Sol. Era a primeira vez que o sol aparecia em Player. O dia sempre esteve nublado e cinza, porém, agora exibia um lindo céu azul e um sol radiante.

Era raro de isso acontecer em uma região como aquela, que sempre foi bem fria. Mas desta vez, não se sabe como, o dia estava quente. Muito quente, na verdade.

Ao contrário de Lix e Skyne, Riley não estava gostando muito do calor. Ele sempre gostou mais do frio, que combinava com sua personalidade. Porém, os outros dois queriam aproveitar aquela raridade em Player, e estavam no terraço curtindo o sol.

Novamente, Lix se retirou do local sem dizer aonde ia, fazendo Riley ficar um pouco desconfiado. Desde os dois dias anteriores, quando ocorrera aqueles fatos que o fizeram pensar que um dos dois poderia ser o morto, Riley tem agido de forma diferente.

Apesar dele ter achado melhor continuar na guilda, pelo fato de que sem os dois ele não conseguiria nada, ele ficou meio desconfiado, e atento a qualquer coisa que eles fizessem. Já estava se preparando caso algum deles viesse o matar e estava observando, para ver se conseguia mais provas.

Porém, nenhum dos dois demonstrou algo que os incriminassem, fazendo Riley ficar um pouco mais tranquilo, mas sem baixar a guarda.

– Ei, Riley – chamou Skyne – Tem ideia de onde a Lix foi? Ela sempre sai do nada e sabe lá quando ela volta...

– Não sei – respondeu ele, frio como sempre, diferente do clima que estava fazendo.

De repente, a garota de cabelos bicolores retornou para o terraço, desta vez um pouco diferente. Devido ao calor, Lix percebera que não aguentaria ficar dentro de suas roupas pretas e de couro, então, decidira colocar uma roupa mais apropriada para o clima.

Porém, ela não imaginava que os dois garotos ficariam tão surpresos ao vê-la com um short curto e uma regata de barriga para fora.

Skyne encarava diretamente as belas curvas de Lix, só faltando babar, mas Riley disfarçava um pouco.

– Pare de me olhar, tarado! – Lix se incomodou com o loiro

– Não dá, você ficou muito mais gostosa assim, hehe – respondeu ele na cara de pau.

O de olhos verdes recebeu mais um chute no rosto de Lix, mas ele estava até acostumado.

– Aonde foi? – perguntou Riley desconfiado.

– Fazer uma coisa – respondeu ela, com um certo brilho nos olhos.

A garota então foi até um canto do terraço, aonde ficava uma mangueira, mas que nunca tinha saído água. Ela então revelou a tal “coisa”, ligando a torneira e vendo água sair de lá.

Os dois ficaram surpresos, enquanto a garota abria um sorriso orgulhoso.

– C-como você fez isso??? – perguntou Skyne, depois de se recuperar do chute.

Lix fechou o registro de água e começou a explicar:

– Eu sabia que o único lugar de Player que tinha água era a base do Rei, então, invadi a encanação deles e trouxe água para cá. Assim não precisamos ficar comprando água potável e desperdiçar para lavar a mão ou tomar banho.

– Invadiu como? – Riley ficou mais surpreso. “Qual mais habilidades ela tem?”

– Fácil! Tem um canal subterrâneo não muito difícil de entrar. Apenas dirigi um dos canos para a nossa direção, haha! – riu convencidamente.

– Lix, você é minha deusa! – dramatizou Skyne contente.

Eles usaram a mangueira para se refrescarem um pouco, além de estarem bebendo garrafas de água gelada. Começarem a questionar se aquele calor seria algo bom, pois estava derretendo.

Lix e Skyne conversavam animados como sempre, mas Riley continuava com seu jeito sério, apenas ouvindo. Apesar de Riley raramente sorrir perto deles, ele pelo menos entrava na conversa, mas se afastou um pouco deles devido ao ocorrido sobre o morto.

– Ô cara, você tá meio estranho hoje, o que aconteceu? – perguntou Skyne

O de cabelos negros não podia dizer que desconfiava dos dois, então mentiu:

– Nada, é apenas o calor que me deixa meio tonto.

– Ah, então esfria um pouco a cabeça – disse o loiro com um sorriso malicioso.

Em seguida, entornou um pouco da água gelada de sua garrafa no rosto de Riley, que se assustou com o ato repentino, remexendo-se.

