Vivo Por Ela escrita por MayLiam


Capítulo 19
Orgulho e Preconceito


Notas iniciais do capítulo

Laís, obrigada pela recomendação.
E a todas pelos comentários.
Boa leitura!



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Quando Stefan contou-me sobre a decisão do duque, aceitando o convite do rei, eu logo pensei que teria que passar a noite fugindo de suas explicações, fossem elas quais fossem. Que surpresa foi, para mim, encontra-lo esta noite na companhia dela. Vê-los lado a lado, aproximando-se de nós na recepção. Mas não houve nenhuma sensação mais desagradável do que ouvir a voz da condessa àquela noite.

Sou assombrada por esta capacidade de guardar detalhes referentes aos sentidos humanos. Foi assim ao recordar do olhar que me salvara do lago, e isso também se repetiu esta noite, ouvindo o som da voz daquela mulher. Por mais que ela falasse coisas distintas, eu só conseguia a ouvir as palavras daquela noite. Era ela. Foi para ela que ele fez o pedido. Como eu pude ser tão tola?

Agora ambos estavam diante de mim, seguindo todas as regras da etiqueta, fingindo não terem absolutamente nada um com o outro enquanto cumprimentavam o noivo dela. Senti meu estômago embrulhar, mas me contive. Causou-me tristeza ver que todo o discurso contra as hipocrisias da corte não faziam mais sentido vindos de Damon. Ele era igual a todos aqui.

Mas o pior ainda estava por vir. E ao final daquela apresentação, senti todas as minhas forças jogadas ao chão, e uma vontade enorme de confrontar os dois bem ali, em meio à todos. Eu apenas deixei o salão, sendo seguida por um Stefan completamente atordoado.

–O que aconteceu? – ouço sua voz enquanto tento me controlar, inflando meus pulmões com o ar da brisa que vem dos jardins diante de nós.

–Eu só precisava me afastar um pouco daquela agitação. – digo e ele se põe ao meu lado, quando o encaro ele está com uma expressão pensativa e surpresa, encarando as rosas a nossa frente. – O que foi? – ele me olha meio perdido, com cenho franzido e expressão confusa.

–Você teve a impressão de que a condessa de Madsi cantou... – ele hesita – Que ela cantou para...

–Para seu irmão? – bufo – Acho que todos naquele salão perceberam isto. – ele suspira.

–Minha nossa! – ele solta o ar quase arfando – Ela é noiva do Conde de Whitmore, ele aniquilaria Damon se tivesse a chance.

–Ele não me parece preocupado com a aniquilação.

–Ela canta muito bem.

–De fato.

–Vamos voltar, aqui está frio e estamos afastados dos guardas. Ele pede me oferecendo o braço.

–Tem razão. – respiro fundo e aceito acompanha-lo de volta ao salão. Ele é meu noivo, não devo estragar esta noite para nós. E prometi a mim mesma que o duque não significaria mais nada para mim.

Encontramos uma comoção ao redor da condessa, e Damon está entre as pessoas que a enchem de elogios e cumprimentos, ela está de brações dados com seu noivo. Ver a cena me faz nausear. Principalmente quando noto como Damon está encantado. A mulher diante dele o rechaçou pela segunda vez, e lá está o admirado e cobiçado Duque de Valeford, sucumbindo a uma canção, praticamente suspirante de amor. Ela é uma manipuladora esplêndida, e ele, um tolo.

–Andie, que bela apresentação. – diz Stefan, quando alcançamos o grupo.

–Obrigada, caro duque. Mas adoraria ouvir uma critica construtiva aqui. – ela sorri meiga e sinto a bile subir por minha garganta.

–Achei a letra um pouco fora do contexto da noite, na verdade. – falo e sinto os olhares de todos, mas é o dela que me interessa. – Nada que sua bela voz e interpretação não ofuscassem, claro. – sorrio ao final e ela faz o mesmo fazendo uma reverência para mim. Eu coloco meu olhar sobre Damon, e ele está me olhando com reprimenda.

Nos perdemos em conversas novamente, e levamos a noite adiante até a hora do bolo. Damon está ao nosso lado, meu e de Stefan, eu estou entre os dois. No meio da canção de parabéns, ele se curva em minha direção. Sussurrando por baixo das palmas.

–Preciso conversar com você. Não me deu a chance de falar da última vez. – ele se afasta e eu o encaro, negando. – Sabe que não tenho problema em arrastá-la se necessário. – arregalo meus olhos com sua ameaça. Sei que ele é capaz de muitas coisas, de fato.

