Broken Wings escrita por Angie x3


Capítulo 9
Capítulo Sexto




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O silêncio e o canto matinal dos pássaros pairaram no ar por alguns minutos, ou será que foram horas? Um momento interminável, mas que eu não ousava quebrá-lo: eu tinha medo do que eu poderia ouvir. Eu não sentia como se eu estivesse em meu corpo, me sentia alheia, avulsa de sentimentos. Aos poucos fui tentando juntar meus devaneios, a fim de reproduzir mentalmente o que poderia ter ido além da minha lembrança.

A manha era fria, tão fria quanto meus pensamentos. Minhas mãos geladas se apertavam uma contra a outra tentando se esquentar, tentando com que eu me acalmasse. Um zumbido intermitente em minha cabeça e o som das nossas respirações pesadas eram as únicas coisas que eu conseguia distinguir.

- Você não se lembra, mesmo? – repetiu Jacob, quebrando aquele silêncio confortável.

De cabeça baixa, apenas fitei-o com angústia. Pude perceber o mesmo sentimento nos olhos dele, hoje ainda mais escuros e turvos.

- Não – desta vez repeti um pouco mais devagar, quase num suspiro, tentando fazer ser mentira.

Não adiantava. Eu poderia falar em alto e bom som: NADA aconteceu, Isabella Marie Swan! Você teve um sonho! – mas nada do que eu fizesse, falasse ou, quem dera, lembrasse, faria eu me sentir mais confortável, menos culpada, menos envergonhada.

- Bom, o que não é lembrado, não foi feito. Que tal? – piscou.

Maldito. Ato reflexo: um socão no peito, bem servido.

- Aí! – disse enquanto sacudia freneticamente minha mão direita. Mas que raios, Jacob!

- Ué, foi você quem me bateu! – deu de ombros.

- Mas precisava revidar?

Com um olhar de tédio, ele pegou minha mão por entre as dele. Quentes e macias. Por um momento esqueci-me da dor. E, por outro momento, esqueci do que eu havia esquecido.

Não que eu não estivesse curiosa, mas eu no fundo, tinha medo de descobrir o que havia acontecido naquela noite. Um milhão de possibilidades infundadas vinham a minha cabeça, uma pior do que a outra. O que mais eu queria? Não adiantava ficar me martirizando. Já havia acontecido, não tinha como mudar o passado, eu tinha que aprender a lidar com isso, e, pior, tinha que contar ao Edward.

Aquilo me matou por um segundo. Como contar a ele? Contar a ele que algo aconteceu naquela clareira. Algo do qual eu não me lembro. Algo entre eu e o homem que ele mais sente asco. A idéia me dava arrepios, literalmente. Eu estava em débito com minha consciência. Agora mais do que nunca a indecisão passou por entre meus pensamentos. É, eu realmente TINHA que saber.

Jacob me olhava de um jeito carinhoso, mas ao mesmo tempo receoso da atitude impensada que eu poderia tomar a qualquer momento. Um ato inesperado, até para mim, tomou-me naquela hora. Levantei no chão num súbito, arrumando minhas vestes e limpando minhas pernas de alguns fiapos de grama grudados. Estendi a mão para que ele a segurasse, e foi o que ele fez. Tocou-a por um segundo calmamente e descrente.

Saímos caminhando de mãos dadas, da mesma forma que fomos até ali. Caminhando devagar, apenas sob o som dos nossos passos e do farfalhar das copas iluminadas. Novamente em silêncio, ora angustiante, ora constrangedor, ora, felizmente, confortante. Raios de sol entravam por entre as frestas, iluminando nossa trilha, mas infelizmente, nada clareava meus pensamentos.

Nada era mais confortável do que aquele silencio, sua mão quente me confortava, ele voltara a ser meu amigo, meu melhor amigo. E eu não queria, nunca mais, pensar nele de alguma outra forma. Ou queria? O que eu achei que poderia, talvez, ser uma pontinha de remorso, começou a formigar e borboletear meu estômago. À medida que nos aproximávamos da reserva, caminhávamos cada vez mais calmamente. Eu não tinha pressa nenhuma de voltar para meu mundo, para a realidade. Eu me sentia feliz ali, me sentia protegida, completa.

