Radioactive. escrita por nsengelhardt


Capítulo 11
Fim


Notas iniciais do capítulo

Leitores, pls, don't kill me



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Uma parte de mim acabara de morrer.

Eu estava mais do que triste. Eu estava confusa. Eu estava perdida. Eu queria estar morta.

Você nunca sabe o que fazer quando quem você ama morre. Você nunca sabe se conseguirá seguir em frente. Você só sente vontade de se deitar em alguma lugar e ali ficar até a Morte te acolher de braços abertos, como uma velha amiga.

Eu estava dirigindo há horas, sem nenhum destino. Eu só queria fugir pra algum lugar e fingir que minha vida estava ótima, como eu sempre fiz.

A janela do motorista estava aberta, e alguns fios se soltaram do meu rabo de cavalo e dançavam com graciosidade com o vento. Minhas mãos estavam grudadas no volante do SUV preto que um dia pertenceu ao meu pai, e os nós dos meus dedos estavam mais brancos do que uma folha de papel. Meu gato, Sr. Batatas, dormia tranquilamente no banco do caroneiro.

Há algumas horas atrás, eu estava me sentindo pesada como um saco de areia, mas vazia como uma casa abandonada. Eu estava viva, mas não me sentia viva. Sabe, ninguém deveria entrar num cômodo da casa e encontrar seus próprios pais mortos. Porém, eu o fiz. Quando você vê uma pessoa morta, você se sente apenas pra baixo, mas quando é alguém que você ama, você simplesmente não sabe o que sentir. Raiva, pena, culpa, dor, tristeza. Nada pode expressar o sentimento de ver quem você ama morto. Absolutamente nada.

O sol já estava se pondo quando eu resolvi parar em um supermercado para comprar mantimentos necessários para manter eu e o Sr. Batatas vivos por algumas semanas até as próximas compras. Assim que entrei no supermercado, minha primeira reação foi olhar pro lado e quase pedir para ir à seção de doces, mas não tinha ninguém comigo. Como o tempo estava frio, deixei meu gato no carro com um centímetro de cada janela aberta, sabendo que minhas compras não demorariam tanto. Peguei um carrinho e fui até a seção de alimentos prontos para o consumo e coloquei no carrinho algumas latas de sopa, frutas em conserva, salsichas enlatadas, alguns biscoitos doces e salgados, macarrão instantâneo e tudo o que eu poderia comer dentro do carro ou em um acampamento no meio do nada com apenas um fogão portátil. Peguei alguns galões de água e algumas latas de refrigerante, para me animar mais. Também fiz como sempre e dei uma passada na seção de doces e peguei um grande pacote de jujubas.

Eu já estava no caixa quando me lembrei de comprar alguns pacotes de ração para o meu gato.

– Hã, moça? - olhei para a caixa, tentando chamar sua atenção. - Tem algum problema se eu sair rapidinho e for buscar algo que eu esqueci?

– Claro que não – ela disse, ainda passando minhas compras. - Se quiser pode fazer duas transições, para não trancar o caixa.

Assenti com a cabeça, então peguei a parte das minhas compras que a caixa já havia passado. A moça então chamou uma mulher, que colocou as compras na caixa e me entregou um ticket, falando para pegar minhas compras de volta quando estivesse pronta.

Peguei meu caminho e voltei à entrada do supermercado, correndo para a seção de bichos de estimação. Agarrei quatro sacos de ração para gatos, e duas tigelas para comida e água.

Voltei ao mesmo caixa e finalmente voltei pro carro, com todos os mantimentos para sobreviver por umas semanas.

Antes de dar a partida no SUV, olhei para o Sr. Batatas, que agora estava apenas me observando do banco do caroneiro. Afaguei sua cabeça e liguei o carro, sabendo para onde iria.

Essa seria uma longa viagem.

. . .

Por sorte, consegui invadir um prédio abandonado e montar meu pequeno acampamento no segundo andar de garagem. Posicionei meu SUV logo ao lado da minha barraca, caso precisasse fazer uma fuga rápida dali. Dentro da barraca – que era grande o suficiente pra caber cinco pessoas muito bem espalhadas – montei minha cama com um saco de dormir, travesseiros e cobertores, e ao lado dela estiquei um cobertorzinho que o Sr. Batatas sempre usara como caminha. Do outro lado da barraca, instalei meu pequeno fogão portátil numa mesa dobrável, e logo perto dele montei meu notebook e meu modem portátil, ambos ligados à uma fonte de energia que precisava ser recarregada de tempos em tempos, mas que duraria bastante, já que seria usada apenas em casos de emergência.

No pé da minha cama, estiquei uma toalha de piquenique e lá coloquei mantimentos para dois dias e duas tigelas para meu gato, uma com água e outra com comida. O resto do mantimentos eu preferi deixar no carro, porque caso houvesse uma fuga, estaria tudo lá e não demoraria tanto pra sair do recinto.

Assim que terminei minha instalação, estiquei-me dentro do meu saco de dormir e fechei meus olhos, esperando finalmente ter uma boa noite de sono.

. . .

O relógio do meu celular marcava 2h43min quando eu acordei com barulho de pessoas discutindo no primeiro andar da garagem. Como eu já havia planejado, joguei todas as minhas coisas no porta-malas do SUV e fiquei sentada no banco do motorista, com o Sr. Batatas no meu colo. Minha mãe esquerda repousava no volante, enquanto a direita estava pronta para ligar o carro e atropelar qualquer um que apresentasse ameaça.

