Begin Again. escrita por taysheeran


Capítulo 1
Biscoitos e chá.




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Minha mãe tem um Onix Vermelho. Ela sempre foi fissurada por ele, e durante muito tempo ela juntou dinheiro para comprá-lo. Muitos turnos extras no hospital, vários meses sem gastar com roupas e sapatos, além de vender o carro antigo dela e optar pelo transporte público. Mas ela sempre diz "Valeu a pena". Ela me mostrou que temos que lutar para conseguir o que nós queremos.

Mas ela me ensinou, também, que é preciso ceder ás vezes. E é isso que eu estou fazendo agora.

Nós estamos no Onix dela, dirigindo em direção á Berry Hill, para a casa da minha vó. Eu, honestamente, gosto muito de lá, principalmente de ir á Columbine Park aos domingos, ou ficar até tarde sentada na varanda comendo biscoitos frescos e jogando cartas com o meu tio mais novo, James.

Mas tudo seria diferente agora, porque como eu disse, eu estava cedendo. Minha mãe iria se casar com o namorado dela - eles estão juntos há mais de 8 anos - e eu queria dar um espaço para eles. Minha mãe me criou sozinha, e agora eu estou crescida. Preciso ceder a liberdade para ela, de novo.

Agora, com o coração batendo rápido e olhando pela janela enquanto nós já estávamos na Bransford Ave. Eu começava a ver as casas de cores diferentes, os carros parados nas garagens e as árvores, bonitas, que só havia naquele lugar.

Mas eu consegui relaxar quando minha mãe ligou o rádio. Eu e ela não suportamos ouvir ele na rodovia, porque ele sempre falha.

Por ironia, começou a tocar "Nashville", de David Mead. Senti uma incrível vontade de chorar, mas me segurei. Já estava sentindo saudades de casa, e isso eu nunca conseguiria esquecer. Mas eu não poderia mudar de ideia. Seria egoísmo da minha parte.

Depois de meia hora minha mãe já estacionava o carro na frente da casa da minha vó. É uma daquelas casas antigas - mas ao mesmo tempo modernas - com uma varanda de madeira e um telhado estilo "casa da barbie". É impossível descrevê-lo, mas é o tipo de casa em que você se sente ótimo; seja porque é aconchegante ou porque você gosta.

-Esse cheiro é ótimo - disse minha mãe, parando ao meu lado e se espreguiçando. Eu estava perto da porta do carro, olhando para as outras casas e vendo como nada havia mudado. Só eu.

-Deve ser do Columbine Park - eu disse, apenas por instinto. - O vento está trazendo-o para nós.

O Columbine Park é o lugar onde você pode fazer várias coisas, como: ler um livro debaixo de uma macieira, jogar freesbe com o seu cachorro ou fazer piquenique. Além de comer algodão-doce e ficar observando os peixes nadando no lago. Lá é maravilhoso, e o ar é mais puro.

-Sim - disse minha mãe sorrindo.

Um garoto saiu da varanda da casa da vó e veio em nossa direção. Eu nunca havia visto ele na minha vida, mas eu tinha certeza de que minha vó gostava muito dele, pois ela era do tipo que sempre deixava bem claro quando não gostava de alguém. Para ele estar na casa da minha vó, deveria ter uma boa explicação.

-Oi - disse ele, se aproximando. - Sou Percy.

-Atena - disse minha mãe, com o mesmo sorriso simpático de sempre.

-Annabeth - eu disse, um pouco sem jeito. Não sou muito boa com apresentações.

-Eu sou o assistente da Elizabeth - ele começou.

Elizabeth, só para constar, é a minha vó. Ela tem 63 anos de idade - bem vividos - e ela é uma pessoa muito forte. Ela faz caminhada uma vez por semana e trabalha na horta que ela tem na própria casa. Ela e o meu vô, Ethan, brigam ás vezes, mas eles se amam; há mais ou menos 45 anos.

-Assistente? - eu disse, franzindo a sobrancelha.

-É melhor vocês entrarem - disse ele, com uma expressão preocupada.

Andamos em silêncio sob o caminho de cimento, perfeitamente projetado. Ele tem vários ladrilhos e é, incrivelmente, limpo.

Entramos pela porta da frente e encontramos a sala de televisão vazia. Percy nos levou até uma sala, que fica de frente para o quintal dos fundos, cujo havia várias máquinas de costura, linhas de diversas cores e tecidos de todos os tipos.

Minha vó se encontrava sentada em uma cadeira, costurando uma meia a mão; ela provavelmente deveria ter rasgado. Logo que ela nos viu, ela esbanjou um sorriso radiante e veio em direção a nós, dando um abraço em grupo.

-Gostaram? - disse ela, olhando em volta, como se ela estivesse ali pela primeira vez, admirando tudo.

-O que é isso? - disse minha mãe, com um sorriso no rosto.

