A Primeira Escolha escrita por Renan Garibaldi


Capítulo 2
Capítulo 2 - Quase sou perfurado


Notas iniciais do capítulo

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 Andei até onde estava meu carrinho e o peguei. Eu ouvia o choro de Raissa ecoando em meu cérebro e a imagem de sua mãe sendo devorada por um demônio chupador de sangue... Se Roberta não tivesse se posto defronte ao cadáver ela estaria muito pior de como estava.

 Peguei o carrinho superlotado e o empurrei para a saída do mercado. Eu olhava rapidamente para todos os lados, preocupado, para ter a certeza de que não havia mais vampiros ao redor. Estava com uma adaga presa a mão, pois não sabia se haveria tempo de abrir a jaqueta e puxar uma adaga. Acho que não. Eu seria devorado em questão de segundos.

 Quando cheguei à garagem, a única pessoa do grupo que estava no carro era Júlia. Ela segurava Raissa, fazendo-a ficar calma, coisas que havia feito comigo há uns anos atrás. Ela tinha aptidão com palavras, sabia o que tinha que dizer e fazer. Era extremamente sábia e sabia mexer com as palavras tão facilmente.

 Abri a mala do carro e coloquei todas as guloseimas na mesma. Fechei a mala e entrei rapidamente no carro. Raissa não chorava mais, pelo contrário, ela ria alegremente como se nada tivesse acontecido. Aí eu lembrei que ser criança era a melhor coisa do mundo. Quando pequeno, sempre queria me tornar adulto, ser o que desejava e não tinha nenhum problema em sonhar acordado.

 - Como é o seu nome? – Raissa me perguntou, com uma voz extremamente meiga.

 - Patrick Walker – respondi, olhando para seus lindos olhos verdes.

 - Você sabe onde minha mamãe foi?

 Eu olhei para Júlia e li seus lábios.

 - Ela foi ao shopping comprar novos brinquedos para você – menti, desajeitado.

 Mentir era o melhor remédio para ela, pois contar a verdade não seria nada fácil. Tínhamos que conforta-la de todos os sedentos por vida. Em minha opinião, teríamos que prepara-la para a verdade.

 - Onde estamos indo? – ela perguntou, abrindo um sorriso. – Vamos encontrar minha mamãe? Por que ela me deixou sozinha?

 - Calma, Raissa – Júlia disse, ajeitando a blusa da garotinha. – Uma pergunta por vez.

 - Desculpe.

 Ela parecia ser tão inteligente. Na verdade, era muito inteligente porque soube se esconder do vampiro sem ser encontrada facilmente. Talvez, ele soube onde ela estava e teve piedade? Não. Impossível. Eu nunca tinha encontrado um vampiro bonzinho, acho que seria pouco provável encontrar algum, mas se encontrasse não acreditaria, pois com certeza estariam mentindo.

 Quando Romulo, Roberta e Jackson chegaram, colocaram os restos das coisas no carro e sentaram-se rapidamente nos assentos. Coloquei o cinto antes mesmo de Romulo ligar o carro. Quando ele ligou, já estava prevenido.

 Enquanto o carro corria a mais de 150 km/h, eu olhava o que restava de minha cidade ex-maravilhosa. Será que os outros países sabiam do que estava acontecendo? Talvez não. Até porque, proibiram a entrada e saída de aeronaves e coisas do tipo. Acho que era impossível saber do que estava acontecendo. Talvez, os EUA tivesse uma suposição, ou não.

 Seria bem legal ver helicópteros, viaturas, aviões cheios de saldados, destruindo a monarquia Vampirar num piscar de olhos. Não. Isso nunca iria acontecer porque não pensariam duas vezes antes de saber que existiam vampiros dominando quase o Brasil inteiro e não saberiam se restaria vida humana.

 O Presidente do Brasil desapareceu de uma hora para outra. Acho que foi morto ou fugiu ao invés de ajudar a população. Ah, era muito difícil alguém vir nos ajudar porque quase não havia vida restante. Enquanto eu lamentava sobre a monarquia Vampirar, Raissa dizia:

 - Minha mãe veio aqui para visitar meus avós, mas eles sumiram.

