Antes de Decolar escrita por Sparky


Capítulo 1
Antes de Decolar - OneShot


Notas iniciais do capítulo

Primeira fic que eu terminei na vida xD
Que nostálgico xP



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       Elle Bishop se aproximou da bancada do check-in, hesitante. Seu aparente mau humor não era infundado: acabara de ser chamada de “bagunceira” por seu pai. Apesar de não ter sido bem isso que disse, foi assim que ela interpretou. Ela bufou nervosa, enquanto era observada pelo rapaz parado atrás do balcão. Jogou a pequena mala de viagem na esteira com uma fúria certamente desnecessária e abriu sua carteira para pegar o passaporte.

        ­–­ A senhorita está bem? – perguntou o rapaz, com um forte sotaque irlandês, muito comum na cidade em que estava, Cork, na Irlanda.

        – É da sua conta? – indagou ela em resposta, ainda concentrada na carteira. Era impressionante como as coisas eram mais complicadas quando se está nervosa. Ficava mais difícil até pensar.

        – Talvez não seja – ele respondeu, educadamente, sem tirar os olhos dela.

        Depois de mais dois minutos procurando, ela puxou violentamente o passaporte e bateu-o na bancada, assustando o garoto. Quando ele pegou o livrinho azul, junto estava uma foto. A foto de Peter Petrelli.

        – Não era para isso estar aí – ela disse, tomando a foto da mão dele, fitando-a por um momento e guardando no bolso do casaco.

        Ela manteve o olhar baixo enquanto ele carimbava o passaporte. Ambos permaneceram em silêncio, até que ele sussurrou:

        – Esse homem... ele está aqui.

        Elle levantou os olhos para ele, e pôde-se perceber um brilho de alegria. De repente, o rosto dela iluminou-se num sorriso. Parecia que ela acabara de ganhar um cachorrinho no seu aniversário de seis anos.

        – Está? Digo... – o sorriso jovial desapareceu, dando lugar a uma expressão de descaso, e desdém encheu sua voz – É mesmo?

        O rapaz acenou com a cabeça, devolvendo o passaporte a ela. Ela recebeu-o, um sorriso novamente enfeitando sua face, porém desta vez nem tão alegre, e mais malicioso.

        – Hmmmm, interessante – refletiu ela, agora fitando o vazio. Subitamente, seus olhos foram de encontro aos do rapaz – Ele está sozinho?

– Não – ele respondeu, inclinando levemente a cabeça para o lado, fazendo-se de desentendido – Por quê...

– Apenas responda – ela ordenou, cruzando os braços.

– Há uma mulher com ele – murmurou o rapaz, resolvendo não desafiar aquela mulher. Ela carregava uma placa de: “PERIGONÃO CONTRARIE”.

– Uma... mulher... – o desdém desaparecera, e agora ele notava um tom de ciúme. Ela guardou o passaporte, pegou a mala, sorriu para ele e disse – OK, obrigada!

Ela se afastou, e o rapaz acompanhou-a com o olhar até ela desaparecer no meio da multidão. Que mulher fascinante!

***

Elle agora se encontrava numa sala menor, sentada numa daquelas poltroninhas de sala de espera, com a cabeça apoiada nas mãos. Não encontrara Peter em lugar algum do aeroporto. Ficara tão animada, pensando que iria finalmente achá-lo, e nada. Suspirou longamente, olhando para o chão. Nunca se sentira assim. Talvez fosse o que as pessoas chamam de “saudade”.

Ela ouviu um casal chegando e se sentando na fileira que dava para o outro portão de embarque. Estava tão desanimada que nem levantou a cabeça para olhar quem era. Porém, os sussurros chegaram a seus ouvidos, e ela quase não conseguiu conter a surpresa.

– O vôo sai em meia hora – disse uma voz feminina desconhecida por Elle – Esperamos aqui ou você quer fazer alguma outra coisa?

– Vamos só sentar aqui, Caitlin – replicou a voz de Peter, o que fez Elle levantar a cabeça para ver quem falava. Seu olhar trombou com o dele, e ela sorriu. Levantou-se e adiantou-se para os dois, enquanto ele a observava, curioso, e, aparentemente, sem reconhecê-la. A mulher, Caitlin, virou a cabeça para onde Peter estava olhando, e quando seu olhar pousou na loira que se aproximava ela teve um sobressalto. Segurou o braço dele com força, fazendo-o olhar para ela com uma careta de dor.

– Que foi? – ele indagou suavemente, colocando sua mão sobre a dela para que ela afrouxasse o aperto, e logo depois voltando o olhar para a mulher, cujo nome ele não sabia, mas tinha a estranha sensação de que conhecia.

Antes que Caitlin pudesse responder, Elle parou na frente dos dois, um sorriso malicioso estampado em sua face.

– Olá, Peter – cumprimentou ela, esticando o braço na direção dele e espalmando a mão – Finalmente te encontrei.

