Perdi a noção do quanto corremos. Passamos por pedestres, esbarramos em algumas pessoas que tomavam seu café da manhã e como se tudo isso não tivesse bastado James fez a burrada monstra de escorregar no meio do asfalto. Fer xingou o bode de tudo quanto é nome antes de levanta-lo. Diego ia na frente junto com Isa, parando para erguer a tampa de um bueiro.

– Entrem ai! - ele berrou a ordem com urgência.

Isa, Mari e Sueny entraram primeiro seguidas por James. Chris fez uma careta antes de encarar Diego.

– Eu não entro ai nem morto. - ele retrucou. Você não faz noção de como eu queria esganar esse garoto.

– Argh, pelo amor dos deuses, você deve ser alguma patricinha ao invés de um filho de Ares. Entra logo nessa droga antes que eu chute sua bunda! - Fernando estava definitivamente a ponto de explodir.

– Não se dê ao trabalho Fer. - agarrei Chris pelo colarinho da blusa, fazendo o mesmo perder o equilíbrio - Eu mesma jogo. O garoto foi com tudo pra dentro do bueiro.

Deve ter batido de cara na água pelo barulho. Diego esboçou um sorriso e Fernando me olhava com um ar de satisfação que foi substituído quando escutamos os sons das viaturas policiais. Fer não perdeu tempo e pulou.

– Vai Nath, eu vou depois. Fiz o que Diego me pediu e saltei para dentro do bueiro. Estava escuro, mas eu conseguia enxergar muito bem lá embaixo. Escutei a tampa sendo recolocada no lugar e o baque surdo dos pés de meu irmão tocando o chão. Ele estava observando a pequena brecha de luz na tampa e só voltou a atenção pra mim quando as viaturas passaram direto.

– Acho que não vão nos encontrar aqui. - ele estava sorrindo. Na pouca luz ele pareceria um psicopata estuprador que se visse algo vivo e se mexendo partiria pra cima. Retribui o sorriso vasculhando o lugar. Fer e Isa vieram a nosso encontro e não pareciam ter sofrido nenhum arranhão pela queda.

– Urgh, você poderia ter escolhido um lugar melhor Di, tenho até nojo de controlar essa água.

– A gente meio que não tinha opção Fer. Ou era isso ou sermos presos, sei lá.

– Muito bem garotinhas, vamos parar de reclamar e seguir em frente. Isso aqui cheira muito mal. - retrucou Isa já se adiantando.

Na mesma hora que nos juntamos ao resto do grupo para procurar uma saída que pudesse ser considerada segura comecei a ter a sensação de estar sendo seguida. Tudo bem, eu enxergo na pouca luz, mas não quer dizer que eu saiba exatamente de onde vem o perigo. Ainda não virei um radar pra monstros e coisas bizarras, talvez um pouco, mas não!

– Nath? - Fer me chamou. Me dei conta de que me afastei um pouco dos outros e estava distraída.

– Tem alguma coisa aqui Fer. Temos que sair logo desse lugar.

Ele assentiu alerta. Minha mão estava na corrente pronta pra qualquer coisa que viesse.

– Aqui! - Chris chamou alguns metros a nossa frente.

Ele tinha encontrado uma saída. Diego se apressou pra abrir e nos dar passagem. A luz que entrou quando a tampa foi erguida era um tanto desconfortante. Permaneci ao lado de Fer enquanto os outros saiam sendo ajudados por Diego. O garoto parecia uma máquina que não se cansava nunca.

– Vem Fer. - Di estava com a mão estendida para o melhor amigo.

Foi ai que escutei. Parecia um sibilo ao inicio, porém se tornou muito mais alto. Senti algo roçando em minha perna me fazendo esticar a corrente. A foice surgiu em minha mão e a usei para cortar a cauda da criatura. Beleza, acho que vocês adorariam ver minha cara quando encarei o monstro de sei lá, uns 5 metros?

– Hidra! Nath, sai logo dai!!!

Não consegui, eu estava totalmente paralisada. Sacudi a cabeça voltando ao foco. Girei a foice nas mãos cortando a pele do monstro, porém não a cabeça. Eu não faltei aulas de história o suficiente pra não saber o que acontece quando se corta uma das cabeças. O problema todo era que se eu recuasse agora a hidra tentaria matar meus amigos, e é claro, eu não permitiria.

– Vamos dançar.

Convoquei os guerreiros esqueletos que consegui para distrair a criatura. Pelos cálculos isso não ia funcionar por muito tempo, então tentei ser rápida cortando partes que eu sabia que não eram muito arriscadas, mas acabei me esquecendo que isso me esgotou. Eu não iria aguentar aquilo mais tempo.

– Corra! - Chris saltou de encontro a hidra com a espada em punhos - Não tem que completar sua missão? Vai logo!

Ele me olhava desesperado. Corri até onde Diego estendia a mão pra mim e soltei um suspiro de alívio quando encontrei ar puro. Isa estava com a lança em punhos de uma forma assustadora.

– Alguém está afim de um churrasco? - o tom que ela usou era frio. Seus cabelos loiros voavam devido ao vento e seus olhos azuis pareciam glaciais.

Ela ergueu a lança e o tempo fechou. Raios começaram a cruzar os céus até que me dei conta do que ela faria tarde demais.

– Não! Chris está lá embaixo!

Mas não adiantou. O raio foi dirigido para dentro do bueiro com um forte clarão. Escutei os urros da hidra sendo queimada e os gritos de Chris. Ninguém teria sobrevivido a isso. Eu estava totalmente convencida do fato quando fitei Sueny e Mariana totalmente perplexas com o que acabara de acontecer. Até mesmo Diego, Fernando e James estavam chocados. Isa estava me olhando fixamente e parecia prestes a vomitar quando se deu conta de seu erro.

– Droga... Su e Mari, voltem ao acampamento. Digam a Quíron que Christopher Peters está morto... - a voz de Diego tremeu quando pronunciou as palavras.