Math For Love escrita por Valentine


Capítulo 16
Armário 137


Notas iniciais do capítulo

RECADO IMPORTANTE
Já estamos quase na metade da história, e, por isso, gostaria de fazer um pedido:
Se você, leitor, tem gostado da história até agora, faça uma recomendação e aumente o número de leitores.
Quanto mais leitores, mais rápido tem capítulo novo!

Não sei o que deu em mim, outro capítulo extra aí.



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Enquanto cruzava pelos corredores sentindo o exaustivo peso da pasta em suas mãos, os olhos de Mary passaram despercebidamente pelos armários daquele corredor, até ver o número 250. Parou ali, naquele momento, lembrando-se dos bilhetes que prometera trocar com Daniel desde a última quinta-feira.

Encostou-se ali, na parede que sustentava os armários azuis e amarelos e abriu seu caderno, destacando uma das folhas. "O que eu vou escrever aqui?"- perguntou-se, sem saber ao certo que mensagem gostaria de passar para o garoto. Abriu sua bolsa, e, de dentro do bolso interno, retirou o bilhete, lendo-o novamente. Se a intenção de Daniel era contar sobre os seus gostos e de certa forma, fazer com que Mary o conheça melhor, era o que ela iria fazer também. 

Pegou sua caneta de tinta roxa e começou a escrever, até perceber o quanto Daniel estava tornando-se importante na sua vida só por estar a fazendo usar aquela caneta, a caneta que só era usada em casos especiais.

A história daquela caneta vai muito além de um simples objeto escolar. Aquela caneta de três anos de idade foi o último presente que Mary ganhara do seu pai. Era uma caneta pentel Sophia da linha de luxo, com corpo em metal laqueado, clip em aço banhado em níquel cromo e anel central em bronze banhado em níquel cromo. Mas, a preciosidade daquela caneta não estava no seu preço -que diga-se de passagem, era visivelmente alto -, mas na última recordação que tinha de seu pai.

Dobrou o papel ao meio duas vezes e empurrou-o para dentro do armário por meio de um dos espeaços vazados na porta de aço. Ao virar-se, via que algumas pessoas que ali passavam a observavam, tendo direito até a risadinhas e comentários sobre o quão ridículo aquilo estava parecendo ser. Ela? No armário de Daniel Harris? Ignorou tudo aquilo e continuou andando até a sala de Física logo ali ao lado.

A última aula, por mais que tenha esforçado-se para participar efetivamente, foi insuportável para Daniel. Entender a interpretação da Sra. Brown sobre os textos e relatos de Platão e Aristóteles há milhares de anos atrás era não só impossível como também anormal. Escolhera as disciplinas Humanas em sua maioria quando fez seu horário de aulas no início do ano, mas foi obrigado a continuar com Matemática e Química pela pressão de seu pai.

Encontrou com Dylan enquanto caminhava pelo corredor, que riu ao ver sua expressão de tédio mortal. 

- Eu falei pra não escolher filosofia nem literatura, eu falei. - Dylan disse rindo, enquanto parava para abrir seu armário azul, o armário 198. - Não ouve os amigos, é isso que dá.

Daniel encostou-se no armário 197 ao lado, esperando que seu amigo tirasse o livro de Física para a próxima aula.

- Era isso ou Física e Geometria. - Daniel respondeu, voltando a caminhar naquela direção.

Pararam frente ao armário de Daniel enquanto ele sincronizava o código do armário para o abrir.

- Cara, você viu o vacilo do LeBron na derrota do Heat pelos Pacers no último sábado? - Perguntou Daniel à Dylan, mesmo sabendo que o amigo não era nem um pouco fã de esportes. - O cara foi muito... - Parou de falar quando o som de aço em atrito da abertura do armário propagou-se e um papel caiu ao lado de seu pé direito.

Daniel assustou-se de início, mas sorriu consigo mesmo ao lembrar do bilhete que Mary lhe devia. Abaixou-se e pegou o papel dobrado, assistido por Dylan com uma ruga enorme na testa.

- O que é isso? - O amigo perguntou, enquanto Daniel fitava o papel.

- Eu não sei.. - Mentiu, receoso em contar sobre os bilhetes que trocava com Mary Monroe e receber uma má interpretação de seu amigo.

Dylan aproximou-se de do amigo, curioso pelo bilhete. Daniel desdobrou o papel e admirou a letra de Mary em tinta roxa, uma letra bem desenhada.

