De volta à caverna, Robert estava totalmente tomado por aquela história contada pelo velho senhor.

Robert – Então Merlin teve uma namorada? O cara tinha minha quase a minha idade quando Arthur morreu? E como assim a Gwenevere estava grávida?

Merlin – Meu rapaz se você for ter uma crise de ansiedade eu acho melhor você ir embora.

Robert – Senhor Merlin, o senhor simplesmente está acabando com tudo que eu aprendi sobre Camelot. O senhor não pode querer que eu fique calmo com isso.

Merlin – Então você realmente precisa ir embora, pois tudo que contei até aqui é só o começo. Tem muito mais, porém, se você ficar interrompendo vamos ter que parar por aqui.

Robert – Não senhor, por favor, eu prometo que ficarei quieto... sem nenhuma palavra eu juro. Mas antes de o senhor retomar a história o senhor não teria ai uns biscoitos ou algo que eu possa comer? Tudo isso que o senhor está me dizendo tá me dando uma grande fome.

Merlin sorriu, ele realmente simpatizava com o jovem escritor alguma coisa nele que fazia com que Merlin se lembrasse de um velho amigo, um cavaleiro que sempre fazia piadas em momentos impróprios.

Merlin – Certo, rapaz eu vou pegar algo para você comer. Engraçado que você faz me lembrar de Sir Gwaine. Ele também era assim agitado, sempre questionando tudo, mas sempre com um ar jovial que fazia com que as pessoas não ficassem zangadas com ele. O próprio Arthur ria muito com ele.

Robert – Ser comparado a um cavaleiro da Tavola Redonda é uma honra, mas engraçado mesmo é o senhor falando como se conhecesse todos eles pessoalmente.

Merlin não respondeu ao Robert ao invés disso, ele pôs na mesa alguns biscoitos e mais café e voltou a ficar pensativo. Sentado em frente ao jovem escritor ele voltou a contar sua história.

---

De volta a Camelot.

Merlin chegou ao castelo em companhia de Sefa e dos cavaleiros. Assim que desceu do cavalo ele avistou o seu velho amigo Gaius.

Merlin – Gaius.

Gaius – Merlin que bom que o encontraram. Estava tão preocupado com você. Por que não voltou para Camelot?

Merlin não respondeu a pergunta feita apenas abraçou Gaius com muita força. Desde o dia que chegou a Camelot, Gaius tinha se tornando uma espécie de pai para Merlin e esse sentimento era recíproco.

Merlin – Peço desculpa Gaius. Eu devia ter lhe mandado um aviso de que estava bem, mas realmente eu precisava me afastar daqui.

Gaius – Eu sei que você deve estar muito triste com o que aconteceu com o rei. Mas nós sabemos que era esse o destino de Arthur e que isso iria acontecer mais cedo ou mais tarde.

Merlin consentiu com a cabeça. Apesar de saber o que Gaius dizia era verdade ele não estava disposto a voltar a essa conversa de novo.

Gaius – Parece que você não veio sozinho.

Merlin chamou Sefa para mais perto.

Merlin – Sefa estava esse tempo todo em Eldor. Foi acolhida por minha mãe e eu a trouxe, pois ela quer se redimir com a rainha.

Gaius – Claro que sim. Mas por hora acredito que você deva falar com Gwen sozinho. Depois falaremos com ela sobre a Sefa.

Merlin concordou e seguiu para dentro do castelo enquanto Gaius levou Sefa para o seu laboratório.

Assim que entrou no castelo Merlin parou um pouco na escada e pareceu ter visto Arthur, mas era apenas sua mente lhe pregando uma peça.

Tudo naquele castelo fazia lembrar o rei e na medida em que Merlin subia as escadas o sentimento de perda, a dor subia junto em seu coração. A sensação era como se Arthur estivesse em pé a cada canto dos corredores.

Já chegando ao corredor principal Merlin avistou ao fundo o brasão dos Pendragon na parede e se lembrou de todas as vezes que ele e Arthur discutiram ali em frente. Isso fez com que Merlin inconscientemente voltasse em direção à saída. Era como se ele quisesse fugir imediatamente dali.

Mas antes de chegar ao primeiro degrau Merlin ouviu uma voz conhecida.

Gwen – Merlin...

Merlin se voltou para o corredor e viu de pé a rainha, mas não era a Gwen de outrora alegre jovial, mas uma Gwen triste, abatida como se sua alma não estivesse ali com ela.

Gwen por sua vez não hesitou em correr em direção ao amigo e lhe abraçar com toda a força.

Gwen – Eu sabia que você ainda estava vivo. Seja bem-vindo ao lar meu amigo.

