Assim que entramos no restaurante constatei o que não era nenhuma novidade, ele estava lotado como sempre. Depois de alguns segundos de procura achei algumas pessoas bem conhecidas e resolvemos ir até lá.

–Olha só quem resolveu sair daquele cubículo. - Noah já começou com a sua dose de ironia diária.

Noah era um antigo inimigo meu, dos tempos de escola, que por ironia do destino resolveu seguir a mesma carreira que eu e no final ficamos amigos.

–Sim convenci essa carrancuda e parar de se fechar. - Hanna disse antes que eu pudesse pensar em responder, ela não perdia uma.

–Obriga pela preocupação, e eu sei que vocês não vivem sem o meu brilho. - Disse e dei uma piscadela para Noah, tentar entrar nos eixos novamente não era uma má ideia.

–A claro, vou tomar cuidado para você não me ofuscar. - Noah debateu e nós acabamos rindo.

Logo em seguida notei mais duas presenças na mesa.

–Oi Lanna– Cumprimentei minha colega de trabalho e recebi em troca um sorriso amigável. Pelo que sei Lanna é bem reservada e fechada.

Nos sentamos a mesa e ficamos batendo papo enquanto esperávamos os nossos pratos chegarem. Não poderia me esquecer de pedir um favor para Noah.

–Noah posso pedir um favor ? - Perguntei sendo o mais amigável possível

–Claro! Manda ..... - Noah me disse e mesmo que os anos tenham passado, ele continua com aquele mesmo ar de adolescente.

–Eu preciso que você encontre um endereço para mim. - Falei para ele rapidamente, estava torcendo para Hanna não prestar atenção em nossa conversa.

–Certo! Depois você me passa as informações e eu te falo quando achar. - Noah era bem prático com essas coisas.

–Obrigada mesmo. - Falei e assim que terminei a frase nossos pratos chegaram.

Logo que terminamos de almoçar voltamos para a agência, eu era a única que estava com um pouco de tempo livre pelo que percebi, já que todos pareciam apressados demais a voltar a fazer suas coisas. Chegamos no departamento e cada um foi para o seu canto, mas eu fui com Noah resolver o problema do endereço.

Entramos na cabine dele e o mesmo logo tratou de ligar seu computador.

–Então Rachel quais são as informações. - Noah falou enquanto colocava a senha na máquina.

–Eu não me lembro de muita coisa, mas será que tem como você puxar pelo nome da minha família ? - Perguntei para Noah, estava torcendo para que isso desse certo.

–Ray.... Ray assim você insulta a minha inteligência. - Noah me disse com um ar superior que sempre o acompanhava, mas não era algo ruim.

–Certo Sr. Sabe tudo! Tente puxar por esse nome aqui. - Falei tentando entrar no contexto da coisa toda. - Shay Barnes.

–Certo! Espere só alguns minutos. - Noah disse para mim enquanto entrava em um programa que estava em seu desktop e depois abriu uma página num site de pesquisa. - Vamos ver...

Ele procurou pelo nome da minha mãe e logo apareceram alguns links que estavam com títulos parecidos.

"Tragédia na família Barnes" "Família de Shay Barnes sofre grave acidente"

Noah como um bom curioso clicou em um link e viu uma reportagem. Na reportagem estavam contidos alguns relatos sobre o suposto acidente.

Eu comecei a acompanhar o artigo assim que vi Noah observando com um olhar curioso o artigo, ele lia atentamente cada frase do texto.

Comecei a reler o artigo que eu já havia lido incontáveis vezes.

"Mais um acidente esta semana, parece que estamos com uma grande onda de mortes causadas por acidentes automobilísticos, as vítimas deste acidente foram Shay Barnes e Steve Noel, os dois eram casados e deixaram duas filhas para trás. A polícia ainda está investigando o caso, apesar de parecer um acidente normal. Só que a polícia já nos confirmou que Steve (uma das vítimas) não estava embriagado e algumas testemunhas confirmam terem visto um carro preto que parecia estar no encalço do carro do jovem casal. O que nos resta agora é esperar a polícia divulgar novas informações sobre o caso."

Noah assim que terminou de ler se virou para mim com um olhar que sugeria que eu começasse as explicações.

–Então.... - Ele perguntou enquanto tirava os óculos e massageava as têmporas.

–Acho que você já percebeu que essas pessoas eram meus pais certo ? - Perguntei em uma tentativa de não ter que recontar toda aquela história que estava guardada dentro de mim.

–Obviamente. Rachel você nunca disse nada sobre isso, se quiser me explicar algo tudo bem, mas se você não quiser falar nada sobre isso, eu te entendo. - Noah me disse de um jeito bem amigo, e eu decidi que iria explicar pelo menos um pouco da história toda.

–Noah já que você está me ajudando, eu falo um pouco sobre tudo isso sim.

Comecei a explicar para Noah os acontecidos e a cada palavra que saia da minha boca, mais dor e angústia se alojavam no meu peito.

–Então é isso Noah. - Terminei de relatar os acontecimentos e o mesmo estava um pouco inquieto em sua cadeira.