 Eles viraram comida de monstros, quis logo dizer, mas se dissesse seria espancado por Julia e expulso do grupo. Não queria perder meu único refúgio e meus colegas. Eu tentava ser menos frio, mas não conseguia. Era tarde demais para voltar a trás. 

 - Ah, eles devem ter ido passear – Júlia mentiu, novamente.

 - Por que não tem quase ninguém na cidade? – Raissa perguntou, olhando para vidro a fora.

 Essa era uma pergunta muito difícil de responder. Como falaríamos para ela? Enquanto eu pensava na melhor resposta possível, Jackson disse:

 - Estão todos viajando porque há uma crise em nosso estado e breve em nosso país - ele omitiu dizendo a verdade, uma das coisas que o fazia ser extremamente inteligente.

 Era verdade, nosso estado estava em uma espécie de crise e logo nosso país seria devastado pelo mesmo problema. Nem conseguia imaginar a maioria dos brasileiros transformados em vampiros ou sendo devorados vivos por monstros. Famílias fracas não saberiam o que fazer, e seriam rapidamente desunidas. Era triste, sim, porém era a dura realidade.

 Não havia quase carro algum nas estradas. Bem, quando a crise começou os carros que sobraram nas ruas foram retirados por vários guindastes e colocados em galpões abandonados. Apenas alguns vampiros usam carros e pouquíssimos podem se transformar em morcegos. É tão raro que eu, por milagre, não encontrei nenhum.

 Quando chegamos a casa, resolvemos retirar apenas algumas coisas do carro. Enquanto Jackson abria a porta do porão, a gente esperava com algumas coisas nas mãos. Assim que a porta do porão se abriu, descemos a escada escura e empoeirada.

 - Como é bom estar em casa – Roberta disse, sentando-se no sofá.

 - Você chama isso de casa? – Raissa resmungou.

 Eu ri da maneira de como ela havia dito. Era extremamente engraçada a mentalidade daquela garota, e eu sabia que ela era bastante inteligente.

 - Sim. É a única casa em que podemos morar, Raissa - Júlia disse, apertando as bochechas dela.

 - Vou preparar o almoço – articulou Roberta, pegando algumas embalagens e indo direto a cozinha.

 A nossa sala não era grande coisa. Um sofá em forma de L encostado à parede, e no centro da sala havia uma mesa de vidro com alguns livros espalhados pela mesma. O televisor era de quarente polegadas, porém era, praticamente, inútil. Antes das escadas tinha uma mesa de vidro onde, geralmente, comíamos.

 Enquanto Roberta preparava algum delicioso almoço, eu sentia o delicioso aroma dançando em minhas narinas e me deixando mais faminto. Eu poderia comer algum pacote de biscoitos, mas não era nada comparado com as comidas de Roberta. Ela nos disse que seus pais eram donos de um restaurante. Todos concordamos que ela herdou o dom dos pais, para a salvação de nossos estômagos.

 Acho que neste momento muitas pessoas estavam sendo atacadas ou sendo transformadas em vampiros. Eu quando pequeno escutava histórias que vampiros só mordiam mulheres virgens. Mentira, não é mais bem assim. Eles não ligam se você é mulher, virgem, homem, criança, eles apenas querem lhe devorar ou transformar, apenas isso.

 Enquanto Júlia brincava com Raissa, eu as observava. A pequena garotinha estava algumas horas assustada e chorando, naquele momento estava sorrindo e alegre, com os problemas esquecidos. Eu queria me sentir assim até o fim da minha vida, mesmo sabendo que não seria tão duradoura.

 Imagine-se vivendo em uma selva onde há vários animais selvagens. Chegaria um momento em que você cansaria de se esconder e seria devorado pelos mesmos. Era assim que nós vivíamos, fugindo o tempo todo. Algumas vezes tínhamos oportunidades de mata-los, mas não eram tantas.

 - Pessoal, olhem isso – Jackson disse, aumentando o volume da TV.

 “Existem grupos de pessoas normais que andam nos caçando” anunciou o Repórter com os dentes tão afiados que pareciam lâminas. “Se você vir um desses grupos, anuncie rapidamente porque eles estão acabando com a gente” ele deu uma risadinha abafada e continuou “Algumas tropas caçarão esses grupos durante os dias e as noites até não restar nenhum humano estúpido”. Jackson desligou a TV com raiva.