-Seu pai, querida - disse ela, sentando na cadeira.

-O que aconteceu com ele? - eu perguntei, preocupada.

-Ele fica o dia inteiro pescando. É isso - viu? Eles fingem que se odeiam. Mas todos sabem que eles se amam.

-Mas e a sua plantação, mamãe? - disse minha mãe, indo olhar o quintal dos fundos.

-Percy está me ajudando - disse minha vó, com aquele tom de "eu vou te envergonhar na frase a seguir" - ele é um menino tão bonzinho, meninas! Vocês tem que ver! Ele me lembra dos meus remédios, ele rega as plantas, e até me ajuda na costura! Um amorzinho!

Falei!

Não pude evitar; eu estava me segurando para não soltar uma gargalhada. Percy corou e minha mãe sorriu para ele, como se o aprovasse.

-Tem biscoitos no forno - disse minha vó, levantando bruscamente da cadeira. - Atena, venha ver minha nova mesa! é de vidro.

Elas foram em direção a cozinha, e eu olhei para Percy, e a palavra "amorzinho" ainda ecoava na minha cabeça. Ele ainda estava corado, e estava olhando para o chão, tentando esconder a vergonha.

-Há quando tempo você está aqui? - eu disse, analisando o "estúdio" da minha vó.

-Três meses - disse ele, ainda parado no mesmo lugar.

-Porquê? - eu indaguei.

Deixe-me passar as características dele: estatura mediana, olhos verdes, cabelos pretos e um sorriso encantador. Ele tem cara - e se veste - como aqueles garotos populares, e deveria ter uma namorada. Porque ele ficaria aqui, com a minha vó, regando repolhos e fazendo-a engolir seus remédios?

-Ela é gentil - disse ele, com um sorriso no rosto. - É legal passar um tempo com ela.

-Você ganha alguma coisa?

-Não - disse ele, franzindo a sobrancelha. - Porque eu ganharia?

-Não sei... Você parece mais babá dela - eu disse, quase sem pensar. Como eu era folgada!

Mas, graças a Deus, ele deu uma risadinha e olhou para mim.

-Não gosto muito de ficar na minha casa, sabe? Me sinto melhor aqui - ele começou, olhando fixamente para mim. - Só volto lá para dormir e tomar banho.

-Ah - eu disse, tentando sorrir. Mas eu queria mesmo é saber por que ele não gostava de ficar em sua casa. Será que ele tinha problemas?

-Nós vamos dividir as tarefas, agora? - ele disse, com um sorriso bobo no rosto.

-Sim - eu disse, com um também.

Antes que nós pudéssemos prolongar a conversa, minha vó gritou da cozinha nos chamando para comer biscoitos.

A cozinha - assim como a casa inteira - tinha uma mistura de coisa simples e vintage. Eu, particularmente, acho lindo. Principalmente com cheiro de biscoitos de chocolate recém-preparados misturado com chá.

-Annie, meu bem - começou ela, quando todos já estávamos sentados na mesa, comendo o segundo biscoito. - Mandei colocar um espelho no seu quarto.

-Obrigada vó - eu disse, agradecida por ela ter feito isso. Ela realmente parecia animada com a minha chegada.

-E eu já fiz a sua matrícula na escola nova. Ela é perto daqui, dá pra ir a pé - disse ela, olhando para mim, tentando analisar a minha reação.

Escola nova é um tormento. Eu, definitivamente, não tenho muita prática em fazer amizades, levando em conta que eu estudei na mesma desde a primeira série. Mas agora as coisas eram diferentes: eu iria para o primeiro ano, e era hora de recomeçar.

Mas recomeçar como?

-Percy estuda lá, também - ela disse, depois lançando um sorriso para ele.

-Você vai gostar de lá! - ele disse, com um sorriso no rosto. - Você não vai ficar sozinha, também.

-Que bom - eu sorri de volta. - Quando começa as aulas?

-Segunda-feira.

Seria daqui a três dias. Eu, definitivamente, não estava preparada.

Preparada, mais ou menos. Eu já tinha comprado meus materiais escolares e já tinha calças jeans para usar lá. Mas e a blusa da escola? E a minha preparação emocional?

-Ah - foi tudo o que eu consegui dizer, tentando parecer animada.

Só para esclarecer meus sentimentos:

Primeiro - eu me sentia nervosa em relação a minha nova rotina. Acordar em um horário novo, método de ensino novo, amigos novos. Isso era muita coisa para processar em pouco tempo, mesmo tendo planejado essa mudança há mais de sete meses.

Segundo - eu me sentia um pouco melhor sabendo que eu não estaria sozinha, mesmo não conhecendo o Percy.

O resto da conversa foi sobre o tempo de Nashville e sobre a família. Enquanto minha vó e minha mãe conversavam animadamente sobre isso, eu e Percy nos empanturrávamos de biscoitos e de chá.


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