" Bem, eu sei que deveria ter deixado esse bilhete há alguns dias, mas aqui estou eu.

O que escrever aqui? Eu gosto de musicais. Não musicais infantis, mas os clássicos, você sabe, O Fantasma da Ópera, Les Miserables, Mamma Mia... Embora não seja muito fã do chocolate em si, adoro tomar chocolate quente em dias de frio, e ler bons livros.

Minha vida não tem muitas coisas relevantes que eu tenha feito. Nada além de viajar com minha mãe para a casa da vovó todos anos nas férias de verão, e dar aulas para alunos do ginásio.

Eu adoro o azul, é a única cor com a qual eu consigo transparecer sentimentos diferentes apenas mudando seu tom ou intensidade.

Meus filmes favoritos são os musicais, você já sabe. Mas gosto muito de assistir comédia e, acredite, não sou muito fã de romances.

.

 Armário 137."

Dylan não estava perto o suficiente para ver o que havia escrito, apenas vira as letras de longe.

Daniel sorriu. A personalidade diferente de Mary Monroe despertava-lhe um interesse enorme em conhecê-la. Não sabia ao certo o porque estava fazendo aquilo, ou qual o limite de todo aquele interesse, mas sentia-se bem simplesmente em conversar com ela.

- E aí, quem era? - Dylan interrompeu-o de seus pensamentos.

- Não diz, ela só fala o número do armário.  - Daniel respondeu, ocultando de seu amigo a relação de amizade que iniciava com sua tutora.

Dylan riu baixo.

- Essas fãs suas, Daniel... - Balançou a cabeça negativamente.

Daniel dobrou novamente o papel e colocou-o no bolso esquerdo de sua calça jeans, fechando o armário logo atrás.

Despediram-se e seguiram para as suas respectivas aulas. Dylan andou pelo corredor, percebendo que faltava apenas alguns minutos para o início da aula de Física naquele andar, acelerou.

Entrou na sala de aula cumprimentando o professor que olhava-o feio por estar entrando mais tarde e caminhou para as carteiras, sendo o último a entrar na sala e sentando-se ao lado de uma garota de cabelos absurdamente negros sem poder olhar para seu rosto, já que ela olhava para a paisagem urbana de Trenton pela janela ao seu lado. A garota virou-se rapidamente ao ouvir o som do banco arrastando-se ao seu lado, e deparou-se com Dylan.

- Bom dia. - Ela disse, mostrando sua educação embora aparentemente tímida.

Dylan reconheceu-a da aula de química que tivera na última semana, quando Daniel tivera um rápido diálogo com aquela mesma garota.

- Oi, Monroe. - Dylan sorriu, respondendo informalmente o bom dia da garota.

Mary assustou-se, olhando-o interrogativamente. Dylan riu pela expressão da garota.

- O Daniel me falou de você. - Ele explicou, sorrindo. - E então, como ele está indo nas aulas?

Mary surpreendeu-se. Então Daniel havia falando dela para seu amigo? O que ele deve ter dito? Seria muita ousadia perguntá-lo?

- Ele está indo muito bem, por sinal. - Mary respondeu, dando um pequeno sorriso de volta. - Seu nome é Dylan, não é? 

Dylan assentiu com a cabeça, respondendo afirmativamente à pergunta da garota.

O professor terminou de fazer anotações no quadro negro e voltou-se à turma, iniciando o conteúdo daquela manhã. 

Dylan e Mary iniciaram suas anotações simultaneamente, com os olhos fixos no quadro. Alguns segundos depois, Dylan parou de escrever e olhou para o lado em direção ao caderno de Mary. Ela parou de escrever, seguindo os olhos do garoto para o seu caderno.

- Algum problema? - Perguntou, sem entender a parada de Dylan.

Dylan franziu as sobrancelhas.

- Qual o número de seu armário, Mary? - Perguntou, ainda olhando para o papel.

Mary arqueou uma sobrancelha, confusa.

- Cento e trinta e sete, porque?

Dylan suspirou, juntando seus livros e guardando-os em sua mochila.

- Nada, obrigada! - Disse, levantando-se.

Dylan saiu da sala ignorando a pergunta do professor por aquela saída repentina, deixando todos os alunos confusos e assustados. Todos voltaram seus olhos para Mary, que estava tão surpresa quanto eles, sem saber ao certo o que acontecera ali.