Skyne começou a rir bem alto, enquanto Riley usava a mão para limpar seu rosto, que agora tinha uma expressão demoníaca.

– Filho da puta!!! – gritou Riley, arrancando a tampa de sua garrafa e despejando-a por inteira na cabeça de Skyne.

Este também se assustou e se arrepiou, devido ao frio em seu couro cabeludo. Skyne balançava seus cabelos loiros tentando se secar, enquanto Riley ria dessa vez.

– Ah, é assim? – disse Skyne, pegando mais uma garrafa de água disposto a começar uma guerra com Riley.

O moreno também já tinha se preparado, porém, os dois receberam um longo e forte jato de água no corpo inteiro. Lix pegara a mangueira e apontara para os garotos, dizendo:

– Vocês dois que precisam esfriar a cabeça, hahahaha – riu.

Riley arremessou uma garrafa de água aberta em Lix, o que resultou num grito vindo desta, devido à água fria em seu corpo.

E assim então começou a guerra de água. Utilizavam a mangueira e garrafas para arremessar um ao outro. Não tinha nenhum objetivo naquilo, apenas diversão, e uma forma de se refrescarem.

Nesse momento, Riley até esqueceu que desconfiava de seus amigos e se rendeu ao momento, deixando escapar até leves risadas.

O local inteiro, principalmente eles mesmos, estava ensopado. Eles então decidiram dar uma trégua, e se sentaram ao chão, rindo.

– Ai que desperdício, haha – disse Lix, sem parar de rir.

– Sabe o que a gente podia fazer? – disse Skyne balançando seus cabelos para secá-los – Tirar um dia de folga. A gente não para de lutar ultimamente e está muito quente pra isso.

– Bem que podia – concordou Riley, enquanto tirava sua camisa para torcê-la, eliminando a água. – É só ficamos aqui na casa de Skyne. Acho que ninguém vai tentar nos matar aqui.

– Acho que vocês só estão com preguiça, esperando os outros se matarem sozinhos – brincou Lix.

Riley jogou sua camisa no rosto da garota, implicando. Ela apenas riu, levando na brincadeira e devolveu com mais força.

E assim se seguiu a tarde. Os três se divertiam, muitas vezes até fazendo coisas meio infantis. Riley às vezes repreendia a si mesmo por estar se esquecendo de desconfiar deles, mas o clima de diversão era mais forte, e ele acabou se rendendo às brincadeiras.

Finalmente caiu a noite. Aquela tarde tinha se passado rápido para os três. Eles estavam dentro da casa, já que até agora o terraço não havia secado, quando Skyne abriu um sorriso malicioso e disse, se levantando:

– Tenho uma surpresa pra gente, hehe.

Lix e Riley se entreolharam curiosos, enquanto o loiro vasculhava seu compartimento de alimentos. Logo ele revelou o que procurava: Uma garrafa de Whisky.

– Como conseguiu isso? – Lix arregalou os olhos, mas logo abriu um sorriso malicioso – “Acordos” com o Rei?

Skyne riu e respondeu:

– Na verdade, peguei de uma pessoa que teve “acordos” com o Rei. Eu tinha isso há muito tempo, mas queria uma ocasião boa para abrir.

– Isso vai dar merda – disse Riley – Nem imagino o que você possa fazer com bebidas alcoólicas.

– Ah, por favor – revirou seus olhos verdes – Tem que tomar cuidado é com a Lix, hehe. Menores não podem beber.

– Sou mais madura que você – a garota fechou a cara.

Skyne apenas ignorou e abriu a garrafa, despejando o líquido em três pequenas taças. Entregou para os dois e ergueu sua taça:

– Um brinde! Aos demônios vermelhos!

Os três brindaram e assim se seguiu a noite. Eles conversavam e riam, porém, como já era de se esperar, Skyne acabou bebendo além do que devia. O loiro, por incrível que pareça, conseguiu falar mais besteiras do que já falava:

– Uhhuuu – gritou Skyne, de um jeito mais tonto, impossível – Comoo aaa vidaa éé belaa!!!

– E ele ainda me mandou beber com moderação – Lix revirou os olhos, que assim como Riley, continuava sóbria.

De repente, o loiro bêbado colocou sua taça na pequena mesa, se levantou com dificuldade e começou a dançar de um jeito ridículo, sem música.

