_É massa cara! – disse Gabu empolgado.

_Eu não sei jogar essas coisas! – respondi – Na internet eu sou do tipo que prefere as redes sociais.

_Então ia ser melhor ainda se você entrasse lá nesse jogo que to te falando. Eu ia acabar fácil com você e passava logo de fase.

_Que tipo de jogador é você que vai atrás dos fracos pra conseguir subir de nível?

_Do tipo que é esperto.

_Não me convenceu. Se você for bom mesmo tem que derrotar os bons também.

_E quem disse que eu não acabo com eles? Meto o chute ainda depois de matar só pra humilhar.

_Então não precisa de mim.

_Não mesmo. Eu sou o cara!

_E eu sou o cara da internet!

_Ah ser famoso em internet pra que?

_Não sei né. Porque será que eu não prefiro perder meu tempo jogando?

_Ah, ser famoso na internet eu também posso. Se você conseguiu...

_O que quer dizer com “se você conseguiu...”

_Todo mundo sabe que eu sou o mais bonito daqui.

_Não tem nada a ver com beleza!

_Claro que tem!

_Então vamos ver.

Esse era eu discutindo coisas fúteis com Gabu no meio da aula.

Um mês tinha se passado e eu até poderia ousar dizer que agora sim somos amigos. Na verdade muitas coisas tinham mudado, mas nem tudo estava diferente.

Eu estava enfrentando mais uma mudança. Uma mudança minha. Porém, dessa vez era uma mudança boa. Eu estava em paz. Até mesmo Chris tinha deixado de pegar no meu pé. Não 100%, mas já era alguma coisa.

Um mês tinha se passado, tempo suficiente para mudanças. Principalmente quando essas mudanças precisavam ser imediatas. Ou seja, minha mãe! Minha mãe tinha me perguntado no dia anterior sobre minhas mudanças. Mudanças no comportamento, pensamentos, desejos, atrações. Tudo. Eu nunca arriscaria tudo e diria a verdade pra ela. A verdade é que a cada dia que se passava eu estava ficando mais atraído por Gabu. Portanto, continuei mentindo pra minha mãe, dizendo que tinha ciência de tudo e estava arrependido e não pensava mais em nada do que eu sentia antes. Talvez eu fosse um bom ator ou estava caminhando pra ser, pois ainda não era o suficiente, minha mãe até queria, mas não conseguia confiar em mim.

Naquele dia, eu me sentia diferente. Era como se o mundo sorrisse pra mim! Eu já nem lembrava ao certo quando tinha sido a última vez que me senti assim. Aliás, era mesmo diferente de tudo que eu já tinha sentido. Eu queria muito saber descrever minha sensação quando estava ao lado de Gabu. Aliás, Gabu, Adam, Oliver, Will e eu formávamos um novo time, um time de garotos, amigos. Meus dias estavam diferentes. Antes, eu só andava com garotas e, embora eu as conhecessem muito bem, nenhuma delas tinha total confiança em mim. Sempre me excluíam das conversas, fofocas, festa do pijama. Enfim, elas faziam coisas de garotas mas eram as únicas pessoas que eu tinha, e foi por isso que me senti tão sozinho durante tanto tempo.

Quanto a isso, não havia mudanças notórias, mas estava caminhando rumo às mudanças. Garotos conseguem ser mais sinceros e precisos no que vão dizer ou fazer, sem frescuras, embora em Falsehoold ser sincero nunca foi um hábito dos moradores. Adam era o mais sincero de todos e com quem criei mais intimidade. Gabu era do tipo que escondia o que sente, principalmente quando se tratava de um sentimento negativo. Will era do tipo que puxa saco, sempre convencendo com sua lábia poderosa. Já Oliver era o incompreendido. Pelo menos eu o achava confuso. Ele sempre tinha uma opinião, mas só sabia nos deixar em dúvidas com elas.

E eu era eu!

Eu era...

Eu era?

Quem eu era?

Quem eu sou?

Eu nasci na cidade de Falsehoold há 15 anos e cresci por aqui mesmo. Dificilmente viajava ou saía dessa cidade. Sempre estive na sombra dos meus pais, que sempre foram muito conservadores, me ensinando o que era certo e o que era errado. Mas pra ser honesto, tenho meus próprios princípios. Nunca fui uma pessoa fácil de lidar. No entanto, os sentimentos dentro de mim estavam mudando. Eu não estava mais me reconhecendo. Eu só queria ter uma certeza: aquilo era certou ou errado?

Eu nunca fui do tipo que tinha incertezas quanto à bem e mal. Mas, aquilo era tão novo pra mim, me fazia me sentir tão feliz, tão vivo! Ao mesmo tempo era tão difícil, tão errado!

Estar apaixonado por um garoto, isso eu já tinha aceitado. Mas eu não sabia como lidar com isso, pois eu sabia o quanto seria difícil.

No entanto, eu só pensava que tudo estava mudado, tudo estava diferente. Mas como seriam as coisas agora com tantas mudanças? Eu estava começando a ficar confuso de novo, pensando demais.

Pensando demais... Talvez pensando em que eu pudesse me definir agora!