, mas eu venci, como na maioria das vezes. Percy passou a mão pelos meus cabelos e eu me aninhei em seu peito.

- Nós temos um futuro brilhante nos Campos Elíseos. – ele sussurrou.

- Como? – eu ia me afastar para encará-lo, mas ele me abraçou e continuou acariciando meus cabelos.

- Eu visitei lá, na hora que estava vivo-morto. – ele disse com uma voz feliz – Encontrei com Perseu, e ele disse que se continuarmos desse jeito, iremos para lá algum dia.

- Não sei se você me aguentaria pela eternidade. – eu disse.

- Pode apostar que sim. – ele sussurrou e beijou a minha testa.

Acho que dormi naquele momento, com o carinho de Percy. Comecei a sonhar com um gramado lindo, cheio de árvores e flores, com uma praia perto e uma vila mais distante. Percy estava do meu lado, sorrindo para mim...

Esse é o nosso futuro! – ele disse, rindo.

Eu acho que não. – uma voz estridente que eu já conhecia, respondeu, e transformou o gramado em um chão com um fogo negro que me sugou para um lado, e sugou Percy para o outro.

Acordei assustada com aquela voz ecoando em minha mente. Percebi que Percy havia me levado para a cama.

- Calma, Sabidinha. – ele disse ao meu lado – Foi só um pesadelo.

Assenti e beijei Percy. Eu estava muito feliz para me deixar levar por um pesadelo. Nós tínhamos uma longa vida pela frente, e nada mais ia nos atrapalhar. Eu amo Percy Jackson. E ele me ama. É isso que importa.

Fim.