Não sei por quanto tempo andamos, mas pareceu infinito. Em um súbito, um som melodioso começou a adentrar o silencio do nosso labirinto de árvores. Reconheci algumas vozes. É, havíamos chegado aos limites da floresta. Aos poucos fomos parando. Antes de nos livrarmos totalmente de nosso escudo natural, Jacob parou. Parou a minha frente e me olhou. Nunca tinha visto um olhar daquele. Era profundo, penetrante e... Acho que com uma pontinha de dor. Como se ele soubesse o que iria se suceder.

Em um movimento delicado e carinhoso ele abaixou a cabeça, fechou os olhos e recostou os lábios em minha testa e por ali ficamos assim alguns instantes.Aspirei seu aroma doce mais uma última vez. Não foram necessárias palavras, seguimos para rumos diferentes quase que de imediato. Eu o observei se direcionar em direção aos Quileutes antes de partir. E fui. Caminhei pela trilha de terra vermelha até quase os limites da reserva. Eu precisava, novamente, de um tempo pra mim e aquela trilha estava sendo novamente a oportunidade perfeita.

O aroma da floresta amanhecida a pouco era reconfortante, o brilho do orvalho por sobre as folhas secas ofuscava minha visão atordoada. Caminhei, cada vez pra mais longe e cada vez mais sem rumo. Não estava com objetivo de ir para casa, e, cada vez mais eu me distanciava dos limites da reserva. Fui ouvindo e sentindo a floresta se despertar aos poucos, os sons se intensificando vagarosamente. O sol coberto por nuvens acusava quase meio dia, minhas bochechas começaram a arder e eu senti um movimento involuntário no estômago. É, acho que está começando a ficar na hora de ir pra casa.

Tateei meus bolsos em busca de alguma coisa familiar: dinheiro, chaves... Eis que ele surge. Não que eu acredite em sinais, mas apertei com força o objeto que eu senti entre meus dedos. Um celular que acusava: 7 chamadas não atendidas.

Engoli seco. De volta à realidade, Bella.

Parei por um segundo, recostei debaixo de uma árvore que, a julgar pela grossura do caule, já estaria ali por algumas boas décadas. Meu coração acelerou e me pus a verificar o autor das minhas milhões de ligações: Charlie.

Graças! Um alívio ingrato acalentou meu estomago. Retornei, já certa do que iria eu iria ter que agüentar.

- BELLA! VOCÊ FICOU MALUCA! CADÊ VOCÊ? ACHEI QUE VOCÊ TINHA MORRIDO! VOCÊ TEM IDEIA DE QUE HORAS SÃO...

- Pai...

- TÔ LIGANDO PRO SEU CELULAR DESDE ONTEM E VOCÊ NÃO ME ATENDE...

- Pai...

- QUER MATAR SEU PAI DE PREOCUPAÇÃO? NUNCA MAIS FAÇA...

- PAI! Desculpe. Eu estava com o Jake...

- Ah... Bom, se é assim, menos pior. Tudo bem, querida? Volte para casa, sim?

Há situações em que algumas sacudidas de realidade são boas.

Eu já estava quase em Forks. Provavelmente minha manhã havia se resumido a bons quilômetros de caminhada. Não ia demorar muito para chegar em casa, mas eu ainda sentia que eu ainda não podia. Ainda com meu celular em mãos disquei um número quase desistindo na metade. Um número que eu sabia de cor. Sem coragem de permanecer na linha, mas sem coragem de desligar a tempo, uma voz masculina soou do outro lado da linha.

- Precisamos conversar – falei com o estômago às avessas.

 

 

[N/A] Sinto até vergonha de voltar a postar aqui, depois de um milhão de anos ausente. Espero que meus leitores não tenham me abandonado - mesmo eu dando toda a razão para eles. Estou voltando, vagarosamente, mas não abandonei minha bebê. Espero que ainda curtam a história, e não deixem de me comunicar do resultado =) Beijinhos meus queridos.


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