_ Hermione, vamos... Rony já está ai na frente. – gritou Harry do pé da escada, estranhando a demora da amiga. Hermione nunca havia sido de demorar a se arrumar, mas nos últimos dias estava demorando cada vez mais.

_ Harry, está tudo bem? – Rony entrou e Harry observou que ele trajava uma roupa mais casual que seu usual terno e gravata de guarda costas. O ruivo trajava um jeans escuro, camiseta preta e jaqueta de couro também preta, além de um par de tênis vermelho.

_ Rony, hoje a noite você não é meu segurança, não precisa ficar tão encanado. – lembrou Harry rindo e o ruivo deu um sorriso amarelo.

_ Costume. – desculpou-se o ruivo – Hermione ainda não está pronta?

_ Não... – resmungou Harry, sentando-se no degrau – Você tem irmã... Elas costumam demorar para se arrumar em que tipo de situação?

_ Gina sempre demora para se arrumar. – reclamou o ruivo e Harry riu – Sério, meu pai teve que fazer um banheiro só para ela. Não havia mais espaço para tantos produtos para realçar seus cachos ruivos... Falando em ruivas, descobriu algo?

_ Nada. Snape resmungou quando pedi o registro dos visitantes e as filmagens da câmera do saguão, mas não encontrei a ruiva misteriosa. – explicou Harry entristecido – Será que tive uma miragem?

_ Não sei. Mas se o que você quer é uma ruiva, posso te apresentar algumas primas. Tenho pelo menos 20. Algumas são bem feias, mas outras são bem bonitas. – ofereceu Rony e Harry riu. O moreno tinha particular interesse em conhecer a irmã dele, mas não diria isso para o amigo.

_ Pronto seus nervosinhos, estou pronta. – disse Hermione surgindo no topo da escada. Os dois rapazes se levantaram virando para trás, e Harry teve que abrir a boca em surpresa. Desde que conhecera Hermione, ela normalmente usava calças jeans e suéteres, ou conjuntos sociais para ocasiões mais profissionais. Mas não naquele momento.

A morena usava um vestido lilás na altura dos joelhos, com a saia rodada. Sandálias pretas, uma bolsinha e um sobre-tudo cinza chumbo, que pendia no braço dela. Desceu as escadas com leveza, movimentando levemente seus cachos bem modelados e sorriu, mostrando a maquiagem delicada.

_ Nossa, está linda Mi... – elogiou Harry, se preparando para dar o braço a ela, mas Rony foi mais rápido.

_ Está muito bonita mesmo Mione. – elogiou o ruivo, segurando a mão dela para que ela descesse os últimos degraus, e a morena corou – Vamos? Mamãe gosta de ser pontual nas refeições.

Harry concordou, mas não estava sendo escutado pelos amigos, que conversavam amenidades, tentando ignorar a discussão de mais cedo. Na quase uma semana que estava convivendo, Rony e Hermione haviam tido, pelo menos, três brigas sérias, isso sem contar as bobas, que já deviam passar de 100.

O moreno apanhou o casaco e a garrafa de vinho que ia levar e saiu pela porta, Rony e Hermione já estavam no carro e o motorista da Peverell, Lalau Shunpike. Era um rapaz magrelo e espinhento, que tinha uma admiração assustadora por Harry.

_ Sr. Potter, boa noite. – cumprimentou Lalau.

_ Boa noite Lalau... Porque Ernesto não veio? – perguntou o moreno, parando a porta.

_ Ernesto está doente... Você sabe, depois dos 80 a saúde deteriora, mas quem disse que o Sr. Prang escuta o que os outros dizem? – explicou o motorista, fazendo Harry rir. Particularmente, gostava mais do silêncio de Ernesto, mas o velho homem estava ficando mais e mais inconsequente no trânsito.

A caminho da casa dos Weasley, Harry teve que ficar chamando a atenção de Rony e Hermione, que pareciam mais interessados em trocar olhares embaraçosos e corarem um para o outro.

A casa dos Weasley quase caia para fora do terreno onde estava e Harry podia ver que havia sido aumentada diversas vezes. Mesmo Arthur estando em um bom cargo na Peverell, seu salário era menor do que Harry julgava ser merecido, mas quem controlava isso era Tom. Com a saída do mesmo, o rapaz, Sirius e Remo estavam revisando esse item.