Lix já estava com a barriga doendo de tanto que ria de Skyne, já Riley, apenas deixava escapar leves risadas. De repente, o de olhos verdes, que já estavam vermelhos, começou a tirar sua camisa, gritando:

– Streep Tease! Uhuuull!

Lix e Riley parar de rir imediatamente e cobriram seus olhos, reclamando.

– Ah Skyne! Isso não! – gritou o moreno

– Ninguém quer te ver nu, Skyne! – gritou a garota.

Ele pareceu não se importar e jogou sua camisa para o ar, começando a retirar suas calças também, exibindo sua cueca boxer cinza.

Riley mantinha os olhos apertados nas mãos, já Lix decidiu impedir aquilo e se levantou, tentando segurar Skyne.

– Para com isso! – ela tentou segurar suas mãos, mas teve uma surpresa.

Skyne direcionou suas mãos aos seios da garota, e os apertou, dizendo tontamente:

– Bi, bi, fon, fon!

A garota arregalou seus olhos e deu o soco mais forte que conseguiu no rosto de Skyne. Riley até se assustou, achando que a garota havia quebrado seu maxilar. Ela estava com o rosto corado e estressado, enquanto escondia seus seios com os braços.

Porém, o loiro teve sua queda amortecida pelo colchão, onde Riley continuava sentado. Ele se sentou também, mais tonto do que já estava e de repente se jogou em cima de Riley, choramingando:

– Rileeeeyy!!! Ela me bateu!

– Sai Skyne! – gritou Riley, tentando tirar o bêbado de cima de si, que contornou seu corpo com os braços e as pernas.

Lix se aproximou e deu um golpe fatal em Skyne, que acabou desgrudando de Riley e caindo de volta no colchão.

Riley achou que desta vez Lix tivesse o matado, mas ao vê-lo roncando, ele suspirou aliviado por ele estar bem.

– Puta que pariu! – reclamou a garota – Nunca mais vamos deixar o Skyne beber!

O garoto concordou, e então, antes que percebesse, voltaram a rir de Skyne. Lix então pegou o cobertor e o cobriu, pois, apesar do dia estar quente, à noite era mais frio, além de que ele estava seminu. Apesar dele ser um idiota tarado e a garota sempre bater nele, Lix o vê como um amigo e se importa com ele.

Ela então, decidiu se deitar no grande colchão também e ir dormir. Riley também fez o mesmo. Bem, tentou, pois os roncos de Skyne não permitiam. Ele pretendia acordar Skyne para fazê-lo parar de roncar, mas aí percebeu que Lix não estava mais lá.

O garoto ficou um pouco desconfiado, mas antes que tirasse conclusões precipitadas, foi até o terraço, na esperança de encontrá-la.

E lá estava Lix, sentada no pequeno muro do terraço, que já estava seco, olhando para o céu.

– O que está fazendo? – perguntou Riley

– Observando as estrelas. – respondeu ela sorrindo – São raras as noites que podemos ver estrelas em Player, já que as nuvens estão sempre cobrindo.

Riley se aproximou e se sentou ao lado dela, olhando para o céu também. Ficou um silêncio por um tempo, até que Lix perguntou:

– Pra você, o que são as estrelas?

Riley estranhou a pergunta, mas respondeu mesmo assim:

– Ué, astros? Bolas de gás explodindo a milhões de quilômetros?

– Por que você tem que ser sempre tão lógico? – a garota riu – Pra mim, as estrelas tem um significado maior. Acho que cada estrela representa uma pessoa, no grande céu escuro, que seria a vida. Quando uma pessoa morre, a estrela fica vazia, até que outra pessoa nasça e ocupe o lugar.

– Se essa é sua teoria... – Riley deu de ombros

De repente, Lix inclinou sua cabeça para o lado, deitando-se no ombro de Riley, que reclamou:

– Sabe... Eu não gosto de muito de contato físico...

– Foda-se, eu quero um lugar pra me apoiar – respondeu curta e grossa.

– Mandona como sempre... – ele revirou os olhos, mas brincando.

Novamente, o silêncio dominou o local. A noite estava mais quente do que o habitual, mas ainda podiam sentir o sereno. Riley olhou para a garota apoiada em seu ombro e decidiu puxar um assunto:

– Já parou para pensar em como seria sua morte?