–Depois. – falo olhando para frente e ele silencia.

Quando a música retorna, e os casais começam a dançar, estou afastada com Stefan, que conversa com alguns conselheiros, Damon está do lado, falando uma coisa ou outra com eles.

–Acho que estamos sendo rudes, cavalheiros. – ele diz me encarando e eu não faço ideia do que tem em mente. – A bela dama deve estar entediada, meu irmão me permitiria acompanha-la para uma valsa enquanto continuam discutindo as estratégias reais? – ele diz e Stefan sorri, assentindo.

–Elena? – me olha e eu apenas assinto, aceitando o braço de Damon, que conduz até a pista de dança no grande salão. Ao longe vejo a condessa valsar com seu noivo, eles sorriem um para o outro.

–Ela é bastante dissimulada. – falo antes de notar que foi em voz alta, e arrebatada pela falta de descrição o encaro e ele está me olhando confuso.

–Qual o seu problema com a condessa, afinal? – bufo, quando ele se põe de frente a mim e envolve minha cintura, seu toque me arrepia. Começamos a valsar.

–Não me faça falar. – ele revira os olhos.

–Belo gesto de cortesia, duque. – ralho com ele.

–Você não tem sido muito cortês comigo, não vejo porque eu deveria gastar a pouca cortesia que me resta com você.

–Ótima maneira de se explicar. – falo e ele me encara quase furioso.

–Não quero falar com você para explicar-me, pelo simples fato de que não tenho ideia do porquê lhe devo alguma explicação.

–Isso é tão típico dos nobres daqui, sabia? Ao final você não é tão diferente deles como me fez pensar. Seu irmão é de fato a única e verídica exceção. – ele aperta minha cintura me fazendo arfar. – O que está fazendo?

–Você está escolhendo as palavras erradas. Ao invés de tentar explicar o seu arroubo do outro dia, está me insultando novamente.- sua voz está firme e seu olhar me faz tremer.

–Eu os ouvi. – falo de imediato, sentindo aspereza na minha voz. – Não acredito que teve coragem de cometer o mesmo erro. – ele bufa demonstrando uma inquietação difícil de ser contida.

–Você pode, pelo o que mais preza, me dizer do que está falando? – eu fujo de seu olhar incrédula, mas depois volto a encará-lo.

–Eu os ouvi naquele dia. Ouvi seu pedido. – ele ergue a sobrancelha.

–Ouviu quem? Que pedido?

–Isso só funcionará se você for sincero comigo, não ficarei aqui vendo você tentar caçoar de mim, então se quer conversar sugiro que fale a verdade.

–Adoraria, basta que se explique. Ouviu o quê? – bufo impaciente.

–Eu a amo. Ardentemente. – digo e ele acena em negativa. – Dê-me a honra de aceitar minha mão. – termino. – O que diabos foi aquilo? Eu sabia que você estava mentindo pra si mesmo quando me dizia que não sentia mais nada por ela. – digo olhando para o casal que valsa ao nosso lado – Mas nunca vou compreender porque você resolveu mentir sobre o que sentia por mim, me beijar daquela forma, fazer toda aquela declaração, para depois, ao retornar a corte, correr e renovar suas intenções para com ela.

–Você está maluca? – ele quase grita.

–Não ouse fazer uma cena aqui, e nem ofender-me. Eu estou muito decepcionada com você, senhor duque. Achei que fosse um homem de caráter.

–Não, você é maluca. – eu reluto em seus braços e ele me prende. – Venha comigo. – diz me segurando firme e começando a cruzar o salão comigo enquanto me leva até uma porta, entramos numa espécie de escritório e ele fecha a porta atrás de si, me jogando lá dentro.

–Meu noivo, seu irmão, está me esperando.

–Não, ele está discutindo quem o rei deve alimentar primeiro. – ele rosna vindo pra cima de mim – E você vai me falar sem rodeios as ofensas que tem contra mim. Em que lhe ofendi, senhorita?

–Você ofendeu minha inteligência.

–Explique.

–Está caçoando de mim? – falo tentando imitar sua voz e seu discurso patético do outro dia. – ele aparenta ainda mais confusão. – Posso perguntar porque fui rejeitado com tanta rudeza? – ele franze o cenho para depois arregalar os olhos e me encarar, quase com ar de diversão.

–Meu Deus! – ele leva a mão aos fios de seu cabelo e depois as descansa em sua cintura me olhando como se estivesse incrédulo. – Você é inacreditável. – e então ele gargalha.

