Amor ou Amizade? escrita por Aki Nara


Capítulo 3
Capítulo 3 - O Desafio




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Nós éramos iguais e inseparáveis. Bianca era minha bússola que limitava meus passos para os próprios erros. Mas quem poderia imaginar que preferiria seguir o eco de seus passos?

***

_ Você ainda vai ficar? – Bianca fez bico.

_ Voouuu... Mas não fica triste, hoje só tenho mais uma aula de Instrumento Complementar.

_ Credo, Erika – a amiga fez o sinal da cruz. - E que instrumento escolheu?

_ Para o primeiro semestre o violino.

_ Estou pasma. Tem gente que nem aguenta um instrumento quanto mais outro complementar. Você está falando sério?

_ Eu quero fazer composições para uma orquestra, então... Preciso compreender melhor cada instrumento.

_ Bem... Então, é capaz de encontrar o “ID” – Bianca encarnou. – Acho que vou junto. A aula vai ser no anfiteatro?

_ Yeap!

Elas caminharam conversando e rindo ao mesmo tempo até entrarem no anfiteatro. O ar frio gelou os dedos de Erika ou talvez fosse nevorsismo. Afinal, seria sua primeira aula com o professor Tokunaga, o maior virtuoso em piano e violino, além de regente da Orquestra Filarmônica do Japão.

_ Por favor, garotas. Aproximem-se mais. Não quero ter de gritar para que ouçam o que estou dizendo.

Os olhares se voltaram para as duas e elas apressaram o passo para se sentarem nas poltronas, mas antes de se acomodarem avistaram Kamioka sentado na primeira fileira e Bianca a cutucou com o braço.

_ Bem... Hoje quero definir as parcerias em Música de Câmera, mas para isso preciso ouvi-los e ver em que nível cada um está. Hum! Mas pelo jeito estamos em número impar...

_ Oh! Eu sou apenas uma observadora, professor. – Bianca corou até a raiz dos cabelos.

_ E seu nome é?

_ Morelli, senhor – ela disse apreensiva.

_ Que seja uma expectadora silenciosa ou se arrependerá amargamente de ter cruzado meu caminho – o professor foi enfático em seus gestos dramáticos.

A amiga aquiesceu empalidecendo mais a sua tez branca. E Erika pensou no quanto todos os professores eram temperamentais sem exceção.

O professor Tokunaga iniciou sua atividade ouvindo cada aluno formando seus pares até chegar a vez tão esperada do dia, Richard Kamioka tocaria seu violino.

_ Bem... Parece-me que ninguém está em seu nível até o momento, mas por obséquio dê-nos a graça de ouvi-lo. Quem sabe algo menos erudito em seu repertório? Algo não muito difícil e popular. Que tal Dvorak, Humoresque?

Richard postou-se no meio do palco, o corpo ereto e com o busto para frente. As pernas um pouco abertas para estabilizar o equilíbrio do corpo. Ele colocou o violino em cima da clavícula, apoiado de leve sobre o ombro esquerdo com a queixeira encostada no queixo.

Ele tinha presença de espírito. As luzes o envolviam-no tornando-o algo mais que um mero aluno, era o garoto prodígio. Os acordes da música soaram de forma aguda, brilhante e estridente.

O timbre do violino preenchia ecoando por todo o anfiteatro. A peça era tocada com maestria e perfeição, mas para os ouvidos sensíveis de Erika... Ele tocava sem alma.

_ Bravo! – as vozes e os aplausos ao redor tiraram-na de seu transe musical.

_ Acho que terminamos por hoje. Grato a todos.

_ Professor... – Érika se levantou espantada.

_ Sim, senhorita? – Tokunaga se voltou para encará-la.

_ O senhor não me chamou, sensei.

_ Não pode ser... – ele consultava sua agenda até que seus dedos bateram. – Qual é seu nome?

_ Amane.

