Antes Que Seja Tarde escrita por Mi Freire


Capítulo 17
Coisa do destino.


Notas iniciais do capítulo

É, não vai ser nada fácil para o Daniel se livrar da Malu de uma vez por todas. Mas será mesmo que ele quer isso? Será que ele quer continuar vivendo sem ela? Leiam e tirem suas próprias conclusões. Boa leitura.



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Havia se passado um mês. Uma amizade admirável cresceu dia após dia entre nós dois. Éramos como unha e carne. Dois estranhos alternativos que se compreendiam.

Andávamos de skate nas ruas pelas manhãs ou em tardes de sábado no parque perto de casa para ensinar meu irmão. Sim, ela conheceu a minha família. Todos gostaram muito dela, mas ainda assim suspeitavam que aquela amizade que existia entre nós era muito mais do que aparentava.

Eu também conheci a sua casa, sua avó e seus filhos. Dois grandes cachorros. Brincamos um pouco pelas ruas correndo para cima e para baixo com eles. De repente eu voltei a ser aquele adolescente de anos atrás, agora com mais responsabilidades.

Sentia o tempo todo que a conhecia muito mais que um mês e algumas semanas. Júlia era como se fosse uma irmã mais nova para mim.

Na faculdade, fiz ela se sair bem nas matérias que tinha dificuldade. Ela me mostrou outros valores, desconhecidos para mim, da vida. E, de uma forma bem complexa, éramos completos em todos os sentidos e conhecer Júlia foi uma das melhores coisas que me aconteceu nos últimos cinco anos.

Contei alguns segredos a ela depois de alguns copos de cerveja. Ela ria e acabava me contando os seus também. De uma hora para outra, eu já sabia o suficiente sobre ela e ela sobre mim. Mas eu ainda assim acreditava que Júlia era feita de mistérios, os quais eu iria ter que descobrir dia após dia.

Fiquei com muitas de suas colegas, mas eu não a via ficando com garotos, não sei qual era o seu problema, ela parecia querer evitar qualquer tipo de comprometimento.

Eu não perguntava o porquê dela ser tão linda e ao mesmo tempo tão insegura de si. Às vezes, ainda me pego pensando naquele beijo que ela me deu enquanto dançávamos no barzinho que ela me levou dias depois de nos conhecermos.

Confesso que o efeito foi prazeroso, até um tanto mágico, afinal eu também tenho sentimentos. Ainda tenho. Mesmo depois de um coração exaustivamente ferido e despedaçado.

Dançávamos, ela me olhava no fundo dos olhos com um sorriso encantador como quem soubesse que eu já tinha adivinhado suas intensões. Passei minha mão por sua cintura e a puxei para mais perto. Do nada, ela me agarrou, passou os braços por meu pescoço, deu uma última olhada para o garoto e tacou um beijo daqueles em mim.

Não sei ao certo o que eu senti, mas foi como se o chão tivesse sumido sob meus pés. Eu me senti perdido e até mesmo zonzo. Saímos do barzinho e durante o caminho ela se desculpou por ter me usado como objeto de provocação.

Depois daquele dia, nunca mais aconteceu o mesmo. Não que eu não quisesse, mas ainda era estranho olhar para ela e saber que já tínhamos nos beijado mesmo sem qualquer tipo de sentimento.

— Soube que você está de folga hoje – ela dizia animada enquanto entrava no meu quarto. — Como arrumei um emprego dias atrás, hoje recebi meu primeiro salário e vim te convidar para almoçar comigo, que tal?

— Olha! Ótima surpresa! Eu adoraria – garanti. — Mas agora vai ter que esperar eu tomar banho e trocar essa roupa.

— Tudo bem – ela sentou-se na minha cama

— Mas então, vai ficar ai mesmo me esperando e vai querer me ver pelado também? – lancei um olhar curioso para ela.

— Ué, sim. Algum problema? – ela disse tão séria que eu quase acreditei. — Estou brincando. Te espero lá na sala.

Saímos em meu carro até o lugar que ela me levaria para almoçar. Fizemos nossos pedidos, sentamos perto das janelas e conversávamos enquanto esperávamos os pratos. O ambiente do lugar era bem familiar, uma decoração simples e meiga. Uma música ambiente tocava ao fundo. Suave e calma.

— Posso te fazer uma pergunta? – ela perguntou enquanto comíamos silenciosamente — Por acaso você já pegou aquela lourinha ali da mesa nove? Poxa vida! Ela não tira os olhos de você.

Os reconheci de primeira. Lá estava Maria Luiza e o namoradinho, Fernando. Ela sorriu ao perceber que eu os olhava. Ele acenou feito um idiota tentando parecer amigável.

— É ela. Malu. Minha ex-namorada, lembra? – perguntei sentindo o clima pesar. Ah, como eu queria ter evitado esse momento.

— Ah, a patricinha que feriu seu coração? Aquela que te fez chorar no banheiro feminino? – ela fuzilou Malu por alguns instantes. — Nossa! Ela é muito linda!

