Contos de Menininha escrita por AHB
Notas iniciais do capítulo
Algumas situações me parecem trágicas e não-solucionáveis. Gostaria de fazer algo cada vez que penso nessas pessoas.
O poste é o limite do céu na noite da cidade. Não se vê estrela alguma, lugar um tanto morto de esperanças. Ela gira e volta. Saltos batem no cascalho, porque já estão soltas as pedras da calçada. E esmagadas. Ela tem cabelos tingidos e poucas roupas justas de cores que não combinam. Aspecto sujo. Não se importa. Ela ri alto com as amigas e fala umas palavras feias, diz que gosta do que faz. A grana é boa, oras. Ela 'tá morta. Porque aquilo é nojento. Mas tem dois filhos esperando no apartamento de dois cômodos e olhe lá. E ela acredita que assim o mundo sempre foi. Um, dois, três homens sem rosto atrás vidro coberto de filme do carro. Ela descasca com a ponta do pé a cal branca do rodapé da sarjeta. A noite passa. Mariposa esvoaça em volta da lâmpada e dá um nome menos feio ao que ela faz. Ela não tem nome. Tem só corpo exposto vendido que nem carne. Toma um ônibus logo que o sol sai. Nunca gostou de trabalhar de dia. As pessoas tem rosto quando é dia. E ela é mariposa, debaixo da lâmpada na noite sem estrelas morrendo de amanhecer em amanhecer.
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