Heart Attack


A garota que fugiu




...



Quando os dois perceberam a presença de uma terceira pessoal no local, automaticamente se viraram.

A feição de espanto mesclada com medo tomou conta do rosto de Nami. A pessoa que ela menos desejava que estivesse naquele lugar se encontrava diante de seus olhos naquele momento.

Foi nítido que automaticamente seu corpo reagiu da pior forma possível. Agora o ruivo sabia exatamente o motivo de a mesma não se render à ele por completo.

A expressão do cirurgião se tornou obscura institivamente, porém achava que aquele com certeza era o momento mais propício para o novato de braço metálico estar ali.

– Talvez se tivesse planejado, não seria tão perfeito... – Trafalgar Law pensava enquanto encarava Eustass Kid audaciosamente.

O ódio decorria entre os olhos de Kid. Aquela cena lhe enojava em todos os sentidos. Por que de todos os homens que existiam na face da terra, Nami havia escolhido justo ele...? Antes que pudesse imaginar sobre a aproximação estranha entre a navegadora e o shichibukai, Kid já tinha sua opinião formada sobre o Cirurgião da Morte.

Ele jamais seria digno de sequer estar ao lado dela... Aquilo era impossível e completamente inaceitável.

Enquanto Nami tentava bolar um plano para sair daquela situação terrível, ela percebeu que Law havia finalmente se levantado.

O olhos dela arregalaram. O que ele estava planejando...?

Porém, antes que ela pudesse questionar qualquer decisão que ele tivesse tomado, foi surpreendida pela voz do mesmo, entoada de modo nebuloso.


– Nami-Ya, saia daqui agora...


Um aperto no peito junto de uma forte compressão no estômago pôde ser sentido no instante em que ele lhe dissera aquela frase.

– O que você... Pretende fazer...?

Ela perguntou completamente temerosa. Era como se tivesse sofrido um abalo sísmico por dentro de suas entranhas, lhe arrancando fortes arrepios enquanto suava frio e suas pernas tremiam.

O que aconteceria se eles se enfrentassem...? E ainda por cima por causa dela...?

Law apanhou a nodachi e fez um repentino movimento, como se quisesse se livrar da água que respingava pela lâmina.

Ele não disse mais nada, porém seu olhar fixou aonde Kid se encontrava.

Ele estava totalmente convicto de enfrenta-lo e sem medo ou remorso algum.

O mesmo se passava com o ruivo. Ambos não temiam por suas mortes, embora fosse estranho se enfrentarem naquelas circunstâncias, que ao ver dos dois era patético, porém totalmente necessário.

Nami continuou observando ambos se encararem. Parecia que os dois capitães estavam se comunicando através dos olhares... E embora não entendesse absolutamente nada, era obvio que os dois estavam prestes a começar um combate.

A navegadora não aceitou aquela decisão e impulsivamente agarrou o braço do cirurgião.

– O que pensa que está fazendo!? Você não pode enfrenta-lo! – Ela ordenou desesperada. Seu estado emocional se encontrava em pedaços.

– Eu sempre soube que esse dia chegaria, Nami-Ya... E se está disposta a ficar comigo, terá que aceitar o que eu decidir... – E então ele se desvencilhou do aperto que as mãos dela faziam em seu braço para finalmente caminhar na direção do ruivo.

Nami não soube como reagir... Depois de tudo o que havia passado naquela madrugada... Depois de tudo o que ela lhe confessou... Depois de tudo o que ela jogou para fora... Depois de tudo o que haviam decidido...

– Por quê...? – Ela contestou quase que silenciosamente... Estava alarmada demais para até mesmo deixar sua voz ressoar naturalmente.

Tudo o que a ruiva pôde acompanhar em seguida, foi a imagem do cirurgião segurando firmemente o cabo de sua espada...

E quando seu olhar desviou na direção do ruivo, tudo o que ela pôde avistar foi um sorriso de canto mortífero.

Ela já havia presenciado aquele mesmo sorriso antes... Quando o viu ordenar a matança da população inteira de uma ilha.

Nami havia se recordado do quão perigoso e implacável Eustass Kid era. Quando havia sido sequestrada, tudo se tornou nítido, mas aos poucos aquela imagem se apagou, dando lugar a traços mais delicados...

Quanto ao cirurgião, era como se tudo o que tivessem tido há pouco tempo atrás não representasse mais nada... Ele não havia concordado que ela seria a luz que lhe guiaria para fora da escuridão...?