— Ok. Não precisa me lembrar – engoli em seco, bebendo em seguida um pouco de água. — Você já terminou? Podemos ir embora agora?

— Não venha me dizer que você está fugindo dessa sujeitinha mal amada? – ela me encarou. — Ah não! Não mesmo! Qual seu problema?

Eu não disse nada. Não havia o que dizer. Júlia acertou em cheio: eu estava mesmo tentando fugir daquele momento constrangedor.

— Ops! Acho que eles estão vindo para cá.

Meu coração parou. Gelei por inteiro. Meu corpo todo travou no assento. Como assim eles estavam vindo até aqui? E para que? Não! Tudo menos isso!

— Olá, Daniel – ouvi a voz insuportável dele.— Veja só, Maluzinha, acho que seu ex-namorado também já encontrou o amor de sua vida.

Ela olhou para mim forçando um sorriso. Sim, ela forçou. Eu logo percebi. Por cima da mesa senti a mão de Júlia agarrar as minhas e apertá-la forte. Como quem diz: confia em mim.

— Somos apenas amigos – apressou-se em dizer Júlia. Encarando ambos em pé em nossa frente. — Nada além disso.

— Sei – ele voltou a falar. Cara, eu quero meter o soco na sua fuça. — Amiga dele? Assim como todas as outras que ele sai pegando nas noitadas? É isso?

— Cala sua boca, animal – levantei largando imediatamente a mão quente de Júlia e encarando o mauricinho a minha frente.

— Opa! Desculpa! Sem confusões – ele virou o rosto.

Pude sentir os olhares de todos os presentes no restaurante olhando para a briga. Pude sentir também ele tremer, como quem provoca, mas sai correndo na primeira oportunidade.

— Daniel, sinto muito. Só queríamos ser simpáticos – Malu passou seu queridinho para trás de seu corpo.

— Por favor, leva seu namoradinho embora daqui – Júlia pediu entrando no meio da confusão para me defender. — Se era para ser simpático, desculpe, mas ele é péssimo nisso.

— Ok – Malu falou voltando a segurar a mão do namorado de merda. Sem mais palavras eles saíram do restaurante. Respirei aliviado.

— Vamos sair daqui – Júlia pegou minhas mãos e me conduziu para fora assim que pagou a conta. — Agora fique calmo. Eu dirijo.

Entramos no carro e Júlia logo deu partida.

— Por acaso você sabe dirigir? Você ao menos tem carteira de motorista? – perguntei.

— Cale a boca – ela riu para descontrair. — É claro que eu não tenho carteira de motorista. Não preciso de uma. Eu me viro, cara. Sempre foi assim.

Ela sempre me fez sorrir. Que maluca! Ao menos cheguei em casa a salvo. Sentei em minha cama ainda bufando ao lembrar daquele momento ridículo de agora pouco. Ela trancou a porta logo atrás e sentou-se ao meu lado.

— Sente-se melhor? – perguntou, pousando sua mão sobre a minha.

— Não muito, mas vai passar – falei sério, deitando minha cabeça em seu colo. Como fazia com mamãe.

Sem mais, ela começou a acariciar meu cabelo e não fez mais perguntas, certa de que eu não queria conversar sobre aquilo. Finalmente, cai no sono e dormi feito bebê.

Acordei assustado com o celular tocando. Lembrei que talvez pudesse ser o despertador, já que era começo de semana e eu não podia me atrasar. Mas onde estaria Júlia?

— Oi. Alô? – perguntei vendo que não era o despertador. Via o céu escurecer através das janelas do quarto. Putz! Que horas seriam?

— Daniel? – uma voz encantadora perguntou do outro lado. Logo a reconheci. De saco cheio, bufei insatisfeito.

— O que você quer Maria? Estou atrasado para a aula – menti querendo me livrar dela.

— Precisamos ter uma conversa, lembra? Sinto muito estar atrapalhando seu tempo.

— Não. Tudo bem. Mas é mesmo necessário termos essa conversa ainda? Mesmo depois de hoje?

— Hoje foi um mal entendido. Desculpe por tudo – ela começou. — Eu disse a você que não iria desistir de jeito nenhum.

— Está bem. Ligue outra hora e marcaremos essa tal conversa. Agora preciso mesmo desligar. Tchau – não esperei que ela se despedisse e desliguei.

Tomei meu banho, me vesti, peguei a mochila e ainda liguei para Júlia. Encontramo-nos na lanchonete da faculdade. Comi algo rapidamente e depois entramos para sala de aula.

Não prestei atenção em nada do que o professor dizia. Pensava em Malu, como tantas outras vezes, e em nossa conversa e na quase briga com o seu queridinho. Talvez fosse até uma boa ideia dar-lhe logo uma soco na cara daquele imbecil. Porque deixei a oportunidade passar? De repente me senti tão arrependido.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que vocês acharam? Júlia está se saindo uma boa amiga ou ela só está atrapalhando o romance (que ainda existe) entre Daniel e Malu? Comentem!



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