Ele apenas teve tempo de empurrar Caitlin para o lado antes que um relâmpago azul o atingisse com toda a força no peito. Quando ele reabriu os olhos, havia um grande buraco carbonizado em sua camisa, e uma grande queimadura se regenerava bem naquele lugar. A loira continuava parada a sua frente, com o braço já abaixado. Ela colocou uma mecha de cabelos atrás da orelha e dirigiu-se a ele, ignorando uma Caitlin extremamente impressionada a seu lado.

– Por você ter me abandonado.

***

Ele tinha os olhos arregalados de surpresa. Ela também podia soltar raio pelas mãos! Ele a conhecia, tinha certeza que a conhecia, porém não conseguia se lembrar. Encarou-a, enquanto fechava seu casaco para cobrir o buraco chamativo que ficara em sua camisa. Ambos respiravam em grandes golfos de ar. Ela abriu a boca para dizer algo, mas ele a interrompeu.

– Quem... é você?

– Você – quem respondeu, porém, foi Caitlin – é a vadia que matou meu irmão.

– Vadia, não – protestou Elle, abrindo novamente um sorriso – mas não nego que o matei. Seu irmão... era um mentiroso... e eu não gosto que mintam para mim.

– Ora, sua... – começou a morena, avançando para a outra e sendo impedida de continuar por Peter. Ele puxou-a para perto e sussurrou em seu ouvido:

– Espere um pouco, por favor. Ela provavelmente sabe alguma coisa sobre meu passado. Ela pode ajudar a descobrir o que aconteceu comigo, ajudar a entender o que tinha naquela caixa. Ajudar a dizer quem eu sou.

A tensão que se apoderara de Caitlin por um momento se fora; a raiva, porém, continuava lá. Peter virou-se para a loira e olhou profundamente nos olhos dela. Um nome veio à sua mente.

– Elle...?

***

– Tinham me dito que você tinha perdido a memória – ela falou, observando-o com uma expressão confusa no rosto.

– Eu perdi, mas... eu simplesmente olhei para você e... esse nome apareceu na minha cabeça. Eu não sei como...

– Você... lembrou de mim.

Elle sentiu a felicidade explodir em seu peito.  Lembrava- se de que o homem nas docas dissera que ele não recordava sequer o próprio nome, mas ele se lembrara dela. Ela deixou um sorriso infantil escapar, mas logo retomou sua expressão maliciosa e olhou para Caitlin. Depois dessa, sentiu uma vontade quase incontrolável de irritar a outra. E ela preferiu nem tentar controlá-la.

– Seu irmão morreu em vão, não vê? Ele – ela apontou para Peter – me conhece.

A morena agüentara até agora, mas fazer fusquinha já era demais. Ela literalmente “pulou no pescoço” de Elle, e as duas foram para o chão, se estapeando. Peter tentou apartar a briga e, para a sorte de Caitlin, ele separou as duas antes que a loira desse um choque nela.

– Segure sua namorada, Peter – caçoou Elle, se levantando – ou ela vai acabar se machucando.

– Vai fazer como fez com meu irmão? – gritou a outra, sendo amparada por Peter – Vai...?

– Se você quiser... – agora ambas já haviam retomado a postura, e ele já se posicionava para evitar que elas se atracassem de novo.

– Você... é louca...

Peter de repente teve um vislumbre do passado. Ele, numa sala de hospital, sentado numa maca, ou seria uma cama? Então, uma mulher vinha e sentava a seu lado... Elle? Será? Depois os dois estavam de pé, ela de frente para ele, dizendo-lhe alguma coisa...

– Eu vivo nesse prédio há dezesseis anos... – ela caminhou em sua direção e parou quando estava cerca de vinte centímetros de distância – desde que os psicólogos diagnosticaram que eu era uma sociopata com ilusões paranóicas, mas... eles só estavam tentando me prejudicar porque ameacei matá-los.

Ele sacudiu a cabeça, sentindo a memória voltar. Aquela cena reapareceu em sua mente, porém... não havia sentido. Era apenas um pedaço do quebra-cabeça...

***

        – Peter, você está bem? – perguntou Caitlin que, assim como Elle, parecia preocupada.

        – Eu acabei de ver... você – ele virou-se para Elle, e se aproximou dela – eu estava preso, ou internado, e você estava lá, junto comigo...      

Ele congelou ali, e o tempo pareceu parar. Não queria lembrar-se disso... de um confinamento... preferia ficar sem isso em seu passado. Por que ficara preso? E por que ela estava lá? Talvez essa mulher só representasse uma parte ruim de seu passado. Uma parte que ele decidiu não lembrar.

        Vôo para Montreal, embarcando – eles ouviram uma voz feminina dizer pelo alto-falante.

        – Vamos, Caitlin – ele murmurou, dando as costas para Elle e puxando Caitlin pelo pulso. O casal caminhou um pouco, até que ele sentiu uma mão segurar a sua de leve. Seu toque era estranhamente elétrico.