Finalmente o shichibukai havia se aproximado o suficiente para encarar seu adversário nos olhos. Os dois se defrontaram de forma colérica... Olhares repletos de rancor, ira e gana...

Não estavam competindo pelo mesmo sonho... Não disputavam por qualquer coisa que os fizessem se aproximar ainda mais do One Piece, mas...


Lutariam pelo coração de uma mulher...


Kid sorriu e logo em seguida o dito sorriso se transformou numa risada... Algo típico de um pirata insano e atroz como ele... Era incrível como antes de um combate ele conseguia rir como louco... Parecia até mesmo uma ritual antes de trucidar seus inimigos... Algo ao qual já estava acostumado...

Law correspondeu com um sorriso audaz. Não era como se tivesse esquecido da doce sensação de matar seus adversários... Ainda mais um rival à sua altura... Mas ele estava totalmente curioso e ansioso por saber qual seria o nível de prazer ao massacrar o ruivo...

– Eu pensei que essa batalha aconteceria só daqui há alguns anos... – Law iniciou o diálogo que marcaria o começo daquele combate sangrento.

– Você acha mesmo que iria esperar tanto tempo para arrancar os seus membros um a um...? Considerando que você a roubou de mim e que talvez eu a tenha perdido para sempre, este seria o motivo perfeito... – Kid respondeu com um sorriso desumano.

– Como pode dizer que perdeu algo que nunca foi seu...? – Law rebateu ousado e aquilo desencadeou uma expressão de fúria no capitão.

– Você está certo... Mas nesse caso eu cuidarei para que ela nunca mais volte para perto daquele que a feriu... – Kid completou sua sentença e Law exprimiu um olhar de surpresa ao perceber que ele provavelmente sabia de algo.

– Eu a feri...? Você por acaso está delirando...?

– Não se faça de desentendido seu desgraçado! Eu sei muito bem que ela quase morreu e por suas mãos!

Como o cirurgião havia presumido, Eustass sabia... Sabia do episódio em Mariejoa.

– Quem te disse isso...? – Ele contestou, observando atentamente o que ruivo diria em seguida.

– Não interessa... O que realmente importa é que eu farei você pagar por todo o sofrimento dela!

E então o capitão ergueu uma de suas mãos, fazendo com que uma nuvem de objetos metálicos aparecesse.

Uma gota de suor escorreu pelo rosto cirurgião ao ter a plena certeza que Kid não brincaria.

Ele lutaria com todas as suas forças e de uma vez...

– Se provoquei a sua ira suprema... Então talvez você deva encarar as consequências por também ter me provocado desde o início... – E então o cirurgião abriu o círculo enquanto segurava a nodachi com a mão esquerda.

De longe, Nami percebeu que o céu havia ficado extremamente escuro por causa dos milhões de objetos metálicos que Kid estava impelindo naquele momento.

Quando ela olhou para frente, viu que o cirurgião havia liberado a ‘Room’.

Os dois passaram a se atacar mortalmente.

Em meio aquele cenário de guerra, Nami percebia finalmente... Que toda a sua resistência emocional havia desmoronado... A muralha que se encontrava ao seu redor estava sendo destruída por um gigante devorador de corações...¹

Sua mente havia sido quebrada em vários pedaços... Restando apenas fragmentos pontiagudos que lhe faziam sangrar internamente, cada vez que sua visão era preenchida por aquelas imagens...

As flores haviam perdido seu perfume... E suas pétalas mortas caiam naquele campo minado artificial...

Uma lágrima... Talvez duas... Ou até mais... Deixavam seus olhos marejados e desfocavam a imagem que ela menos desejava ver.

Dentro do círculo, Law desviava do ataque mortal de todos aqueles objetos. Não era como se conseguisse ter o controle de mais de uma tonelada de metais que eram repelidos pelo ruivo.

Aquilo definitivamente... Seria uma batalha de vida ou morte...

Kid não estava disposto a deixar que Nami corresse perigo ao lado do cirurgião. Além de ter uma paixão obsessiva pela mesma, ele a convenceria de todas as formas a abandonar Luffy e seus companheiros para seguir jornada com ele.

Law sabia que a única forma de fazer com que Eustass desistisse da navegadora era com toda a certeza lhe matando. Ele não deixaria a ruiva em paz enquanto não a tivesse por completo, além de representar uma grande ameaça, pois ele sabia que ela havia desenvolvido um intenso laço afetivo com o mesmo.

Ambos lutariam até que o perdedor caísse sem vida no chão...

Enquanto Nami deixava que as lágrimas caíssem de seus olhos, ela tentava pensar em algo que pudesse acabar com aquela batalha.