–Ótimo, aumente ainda mais meu desprezo por sua pessoa, caçoe de mim. – ele interrompe as risadas e se aproxima, institivamente dou um passo atrás.

–Se você ao menos tivesse a fibra de admitir que muito de todo este ataque é baseado em seu orgulho ferido, em seus ciúmes, eu até poderia lhe explicar exatamente que aconteceu. Mas só porque você me ofende pensando tudo isso sobre mim, e achando que todas as palavras que lhe disse foram um jogo, uma mentira, eu escolho deixar você com suas conclusões equivocadas. – engulo, e tento revidar, mas mal abro a minha boca e ele continua. – Você não sabe o que quer, não sabe o que é amar alguém, e infelizmente percebo que com total equivocação, achei que você me via como realmente sou, e me aceitava assim. Mas agora vejo que não faz ideia.

–Essas palavras poderiam me atingir, se não viessem do homem que propôs casamento a uma mulher já comprometida.

–Não me parece mais grave do que beijar uma mulher comprometida, e mesmo assim, depois disso, ainda fui digno de sua amizade e preocupação, como escolheu chamar. Não seja hipócrita, senhorita. – ergo minha mão para acertar sua face, mas ele a segura, jogando-a para longe depois. – Pode pensar o que quiser de mim, depois de ouvir atentamente o que vou lhe dizer.- esfrego meu pulso e o encaro.

– Eu não vou...

–Quieta. – sua voz é baixa e firme, me faz parar. – Você, como sempre, julga demais. Mas eu sei que mereço ser punido agora, pela decisão de deixar você entrar a minha vida. Acredite-me, eu vou me retratar sobre isso. Vou me afastar de você, e de meu irmão, vou deixar que viva a vida que acha que quer como bem entender. Só espere uma última coisa de mim.

–O que seria? – digo, já sentindo a garganta fechar.

–Um livro. – ele diz em tom suave.

–O quê?

–Você me ouviu. Boa noite, senhorita. – ele sai do cômodo me deixando tremula, nervosa e confusa.

Eu não o vejo mais e no fim da noite, me vejo em meu quarto, revivendo os momentos intensos desta noite. Estou presa na sensação das mãos dele em minha cintura, no seu olhar, nos seus sorrisos. E depois sou atacada pelas imagens dele com ela. Sinto minha face molhada, e tento livrar-me das teimosas lágrimas. Quando finalmente adormeço, senti que o último pensamento foi uma dor, uma dor de perda. Ele vai me afastar.

.................................

–Elena? – é a voz de Stefan na porta. Se passaram três dias depois do baile, e ele acaba de voltar de uma visita ao irmão.

–Entre. – digo, ele sorri ao me ver, estou sentada diante da janela, lendo uma romance qualquer, de qualquer forma, não estava concentrada na leitura.

–Você e Damon nunca cansam. Sempre o encontro assim quando vou visita-lo. – ele diz gesticulando para o livro. Sorrio. Ele chega perto de mim, beija-me com doçura, isso me acalma, me faz muito bem. – Inclusive, ele me pediu para entrega-la isso. – ele estende o pacote diante de mim e eu encaro com curiosidade. – Um livro. Que novidade. – brinca. –Espero você no jantar.

–Claro. – digo pegando o pacote que ele me oferece, ele sorri, beija minha testa e se vai.

O livro. Eu encaro o pacote com hesitação, respiro fundo e abro-o. É um exemplar gasto de “Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen. Damon lê bastantes livros desta autora, já o vi com pelo menos dois, mas não faço ideia do porque me mandou isso. Noto que há um página marcada, com uma fita de cetim negra, abro e exemplar nela.

Eu agradeço aos céus por estar sentada quando começo a percorrer os olhos nas palavras escritas.

–Oh, meu Deus! – ofego. Cada palavra dita por eles naquela noite, está reproduzida aqui, quando eu continuo e leitura e viro a página, noto que ele frisou um trecho do texto, eu engulo ao lê-lo, sentindo as lágrimas tomarem minha face. – Não! – choro.

“Então essa é a sua opinião em relação a mim. Obrigado por uma completa explicação. Essas ofensas seriam ignoradas se não fosse seu orgulho ferido devido à minha honestidade quanto as minhas hesitações sobre nossa relação.”

–O que eu fiz? –é como ter uma faca cravada em meu peito. Como pude ser tão tola?


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Notas finais do capítulo

Até breve!