A little piece of me.

– MANIIIIIIINHO!

Uma pequena criança de 13 primaveras, loira de olhos azuis, corria. O choro juvenil soava forte demais, até mesmo para o futuro deus dos trovões. A voz de Thor ecoou pelos corredores do templo de Asgard.

Durante os seus treinos, Thor costumava-se machucar muito enquanto ainda se acostumava com o Mjölnir. Por mais que se machucasse, nunca desistiria até que conseguisse manejá-lo perfeitamente. Por outro lado, quem sofria com essa persistência de Thor era seu irmão, Loki, que estava começando a ficar cansado de conjurar magias de cura para tratar dos ferimentos de Thor. O loiro começava a choramingar e pedir com os olhos mais pidões que poderia haver nos 9 reinos e Loki, apesar de começar a ficar irritado (e preocupado), nunca conseguia resistir aos olhos azuis chorosos do irmão.

O pequenino Thor correu até o quarto de Loki e prostrou-se em frente ao irmão com as mãos ensanguentadas, ainda não havia se acostumado com o cabo curto do martelo.

– Loki... Tá doendo! – a criança loira falava, a voz embargada em dor.

Loki parou de ler seus livros de magia imediatamente para ajudar o irmão. Fez sinal para que ele se sentasse na cama e enquanto pegava um pouco d’água para limpar os ferimentos.

– Estou começando a ficar preocupado, Thor... – Loki murmurava enquanto fazia Thor mergulhar as mãos machucadas na água. – Você não quer dar um tempinho com esses treinamentos?

– Não! – a voz chorosa de Thor tomou um tom assustadoramente determinado. – Só vou parar quando conseguir lutar com aquele martelo.

Loki enxugou as mãos de Thor delicadamente numa toalha, enquanto abria o livro de feitiços para achar a magia de cura. Estava quase a decorando, devia admitir, de tanto curar Thor.

– Você precisa parar, meu irmão. Seu corpo não aguentará tanta dor. – Loki deu um olhar preocupado e afetuoso ao irmão.

Loki costumava dizer que toda magia tinha sua consequência. A consequência da magia de cura era sentir a dor do machucado em dobro, enquanto o ferimento estivesse se curando. Por mais que Loki fosse o mago mais habilidoso do reino (era um prodígio da feitiçaria, mesmo aos 13 anos) e fizesse o seu melhor para ser rápido com o feitiço, tendia a ser uma dor torturante. Seu coração apertava toda vez que Thor o forçava a curá-lo.

– Você precisa me curar, Loki! Por favor... – Thor parecia não ter consciência da dor que sentira todas as vezes que Loki o curou.

Loki respirou fundo e juntou suas mãos às de Thor e uma chama verde começou a surgir de suas mãos. Antes que Loki começasse a conjurar a magia, Thor o parou.

– Maninho! – Thor soltou as mãos de Loki. – Eu... Queria te pedir uma coisa.

Loki deu um meio sorriso. Thor não percebia, mas toda vez que falava “maninho” era sempre para pedir alguma coisa que Loki não iria gostar.

– Fale, irmão.

– Você... Pode me abraçar? – a pele perfeitamente branca de Thor ganhou um ar rosado nas bochechas.

–Claro.

Thor ficou de costas para o irmão, que o abraçou. Eles juntaram as mãos e novamente a chama verde surgiu. Loki e Thor respiraram fundo e o moreno começou a conjurar a magia o mais rápido que pode sem errar, enquanto um grito sôfrego misturado ao choro desesperado de Thor ecoava pelo quarto do mago. A conjuração durou uns segundos de tortura, até que Loki a terminasse.

O moreno, toda santa vez, queria morrer por fazer o irmão sentir tanta dor. Thor imediatamente tremeu sob seus braços, o choro agora estava silencioso. Loki limitou-se a beijar o topo da cabeça de Thor e abraçá-lo mais forte. Loki ficou assim por algum tempo até que Thor se sentisse melhor e saísse para voltar a treinar, agora com mais cuidado, já que estava ciente de seus ferimentos.

__________________________________________________________

– MANIIIIIIIINHO!

Loki suspirou. Não aguentaria conjurar mais uma magia sequer e nem assistir ao sofrimento do irmão. Thor entrou gritando no quarto e dessa vez, além das mãos, suas calças de couro apresentavam um rasgo que ia da metade da coxa direita até mais abaixo do joelho, ele havia se cortado por toda aquela extensão. Loki também notara um corte profundo no antebraço esquerdo.

– Mas como você se machucou inteiro desse... Quer saber, não importa. Dê-me suas mãos.

Thor, dessa vez, notou que o procedimento de cura foi diferente. Uma das mãos Loki segurou e a outra ele posicionou sobre o próprio peito, unida com a de Thor. O loiro rangeu os dentes, preparando-se para a dor excruciante, mas ela não veio. Em vez disso, Loki não falou nada. Apenas fechou os olhos e uma chama branca passou do seu peito para as mãos de Thor, percorrendo o braço até chegar ao seu coração. Thor sentiu o peito aquecer, enquanto assistia o irmão ficar um pouco mais pálido do que já era, para em seguida ele abrir os olhos esverdeados e dar-lhe um meio sorriso cansado.

– Mas... O que você fez? – Thor notou que todos os ferimentos haviam ido embora como se nunca houvessem sequer estado lá. Tudo isso sem sentir nenhuma dor.

– Eu conjurei a magia mais forte de todas, Thor. – Loki olhava para Thor, satisfeito com as reações do irmão.

– Sério?! Que bacana! Como que é essa magia? Me ensina? – Thor fez seu famoso olhar pidão.

– Eu nunca poderia fazer isso, irmão. Essa magia tem o poder de ressuscitar uma vida e acabar com a outra. Eu passei um pouco do meu tempo de vida a você, Thor.

O olhar de Thor transformou-se em um misto de surpresa, tristeza e admiração pelo irmão.

– Eu não me importo em sentir dor, pode conjurar a magia de cura normal! Eu nunca me perdoaria por me curar com seu tempo de vida. Nunca mais faça isso, entendeu? Nunca mais. – Thor abraçou o irmão, os olhos do pré-adolescente estavam cheios de lágrimas.

Loki abraçou de volta o irmão e respondeu:

– Então prometa pra mim que não irá mais se machucar. Lembre-se que tem um pouco de mim aí dentro. – Loki falava, enquanto cutucava a região do coração de Thor. Deu-lhe um beijo na testa. – Volte a treinar. E não se atreva a se machucar novamente. Eu te amo.

Thor deu um sorriso cansado e entristecido, para em seguida dar um beijo suave nos lábios do irmão, que lentamente correspondeu, abraçando Thor suavemente em seus braços e aprofundando o beijo. Thor abraçou-lhe de volta, mais forte, e sussurrou um “eu também” nos ouvidos de Loki. Respirou fundo e dando um meio sorriso à Loki, correu para fora do quarto e a partir daquele dia, Thor se tornara o melhor guerreiro do reino, jamais vindo a machucar-se novamente com o Mjölnir.