Foi então que ela olhou para o Clima Tact e se lembrou...

Kid podia ter os polos de seu magnetismo invertidos e Law poderia ter o círculo desfeito... Tudo isso com uma alta carga de energia.

Mas ela não queria prejudicar nenhum dos dois. Não queria ser o motivo principal de uma discórdia desnecessária que os levaria à morte. Seria um grande peso que teria de carregar por toda a vida.

Mas ela precisava fazer alguma coisa...

Então ela finalmente decidiu intervir... E apanhou sua arma para desfazer com tudo que estava lhe dilacerando fatalmente.

Ela segurou com força o Clima Tact e então correu na direção do círculo.

Law e Kid não haviam percebido até que uma corrente elétrica potente cercou todo o campo que o cirurgião havia estabelecido e as peças de metal sendo atingidas.

Os dois olharam para trás e perceberam a ruiva com a arma repleta de faíscas ofuscantes...

Ambos ficaram sem reação, mas ainda mais espantados pelo que ela passou a dizer logo em seguida.

– SE VOCÊS NÃO PARAREM AGORA... EU É QUE TEREI O PRAZER DE MATAR OS DOIS!!!

Law e Kid se calaram por longos segundos... Espantados demais pela coragem e ousadia da ruiva... Mas perplexos demais pela tolice e inocência da mesma...

Algum tempo depois ela passou a ouvir o som de algo que menosprezava a nível máximo...


O sorriso e o riso de escárnio dos dois...


– Nos matar...? Como acha que pode parar a batalha decisiva de dois piratas que estão arriscando suas vidas por algo precioso...? – Kid terminou a frase rindo desvairadamente. Embora estivesse certo de que mataria o cirurgião e o clima estivesse pesado justamente por isso, ver o quanto a ruiva se esforçava para repreendê-los soava infantil.

– Nami-Ya, eu disse para você sair daqui... Você acha que vai conseguir nos parar apenas por apelo sentimental...? Deixe de agir como uma criança e nos deixe resolver esse problema do nosso jeito... – Law expressava tais palavras como se Nami estivesse se comportando de modo ingênuo.

Nami esbanjou um olhar nebuloso em resposta. Aquilo havia sido o ponto culminante de sua paciência.

– Por que as minhas palavras não tem importância!? Por que apenas vocês podem decidir isso sozinhos!!? – Ela bradou enfurecidamente e então a única coisa que teve em resposta foi...

Ser ignorada por ambos...

Eles a desprezaram como se sua presença não passasse de um pequeno espaço preenchido no chão...

Um único grão de areia no meio de tantos outros grãos...

Não fazia a menor diferença...

– Eu não vou deixa-los fazerem isso por minha causa... – A ruiva sussurrou para si mesma e então o Clima Tact voltou a soltar faíscas.

Ela correu na direção dos dois, que já haviam voltado a se confrontar, porém...


Uma força descomunal a jogou para o outro lado do círculo enquanto peças de metal foram lançadas em sua direção...


A força da gravidade unida às peças afiadas e repletas de magnetismo foram suficientes para derrubá-la e machuca-la totalmente.


Nami automaticamente caiu no chão... Ferida...


Seus olhos se acenderam por breves segundos... Ela estava chocada... Perplexa... Pasmada... Alarmada... Os dois lutavam por ela mas se uniram para lançá-la para longe...?

As dores físicas não superavam as dores emocionais e ela se viu sem chão e sem teto...

Estava inerte à velha condição que predominou durante oito anos de sua vida... E então ela pensou...

Tudo aquilo soava nostálgico demais... E então ela se recordou daquela risada... Aquela maldita risada entoada por Arlong ao desprezá-la por ser apenas uma criança... Uma criança que não possuía força suficiente para salvar sua mãe... A criança ao qual escravizou e enganou durante anos a respeito da ilusão de ter a vila Cocoyashi de volta...



Naquele instante Nami entendeu... Que tudo aquilo realmente não valia a pena...

Seu pior erro foi ter se deixado guiar pelo seu coração...

Seu irresponsável e inconsequente coração...

Desde que deixara de ser ela mesma, tudo havia se tornado extremamente difícil.... E agora as duas pessoas que conseguiram penetrar seu coração estavam lhe ridicularizando e lhe desprezando apenas por tentar resgatá-los de algo que não valia a pena.


“O que não valia a pena mesmo, Nami...?”


Você não está contra você mesma.


“Por que as minhas escolhas são minhas... É o meu destino...”


E você não precisa se curvar à tristeza...