Merlin abraçou Gwen com força também. Sua emoção ao ver a amiga foi forte e Merlin tentou controlar-se para não chorar.

Merlin – Me perdoa Gwen. Eu tentei, eu juro que tentei muito salvar Arthur.

Gwen olhou para Merlin, pegou em suas mãos e o levou até a sua sala pessoal. Lá os dois sentaram um do lado do outro e os dois amigos puderam se olhar e com isso dividir a sua dor.

Somente Merlin entendia a dor de Gwen, como Gwen entendia a dor do Merlin. Eles amaram Arthur, cada um a sua maneira, mas da mesma forma os dois perderam alguém com quem eles se importavam.

Gwen – Me conte onde você se escondeu?

Merlin – Eu não sei ao certo o que me aconteceu, só sei que alguns dias depois do que aconteceu eu cheguei à minha vila cansado e com muita forme.

Gwen – por que você não voltou para casa quando se sentiu melhor? Eu queria muito te ver, Gaius quase enlouqueceu de tanta preocupação.

Merlin abaixou a cabeça e segurou nas mãos de Gwen.

Merlin – Eu não queria encarar você. Eu não queria enfrentar o fato de que eu tinha falhado com Arthur e com você.

Gwen – Merlin você nunca falhou comigo ou com Arthur. Pelo contrário, você sempre esteve lá quando nós mais precisávamos de você. Você sempre fez de tudo para manter Camelot segura e nunca te deram créditos por isso. Arthur não teve tempo de saber quem você realmente é.

Merlin – Quem eu realmente sou?

Gwen – Sim, quem você realmente é. Eu quase tive que torturar Gaius para ele me dizer quem era o feiticeiro na batalha.

Merlin levantou e ficou parado de frente para Gwen sem saber o que fazer. Ele não sabia que Gwen sabia tudo sobre ele. Ele começou a suar e começou a ficar com medo do que poderia acontecer.

Merin – Desculpa Gwen, eu não queria enganar você ou qualquer pessoa. Com o fato de a magia ser proibida eu fiquei com medo de acabar morto por Uther e depois com o passar do tempo, eu acreditei que Arthur não me entenderia.

Gwen – Sente-se Merlin. Eu não estou te julgando. Eu estou tentando agradecer você por tudo que fez por nós. Estou tentando dizer que eu lhe aceito do jeito que você é, pois é isso que os amigos fazem.

Merlin voltou a sentar ao lado de Gwen.

Merlin – Mesmo tendo todos esses poderes nada funcionou para salvar Arthur.

Gwen – me conte o que aconteceu com ele? Ele sofreu? Ele falou de mim em algum momento?

Merlin – Ele morreu amando você Gwen. Sabe que nunca houve nenhuma outra mulher na vida dele sem ser você. E não, ele não sofreu. Durante todo o caminho que fizemos até Avalon Arthur foi o velho e bom Arthur.

Gwen começou a chorar novamente.

Gwen – Uma pena que ele não soube sobre você.

Merlin – Ele soube. Eu contei para ele durante nosso caminho até Avalon.

Gwen – E como ele reagiu?

Merlin - Ele foi um pouco impaciente no inicio, mas no fim se comportou com um bom amigo e me perdoou.

Gwen – Fico feliz em saber. Minha única tristeza é não ter podido me despedir dele.

Merlin – Não se preocupe Gwen, Arthur sempre estará conosco.

Gwen – Obrigada Merlin. Eu sei que você não nos deve mais nada e que você já fez muito por todos, mas eu queria muito que você ficasse conosco.

Merlin – Mesmo sabendo quem eu sou?

Gwen – Sim mesmo sabendo que você é um mago poderoso e que pode ir para todos os lugares do mundo, conhecer todo os reinos...todas as garotas... mas gostaria que ficasse aqui comigo, como um amigo, como alguém que eu possa confiar para reconstruir Camelot.

Merlin – Leon me disse que você tem sido uma ótima rainha.

Gwen – Leon sempre diz que estou indo muito bem, mesmo que no fundo eu esteja fazendo tudo errado.

Merlin – é ele sempre cuidou muito de você.

Merlin sorriu e segurou nas mãos de Gwen.

Merlin – eu não sei se posso ficar aqui. Tudo me lembra Arthur. E isso ainda dói.

Gwen – Por favor, Merlin, você não é o único que está sofrendo com a perda. Eu estou todos os cavaleiros estão. Camelot está. A questão é: você está disposto a seguir em frente ou ficar sofrendo para sempre? Não estou dizendo que é fácil, pois só eu sei o que sinto ao deitar na cama a noite e sentir o cheiro de Arthur e saber que nunca mais vou vê-lo, que nunca mais vamos brigar pelo cobertor a noite ou o fato de que eu nunca mais vou olhar para aqueles lindos olhos azuis de manhã outra vez.

