Almost Human escrita por MsNise


Capítulo 8
Amada


Notas iniciais do capítulo

E então, um novo capítulo!
Prometo que esse vai compensar os chatos que eu escrevi. Modéstia parte ficou bom. Eu amei escrever ele e espero que vocês amem lê-lo. Uma parte da ideia foi da Wanderer, porque o que aconteceu no capítulo anterior acabou influenciando esse. E eu queria agradecer também a MsAbel que revisou pra mim e deixou ele bem melhor que originalmente ♥
Nos vemos lá embaixo :*



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- Ai - choraminguei. 

- Quieto - ordenou Peg com demasiada delicadeza. 

Eu poderia ter ido pro hospital, mas tinham levado Kyle para lá e nos queriam longe um do outro, pelo menos por um tempo. Revirei meus olhos diante da ordem ridícula. A raiva já havia passado, por favor, não éramos animais que só brigavam, apesar de parecer exatamente isso para Peg.

- Por que não me dá remédio de alma? - perguntei enquanto ela levantava os cabelos de minha testa suavemente e colocava o pano úmido nela. Ela não fez pressão nenhuma, mas ardeu. Puxei o ar por entre os dentes. 

- Estou te deixando de castigo - respondeu-me simplesmente. - Por você te agido mal - explicou. - Geralmente eu curaria o ferimento e depois o limparia, mas inverti a ordem - eu não precisava de mais nada. Podia ver o quanto ela estava chateada comigo. Ela meio resmungava, com um biquinho fofo em seus lábios. Normalmente eu teria rido, mas ela estava séria demais para eu tentar fazer alguma gracinha com seu estado de espírito. 

- Desculpe-me - pedi envergonhado. Meus olhos abaixaram para minhas mãos que pousavam em minha perna. Bati os dedos em um ritmo desconhecido, para completar o silêncio que se seguiu.

- Por que você brigou com Kyle? Você não se sente nem um pouco... mal? - perguntou ela, em parte curiosa e em parte decepcionada. Era engraçado ver como os papéis haviam se invertido. Era ela quem estava brigando comigo, não que eu tivesse a intenção de brigar com ela algum dia.

- Briguei com ele porque sou humano - respondi obedientemente. - E... eu me sinto mal por ter te decepcionado, mas não por ter batido nele - resolvi ser sincero. Ela merecia sinceridade após minha atitude impensável. 

- Você não se arrepende? - novamente a curiosidade e a decepção, mas nenhum vestígio de medo como eu havia imaginado que teria. 

- Se me arrependo?! - perguntei ironicamente. - Nem sonhando - e então soltei uma risada estridente. Ela me olhou como se eu tivesse pirado subitamente. Talvez fosse verdade. Não sei o quanto a batida de minha cabeça afetou meu cérebro. 

- Talvez eu devesse te dar algum remédio pra dor logo - disse em uma voz gélida. 

- Acho que é a hora perfeita - concordei. 

Ela me encarou por um momento antes de estender a mão para pegar o remédio que estava no chão de areia. Não consegui ler o rótulo. Ela me mandou fechar os olhos e então espirrou no meu rosto. A sensação momentânea foi maravilhosa. Sem ardência, minha cabeça não latejava mais, mas eu ainda me sentia envergonhado e culpado, Peg estava fazendo eu me sentir assim. 

- E então, agora está sóbrio o bastante para me responder? - ela ainda estava irritada. Acho que nunca vi Peg assim. 

- Não estava brincando, eu não me arrependo de ter brigado com Kyle - sua cara permaneceu na mesma expressão; esperando que eu falasse sério. - Nós já brigamos várias vezes. Essa não foi a primeira nem a última vez. Você tem que entender que somos irmãos...

- E é exatamente isso que eu não entendo - interrompeu-me. - Como vocês conseguem brigar sendo irmãos

- Irmãos são as pessoas que mais brigam. Os laços de fraternidade são fortes demais para serem rompidos. Por isso brigamos tanto. Tentamos forçar ao máximo essa corda que nos equilibra, para ver quanto peso ela aguenta - foi a única maneira que eu achei para explicar: com metáforas. 

Ela pareceu compreender, pelo menos.

- Eu não acho que deveriam tentar arrebentá-la - murmurou ela. - Estão bem como estão, não é? - apesar de suas palavras vi que ela estava mais calma, sua guarda tinha baixado um pouco. Peg não é de guardar ressentimentos ou até mesmo ficar brava por muito tempo. 