_ Meu pai se recusou a sair dessa casa, mesmo quando conseguiu dinheiro para comprar outra. – contou Rony, ajudando Hermione a descer – Essa casa ele e minha mãe ganharam dos meus avós quando ela estava grávida de Gui...

Rony abriu o portão de ferro simples e começou a atravessar o jardim cheio de flores. A porta da frente se abriu, e uma menininha de três anos correu em direção a ele, se jogando em seu colo.

_ Tio Roooony. – gritou a menininha loira, sendo erguida pelo ruivo e começando a distribuir pequenos beijos pelo rosto do tio – Demorou. – reclamou fazendo bico.

_ A amiga do tio estava enrolando. – brincou ele, recendo um olhar bravo de Hermione – Vicky, esses são Harry e Hermione. Pessoal, essa é minha sobrinha, Victorie.

_ Muito prazer Victorie. – disse Harry, estendendo a mão para a criança, que apertou rindo.

_ Muito prazer Vicky. – cumprimentou Hermione e a menina fechou a cara, os assustando.

_ Você é namorada do tio Rony? – perguntou ela, fazendo os dois corarem extremamente.

_ Claro que não. – guinchou a morena e o ruivo concordou.

_ Você tá louca Vicky? – perguntou ele – Eu não aguentaria dois dias com ela.

_ E porque não aguentaria dois dias comigo, hein Ronald? – perguntou Hermione, parecendo furiosa, e o rapaz ficou perdido. Vicky pulou do colo do tio, puxando Harry pela mão.

_ Vamos que eles vão demorar. – disse a baixinha puxando o moreno, que ria descontroladamente.

_ Ah, Harry. – Arthur apareceu no corredor, com seu sorriso usual – Vejo que já conheceu minha netinha.

_ Sim Arthur, Rony nos apresentou. – explicou Harry, enquanto a criança corria para os braços do avô.

_ Falando nele, onde estão ele e Hermione? – perguntou o patriarca dos Weasley e Vicky riu.

_ Eu perguntei se a Heimione era namorada dele e eles começaram a brigar. – relatou a criança, fazendo o avô rir.

_ É apenas questão de tempo minha querida, vá por mim. Mas enquanto isso, – disse ele voltando-se para Harry – Venha conhecer o resto da família.

O rapaz concordou e juntos, se dirigiram para a espaçosa sala de estar da casa dos ruivos. Haviam diversos homens ali, e o burburinho feminino vinha da cozinha.

_ Molly, venha dizer olá. – chamou Arthur e uma senhora baixinha e gordinha, com surpreendentes cabelos ruivos, apareceu do portal da cozinha.

_ Oh Deus... Como você parece James. Exceto esses olhos verdes, mas isso você já deve saber. – disse a mulher se aproximando e segurando seu rosto entre as mãos – Vou ter que conversar com Dobby sobre sua alimentação rapaz, está muito magro.

_ Mamãe, deixe o Harry. – pediu um rapaz alto e ruivo, que Harry, num primeiro momento, se chocou por não ter orelha – Prazer, George Weasley.

_Oh sim, sou Harry. – se apresentou debilmente, sabendo que o homem provavelmente o conhecia, em partes por ser o convidado da noite, em partes por ser seu patrão.

_ Que rude da minha parte. – repreendeu-se Molly, pegando o rapaz pelos ombros – Vicky você já conheceu, assim como George. Essa é Angelina, e na barriga dela, Roxanne.

Harry cumprimentou a mulher, tentando não encarar as cicatrizes que ela possuía. Cerca de sete meses antes, havia sido avisado que Arthur havia perdido um dos filhos, um dos gêmeos, Fred.

Fred e George, os gêmeos, e Angelina e Kátia, suas respectivas namoradas, sofreram um grave acidente de carro numa viagem para Hogsmeade, o centro comercial da Peverell que ficava a quase três horas de Londres.

O carro com os quatro capotou e Kátia morreu na hora. George perdeu uma orelha nas ferragens e Angelina foi lançada para fora do carro, estourando o vidro. Fred era o único de cinto e o único a não sofrer ferimentos graves. Saiu do carro andando, chegou ao hospital consciente e foi visitado pela família, até que uma embolia pulmonar instantânea o matou.

Harry não pode vir para o funeral, mas havia falado com Arthur pelo telefone e mandado entregar uma coroa de flores. Algumas semanas antes de finalizar os estudos, soube que George e Angelina haviam se casado, porque a garota estava grávida. O ruivo havia decidido por criar a filha do irmão.