Quando uma cabeça surgiu no topo da rampa que dava acesso ao segundo andar da garagem, preparei-me para ligar o carro, achando que fosse apenas um garoto brincalhão, então pretendia apenas dar um susto na criança. Porém, quando olhei melhor para a figura, reconheci algo que não era humano: um mogadoriano.

Antes de eu poder ligar o carro e dirigir em direção ao mog, ele levantou um grande fuzil e mirou na parte da frente do carro.

– Filho de uma... - mal consegui terminar de falar quando vi que estava pronto para atirar. Agarrei meu gato com os dois braços e chutei a porta do carro e me joguei no chão a tempo de não ser atingida pelos destroços da parte da frente do carro.

Rolei no chão, ainda com o gato entre meus braços. Então me levantei e fui correndo até uma porta que levava à uma escada. Abri a porta e a fechei em poucos segundos, trancando-a com uma mangueira de incêndio. Eu sabia que isso não impediria o mog de vir atrás de mim, mas sabia que isso o atrasaria. Então eu corri escadas à cima. Fui o mais rápido que eu pude, ignorando os miados de desesperado do Sr. Batatas.

Pobre gato, estava sofrendo com algo que nem o envolvia. Com esse pensamento, dei uma parada e percebi que já estava no oitavo andar do prédio. Avistei uma porta e adentrei num recinto por ela. Encontrei um interruptor logo do lado da porta. Assim que meus olhos se acostumaram com a luz forte, percebi que estava num velho escritório.

Escondi-me embaixo de uma mesa, afagando a barriga de meu gato até ele se acalmar e dormir no meu colo. Mas logo eu percebi que devia continuar correndo quando ouvi passos passando pela escada. Levantei e fui até o outro lado do escritório, encontrando outra escadaria. Otários, pensei, imaginando os mogadorianos me procurando pela primeira escadaria.

Dessa vez, resolvi subir as escadas mais devagar, mas ainda assim muito rápido. Logo passei pelo nono andar e cheguei ao décimo. Havia mais um lance de escadas, e eu o subi, chegando a um cubículo. Abri a porta que havia na frente da escada e fui parar em um terraço extenso e vazio. Me escondi do outro lado do cubículo, o lado oposto ao da porta. Sorte minha eu estar com duas adagas na jaqueta.

– Amiguinho, eu vou te soltar agora – falei para o gato caolho. Ele deu um miado e então esfregou sua cabeça na minha mão. - Saiba que eu não estou te abandonando e que isso não é um adeus, okay?

Dei-lhe um beijo no topo da cabeça e o coloquei no chão. Ele deitou-se do meu lado, e ficamos esperando pelos mogadorianos.

Quando finalmente ouvi alguém abrir a porta do terraço, levantei-me com um salto, empunhando as duas adagas que até então estavam escondidas. Fui passando devagar para o outro lado do cubículo, atacando o primeiro mog pelas costas e nem dando-o tempo de ver quem o tinha atacado. Seu corpo de 2m de altura logo se resumiu a um montinho de cinzas aos meus pés. Virei-me para o outro lado do terraço a tempo de bloquear um golpe de outro mogadoriano. Acertei-lhe um chute nas costelas e ele cambeleou para trás, mas logo se recuperando e partindo para o próximo golpe, porém eu fui mais rápida e acertei a adaga em seu pescoço. Ele soltou um grunhido antes de virar cinzas e cair aos meus pés.

Mais três mogadorianos adentraram no terraço, todos logo partindo pra cima de mim. Surpresa, dei um passo para trás, mas conseguindo me desviar de um golpe na cabeça que com certeza teria me matado na hora. Porém, na hora em que me esquivei do golpe, acabei perdendo o equilíbrio e caindo perto da borda do terraço.

– Seu merda! - gritei para o mog que lutava comigo. Levantei-me, tentando acertar-lhe na cabeça, mas ele foi mais rápido e, com um golpe, me jogou para trás.

Na hora, tudo ficou em câmera lenta e eu não entendia o que estava acontecendo.

Só quando olhei bem para cima, percebi que o terraço estava se distanciando lentamente de mim.

Eu estava caindo. Caindo pra morte certa.

Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu via tudo passar tão lentamente. Eu consegui ver todo o caminho que eu percorri pra acabar morrendo desse jeito.

Eu havia abandonado quem eu amava para fugir, porque eu era muito egoísta para ficar e proteger minha família e amigos.

Como eu queria ter visto uma última vez o sorriso daqueles que eu amei uma última vez.

Oh, Dave. Como eu queria ter abraçado-o antes de partir. Queria tanto ter ouvido pela última vez a risada contagiante de Alice. Eu queria poder ter me despedido de meus pais, queria ter me despedido de Doze. Eu nunca agradeci ao Marco por me apresentar àquelas pessoas incríveis que eu conheci naquela cabana.

Eu queria ter sido menos egoísta. E não ter escolhido uma bota de salto alto para a minha fuga.

Dei um último sorriso antes de não sentir mais nada e tudo virar uma escuridão total.

Fim da trajetória da Número Treze.


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