Percy Jackson e a Trilogia Da Pedra escrita por Pedro


Capítulo 81
31 - Reencontros


Notas iniciais do capítulo

Realmente acho que eu sou pior que o George RR Martin pra escrever, aquele velhinho escreve uma vez por ano, Winds of Winter jamais será lançado, podem me cobrar.

Enfim, leiam, se ainda houver alguma alma, deleite-se.



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31 - Reencontros

 

A mente de Percy vagou por memórias que não eram dele. Ele se viu em um grande salão, lustrosas prateleiras de mármore branco carregavam papiros, livros e tabuletas antigas.

De repente as paredes começaram a estremecer e rachaduras cortavam o mármore, o teto e o chão.

 Haviam muitas pessoas dispostas em mesas, figuras fantasmagóricas de diferentes épocas, aparentemente. Homens e mulheres andavam sozinhos e em grupos observando e analisando as prateleiras, uns pegavam papiros amarelados, outros livros e enciclopédias sobre doenças contemporâneas. Uns usavam ternos de linho risca-de-giz, outros trajavam armaduras, vestidos de seda colorida, haviam grupos de pessoas dispostas em volta de um monitor de computador, usando jeans e camisetas de bandas de rock.

Percy quase se imaginou estando lá, estudando e descobrindo mais segredos do mundo. 

Ele reconheceu algumas das figuras fantasmagóricas se destacarem. Os olhos azuis de seu mestre eram muito característicos, além de seus cabelos brancos cortados em estilo militar. Ele trajava um peitoral de couro lustroso por cima da camiseta cáqui, além das botas e grevas.

Percy notou o pequeno broche de cabelo brilhar na altura do cinto, que possuía algumas adagas dispostas na cintura e nas costas.  

Perseu carregava uma pilha de livros e papiros nas mãos enquanto seguia uma mulher alta e de cabelos negros brilhantes, Dora usava seu costumeiro vestido de linho branco que caía gracioso até suas coxas, o peitoral prateado e braçadeiras prateadas refletiam o sol que entrava pelas clarabóias, revelando o céu azul da manhã. 

Os “traidores”, um tal bastardo filho de Zeus e a filha do Ferreiro. 

Um tremor nas profundezas provocou calafrios em Percy.

Os livros escapavam das mãos de Perseu, que tentava se equilibrar. Rachaduras cortavam o chão e o teto, enormes blocos de mármore caíam acima das cabeças dos dois, que disparavam para se salvarem.

A biblioteca desmoronava enquanto a mente do semideus o carregava para mais memórias de outro alguém. 

Ele se viu no alto da maior colina do Acampamento Meio-Sangue, o pinheiro que se erguia no topo estava chamuscado e sem folhas. Percy notou o sumiço do dragão Peleu, o garoto costumava observá-lo do braseiro na cidadela de Caos. 

Um pequeno anel prateado brilhava grudado na casca do pinheiro carbonizado, emitindo um brilho fraco. 

Percy escutou a voz de Annabeth

“Vai a algum lugar?” 

O tom de súplica em sua voz fez o coração de Percy falhar uma batida, diferentemente das outras memórias, essa parecia ser bem real e dele.

Uma lufada de ar cortou a colina enquanto as visões faziam a mente do filho de Poseidon vagar em mais flashbacks.

Percy sentiu um repuxo no abdome e aos poucos a luz começou a retornar a seus olhos. Ele sentiu o mármore branco esfriar sua espinha.

A visão do garoto começou a focar, um brilho fraco emanava ao longe. Percy conseguia enxergar apenas um ponto de luz acima, e seus ouvidos detectaram o barulho das engrenagens do elevador de Zeus enquanto este continuava a descer até o coração da montanha Tessaliana.

Percy tentou erguer o tronco com certa dificuldade. Ele se apoiou num dos cotovelos e sentiu sua mão direita entrelaçada em uma mão magra e gelada.

Annabeth.