_ Bom, esses são Percy e Penélope. – apresentou Arthur e Harry cumprimentou os dois – Molly está lá em cima dormindo.

_ É um imenso prazer Sr. Potter. – disse Percy, apertando efusivamente a mão do rapaz, que sorriu constrangido.

_ Não ligue para o Percy, ele é assim mesmo. – pediu Penélope e o marido a encarou – Um grande puxa saco.

_ Penélope. – indignou-se Percy, enquanto os presentes riam. A esposa apenas deu-lhe um beijo no rosto, enquanto ele revirava os olhos.

_ E por último, Gui e... – continuou Arthur, mas Harry o interrompeu.

_ Fleur Delacour. – disse Harry com um largo sorriso, e loira o abraçou apertado – Meu Deus... Quanto tempo faz? Quatro anos?

_ Si. – respondeu a mulher, com um forte sotaque francês – Eu estava me forrmando quando você entrrou em Hogwarrts.

_ Eu me lembro. Você era intercambista de Beauxbatons, aquela escola francesa. Você foi minha orientadora no primeiro ano, antes de ir para estagiar no Gringotes. – disse ele, sorrindo com a lembrança. Hermione não gostava muito de Fleur, dizendo que ela era extremamente fútil. A verdade era que Fleur era uma das pessoas mais lindas e inteligentes que Harry já conhecera, e isso deixava Hermione louca da vida.

_ Si. Estágio que você me arrrranjou, no? – eles dois riram, e foram acompanhados apenas por Gui, que conhecia a história do estágio de Fleur. Como a jovem era muito orgulhosa para aceitar ajuda, Harry pediu a Remo que enviasse alguém do Gringotes para recrutar estagiários. Apesar de não o ter conhecido na época, o enviado foi Gui, que caiu de amores por Fleur e a levou para trabalhar no banco, do qual a Peverell era uma das principais acionistas. O resto foi consequência.

_ Ficamos tristes que você não pode vir ao casamento. – disse Gui e Harry sorriu de canto.

_ Todos os eventos eram marcados em finais de semana impossíveis de sair de Hogwarts. – desculpou-se Harry e o homem concordou – Mas fico feliz que tenha dado certo entre vocês. Remo me contou de como você voltou maravilhado com Fleur.

_ Ela estava ansiosa para te rever. – confessou Gui – E preocupada. Ela achou que você não ia reconhecê-la grávida.

_ Gorda desse jeito, nem eu me rreconheço. – resmungou a loira e o marido apenas revirou os olhos, abaixando e beijando a barriga dela – É outrra menina... Dominique, igual minha mãe.

_ É um lindo nome. – elogiou Harry, sorrindo ao ver o jeito como Fleur e Gui se olhavam. Se olhasse com cuidado, Harry podia identificar a fina cicatriz que cortava o rosto de Gui, do ataque de um cachorro quando ele tinha 20 anos. Hoje não era nada, mas quando Fleur foi trabalhar no Gringotes, Harry ouvira dizer que era repugnante. Era bom saber que, apesar de linda, Fleur não era uma garota esnobe.

Rony e Hermione entraram na sala naquele momento, ambos de rostos corados e com expressões raivosas. Molly foi logo repreendendo o filho pela falta de modos, o que o deixou ainda mais vermelho. Ela se apresentou a Hermione e logo a arrastou para a cozinha, para onde as demais mulheres foram.

_ Como você aguenta viver com ela? – perguntou Rony e Harry riu alto. Devia aceitar a aposta de Sirius, com certeza iria ganhar se chutasse que os dois se acertariam em menos de três meses.

_ MÃE, PAI, CHEGUEI. – uma voz doce e suave soou pela casa toda, tirando a atenção de Harry da conversa. Seus olhos voaram em direção ao longo corredor de entrada, por onde passos ecoavam suavemente. Vicky saiu correndo e gritando, e Harry pode ouvir uma risada melodiosa, ao mesmo tempo que ouvia a criança se jogando no colo de alguém.

_ Victorie, o que já falei sobre pular na sua tia? – repreendeu Gui e Harry suspendeu a respiração. Será que era?

_ Não se preocupe mano, você sabe que eu adoro. – a voz respondeu e pouco depois, o anjo mais lindo que Harry já vira tomava forma no portal da sala – Não é mesmo Vicky? A tia Gina nunca se cansa de pegar você.