— A pessoa que te manda cartas. Eu descobri.

Arregalei os olhos.

— Quem é?

Ela abriu a boca. Uma palavra. Três letras.

— Ren.

***

Yesubai POV

Depois de termos saído da casa da Kells, eu fui para a casa do Ren, que não gostou muito da ideia.

— Por que você está me seguindo? – Ele perguntou.

— Não estou te seguindo.

— Então, para onde você está indo?

— Pra sua casa, ué.

— Minha casa? Quem te chamou?

— Pff, ninguém precisa me chamar para eu aparecer por lá. Aliás, faz tempo que eu não vejo a sua mãe.

— Você pode ligar para ela ao invés de aparecer na minha casa, sabia?

Dei de ombros e ele suspirou.

***

— Mãe? – Ren chamou.

Silêncio.

— Mãe? Hm... Acho que ela não está... Okay, Yesubai, tchau.

— O que?

— Você disse que veio ver minha mãe. Ela não está. Pode ir.

— Você está me expulsando?

— Quase isso.

— Não.

Ele revirou os olhos, sentou-se no sofá, tirou o celular do bolso e o jogou na mesa de centro.

Ele começou a me encarar.

— O que foi? – Perguntei.

Ele não disse nada.

— O que foi? – Repeti.

— Sério Bai. O que você quer?

— De verdade?

Ele assentiu.

Cruzei meus braços.

— Quero que você chame logo a Kells para sair.

Ele arregalou os olhos e então, olhou para o outro lado.

— Ah Dhiren! Qual é! – Exclamei – Você está afim dela faz quanto tempo? Faz um favor para você mesmo e chama logo ela para sair!

Ele começou a ficar vermelho.

— E-E-Eu... Ye-Yesubai!

Dei de ombros.

— E-Eu vou pegar um copo de água. Já volto.

— Tá tentando fugir do assunto?

Ele não deu uma resposta. Apenas se levantou e saiu andando.

Suspirei e, então, eu vi uma ótima oportunidade.

Sentei-me no sofá e peguei seu celular.

Desbloqueei-o facilmente, já que não havia senha. Procurei rapidamente o número da Kells entre os contatos.

Olhei para os lados. Ele ainda não estava vindo.

Então, comecei a escrever uma mensagem.

‘’Kells... ’’

Hm. Não. O Ren nunca havia chamado-a desse jeito.

‘’Kelsey, eu estava pensando de, sei lá, a gente sair amanhã, ir para o shopping, pegar um cinema... ’’

Li aquilo e logo apaguei. O Ren não era o tipo de pessoa que escrevia algo assim, era?

Tentei escrever novamente.

‘’Kelsey, vou ter que passar na sua casa amanhã. Podemos sair juntos?’’

Isso. Seco e direto. Bem a cara dele.

— Meu Deus – murmurei para mim mesma, observando a mensagem ainda não enviada – Eu sou muito boa nisso... Acho que vou abrir uma empresa de envios de mensagens. Será que alguém me contrataria?

No meio do meu discurso de auto apreciação, Ren voltou à sala. Tentei esconder seu celular atrás das costas.

— Yesubai eu... – Ele me olhou, como se houvesse algo de errado em mim - Isso aí é... Isso ai é o meu celular? O que você está fazendo com o meu celular?

Levantei-me enquanto ele vinha em minha direção rapidamente.

— Devolve! – Ele disse, tentando pegar o celular da minha mão.

— Não!

— Isso é meu!

— Me deixa!

— Solta isso, Yesubai!

— Deixa de ser chato – Eu disse, levantando o celular o mais alto que consegui – Me deixa segurar um pouco!

Levantar o celular foi um erro. Ele era mais alto do que eu. Sempre foi assim.

Ele segurou minha mão, prendendo-a enquanto esta segurava o celular. Ele puxava, mas eu não conseguia soltar.

E então, aquele barulhinho.

Um ‘’bip!” vindo do aparelho eletrônico

A pessoa de olhos azuis me olhou, confusa e tomou o celular da minha mão. Ele olhou para a tela por alguns segundos, até que seus olhos se arregalaram.

— Yesubai! – Ele quase gritou, me fazendo dar um pulo para trás.

— O-O que?

Ele esticou o celular, quase enconstando-o no meu nariz.

— O que você tem nessa sua cabeça!?

Eu andei um pouco para trás para conseguir entender o que ele estava me mostrando.

E foi quando eu percebi.

Minha mensagem havia sido enviada.

— Yesubai! Responde!

—A-Ah, e-eu, eu, eu...

Ele colocou a mão sobre a cabeça.

— O que foi que você acabou de fazer?

— A culpa não foi minha! – Apressei-me em dizer.