Gwen levantou e caminhou até a janela as lagrimas voltavam a correr pelo seu rosto, mas ela se manteve firme.

Gwen – Então Merlin, você tem todo o direito de escolher o que for melhor para você, mas eu ficaria muito feliz que você ficasse em Camelot e me ajudasse a transformar esse reino em um lugar bom e seguro para todos... e eu digo todos mesmo. Não precisa responder agora. Mas espero que você pense nisso com carinho. Agora vá tenho certeza que Gaius está louco para conversa com você.

Merlin não disse uma palavra apenas olhou triste para Gwen e pode ver o quanto ela estava diferente. A Gwen que ele conheceu assim que chegou a Camelot se transformou em uma mulher adulta, forte, mas muito triste e com muita dor.

Merlin saiu da sala da rainha e seguiu para o laboratório de Gaius.

Gaius estava em seu laboratório mostrando tudo que podia a Sefa. O médico sempre gostou de mostrar suas misturas e remédios para todos, principalmente quando alguém mostrava interesse como Sefa estava. Ela gostava de aprender coisas novas e em poucas horas já tinha memorizado quase todas as plantas que Gaius tinha no laboratório.

Merlin – Vocês estão se dando bem?

Gaius – Olá Merlin, acho que encontrei uma nova ajudante muito mais interessada do que você.

Sefa – não diga isso senhor Gaius, Merlin é um gênio.

Todos riram. Após algum tempo Sefa foi descansar no antigo quarto de Merlin e assim Gaius e Merlin puderam conversar um pouco mais.

Gaius – Então me diga como você está de verdade?

Merlin – Eu me sinto culpado Gaius. Eu me sinto como se nada que fiz até hoje servisse para alguma coisa.

Gaius – Eu sei, mas você precisa entender que você fez o que podia fazer naquele momento.

Merlin – Sim, mas ele morreu e de acordo com minha mãe, Gwen eu preciso seguir em frente.

Gaius – é Gwen mudou muito nessas semanas. Ela tem sido muito forte, mas essa força toda esconde um dor que ela não está sabendo lidar. E ela precisa lidar com essa dor logo.

Merlin – do que você está falando?

Gaius – Acredito que a rainha esteja grávida.

Merlin – O que? Como assim?

Gaius – Não sei qual a surpresa Merlin. Os dois foram casados durante anos e do jeito que eram tão apaixonados a minha surpresa é o porquê aconteceu tão tarde.

Merlin – Mas ela não me disse nada.

Gaius – acredito que a rainha não saiba. Por isso é importante você está aqui.

Merlin – Eu não sei se eu deveria ficar Gaius.

Gaius – Como assim? Esse é o seu lar. A Gwen falou algo sobre os seus poderes?

Merlin – Sim, mas de uma forma positiva. Ela foi gentil e compreensiva e acredito que ela poderá trazer a magia de volta a Camelot.

Gaius – Então qual é o problema?

Merlin – Meu poderes sumiram.

Gaius – Como assim? Quando isso aconteceu?

Merlin – Eu não sei ao certo. Logo depois que cheguei a Eldor eu estava tão exausto que dormia grande parte do tempo. Até que algumas semanas depois eu tentei fazer uma simples magia e não consegui.

Gaius – Talvez você precise apenas de um descanso. Você usou um grande poder para derrotar a Morgana e aquele dragão. Talvez seja apenas passageiro.

Merlin – sim é o que eu pensei também. E com isso, sem os meus poderes eu não passo de um camponês sem muita serventia para a rainha.

Gaius – Não se menospreze assim Merlin. Em todos esses anos você fez muitas coisas maravilhosas sem usar seus poderes. Com certeza a rainha vai precisar muito de sua astucias, inteligência e claro, se meu palpite estiver certo, ela vai precisar de uma babá.

Os dois riram muito. Merlin parecia feliz de volta a Camelot.

Gaius – Agora vá descansar eu tenho que ir a enfermaria preciso ver como está o Sir Gwaine.

Merlin – Percival me contou como ele e Gwaine enfrentaram Morgana.

Gaius – Eu estava confiante de que com seus poderes conseguiria trazer o Sir Gwaine de volta, mas agora teremos que pensar em outra coisa.

Merlin – Sim Gaius, pode contar comigo.

Gaius – Então você vai ficar?

Merlin – Acho que Camelot vai precisar de mais um camponês para ajudar a reconstruí-la.