A cor havia retornado à pele da filha de Atena, suas bochechas estavam coradas e sua respiração cheia e forte, bem diferente do fantasma pálido e imóvel deitado sobre o mármore gelado. 

A garota permanecia com os olhos fechados. Percy a fitou, seus cabelos louros estavam escapando por entre as frestas da bandana negra, a expressão dela era serena, sem o sorriso diabólico. Percy esboçou um sorriso vitorioso.

Percy continuou olhando para ela, como se a filha de Atena fosse desaparecer ao menor descuido. 

Thalia estava encostada em uma coluna de mármore destruída ao lado dos dois, parecia estar cochilando. Percy seguiu com o olhar o brilho fraco que emanava de uma tocha fincada nos pés do que tinha restado da estátua de Zeus,  do outro lado do elevador. Nico e Beckendorf estavam absortos conversando baixo com Perseu, por vezes algumas risadas faziam o som ecoar por entre as paredes e engrenagens. Eles tampouco haviam percebido o despertar de Percy.

Percy se mexeu devagar e interrompeu o contato com a mão de Annabeth, ele a repousou sobre o abdome da garota. O garoto passou uma madeixa dos cabelos dela para trás da orelha e a observou, algo havia mudado. Ele não a encarava como seu objetivo, como meios para finalizar Tártaro, mas sim como uma amiga, de sangue e alma. 

O filho de Poseidon se lembrou de uma erupção no Monte Santa Helena, um beijo subaquático e os olhos cinzas tempestuosos que sempre o repreendiam. A mente do garoto estava enevoada, visões da cidadela do Caos contrastavam com as lembranças que começavam a tomar conta de sua mente. 

Talvez a oferta de Caos não fosse capaz de apagar o amor entre dois amigos, uns que confiavam suas vidas um no outro, que cresceram juntos, que lutaram juntos, talvez bem lá no fundo essas lembranças sempre estiveram ali, somente esperando um ato de extrema bondade e altruísmo. Um ato de amizade. De amor.

Percy continuou observando a filha de Atena, ela se mexia devagar, a começar pelas extremidades. Quando seus olhos se abriram, foi como se Percy sentiu como se fosse a primeira vez que os estava vendo. Verde no cinza. Ela ainda não havia notado que ele estava a encarando. 

—Você baba enquanto dorme — ele disparou baixinho. Percy sentiu uma onda de alívio ao ver sua amiga despertar de um longo sono, um sono o qual ele jamais achou que ela acordaria. 

Annabeth não respondeu, ela olhava fixamente para o começo do túnel do elevador, bem lá em cima. Ela levou a mão direita até a testa e franziu a testa em sinal de dor. 

Percy se afastou um pouco, receoso. 

A filha de Atena percebeu a presença do garoto, ela arqueou uma sobrancelha. 

—Percy? — Annabeth o encarou fixamente, sua expressão era indecifrável. 

Percy engoliu em seco.

—Sou eu Annabeth — o tom de alívio era notável — Sou eu, de verdade. Sem venenos ou ofertas. Sem Caos, Tártaro ou Gaia, apenas eu.

“E você, é Annabeth ou ainda falo com o senhor dos abismos?”

Annabeth desviou o olhar e ergueu o tronco com dificuldade. Annabeth sentou-se e se encolheu abraçando as pernas com os braços. 

—Minha cabeça dói — ela levou as duas mãos às orelhas — O que você fez comigo? 

Percy a encarou esticando mão para tocá-la, a garota se afastou. Ela ergueu o olhar para ele, mas logo voltou a encarar o chão.

O filho de Poseidon cerrou os olhos e dirigiu o olhar até os outros meio-sangues e Perseu.

Pelo canto do olho Percy viu Thalia se mexer, ela o empurrou pra longe com um chute e se pendurou no pescoço da filha de Atena, que retribuiu desajeitada. Annabeth enterrou a cabeça no ombro de Thalia e permaneceu de olhos abertos. Ela encarou Percy, os olhos cinzas enegrecidos, sinistros. 