_ Ah! De fato. Amane, Erika. Eu pensei que também fosse uma observadora já que chegou acompanhada de sua amiga – apontou para Bianca que se encolheu na cadeira. – Posicione-se, minha cara.

_ Eu não tenho violino, senhor. – Erika disse mortificada.

_ Uma aluna sem seu instrumento... – ele mostrava incredulidade. – Não seja por isso. Use o meu. – Erika sentiu seu coração quase saltar pela boca quando pegou um legítimo Stradivarius e com cuidado pegou o instrumento encaminhando os pés pesados para o palco.

_ O que vai tocar para nós? – a curiosidade estampada no rosto do professor pela audaciosa aluna.

_ O mesmo que ele. – Erika apontou com o arco para Richard, que não conseguiu esconder o ar de deboche no rosto bonito.

Ela causou furor entre os que estavam presentes gerando murmúrios e sussurros. De repente, um silêncio mortal e toda atenção se voltaram para Erika, que fechou os olhos e respirou profundamente antes de começar a tocar.

Sem dúvida era Humoresque, mas tocada a maneira dela. Os dedos pressionavam acordes e o arco imprimia novos arranjos em cima do tema sem alterar a essência clássica.

Quando terminou, ela recebeu uma ovação e os presentes a aplaudiam de pé.

Os olhos de Erika automaticamente procuraram pelos de Richard. Ele continuava sentado calmamente, mas os lábios apertados lhe contradiziam, a tensão podia ser sentida nos dedos esbranquiçados que apertavam o cavalete com força.

_ Bravíssimo! – o professor Tokunaga aplaudia. – Não convencional. Deve ter praticado bastante.

_ Nunca ouvi essa música, professor. Mas quis expressar o que estava sentindo nessa música.

_ Está querendo dizer, minha jovem... – ele demonstrava espanto – que é a primeira vez que ouviu Antonin Dvórak e fez arranjos mentais para ela porque quis expressar seus sentimentos? – disse voltando-se para Richard. – Será que tivemos a sorte de encontrar uma parceira para você, Kamioka?

_ Com todo o respeito... O senhor deve estar brincando. – Richard se levantou, os olhos azuis reluziam de raiva contida, mas seu rosto tornou-se novamente uma máscara de frieza, a voz suave e controlada era como um tapa dado com luva de pelica. – Eu jamais tocarei com uma garota sem técnica... Ela não tem nível para tocar corretamente e ainda é pretensiosa a ponto de acabar com uma obra clássica.

_ Kamioka! – a seriedade nos olhos do professor avisava-o que tinha um limite para o que podia dizer. – Espere em meu escritório.

Richard pegou suas coisas e com passos duros saiu do anfiteatro.

_ Com exceção da senhorita, os outros estão dispensados. Você não está em simbiose senhorita Morelli. – Bianca olhou para ela preocupada, mas obedeceu apressando os passos para sair.

_ Agora que estamos a sós... Vai continuar sustentando a mentira que disse a pouco? – o professor Tokunaga a olhou com severidade e esperou que todos saíssem para tornar a falar.

_ Não tenho nada a temer – indignada Erika desceu do palco e devolveu o violino ao estojo. – O senhor deveria averiguar a verdade antes de julgar, professor.

Erika simplesmente pegou suas coisas para ir embora.

_ Não poderá ficar sem a minha matéria, senhorita Amane.

_ Bem... Não me parece que o seu aluno prodígio queira parceria. Ele é estrela demais para saber o que é um dueto. Além do mais posso me esquivar da sua matéria até só me restá-la como opção. E quando isso ocorrer gostaria de saber a opinião da diretora Ootsuka a esse respeito.

_ Você é muito atrevida – ele segurou-a pelo braço. – Jamais vire a costa para mim.

_ Foi o senhor quem desistiu de mim primeiro.

***

O brilho do palco e o prazer de ser aplaudida desapareceram e nada além do meu orgulho restava naquele momento em que me recompus e caminhei para a saída.


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