- Contudo ela é forte, não se preocupe - ela não reagiu. - Desculpa? - pedi novamente. Ela se rendeu com um suspiro derrotado. Se arrastou de joelhos até mim e lançou seus braços em meus ombros, encostando sua cabeça em meu peito, inspirando meu cheiro e escutando meus batimentos cardíacos. Rodeei-a com meus braços. Já não éramos mais tão proporcionais como quando ela estava no corpo de Melanie, mas o corpo de Pet é adequado para ela. Pequeno, com cara de anjo. Podia sentir sua pele queimando sobre minha mão, apesar da blusa fina que ela usava. Afundei meu rosto em seus cabelos quando tive uma ideia. 

Afastei-a com delicadeza e saltei da cama, andando até um armário que fica escondido em um canto do quarto. Não exatamente escondido porque é possível vê-lo, mas ele não merece destaque no quarto. Abri-o e lá encontrei o meu "melhor amigo". Peguei meu violão e o deixei sobre a cama. 

- Você... - Peg não terminou. É a hora de me redimir com ela. Abaixo-me sobre uma caixa cheia de papéis e começo a revirá-los. 

- Aqui - murmuro com os meus botões quando acho o que procurava. 

Volto para a cama e lá me sento de pernas cruzadas. Posiciono o violão e a folha. 

- Eu sempre toquei - expliquei-me rapidamente, em frases entrecortadas. - Quando você quase me... Eu escrevi... Eu... Eu... não estava bem emocionalmente, então... achei que era o momento certo para escrever alguma coisa realmente boa - posiciono minha mão e então tento algumas notas. Para "desenferrujar". Peg permanece em silêncio, esperando. Finalmente, contudo, respiro fundo e lanço mão nas cordas, deixando a melodia fluir livremente. 

E então tudo estava escuro

Eu só podia enxergar o muro

Eu bateria contra ele

E desapareceria como você 

Você só fugiu

Mesmo quando eu disse aquelas palavras

Você só fugiu

Até mesmo quando queria ficar

Desapareceu como o sol desaparece no horizonte

Um lindo brilho resolvendo se por

Um lindo brilho resolvendo se suprimir

Um lindo brilho querendo fugir

Você só fugiu

Mesmo quando eu disse aquelas palavras

Você só fugiu

Até mesmo quando queria ficar

Tentei te alcançar, mas você me venceu

Tentei te puxar, mas você só correu

Quis te abraçar, mas você desapareceu

Você só fugiu

Mesmo quando eu disse aquelas palavras

Você só fugiu

Até mesmo quando queria ficar

Quando levantei meus olhos para olhar Peg ela estava com o lábio inferior tremendo e os olhos cheios de lágrima. Ela lançou sua mão na boca e fechou seus olhos, deixando uma lágrima escorrer pelo seu rosto. Joguei o violão para o lado e dei um giro sobre os calcanhares, ficando de joelhos na frente dela. Afastei sua mão e limpei a lágrima. 

- Não feche os olhos - sussurrei com ternura. 

Ela abriu os olhos vermelhos e me fitou. 

- Como? - perguntou com a voz falha. 

- Não feche os olhos - tornei a falar. Coloquei uma mexa de seu cabelo louro atrás de sua orelha. Ela estremeceu ao mero toque e uma onda de prazer percorreu meu corpo. - Eu gosto de vê-los. Consigo te ver melhor. São os seus olhos que mostram quem você é. A alma que você é. Nunca pensei que fosse amar tanto ver um círculo prateado ao redor da íris... - ela continuava emocionada. Mais lágrimas escorreram de seu rosto. Peguei seu rosto entre minhas mãos e limpei com os polegares as lágrimas rebeldes que escapavam de seus olhos. 

- Mas é o olho do inimigo... - protestou com uma voz rouca. 

- Não - discordei. - São os seus olhos. São os seus olhos os mais bonitos do universo, são eles que me fazem ter força para levantar todos os dias - continuei falando. Ela chorava cada vez mais e isso fez os meus olhos também se encherem de lágrimas. - Antes eu sempre acordava e pensava que estava dentro de um sonho. Pensava que algum dia eu acordaria e me encontraria em meu quarto - minha voz estava embargada e agora eu lutava mesmo com a água salgada que inundava meus olhos. - Durante muito tempo eu quis que isso acontecesse, mas agora não mais. Agora eu te tenho nesse sonho e eu não quero te perder pra realidade. Eu não quero te perder para nada, nunca - fechei meus olhos e encostei nossas testas, roçando nossos narizes, e deixei as lágrimas de uma dor antiga escorrerem por meu rosto. Senti a mão de Peg sobre meu rosto quando ela começou a limpá-lo. 

