Sempre achou aqueles bichinhos muito burros. Bateu com a ponta dos dedos gorduchos na vidraça da cozinha. As iças se agitaram, debatendo-se entre o vão das placas de vidro. As perninhas dos insetos agitavam-se sob seus corpinhos articulados, por vezes puxavam as asas umas das outras, ou estas simplesmente caiam sozinhas, aí as iças se tornavam matronas formigas. Mas isso não tinha muita importância para a pequenina, o que atraíam seus olhos tão escuros e redondos era aquelas perninhas incansáveis, levando os insetinhos para passear pela superficíe de vidro. Se tivesse uma pinça, ia querer arrancá-las. Do mesmo jeito que caiam as asinhas: aí as iças virariam perfeitas bolas, sem asas nem pernas. Como elas se moveriam? Ficariam estatizadas ou aprenderiam a rastejar que nem cobras? E as perninhas se moveriam sem estarem presas ao pequeno corpo? Será que aí perceberiam como foram tolas de se enfiar entre duas placas de vidro? - Oh, eram tantas dúvidas. E ela não tinha uma pinça! Cienciazinha frustrada, passava o dia todo com o nariz colado na vidraça, observando aqueles bichinhos burros, escravos do andar de suas perninhas.