–Eu não sei o que te falar Ray! - Noah parecia bem perdido em suas palavras.

–Não precisa falar nada, eu já estou acostumada a conviver com isso. - Falei e vi que Noah ficou com uma face séria.

–Rachel você acha que a morte do seus pais tem alguma ligação com o assassinato de Ella. - Noah foi mais rápido do que pensei, já sabia que ele iria perguntar isso e estava em duvida se contava tudo que eu sabia para ele.

–Eu sinceramente não sei Noah, mas estou tentando não ficar totalmente as cegas sobre este assunto. - Falei para ele sendo o mais breve possível.

–Entendo, quando você precisar de alguma ajuda é só falar comigo! - Ele falou e deu um sorriso que transpareceu sinceridade.

–Obrigada mesmo Noah, mas e o endereço você conseguiu achar ? - Perguntei para Noah, já que estava me esquecendo do principal motivo de ter vindo aqui.

–A sim certo. - Noah me disse enquanto se virava para a tela do computador. - Então Ray o único endereço que achei não fica exatamente aqui em NY mas sim no estado geral, fica em Geneva.

–Nossa! Eu não me recordo de muita coisa antes do acidente. - Disse um pouco perdida em meus pensamentos, eu realmente não lembrava de muita coisa antes do acidente.

Noah anotou o endereço em um papel para mim e eu agradeci novamente pela ajuda.

Depois de conversar um pouco com Noah me senti mais amparada e menos tensa sobre tudo que estava chegando. Eu realmente não me acho alguém forte, sempre preciso do apoio de alguém, como se fossem muletas para eu poder continuar a caminhar, mas eu preciso mudar um pouco as coisas, não necessitar mas dessas muletas. Com todas essas coisas que estão acontecendo em minha vida, sinto que eu preciso mudar urgentemente, poder dar meu próprio cheque mate.

–Então é isso, obrigada Noah! Agora eu preciso ir. - Agradeci Noah por ter me ajudado, era o mínimo a se fazer até que eu pudesse contar as coisas para ele.

–Não foi nada Ray, pode contar sempre comigo. - Noah me disse e percebi em suas feições a sinceridade de cada palavra.

–Obrigada mesmo!– Disse por fim e fui em direção da minha cabine.

Cheguei em minha cabine e encontrei com Hanna que estava segurando uma mala que parecia quase vazia.

–Ei Ray! Ainda bem que você chegou, eu queria logo te mostrar a roupa que você vai usar hoje no jantar. - Hanna disse para mim, ela mal acabou de falar e já veio me puxando para dentro da cabine.

–Hanna obrigada, eu realmente estou sem tempo para ir ao shopping.

–Não foi nada! Mas eu só deixo você usar se não olhar agora, é uma surpresa. - Hanna me disse com uma cara brincalhona.

–O certo! O que tem ai ? Uma fantasia ? - Disse enquanto me sentava em minha cadeira.

–Não sua besta, é só que você nunca usa nada do que eu quero! - Hanna me disse enquanto tentava fazer uma cara de brava.

–Mas você tem um estilo totalmente oposto ao meu. - Rebati Hanna falando a coisa mais óbvia possível.

–Deixe de ser chata Ray, se você não gostar da roupa vai ter que usar de qualquer modo. - Hanna disse enquanto se virava e ia saindo, mas antes ela virou seu rosto deu um sorriso muito suspeito e me deixou sozinha.

Olhei para o relógio e constatei que eu não teria tempo de ir ao endereço que Noah me deixou. Resolvi deixar para ir no final de semana, já que estaria livre e sem caso algum aqui da agência.

Fiquei sentada na cadeira por um bom tempo, me senti como se eu estivesse em estado vegetativo, era tedioso demais ficar sem caso nenhum, mesmo que eu precisasse desse tempo para tentar me aprofundar mais no caso dos Alcock.

Quando me dei conta já estava no horário de ir embora e não faltava muito tempo para o jantar, era uma questão de horas para eu poder descobrir um pouco mais sobre todo esse maldito mistério.

Peguei minha bolsa e fui para meu apartamento, queria estar pelo menos apresentável no jantar. Antes que eu saísse encontrei com Hanna no corredor.

–Ray as 20:00hrs eu passo em sua casa, tudo bem ?

–Certo! Onde é a residência deles ? - Perguntei para Blo, se algo desse errado eu deveria saber onde estava, para poder voltar o mais rápido possível para casa.

–Fico no West Village. - Hanna me disse e saiu andando.

–Até mais tarde. - Disse e me virei em direção do elevador.

Assim que sai do prédio notei que estava duplamente ferrada, primeiro que esqueci meu guarda-chuva em casa e segundo que eu não estava com dinheiro para pegar um taxi.

Esperei o máximo que pude e não resultou em nada, aquela maldita chuva só aumentava e eu ainda escutava as trovoadas. Resolvi sair correndo, com a intenção de chegar o mais rápido possível, ensopada eu sei que ficaria, o que me restava para fazer era só diminuir o tempo que isso se prolongaria.

