Depois que saí do hospital onde o Arthur estava, fui almoçar com minha mãe. Depois disso passei a tarde toda fazendo absolutamente nada. Até a hora de ir pra escola. Ontem eu acabei não indo porque a Kate foi lá em casa, mas hoje eu iria. Não pela escola ou pelo estudo, mas estava com saudade dos meus amigos. Precisava vê-los.

Quando eu cheguei, a sirene para o início das aulas já havia soado. Não tinha costume de me atrasar, mas acabou acontecendo. Corri até minha sala e fui para o fundo dela, onde Megan e Tyler já estavam lá.

– Achei que não viria hoje de novo, mané. - Tyler falou.

– Vim por vocês. - ri.

– Eu sei que nós somos especiais pra ti e que tu não vive sem nossa companhia. Eu sei Nathan, não precisa me contar. - Megan se exibiu.

– Calma lá espertalhona, já está se exaltando. Eu disse que vim por vocês, mas não necessariamente porque preciso de vocês. Eu vim porque.. Eu preciso de servos para me fazerem rir. - falei, ironicamente e num tom debochado. Os dois me olharam sérios, mas logo, todos nós caímos na gargalhada. É disso que tô falando: sintonia, meu caro. Coisa que você só arruma com amigos de verdade, com quem te conhece.

Nós assistimos a primeira aula que era História Americana. Era um saco, eu sei. Qualquer um sabe disso. Mas eu era obrigado, então.. Mas depois disso só conversamos e deixamos o tempo passar.

– Por que não veio ontem? - Megan me perguntou.

– Eu te contei Meg.. Foi por causa do que aconteceu com o Arthur - Tyler falou.

– Ah é.. - ela acabou se lembrando. - Mas afinal, como ele está? - perguntou.

– Bem. - respondi. - Garanto que quando voltar, voltará pior que antes. Isso ele mesmo me garantiu. - ri. - Mas como eu não havia dormido quase nada, acabei dormindo de tarde. Então acordei eram dez horas da noite. E depois a Kate foi lá em casa..

– Nem precisa terminar. - Tyler comentou, me olhando com aquela cara sem-vergonha dele.

– Essa garota de novo, Nathan? - Megan comentou, num tom irônico e raivoso. Achei que ela estivesse brincando, mas depois que vi que ela não riu nem mostrou o mínimo de animação, percebi que ela, definitivamente, não estava brincando.

– O que há de errado? - levantei os ombros e franzi as sobrancelhas.

– Nada. - falou, se encostando no encosto da cadeira e cruzando os braços, olhando longe.

– Megan.. - chamei-a. - Não se faz de durona. Você sabe que nunca escondemos nada um do outro. Somos amigos pra isso.

– O problema é que você passa muito tempo com ela. - falou. - Você tá perdendo a verdadeira essência que esse ano tinha pra ter. Teu último ano conosco, lembra ainda Nate? Em vez de ficar com nós, tu passa praticamente a semana inteira com ela. Deixa de ir pra festa com nós pra ficar de abracinhos e beijinhos com ela. Faça-me o favor, Nathan!! - falava, como o dedo na minha cara.

Arregalei meus olhos e encarei-a. Interpretei cada palavra que ela disse. Não falei nada. Ainda estava pensando no que Megan acabara de me contar.

– Tu concorda com isso? - pedi à Tyler. Ele encolheu os ombros e ficou me olhando, sem dizer uma palavra. Eu sabia que isso era um sim. Dei um suspiro longo e passei os olhos pelos dois. - Tá legal. Me desculpa. - falei por fim. - Acabei de reconhecer isso. Eu realmente estava sentindo que algo faltava, acho que não me dei por conta que estava deixando vocês de lado. - encarei o chão. - Mas é que.. Porra, me senti tão fragilizado com essa história do Arthur que eu acabei me acolhendo nela. Entende? - olhava os dois. - Mas Arthur vai voltar logo, e isso não vai acontecer.

– Não quero te forçar a nada Nate – Meg falou –, mas também não quero que você deixe a gente de lado. Porra, estamos nessa há 10 anos, mais ou menos, se não for mais que isso.

– Não podemos deixar que nada nos abale. - Tyler completou.

– “Nós contra o mundo”, vocês lembram? - falei, sorrindo. Eles concordaram com a cabeça, me retribuindo o sorriso.

No final, acabamos caindo na gargalhada. Realmente, estava cometendo uma loucura em deixar meus amigos de lado. Mas Kate.. Eu iludi ela? Ou iludi a mim mesmo?