Percy jamais esqueceria daquele sorriso diabólico na floresta do Acampamento Meio-Sangue, o modo com que ela havia sido implacável. Annabeth reproduziu o sorriso e olhou fixamente para ele. 

Percy se afastou num pulo e ficou de pé, à esta altura os outros semideuses haviam notado a pequena comoção que se formava. 

—Caçadora! — Percy retirou Contracorrente do bolso.

Thalia ainda abraçava Annabeth, ela desfez o sorriso maligno e aninhou a filha de Zeus em seu abraço. Percy conseguiu ver uma lágrima molhar a sua bochecha.

—Thalia, ela ainda é um deles — O brilho de Contracorrente fez os olhos de Percy se iluminarem — Afaste-se, Cara de Pinheiro! 

O som do apelido fez Thalia se separar de Annabeth por um instante, ela se virou esbanjando surpresa em seu rosto. 

—Cabeça de Alga! — o sorriso sarcástico foi tão familiar que Percy sentiu um choque na mão direita. Thalia estava incrédula, porém franziu o cenho logo ao ver Percy armado com a espada.  

Annabeth levantou as duas mãos em posição de defesa. 

—Gente, também sou eu.

Percy deu um passo atrás e ficou em posição de defesa.

—Prove — ele apontou a lâmina para o pescoço de Annabeth, que recuou um passo. 

Thalia se postou entre os dois, e afastou a lâmina com os dedos.

Annabeth avançou um passo.

—Thalia, na batalha em Manhattan, quando a gente perseguiu o Luke até o salão dos tronos — ela sorriu travessa — Uma estátua de Hera caiu em cima de você, eu e o Percy tivemos que ir sozinhos atrás do Senhor do Tempo. 

Annabeth gargalhou, Thalia ficou vermelha de ódio e vergonha, ela praguejou em grego antigo e logo caiu na gargalhada junto de Annabeth. 

Percy ficou atônito, ele baixou a espada meio confuso, Annabeth veio correndo na direção dele e o abraçou fortemente. 

Ele sentia saudades, após tudo que eles haviam passado, Annabeth quase morta duas vezes, Percy sendo forçado a esquecê-la por uma Oferta estúpida, sendo obrigado a abandoná-la para treinar com um mestre que já havia falhado na mesma missão e, por fim, sendo obrigados a lutarem em lados opostos numa guerra que ambos não haviam pedido, despidos de suas memórias, sua amizade, Percy queria acreditar que tudo ficaria bem, mesmo que não ficasse.

Percy tentou esquecer aquele sorriso diabólico, talvez sua mente estivesse pregando peças, afinal ele continuava sendo a arma de Gaia, o portador da Centelha, treinado por Perseu. Era seu dever duvidar, o veneno do Senhor dos Abismos se provou bastante eficaz no que diz respeito a desvirtuar mentes. 

Os outros semideuses se aproximaram, todos foram na direção de Annabeth, que os abraçou um por um.

Percy se afastou um pouco e se postou ao lado de seu mestre. 

—A garota — os dois olhavam na mesma direção, braços cruzados —Você confia nela? 

—Eu não sei, algo mudou dentro de mim, não sou o Percy de antes, nem mesmo após aceitar a oferta de Caos. Algo está diferente.

—Precisamos chegar ao coração da montanha, rápido — Perseu soou sinistro, as engrenagens do elevador estalavam no chão, Percy observou a tocha fincada nos pés da estátua destruída de Zeus. 

—Espero não acabar que nem ele — ele deu de ombros.

Eles riram um pouco enquanto o elevador continuava seu caminho. Um calafrio cortou a espinha de Percy ao cruzar olhares com o par de olhos cinzas penetrantes de Annabeth. Ele engoliu em seco e desviou o olhar.

—Não confio nela.


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