Contei até 3 e sai correndo o máximo que eu pude, estava literalmente atropelando as pessoas na rua, me senti dentro de um filme de ação, ridículo eu sei que sim, mas minha vida parecia mais um filme sobre aquelas adolescentes azaradas que só se ferram. E como o azar era definitivamente meu companheiro, não poderia faltar a cena em que um carro muito caro passava sobre uma grande poça de água e me molhava.

Só me dei conta da situação quando senti que estava ensopada, e isso não foi nada comparado ao molhada pela chuva. Fiquei parada olhando pros meus pés, enquanto sentia a água gelada passar pelo meu corpo, meu cabelo estava escorrendo água, parecia que eu estava em um rio ou algo parecido.

Percebi que muita gente passava por mim e ria da minha situação, digna de um filme adolescente. Sai o mais rápido que pude dali, aos passos largos que dava eu acabei não percebendo que o carro que me colocou nesta situação estava me seguindo. Assim que percebi tratei logo de andar muito mais rápido, não queria ver a cara de quem fez essa droga, pois não queria arranjar uma briga com um qualquer no meio da rua.

A cada passo que eu dava o carro acelerava, até um ponto em que ele começou a buzinar, e eu virei para trás mostrei-lhe o dedo do meio e continuei correndo em direção ao meu apartamento que agora estava a só uma quadra de distância.

Passei correndo pela portaria, acabei dando um oi muito rápido ao porteiro. Acabei esbarrando em umas 4 pessoas no saguão do prédio e no corredor. Entrei no meu apartamento e comecei a pular de raiva, precisava extravasar.

Depois de alguns minutos de muita revolta fui tomar um banho para relaxar e me arrumar para o jantar. Tomei um banho bem demorado, creio que na tentativa vã de limpar não só meu corpo mas também para tentar tirar todo a minha frustração e raiva.

Sai do banho e fui pegar a sacola que Hanna me deu, por sorte e roupa não molhou.

–Ainda bem que a Blo colocou a roupa em um saco. - Falei para mim mesma enquanto retirava e via o vestido que Hanna havia separado para mim e reparei que ela também colocou um sapato.

O vestido era realmente bonito, ele era preto e ficava na altura dos meus joelhos, tinha uma transparência na parte do colo e era um pouco justo, mas eu relevei isso já que se não fosse isso eu não teria algo tão bonito para vestir. Tirei o sapato da sacola e este era tão bonito quanto o vestido, era definitivamente a cara da Hanna, combinava totalmente com o estilo dela. O sapato era preto e não muito alto, o seu bico fino tinha um detalhe em dourado.

Fui ver o horário e fiquei sossegada, ainda faltavam 2hrs para o jantar. Voltei para o quarto e fui secar o meu cabelo, ele era curto então eu não tinha muito o que fazer nele, passei o secador bem aleatoriamente para deixa-lo bem bagunçado.

Fiquei enrolando no sofá, passei um café e fiz um bolo simples, eu era bem produtiva quando estava com tédio. Depois que tirei o bolo do forno fui me trocar.

Eu não gosto muito de roupas apertadas e o vestido ficou bem justo, mostrando curvas que nem mesmo eu tinha. Já que estava um pouco frio eu peguei um casaco vermelho que estava guardado no fundo de meu guarda-roupa, era uma mão na roda aquele trench coat. Deixei para colocar o sapato por último.

O vestido ficou em perfeita harmônia com o casaco e o sapato . Passei um pouco de maquiagem para tentar disfarçar essa minha cara de enterro.

Assim que terminei de me arrumar fui tomar café e mal tive tempo de terminar, já que Hanna estava me ligando, me irritava profundamente essa pontualidade exagerada dela.

Escovei os dentes e passei perfume o mais rápido que pude, quase me esqueci de pegar minha bolsa com os documentos. Peguei uma bolsa preta com alguns detalhes em dourado. Apaguei as luzes e fechei a porta com uma grande pressa.

Sai a passos apressados pelo corredor, cheguei no térreo bem rápido, era nessas horas que eu agradecia por morar em um condomínio calmo.

Por sorte a chuva tinha dado uma trégua e eu não precisei sair correndo, mal entrei no carro e Hanna já saiu cantando pneu.

–Ei calma, pra que tanta pressa ? - Perguntei para Hanna, eu odiava andar em carros que estavam em alta velocidade.

–Meu pai acabou de me ligar. - Hanna me disse a coitada parecia atordoada.

–Sim, prossiga ... - Disse a ela na tentativa de saber logo o que estava acontecendo.

–Ray nós estamos muito atrasadas! - Hanna me disse e pude ver um pouco de pavor em seu olhar.

–Atrasadas quanto ? - Eu queria saber a gravidade da situação.

–1hr! Eu entendi o horário errado! - A cada palavra que saia de sua boca ela apertava cada vez mais o acelerador.

E para finalizar a minha tarde e o início da minha noite, eu seria o centro das atenções e isso não seria nada favorável já que precisava ser o mais discreta possível.