Caralho.. Preciso de uma festa pra esquecer tudo isso. Ironicamente, preciso de uma festa pra depois saber o que fazer. **

Era sexta. Fazia dois dias que Arthur já estava em casa. Minha mãe sempre vinha aqui para ver como ele estava. Era uma manha que só vendo pra acreditar! Enfim, Arthur já estava em casa e recuperado de uma forma que quem visse, nem diria que ele havia sido baleado. Todos se surpreenderam com sua recuperação. Menos eu. Eu sempre acreditei nele. E nós precisávamos comemorar isso. Da nossa maneira..

Depois que saí da escola, voltei até em casa com Megan e Tyler me acompanhando. Arthur já nos esperava e então seguimos para Venice Beach, onde havia as melhores festas de todos os tempos. E eu não estava exagerando.

Entramos na casa noturna mais movimentada que tinha, e juntando nossos dinheiros compramos doses de tequila para cada um. E repetimos o fato por mais cinco vezes. No mínimo. Devo admitir, estava um pouco tonto. Mas consciente. Depois de beijar algumas garotas, dançar até não pode mais, resolvemos caminhar pela tão maravilhosa Venice Beach. Era um lugar maravilhoso e estar com meus amigos era o que tornava a coisa especial. Seguimos até a praia.

– Aí, vamos sentar aqui. - Megan falou. Ela se segurava em Tyler para não cair, mas ele estava mais tonto que ela. Era engraçado de ver.

Nós sentamos na areia, próximo ao mar. Vi que Arthur acendeu um cigarro e então me lembrei de uma coisa. Apalpei meus bolsos das calças, e então ergui o nosso “saquinho de ouro”

– Nathan!! - todos me olharam com os olhos arregalados.

– Depois digam que eu não sou um bom amigo. Só eu pra ter essa maravilhosa erva pra gente. E irmão – olhei pra Arthur e lhe entreguei o saco –, é toda tua. É a do San Jordano. Eu fumei um pouco, mas guardei o resto pra ti. - sorri.

– Pô Nate.. - ele sorriu e me abraçou. Parecia que estava dando minha alma pra ele. Mas era tão gracioso quanto. - E melhor ainda é dividir essa parada com vocês.

Ele bolou o cigarro de maconha e então fumamos, sentindo a maresia que vinha do mar e o vento gelado. Percebi que Arthur contava quanto de dinheiro havia lhe sobrado, com uma certa dificuldade, é claro.

– Quanto de dinheiro vocês tem?

– Vinte e cinco dólares. - Megan falou.

– Eu tenho vinte dólares.. - falou Tyler.

– Porra.. - contei o meu. - Tenho vinte também.

– Beleza, tá mais que bom. Vamos pra outra festa? - ele sorriu, com um sorriso que nem cabia no rosto.

Nós concordamos, sem dúvidas alguma! Voltamos para o nosso bairro e fomos em uma festa, que tinha um nível um pouco mais “inferior” à que estávamos antes. Mas havia bebidas, garotas.. E o melhor, havia muito mais maconha por ali. Era o lugar certo pra gente. O lugar onde a nossa felicidade era certa.

Eu tinha uma garota, Arthur, como de merecimento, tinha duas e Tyler outra. Megan, bem.. Graças aos seus dotes sensuais – ou sexuais – conseguimos entrar de graça na festa, porque ela ficou com o segurança. Por isso eu amo essa garota!

– À nós! - Arthur levantou seu copo, para brindarmos. Todos nós gritamos em uníssono e brindamos nossos copos. Depois tomamos todo o drinque que nele havia.

Fumamos ainda mais, bebemos muito mais e curtimos aquele final de noite. O sol já estava pra nascer e você já deve imaginar a nossa situação. Eu já não sabia nem o que estava fazendo, só sei que tinha uma garota linda nos braços. Ou melhor, como eu posso explicar.. Eu tinha ela um pouco mais abaixo dos meus braços. E meio que ela que me tinha.

Não sei se me entende..

Mas vai entender quando eu disser que, dentre os últimos dias, esse foi o melhor que eu tive. Na companhia dos meus amigos e o meu irmão recuperado, eu não queria mais nada. Meu corpo pedia por mais álcool, pedia para que eu saciasse o meu vício. Meu corpo estava chegando em seu êxtase e eu não queria parar. Nós não queríamos parar.

Cada um com o seu êxtase, cada um com o seu vício e cada um o saciando. Eu não queria que aquilo acabasse e sabia que meus amigos também não.

O fato era que nós não podíamos parar.

E nós não íamos.