Dylan andava apressadamente pelo corredor do segundo andar, irado. 

"Quem ele pensa que é?"- perguntou-se logo após dar-se conta do que Daniel estava escondendo. 

Parou em frente à sala de Geometria, ouvindo a voz do professor Anderson explicar as relações trigonométricas de um polígono regular, com direito à conversa dos alunos como plano de fundo. Abriu a porta, chamando a atenção de todos e fazendo com que fitassem a porta branca de madeira que propagava um som irritante em decorrência do atrito. Dylan procurou com seu olhar o lugar em que Daniel estava, como sempre, na última e mais distante cadeira. Encontrou seu olhar e sinalizou com a cabeça para que saísse da sala.

Daniel levantou-se intrigado, pediu licensa ao professor para sair e deixou a sala, despertando a conversa entre os alunos assim que a porta se fechou logo atrás.

- O que aconteceu? - Daniel perguntou, preocupado pelo fato de seu amigo não poder esperar para falar com ele no intervalo.

Dylan observou-o colocar as mãos no bolso e respirou fundo.

- Eu sei o que tá rolando entre você e a Mary. - Dylan afirmou, fazendo com que Daniel arregalasse os olhos, assustado.

- O quê? - Daniel perguntou, de queixo caído. - Do que você tá falando?

- Eu sei que foi ela quem colocou o bilhete em seu armário. Eu reconheci a letra! E eu sei que ela é a dona do armário cento e trinta e sete! O armário do bilhete!

Daniel congelou. O que explicaria? Arrependeu-se de ter mentido antes e não dito que era só uma troca de bilhetes inocente. Agora, seu amigo estava tendo interpretações completamente indesejadas.

- Você tá pirando. - Daniel disse, balançando a cabeça. - Eu e a Mary não estamos tendo nada. Porque eu faria isso? Eu tenho namorada, cara!

Dylan balançou a cabeça negativamente.

- Eu não sei o que tá acontecendo de verdade. Mas é estranho demais você de repente começar a conversar com ela, ter aulas e receber bilhetes? - Dylan suspirou. - Olha, Daniel, eu não quero que isso interfira em nossa amizade, e sei que não tenho nada haver com isso. Mas eu não vou admitir que você seja capaz de fazer algo assim com a Jhennifer.

Daniel assustou-se.

- Dylan, eu não estou fazendo nada! - Falou, elevando sua voz. - Você acha mesmo que eu seria capaz de trair a minha namorada? Nós estamos juntos há três anos, se eu quisesse fazer algo, eu já havia terminado há muito tempo!

- Vocês não estão namorando! - Dylan gritou.

- Do que você tá falando? - Daniel intrigou-se.

- Esse namoro de vocês é só um status, Daniel! Vocês mal se vêem, não conversam! Ela ultimamente tem andado triste, pelos cantos, e você não faz nada! Porque insistir nisso? 

- Isso não é verdade... - Daniel disse em um baixo tom de voz.

- Ah, não? - Dylan riu ironicamente. - E onde a Jhenni tá agora? Em que aula.

Daniel calou-se. Era verdade. Aquele relacionamento já não era o mesmo há muito tempo, mas sentia que não podia terminá-lo: já estava acostumado a ter Jhennifer em sua vida.

- Desde quando você se importa tanto com a Jhennifer, Dylan? Porque isso te afeta tanto? - Daniel perguntou, cruzando os braços e fitando seu amigo.

Dylan desviou o olhar, sem saber o que responder. O sentimento de proteção que tinha por Jhennifer era algo inexplicável, sentia-se motivado a acolhê-la. Era óbvio que ela não sentia-se feliz com aquele namoro, mas não sabia o porque. Por isso, sentia vontade de lhe proporcionar a felicidade negada por Daniel.

- Daniel, eu tenho percebido a Jhennifer ultimamente, e não vou admitir que você a magoe desse jeito. - Disse, andando na direção contrária e seguindo ao pátio principal.

Ainda assustado, Daniel entrou novamente na sala, já confuso com o assunto que havia perdido por ter saído da sala. Refletindo nas palavras de Dylan, percebeu o quanto esteve cego todo esse tempo. Seu namoro já havia perdido aquela intensidade no início e transformara-se num relacionamento rotineiro e monótono. Já estava tão acostumado com aquilo tudo que não havia sentido a diferença. 

E, naquele momento, perguntou-se se deveria mesmo continuar com aquilo.


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Notas finais do capítulo

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