Everything Has Changed escrita por Bruna Pattinson


Capítulo 1
Near-death


Notas iniciais do capítulo

Só irei continuar se tiver reviews, não vou escrever se ninguém estiver lendo :(



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Andava pelos corredores em direção ao refeitório com minhas duas melhores amigas, Ângela e Jéssica. Era março eu já havia me adaptado a minha nova rotina escolar. Eu havia me mudado do Arizona para New York no começo do ano, minha mãe havia conseguido um emprego melhor do que o anterior nessa cidade populosa.

A Manhattan High School era uma das melhores escolas públicas dos Estados Unidos. Durante o ano passado eu vi alunos e mais alunos que, ao saírem do ensino médio, iam pra as maiores faculdades do país. Eu estava no segundo ano, minha mente cheia de sonhos e expectativas para o futuro.

Andávamos em direção a nossa primeira aula quando avistei Jacob Black, o garoto mais cobiçado do colégio. Ele era bonito, e era o capitão do time de futebol. Grande coisa quando se é um ego humano. Garoto sem escrúpulos que namorava e usava de qualquer garota que quisesse e depois jogava fora. Conquistador de quinta. Eu odiava aquele filho da mãe, por que eu também fui uma dessas garotas ingênuas quando cheguei aqui, ano passado, sem saber de sua má fama. Acabou que o desgraçado me traiu.

Eu odiava falar sobre Jacob, até pensar nele me dava uma raiva homicida. Eu guardava rancores demais. Agora ele estava dando em cima de uma garota nova bem na frente da namorada vadia dele. Eu ri. Ela bem que merecia. Mas a pobre garota não, então tratei logo de agir.

– Com licença, – falei quando cheguei perto da garota, de frente para Jacob – Ela não quer ficar com você, quer? – perguntei a ela com um olhar de se-disser-sim-você-está-encrencada.

– N-não, obrigada – ela gaguejou, corada.

– Tá vendo? – falei com a sobrancelha erguida para Jacob, de modo frio – Agora se manda, parasita.

– Eu sei que você me ama, Bells, mas não deveria ficar com ciúmes. Você sabe que eu sou de todo mundo – falou e piscou para a garota.

– Saí daqui agora, Jacob.

Ele as afastou ainda sorrindo e jogando beijos para nós duas. Suspirei, e voltei a olhar a garota ao meu lado, que estava assustada e confusa.

– Me desculpe por isso. Você não vai querer entrar na dele, vai por mim – falei para ela, gentilmente, para ela não pensar que eu era uma maluca que do nada se intrometia na vida dos outros.

– Obrigada. Ele estava enchendo meu saco há muito tempo, obrigada por me livrar dele.

– Não garanto que ele irá desistir fácil – falei, olhando-a com mais atenção, ela era bem bonita.

Conversei com ela por um bom tempo, seu nome era Emma. Garota legal. Convidei-a para almoçar comigo e minhas amigas e ela aceitou, animada. Logo então, parti para aula de biologia, não preparada para o tédio. Quando cheguei, percebi que todas as cadeiras estavam ocupadas, menos uma na frente, logo na frente! Eu nem poderia tirar um cochilo, nem nada. Não prestei atenção quem estava do meu lado quando sentei, mas senti a pessoa se afastar para o lado oposto de mim. Quando olhei para cima vi que era um garoto, mas não um simples garoto. Ele era lindo. Foi a única coisa que consegui assimilar nos primeiros segundos, e então percebi sua postura.

Seus olhos eram pretos como breu, ele estava o mais afastado que a cadeira permitia de mim, a mão esquerda sobre a boca. A outra mão estava cerrada sobre a mesa, e seu olhar era feroz. Como um predador. Desviei o olhar rapidamente, assustada. A aula então começou, mas não prestei atenção a uma palavra se quer. Eu fiquei a aula toda nervosa, o ritmo de meu coração disparado. Os minutos passavam extremamente devagar, até que levantei minha mão, pedindo aos sussurros para ir ao banheiro.

Enquanto caminhava em direção ao banheiro tentei me acalmar, eu estava sendo paranóica demais, vai ver eu estivesse com síndrome do pânico ou algo assim. Ele era apenas um garoto de 16 ou 17 anos, o que poderia me acontecer? Tá legal, o olhar dele me deu calafrios, mas tem tanta gente com olhares estranhos no mundo, tipo, sei lá, o Michael Jackson.