- Abra os olhos - ordenou e eu obedeci. - Eu também gosto de vê-los. Foi esse azul que eu procurei quando acordei nesse corpo - ela estava falando a verdade. Sorri e a abracei apertado, afundando meu rosto no seu cabelo. 

- Como se pode amar tanto alguém? Chega até a doer - minha voz estava abafada. 

- Eu não sei. Eu nunca acreditei no amor antes de vir para cá, antes de conhecer a Terra - ela se afastou para me olhar nos olhos. Ainda segurava em meu rosto. - Eu pensava que era um sentimento que inventaram, confundindo com o afeto. Diziam que era amor o que sentíamos por todos, mas eu também não acreditava. Todos tinham alguma preferência, eu não. Sempre ficava com todos e com ninguém ao mesmo tempo. E então eu te encontrei - ela tornou a encostar nossas testas, mas permaneceu me olhando nos olhos. - Nada compensaria você, não agora. Nem que todo o mais estivesse em perigo, eu escolheria você para proteger, se tivesse que escolher. Até onde o amor é racional? Eu iria desejar proteger todos, mas você seria o principal, porque minha vida não tem o menor sentido sem você - e então ela estava chorando novamente. 

- Minha vida também não tem sentido sem você, minha Peregrina - sussurrei. - Eu te amo mais do que a mim mesmo. Eu te protegeria com toda a minha vida, porque ela não tem sentido sem você. Você é tudo para mim. Minha vida tinha poucos pontos de luz antes de você aparecer - ela assentiu e colocou a mão em meu pescoço, me puxando para mais perto. 

- Eu amo a cor de seus olhos... - disse. 

- Eu amo os seus olhos. Dizem que os olhos são o espelho da alma e perdoe-me pelo trocadilho - ela riu um pouco, mas só um pouco. Nos aproximamos lentamente, sem nenhuma pressa. Esse momento é nosso e não pode ser roubado por ninguém. Nossos lábios se roçam antes de se encontrarem totalmente. Finalmente fechamos nossos olhos, agora a nossa conexão passou para nossas bocas. Abraço o seu corpo pequeno com força e ela arranha minha nuca quando entrelaça seus dedos em meus cabelos. Nos beijamos lenta e deliberadamente, não querendo apressar nada. Quando o ar se faz necessário eu roço meus lábios em sua bochecha e a beijo lá. Sua boca está na altura de minha orelha. 

- Eu amo você - ela sussurra. Um arrepio percorre minha espinha. 

Como definir o amor? Existem vários tipos de amor: aquele que conhecemos desde pequenos, aquele fraternal e incondicional que sentimos por nossa família e por Deus. O amor que sentimos por nossos amigos, que também é muito forte, mas não incondicionável, não, precisamos nos esforçar. E existe esse amor que não entra no peito. Ele chega como um sopro dentro de nós. Depois se transforma em uma brisa. Depois em vento. Depois em vendaval. Ele destrói todas as barreiras que existe dentro de nós e assim somos livres, apenas para amar. Ele se expande até não ter mais lugar no peito e então escapa, se tornando um fino e resistente véu, que nada pode ultrapassar. É assim que me sinto. 

Afasto-me um pouquinho dela e olho em seus olhos. 

- Eu te amo, minha Peregrina, você é a minha vida - e então beijo-a novamente, não dando tempo para ela responder. Ela suspira durante o beijo. Meu coração bate acelerado, cheio de alegria, aflição, dor e amor, que anula todos os outros sentimentos. Sinto que se trava uma luta dentro de mim que pode ser esquecida por alguns segundos. 

Apenas por alguns segundos. 

Mas é o bastante para me satisfazer.


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Notas finais do capítulo

E aí? Gostaram? Deixem reviews, é mega importante pra mim isso. Lamento que eu não possa escrever capítulos assim forever, porque eu tenho que voltar o foco pra humana também. Mas eu vou sempre tentar fazer alguma coisa O'Wanda. Talvez até Jelanie.
Até o próximo capítulo :*



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