        – Não vá.

        Peter virou-se para ela, sem soltar sua mão. Ela não queria que ele fosse embora. Ele sabia não apenas pelo tom de sua voz, nem por seu toque, mas porque ele tinha a sensação de que ela realmente precisava dele, como jamais precisara de alguém. O olhar dela mostrava uma tristeza a qual ele teve certeza de que ela nunca sentira.

        – Por favor.

        Por um momento, Caitlin desapareceu de sua mente. Ela segurou a mão dele entre as suas, e ele ouvia seu coração bater rápido. O carinho com que ela o encarava foi suficiente para fazê-lo querer saber de onde a conhecia. Ele escolhia cautelosamente o que iria dizer para ela, quando foi surpreendido por palavras que não esperava ouvir. Pelo menos, não tão cedo.

        – Peter, eu... eu acho que... te amo.

        Ele permaneceu calado, olhando fundo nos olhos dela. O que diria? Mal se lembrava dela, e ela dizia que o amava. Como deveria reagir? Tinha medo de como ela reagiria. Porém, antes que pudesse dizer qualquer coisa, ela aproximou-se dele e, na ponta dos pés, depositou um tenro beijo em seus lábios.

        Depois um tempo o qual nenhum dos dois saberia definir se foi um segundo, um minuto, uma hora ou vários dias ensolarados, eles se separaram, ainda de olhos fechados. O silêncio tomou conta: não se ouvia um murmúrio sequer. Peter apreciava a quietude, sentindo sua memória voltar aos poucos.

        ***

        – Você salvou a líder de torcida – dizia seu irmão, Nathan – para que nos pudéssemos salvar o mundo.

        Nathan. Agora ele finalmente se lembrava.

        – Ele não é um brinquedo, Elle.

        – Podia ser...

        Elle... a primeira vez que a vira...

        – Tenho 24 anos e nunca tive um encontro. Nunca andei de montanha russa. Nunca nadei. E agora você sabe tudo que há para saber sobre mim. Não posso me dar ao luxo de ser mais interessante do que isso.

        Nesse dia ele finalmente entendera por que ela era tão diferente. Diferente de todas as mulheres que ele já conhecera. Fora o dia em que se apaixonou por ela.

        – Palavras de um sábio, meu amigo: eu manteria distância dessa garota.

        – Eu não quero nada dela além dos remédios.

        Era mentira.

        – Você não vai me dar um choque? – ele perguntou, esperançoso de que a resposta fosse sim.

        – Por quê? Você quer um?

        Ela caminhou em sua direção lentamente, dando passadas largas. Quando parou, ele segurou-a pelos quadris e sentou-a em seu colo. Hoje seria o último dia que ele a veria; o plano de fuga que ele e Adam vinham montando chegara a sua parte final, porém, desde que ele sentira seu coração bater mais forte por Elle, ficara em duvida sobre o que realmente queria.

        – Como você disse, estou começando a gostar deles. Começando a gostar de você.

        Ele levantou a mão, como sempre fazia quando ela queria “brincar” com ele. Ela, crente de que era apenas uma brincadeira, fez o mesmo.

        – Tudo bem. Já que você foi gentil...

        Ela levou sua mão na direção da dele, conforme o de sempre, mas ele foi levando a mão para trás. Quando ela se deu conta, ele já havia capturado os lábios dela com os seus.

        “Adeus, Elle”.

        Ela merecia uma despedida melhor. Porém, isso era o melhor que ele podia oferecer.

        – Peter.

        Ele abriu os olhos e se surpreendeu ao perceber que não estavam mais no aeroporto, mas sim num casebre, muito bagunçado por sinal. Móveis estavam amontoados num canto e no outro. Elle estava parada a sua frente, com uma expressão confusa no rosto. Tão confusa quanto à dele.

        – Como viemos parar aqui? – ela perguntou, olhando em volta.

        – Hiro – ele respondeu, apenas.

        – O que?

        – É um cara que consegue parar o tempo, e também se teletransportar.  Acho que usei o poder dele sem querer.

        Os dois fitaram o chão por algum momento, até que Peter deu um passo na direção dela e a abraçou. Ela retribuiu com a mesma intensidade; sentira muita falta dele.

        – Você me desculpa? – ele sussurrou no ouvido dela, carinhosamente – Por ter ido embora sem uma despedida própria?

        – Não sei... – brincou ela, logo depois rindo e acrescentando – Claro que sim.

        – Obrigado – ele agradeceu, soltando-a do abraço e acariciando seu rosto. Beijou-a como desejava ter beijado há muito tempo, e como ela desejava ser beijada há muito tempo. Suas mãos desceram até a cintura dela, e ele sentiu os braços dela envolverem seu pescoço num abraço apertado e carinhoso.

        De repente, uma porta rangeu e os dois se separaram. Adam apareceu na sala e disse, sorridente:

        – Então, vamos salvar o mundo?

Shall we save the world?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ^^
Beijos



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