Tá bom, ele morreu, mas isso não vem ao caso.

Entrando no banheiro lavei o rosto com a água fria, foi quando percebi que estava suada. Respirei fundo encostada na pia, quando ouvi a porta sendo aberta, gritei. Ângela gritou também. Parei e coloquei as mãos no coração, ele ainda estava acelerado.

– QUER ME MATAR DE SUSTO, BELLA? – Ângela gritou para toda escola ouvir.

– Shh, shh! Você que quase me matou de susto – retruquei, tentando acalmá-la. Depois apoiei as mãos novamente na pia e respirei fundo.

– Você está bem? – ela disse se aproximando e me olhando com mais atenção.

– Estou sim – falei rapidamente.

– Mas não parece. Você está mais pálida que o normal, Bells – Ângela então me virou e colocou a mão e minha testa.

– Estou bem, é sério, Ângela. Deve ser esse calor que tá aqui em NY – menti, tirando sua mão de minha testa e ajeitando meus cabelos num rabo de cavalo. Ela assentiu, mas não me pareceu realmente convencida. O sinal tocou para a aula seguinte logo assim que saímos do banheiro e corri para pegar minhas coisas na sala de aula. Por sorte o garoto não estava mais lá, e nem nas outras aulas que se seguiram. Descobri que tinha duas aulas com a Emma, física e matemática.

Chegou a hora do almoço e ela me acompanhou para a mesa onde normalmente minha turma sentava. Jéssica e seu namorado, Mike Newton estavam sentados juntos, como sempre. Ele inicialmente tentou conseguir algo comigo, mas depois de Jacob nunca mais confiei em nenhum garoto desse colégio. Ele era legal, é claro, mas sempre achei que faltava algo na relação deles, que talvez eles estivessem juntos por conveniência.

Ângela e Ben estavam juntos também, eles começaram a namorar um mês atrás. Eles ficavam bem juntos, um completava o outro. Sentia que aquilo poderia ir ao casamento. Ri em pensamento. Ao lado de Ângela estava Melanie, uma das garotas mais inteligentes que eu já havia conhecido. A garota era um gênio. Irônicamente, ela também era uma das pessoas mais ingênuas do mundo. Por isso ela era como minha filha, eu sentia a obrigação de protegê-la. Ela sempre me ajudou nos estudos.

Quando cheguei, Melanie me abraçou e todos deram suas saudações. Apresentei Emma a todos, deixando-a vermelha como um tomate o que fez todos rirem. Deixe-a engatar uma conversa com a Mel, uma boa influência para a garota. Rapidamente me perdi em pensamentos, até que me lembrei do incidente da aula de biologia. Olhei em volta de todo o refeitório, procurando-o, mas nas diversas vezes em que passei meus olhos em cada mesa com calma, não o achei.

Percebi a presença de alunos novos na mesa mais afastada do refeitório. Eram dois casais, uma loira linda e um homem muito musculoso, sentados lado a lado. Do outro lado da mesa havia uma garota baixinha e pequena, com cabelos pretos e outro garoto loiro com um olhar muito estranho. Não diria que eles eram irmãos, mas eles todos tinham características em comum: Eram extremamente lindos, pálidos mesmo com o sol que fazia em New York, olheiras não tão profundas abaixo dos olhos que eram todos na mesma cor de topázio.

Eu reconheci essas características do garoto da aula de biologia, mas ele tinha os olhos pretos. Tirando que eu nunca havia visto esse tipo de cor meio dourada nos olhos de ninguém. Parecia, para mim, que tudo estava muito estranho naquele dia, que eu havia perdido algum fato que estava bem na frente do meu nariz.

– Emma, você conhece aquele pessoal ali? – perguntei, apontando discretamente para a mesa onde o quarteto sinistro estava sentado. Eles eram novatos, ela era novata... Talvez os conhecesse.