— Não? Como não?

— A-A... Eu ainda não tinha enviado! Foi por sua culpa.

Ele me encarou. Se ele pudesse soltar lasers pelos olhos, já teria feito-o.

— Vai me dizer que você não ia enviar?

— Eu... – Ele cruzou os braços – Eu... Eu ia... – Murmurei.

Ele se sentou no sofá e olhou para o celular, indignado.

— Eu vou falar pra ela que foi um engano – Ele disse e suspirou logo depois.

— O que? Não! Você não pode fazer isso!

— Por que não? Eu vou arrumar a sua bagunça?

Cruzei os braços.

— Arrumar a minha bagunça? Você é quem vai criar mais bagunça... A Kells vai achar que você voltou atrás.

— Isso é ruim?

— Pelo amor de Deus, Ren! Claro que isso é ruim! Ela vai achar que você não está interessado nela.

— Não é esse o objetivo?

Eu respirei fundo e tentei me acalmar.

— Se você tentar me contrariar agora, eu juro por tudo nesse mundo, que eu te arrebento e chamo a sua mãe, a Fanindra e a Sarah para me ajudarem.

Ele me olhou, confuso.

— Você tá me ameaçando?

— Você acha que eu estou?

Ele apenas balançou a cabeça e jogou as mãos para trás, como se dissesse: ‘’Tanto faz’’

— Tá... Que seja...

O aparelho em sua mão fez um barulho novamente. Corri e peguei o celular de sua mão.

Era uma mensagem da Kells.

‘’Ah... Okay. Que horas você vai passar?’’

Olhei para a pessoa de olhos azuis ao meu lado. Ele me encarou de volta.

— O quê? – Ele perguntou – Foi você quem começou isso, agora continua.

‘’ Meio dia é um bom horário?’’

Esperamos ela responder e o aparelho logo soltou outro bipe.

‘’ Okay. Meio dia, então. ’’

Ele passou a mão sobre o rosto e caiu sentado sobre o sofá.

— O que foi? – Perguntei.

— Eu não acredito que isso está acontecendo. O que você foi fazer, Yesubai?

***

Kelsey POV

Abri os olhos.

Sentei-me na cama e lembrei-me do que havia acontecido no Sábado.

‘’ – Ren.

— O quê? Não, não pode ser ele – Eu ri.

Olhei para ela. Sua feição estava séria.

— Você não está brincando?

— Kelsey, é ele.

— Você tem certeza?

— Eu sei que é ele. Eu disse que se eu o visse de novo, eu o reconheceria.

Fiquei quieta por alguns segundos.

— Ele sabe que... Você sabe que é ele?

Ela ficou muda por uns segundos.

— Não.

— Não?

— Não, ele não sabe... Você acha que eu chegaria abordando ele e perguntando se é ele quem te manda cartas?

— É... Não parece ser algo que você faria.

Ela riu.

— Alguém sabe que você sabe?

— Tenho cara de quem sai gritando para suas amigas que é ele quem te manda cartas anônimas?

— É... Não’’

 Suspirei ao pensar na conversa.

Levantei-me da cama e me espreguicei.

“Eu e Sarah ainda estávamos sentadas na cama, de frente uma para a outra quando meu celular apitou.

Eu o peguei e o desbloqueei.

— O que é? – Sarah perguntou.

— É uma... Mensagem do Dhiren?

Ela arregalou os olhos.

— Sério? O que ele quer?

Cocei a cabeça.

— Ele... Ele... Tó. Leia.

Passei o celular para ela que leu com um sorriso no rosto.

— Kelsey! Vai! Escreve alguma coisa de volta!

— Quê!?

— Ah meu Deus, Kells, não perde uma chance dessas. É ele quem te envia todas aquelas coisas bonitas e agora ele tá te chamando pra sair! Não desperdiçe isso.

— Mas... Mas eu não sei o que fazer... Eu vou dar uma desculpa, falar que não posso, que comecei a passar mal...

Antes que pudesse terminar de falar, ela tirou o celular da minha mão.

— Nem pense nisso – Ela disse – Eu não vou deixar você estragar isso.

Ela digitou alguma coisa, apertou o botão de enviar e me devolveu.

Olhei para a tela do aparelho.

— Sarah!

Ela segurou meus ombros.

— Kells, eu não posso deixar você desperdiçar uma chance como essa. Se encontre com ele amanhã, se você não gostar, pode gritar comigo, dar chocolate para os meus filhos, pode fazer o que você quiser, mas por favor, vá amanhã’’

Olhei para o relógio na mesa da cabeceira.

10h38min.

Suspirei e olhei para cima.

Isso estava mesmo acontecendo?