 Eu olhei para o lado e vi que Júlia e Raissa não estavam mais ali... Ela fora bem sábia retirando a garotinha da sala e escondendo sobre a verdade.

 - Que idiotas – anunciei, com raiva. – O que iremos fazer?

 - Não sei ao certo. Mais tarde tomaremos alguma decisão.

 - Estamos ferrados, se eles nos encontrarem esta noite. Tenho que consertar as armadilhas – relatou Jackson, levantando-se.

 Quando Jackson levantou-se, Roberta apareceu no corredor anunciando:

 - A comida está pronta.

 - Ah, faço isso depois – disse Jackson, andando em disparada a cozinha.

 Alguns minutos depois, Jackson apareceu com uma panela em uma das mãos e uma garrafa de refrigerante na outra. Júlia e Raissa carregavam os pratos, talheres e copos. E Roberta apareceu com uma bandeja onde havia dois enormes pratos cheios de comida.

 Sentei-me a mesa e ajudei as garotas, colocando refrigerante nos copos. Enquanto minha barriga roncava desesperadamente, eu colocava minha comida. Frango, fritas e arroz. Nem amo muito.

 À mediada em que comíamos, discutíamos sobre o que iríamos fazer.

 - Acho que devemos atacar – anunciou Romulo.

 - Não. Podem ser muitos vampiros – Roberta retrucou.

 - Acho que temos que fugir – Raissa palpitou após tomar um gole de refrigerante – e procurar minha mamãe – terminou rapidamente.

 Paramos e olhamos para a garotinha por um instante. Ela estava um pouco certa, era só interpretar a frase dela.

 - Mas fugir para onde, Raissa? Nós não temos para onde ir – Júlia disse. Eu concordei com ela, pois não tínhamos um lugar para ir e nem ficar.

 - Acho melhor a gente ficar aqui, porém sair às vezes. Entendem-me? – eu disse.

 - É muito perigoso. MUITO – relatou Romulo. – Eles não vão nos achar rapidamente. Temos que nos manter informado, isso sim.

 Ele estava certo. Se nós saíssemos correríamos risco de ser capturados. A melhor coisa era sentar e esperar. Talvez fosse algum plano do rei dos vampiros. Eles não nos achariam num porão abaixo de uma casa abandonada. E teríamos que sair com mais cautela, porque os sedentos por sangue estariam nos vigiando.

 - Temos que fazer um plano. E rápido – Júlia disse, levantando-se da mesa. – Droga, hoje é meu dia de lavar os pratos.

 - Eu te ajudo, Ju – Raissa disse, pegando alguns pratos e indo para cozinha.

 Jackson ligou a TV, porém não havia nada demais. Só estava dando notícias de vampiros, vampiros e vampiros. Nada demais. Eu sentia uma raiva tremenda deles porque cortaram todos os canais de filmes, desenhos e esportes para colocar noticiário de vampiros. Acho que os vampiros nem veem os programas, apenas os humanos. Acho que eles faziam esse tipo de coisa para colocar medo na gente.

 - Acho ridículo. Eles são ridículos. Prefiro os Bestantes – anunciei.

 - Eu também. Eles são mais selvagens, mais raivosos – Roberta relatou, afiando uma de suas facas.

 Eles não seguiam ordens, eram controlados por impulso próprio. A Monarquia teme também os Bestantes, pois não tem controle sobre os selvagens. Era como se eles fossem os “bandidos” que andavam fora da lei.

 Enquanto ouvia o farfalhar produzido pela faca de Roberta, vi Raissa correndo em minha direção. Ela segurava uma faca em uma das mãos, e então a arremessou contra mim. Não tinha como eu me abaixar, seria perfurado por uma faca, arremessada por uma menininha. Contudo, uma faca batera na outra, provocando um estrondoso barulho. As duas facas encontraram o chão juntamente.

 - O que você fez? – vociferei.

 - Eu queria ver o que você iria fazer, Patrick – Raissa respondeu. – Minha mãe já me preparou e eu sei o que está acontecendo.  


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Notas finais do capítulo

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