– Não os conheço, mas acho que sei quem são... – ela falou baixinho. Sorri e ela prosseguiu:

– Quando vim me matricular com a minha mãe, tinha outra senhora... Não senhora, mulher... Pelo que percebi ela matriculou seus cinco filhos aqui, eu estranhei, por que ela me pareceu nova demais para ser mãe de adolescentes, até ela mencionar que eles eram adotados. Tenho quase certeza que são aqueles ali, mas ela disse cinco. O nome de uma é Alice, se não me engano...

Enquanto Emma falava, eu os observava, e vi o olhar da garota de cabelos pretos imediatamente parar sobre nós, assim que a Emma mencionou o tal nome. Desviei o olhar rapidamente, assustada. Emma olhou para onde eu estava olhando, e também desviou o olhar ao perceber a atenção da garota estranha.

– A-acho que sei quem é que falta... – gaguejei baixinho, nervosa. – tem um garoto novato na minha aula de biologia, provavelmente é irmão deles.

– Eles são muito estranhos – Emma sussurrou.

– O outro irmão é ainda mais...

A nossa conversa parou ali assim que Jéssica chamou minha atenção. Aquilo não me acalmou, eu continuava com uma angústia estranha desde que vira aquele garoto.

O sinal tocou, anunciando o fim do almoço. Fui para minha próxima aula desanimada, e assim o resto do dia se passou. Não consegui prestar atenção em nada que os professores diziam, e minha cabeça doía. No fim da última aula, suspirei aliviada.

Peguei minhas coisas rapidamente, em direção à saída da sala de aula, mas uma voz me impediu.

– Srta. Swan, será que você poderia me ajudar com essas provas aqui? É só organizá-las em ordem alfabética conforme eu as corrijo – a professora de história com certeza estava querendo me punir pela minha falta de atenção. Quando vi as pilhas imensas de folhas desgastadas arregalei os olhos. Iria demorar décadas para terminar tudo aquilo.

– Lamento professora, mas... – tentei escapar.

– Não aceito não como resposta, Srta. Swan – me interrompeu rapidamente, num tom seco.

Suspirei.

Passamos o fim da tarde inteira naquele trabalho tedioso. Quase gritei de frustração, pois planejava convidar a Emma para jantar em minha casa hoje, junto com todo mundo, para deixar a menina mais confortável com o novo grupo de amigos. Ela me parecia leal e inocente, e com certeza aquela escola a poluiria se ela se envolvesse com pessoas erradas. Então decidi mantê-la de baixo de minha retaguarda.

– Obrigado, Srta. Swan – disse a professora, quando terminamos tudo.

De nada, sua velha idiota. Agora eu iria chegar tarde em casa e minha mãe despejaria reclamações de todos os tipos em cima de mim, sem nem esperar explicações.

Digamos que minha relação com a minha mãe não é lá das boas. Eu tento sempre levar esse assunto na esportiva, mas o problema é que nunca dá certo.

Antes de eu nascer, meu pai abandonou minha mãe, deixando-a sem nada. Ela teve que trabalhar duro para nos sustentar, para me sustentar principalmente, por que eu ainda era uma criança. Ela não podia trabalhar o dia todo, pois tinha que cuidar de mim e não podia pagar uma babá. Assim, o dinheiro nunca era suficiente. Meu irmão já estava entrando na maior idade, e isso a deixou feliz, pois ele poderia ajuda-la com as despesas. Ele fazia um estágio numa empresa de artigos esportivos para ajudar a nossa mãe e estava prestes a entrar numa das melhores faculdades do país. Ele tinha uma banda e a coisa parecia estar indo em rumo à fama e sucesso, e ele jogava futebol como ninguém. Minha mãe morria de orgulho dele, passava o dia inteiro dizendo coisas como: “Seu irmão nunca fazia isso quando tinha sua idade...” “Seu irmão tirava notas maiores...” “ Siga o exemplo do seu irmão...”

Um dia, de madrugada, eu acordei com uma dor terrível, me lembro com clareza até hoje. Minha mãe não quis me levar para o hospital tarde da noite, então Anthony disse que ia comprar um analgésico na farmácia mais próxima para acalmar a dor enquanto não amanhecia. Ele nunca mais voltou. Um motorista bêbado num caminhão bateu no carro do meu irmão a cinco quadras de distância da minha casa.

