Eu e Percy fomos para a minha casa em silêncio. Ele ao menos quis pegar a minha mão, e sempre olhava pela linha do horizonte, como se ele estivesse sozinho. Ele, obviamente, deveria estar bravo comigo.

 Ele deveria entender que aquilo não era minha culpa, afinal, eu não conseguia ser má com ninguém. Mesmo não gostando de Jason, eu não poderia ignorá-lo. Ele deveria entender o meu lado, também, aquele que ele várias vezes elogiou. Meu coração bom.

 Quando chegamos em minha casa, ele foi conversar um pouco com a minha vó e eu fui para o meu quarto, trocar de roupa e ligar para Bianca.

-Percy está furioso comigo - eu comecei, quando ela atendeu o celular.

-Annie, se acalma. Isso é só ciúme, prova de que ele gosta muito de você e não suporta a ideia de te perder. Considere isso como uma vantagem.

-Isso não é uma vantagem. - eu disse quase desesperada. - Será que não tem como a professora mudar os papéis?

-Não - disse Bianca. - Vou pensar em algo.

-E eu vou tentar fazer Percy conversar comigo de novo. Tchau - então eu desliguei meu celular e coloquei-o na minha cama. Olhei-me no espelho e tentei ensaiar um jeito de fazer o Percy me perdoar, mas foi em vão. Nem eu conseguia me convencer. Saí do meu quarto e fui em direção á cozinha. Percy estava sentado, conversando com a minha vó sobre as plantas que começavam á crescer no jardim.

Nós almoçamos sem trocar nenhuma palavra. Minha vó foi costurar e meu vô não estava em casa. Foi desconfortável, e eu não tive coragem de puxar assunto com ele. Apenas fiquei na minha e tentei pensar em algo que pudesse fazê-lo acreditar que ele era único pra mim.

Terminamos o almoço e fomos cuidar do jardim da minha vó. Depois de alguns minutos que nós estávamos lá, eu comecei.

-Você está bravo comigo, né?

Ele olhou para mim.

-Não vou mentir pra você, Annie. - ele disse calmo. - Não estou bravo. Estou com ciúmes.

Por um momento, eu me tranquilizei. Mas eu sabia que esse ciúmes não era passageiro. Ele duraria duas semanas.

Cheguei mais perto dele.

-Não precisa ficar tá? Eu amo muito você, e só você! - eu disse, mas ele não olhava pra mim.

Ele me olhou, com uma expressão indecifrável.

-Eu sei. É que eu não confio nele.

Eu suspirei. Também não confiava.

-Isso está me matando - eu disse, olhando fixamente para uma das flores. Vermelho é bonito, mas nesse momento cores bonitas me pareciam uma ofensa, porque eu não estava muito bem.

-O que? - ele perguntou, regando um ramo de flores.

-Você ficar assim, tão frio comigo. Eu juro, que se eu pudesse, eu mudava de papel e... - eu suspirei. Sentei no degrau da porta e olhei para qualquer lado, menos em sua direção.

-Não é culpa sua - então ele se sentou do meu lado. - É que eu te amo demais. E é horrível ter que existir a hipótese de ver você com outro cara, ainda mais com o Jason.

-Mas isso nunca vai acontecer - eu disse, olhando em seus olhos, tentando convencê-lo.

Ele me abraçou.

-Tudo bem, vou tentar me controlar - então ele me deu um beijo suave. - Por você.

Continuamos abraçados por um tempo.

-Agora, vamos - ele disse, se levantando. - Temos muito trabalho á fazer se quisermos ir à sessão das oito.

Eu sorri. Fiquei feliz que ele ainda considerasse a ideia do cinema, e que ele ainda quisesse ir comigo.

Meu vô nos deixou no shopping sete e meia. Eu estava tão contente que nem me importava qual filme nós iríamos assistir 

Eu e Percy andamos um pouco pelo shopping - e de mãos dadas. Nós víamos vitrines, e ele ficava louco quando via qualquer coisa que envolvia futebol e chuteiras novas. Eu adorava vê-lo desse jeito. 

Quando faltava quinze minutos para começar a nossa sessão, fomos tomar sorvete. Sentamos em um dos bancos que ficava nos corredores das lojas. 

-Minha mãe quer te conhecer - disse ele, naturalmente. 

Meu coração pulou. Percy conhecia minha família, mas eu sabia muito pouco sobre a dele. Eu queria muito poder conversar com a mãe dele, ver fotos dele na banheira quando ele era bebê e ser paparicada por ela. 

-Eu também quero conhecer ela - eu disse, sorrindo. 

-Pode ser nesse final de semana, então? - ele perguntou, um pouco preocupado. 

-Pode sim - eu disse, animada com esse convite. 

-Posso te pedir uma coisa? - disse ele, preocupado.

Me preocupei, também. 

-Sim!

-Não termine comigo depois de conhecer minha família, tá? - então ele sorriu. 

Sorri também. 

-Bobo!

-É sério, minha família é muito estranha. 

-A minha também, você sabe.

Então nós ficamos naquela de "minha família é pior que a sua" durante uns 5 minutos. 

Então nós terminamos nossos sorvetes e fomos para o cinema. Estava um pouco cheio, pois era dia de estreia - sim, em dia de semana. Dá pra acreditar?! - mas conseguimos pegar um lugar bom. 

Lá havia tanta gente conhecida. Vi a Bianca e o Leo, mais para a frente; algumas meninas da nossa sala; vários garotos do time de futebol. Enquanto olhava em volta, tive impressão de ver, de relance, um rosto conhecido. Gelei, instantaneamente. Não era possível. 

-Ei, tá tudo bem? - perguntou Percy, franzindo a sobrancelha. 

-Ah, sim - eu disse, balançando a cabeça. - Tem muita gente aqui, hein? 

-É - ele sorriu. 

Sorri de volta. 

Mas aquilo ainda estava me atormentando. Não era possível, não mesmo. 

"Pense em coisas boas, Annabeth.", disse minha consciência. "Ele já te perdoou. Não dê motivos para que ele tenha que te perdoar mais uma vez."

Sim, sim, é verdade. Quem sabe não é um engano? Não posso mais dar motivos para Percy ficar bravo comigo. Pelo menos não agora, quando tudo está bem entre nós. 

Alguns trailers de filmes que estariam em exibição no próximo mês começaram á passar. Deitei minha cabeça no ombro de Percy e assisti o filme. Poderia desejar algo melhor?