– A morte? – respondeu – Não me importa como ela vem. Você prefere uma vida vazia ou uma morte significativa?

Riley ficou um tempo pensativo, e digerindo o que a garota tinha acabado de dizer, até que respondeu:

– Acho que a morte.

Lix pareceu gostar da resposta, então continuou:

– Não me importo como ou quando morrerei, pois sei que quando essa hora chegar, já terei cumprido meus objetivos.

Já que ela havia tocado nesse assunto, Riley decidiu perguntar algo que o intrigava fazia tempo:

– Lix, quais são seus objetivos? Por que está nesse jogo?

Ela ficou um tempo calada, meio receosa, até que disse:

– É um motivo meio estranho...

– Fala – o garoto encorajou, usando um tom sereno.

– Bem, – ela se rendeu e decidiu explicar – não é só por poder, como a maioria pensa. Minha terra estava em guerra, e provavelmente eu morreria lá, mas... Eu não queria morrer lá... Morrer em vão. Eu vim pra Player como uma fuga, mas também uma forma de buscar meu objetivo de vida. Desde pequena, todos sempre diziam que eu era inútil, que não faria diferença no mundo. Eu quero provar o contrário, quero lutar por algo, vencer com minhas próprias mãos. Provar para mim mesma que não sou uma pessoa inútil, como pensei que fosse. Eu quero fazer diferença no mundo. Achei que poderia encontrar isso aqui.

Riley, depois de escutar atentamente tudo que ela havia dito, passou um braço pelos ombros dela, dizendo:

– Não é um objetivo estranho. É até bem interessante.

Ela pareceu contente com o que ele disse e se aconchegou em seu abraço, colocando a cabeça em seu peito.

– E você, qual o seu objetivo? – disse ela – Eu falei o meu, fala o seu também.

Riley respirou fundo. Era um assunto delicado para ele, que ele preferia não comentar, mas ali, com ela, naquela noite estrelada, ele sentia que podia confiar, então explicou:

– Meu principal objetivo é tirar esse Rei do poder. Ele está fodendo o mundo, e eu acho que poderia melhorar de certa forma. Mas, tem o fato meio egoísta, de eu querer vingar minha família. Quando minhas terras foram invadidas pelo Rei, eu perdi pai, mãe e irmãos. Fiquei completamente sozinho, e peguei um ódio supremo daquele Rei. Naquele momento eu jurei que os vingaria.

– Você quer matar o Rei? – ela riu – Que do mal você!

– Tirá-lo do poder já estaria bom. – respondeu ele. Lix achava que ele ficaria irritado com aquilo, mas ele não ficou, e nem sabia por quê.

– É, você tem um bom objetivo – elogiou ela.

Lix saiu do abraço de Riley e deitou a cabeça no colo dele. Ela via o rosto do moreno, com o grande céu estrelado como fundo. Os cabelos negros de Riley balançavam um pouco, devido ao leve vento que batia.

– Bem, eu acho que meu objetivo foi cumprido. – ela disse – Não acho mais que sou inútil. Poderia dizer que já posso morrer – riu.

– Não diga isso, seria ruim se você morresse. – repreendeu Riley, começando a brincar com o cabelo branco e azul da garota.

Ela suspirou e comentou:

– As pessoas encaram a morte como algo terrível. Eu não acho que seja tão ruim assim.

– Não acha? – ele fez uma cara confusa.

– Não, – explicou ela – a única certeza da vida é a morte. Todos nós já nascemos destinador a morrer, não importa como. Agora, podemos pensar assim: A vida é o jogo, e como todo jogo, tem um Game Over. Mas o nosso Game Over pode ser seguido de um "you win" ou um "you lose", depende se sua vida valeu ou não. Lembre-se que o Game Over não aparece somente quando você perde, mas quando você zera o jogo e o ganha. Quando você zera, significa que não tem mais missões, então porque ainda está naquele jogo? Se o mundo não precisa mais de você, se seus objetivos foram cumpridos, já pode morrer a qualquer momento, que terá ganhado o jogo.

O garoto soltou um sorriso sutil, comovido pelas profundas palavras dela, então disse:

– Que lindo seu pensamento. Você tem razão, talvez morrer não seja tão ruim...

– Tudo sempre tem um lado positivo – ela sorriu, se levantando – Vamos voltar?

Riley se levantou também e voltou para dentro da casa, abraçado com Lix.