Passei o resto da minha triste infância e adolescência sentindo falta do meu irmão a cada segundo que se passava e ouvindo da minha mãe que eu era a culpada de sua morte. Que se não fosse por mim o Anthony estaria vivo fazendo sucesso com sua banda, ou até sendo um jogador de futebol. Ouvi diversas vezes que meu irmão era talentoso, inteligente, uma coisa que eu nunca seria. Perdi a conta de quantas vezes ela disse que as minhas notas não eram boas o suficiente. Nunca fui boa o suficiente para minha mãe. Sempre que eu chegava tarde do colégio ou recebia alguma reclamação de professores era uma enxurrada de reclamações.

Nunca tive coragem para repondê-la, dizer que ela estava errada. Sempre escutava calada, o que a aborrecia ainda mais. Ela sempre dizia que eu nunca conseguiria me casar com ninguém e se conseguisse a pessoa iria morrer de tédio. Dessas eu até ria.

Toda vez que eu me era bem sucedida em algo ela fingia que não significava nada. Minha mãe sempre acabava com minha felicidade. Que coisa triste.

Como eu disse, eu sempre levava na esportiva. Estava cansada de sofrer.

Quando saí da sala percebi que os corredores estavam escuros, que já estava de noite. Apressei o passo para sair direto pela porta mais próxima, quando um vulto me fez parar. Meu coração estava a mil, minha cabeça pulsando de dor e meus pés dormentes de tanto que fiquei sentada com as pernas cruzadas. Minha garganta estava seca, piorando toda a situação. Eu me sentia adoentada e morrendo de medo, seria uma vítima fácil para qualquer um.

Tentei me acalmar. Estou no colégio, nada de ruim pode acontecer. Falei para mim mesma, enquanto voltava a andar. Saí do colégio aliviada, enquanto andava pelas ruas movimentadas de New York. Não sentia mais medo e decidi cortar caminho para chegar o mais rápido possível em casa. Entrei num beco entre dois prédios com paredes de tijolos, que dava para uma rua bem próxima a minha casa.

Andei tranquilamente até que algo puxou meu pé. Arfei mas não gritei, minha garganta ainda seca por falta de água. Olhei para baixo e vi um mendigo com um olhar malicioso. Arregalei os olhos, puxando meu pé com força, o que só o fez segurar mais forte provocando uma dor ainda maior, me impedindo de me desvencilhar de seu aperto.

Ele então puxou minha outra perna, me pegando de surpresa. Sem equilíbrio caí de cara no chão sujo e molhado do beco, que cheirava a cerveja e fumo. Senti a dor do arranhão que a queda provocou em minha bochecha esquerda e a dor de meu pulso, com a pressão de todo meu peso sobre minha mão. Gemi de dor, e antes que eu pudesse me levantar novamente, o homem sujo e fedorento girou meu corpo, me fazendo ficar de frente para o céu escuro. Seu rosto enrugado então entrou em minha visão, e sua mão direita segurou minhas duas mãos com força acima de minha cabeça.

Com a outra mão ele rasgou minha blusa de algodão, deixando minha roupa intima á mostra. Consegui arranjar forças no meu desespero e gritei o mais alto que pude. Logo depois senti sua mão pesada em meu rosto e a dor foi atordoante. Gritei novamente, o que me fez sofrer outra batida, só que agora nas costelas. Meu grito seguinte foi de dor. Ele me bateu novamente no rosto.

– Fique quieta, sua vadia – ele murmurou, com raiva.

Em um segundo ele estava sobre mim, desabotoando minha calça, até que eu vi a oportunidade. Empurrei meu joelho com toda força que ainda me restava direto na sua virilha, o que o fez urrar de dor, soltando minhas mãos. Me afastei rapidamente, ignorando a dor que eu sentia em todas as partes do meu corpo. Comecei a engatinhar para o lado oposto do beco, no qual a rua estava mais próxima, gritando por ajuda. Mas ele já estava em pé novamente, e eu só senti o impacto de seu pé em minha barriga. Isso bastou. A dor tomou conta de todas as minhas forças para fugir. E eu só esperei o pior, caída naquele chão horroroso.

Ouvi então coisas que não esperava. Pancadas e uma queda. Um arfar de surpresa. Então, uma mão fria me tocou e eu estremeci.

– Vai ficar tudo bem – disse uma voz masculina suave.

E então entrei na inconsciência.


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