“Preciso enfrentar tudo o que está vindo em minha direção...”


A mentira... A verdade... O silêncio...


“Preciso abraçar o mundo no limite...”


Procure por nada mais que o amanhã...


“Eu preciso alcançar o céu até onde conseguir...”


O desconhecido sempre estará de braços abertos te esperando...



Nami se levantou lentamente... Ela olhou brevemente para frente e os viu mais uma vez...

Os dois lutavam de modo agressivo, irrefletido, violento...

Era como se os músculos dos dois tivessem tomado o lugar de seus cérebros, os forçando a agirem como duas bestas selvagens, sedentas por carne e sangue...


Agindo como dois animais irracionais... Estúpidos... Presos na teia da ignorância...


Quanto tempo aquilo duraria...? Até onde eles iriam por algo...

Tão ridículo...

Inútil...

Dispensável...

Descartável como um papel traçado por nanquim na tentativa frustrada de desenhar a extensão geográfica de uma ilha...

Um mapa que escondia nada mais do que nada...

A ruiva virou o rosto, esfregou o sangue de seu rosto com o punho fechado e sorriu...

Ela passou a caminhar vagarosamente para fora do círculo.



Atrás de si, a luta violenta entre Law e Kid continuou...



Depois que Nami havia caminhado por um tempo, se distanciando da batalha logo atrás, ela nem mesmo percebeu que um navio se encontrava do outro lado e uma pessoa corria em sua direção.

Sua visão estava um pouco embaçada por conta de resquícios de lágrimas, mas quando a cor rosa ficou nítida, logo ela percebeu que quem vinha ao seu encontro era Jewelry Bonney.

– Ruiva, você está bem!? – A devoradora finalmente se encontrou com a navegadora e averiguou que a mesma estava ferida.

Nami demorou um pouco para responder, juntando um pouco de forças para respirar...

– Eu estou bem...

Bonney a encarou espantada. O que havia acontecido afinal...?

– Eu vim atrás de você para te avisar que o Kid estava atrás do Law e-

– Não se preocupe... Eles já se encontraram... – Nami replicou debochada com um vestígio de sorriso, porém seus olhos transpareciam um abismo sem fim.

– O quê!? Mas eles vão se enfrentar por sua causa! Os dois podem morrer e-


– EU NÃO ME IMPORTO...


A ruiva respondeu com ódio e determinação em sua voz. Os olhos castanhos mostravam o quanto aquele abismo havia se expandido e transformado tudo num imenso vazio... Um vácuo que jamais seria preenchido novamente...

Bonney não soube exatamente o que dizer... Ela não entendia a situação, porém pelo que podia ser visto do outro lado ficava provado...

Que Nami havia escolhido partir para longe daqueles dois...

Um tanto relutante, mas sem pensar em hesitar, a rosada ousou perguntar...

– O que você vai fazer agora...?

Nami a encarou intimamente e então as palavras soaram lentas, porém decididas...

– Quero fugir daqui...




...




– Já faz duas semanas que o navio do capitão Drake zarpou...

– O tempo passa rápido... Ele ficou por aqui por muito tempo pelo que sei... – Marco respondia ao comentário de Whitey Bay. Os dois se encontravam no convés do Quebra Gelo, dialogando sobre os últimos acontecimentos.

– A Bonney foi com ele... Não sei o que se passa na cabeça daquela maluca, mas talvez ela tenha desistido dos seus últimos planos...

– De enfrentar o Teach...?

– Sim... – A azulada confirmou.

– Ainda não é a hora de pegarmos esse desgraçado... Primeiro temos que atrasar o Sakazuki e a marinha... E também não podemos nos esquecer que o Exército Revolucionário está agindo às escondidas... No mínimo eles têm um plano para minimizar todos os pontos fortes do Governo Mundial...

– Imagino o quanto você está torcendo por eles... – Bay sorriu cínica e Marco tossiu como se quisesse fugir da sentença.

– De qualquer forma, não temos nada a ver com isso... Pode ser que o próximo movimento nos beneficie em algo, porém não podemos perder o foco... – O loiro articulou convicto e Bay concordou.


– HEEEEEEEEEEY VOCÊS DOIS!!! – Uma voz estridente interrompeu a conversa da dupla.


– Aah é você...? O que quer aqui...? – Bay indagou sem interesse.

– Eu quero saber por que vocês esconderam que a Nami pegou carona no navio do Drake e junto com aquela retardada da Bonney! – John, o amigo e comparsa da ruiva contestava irritado o fato da amiga sair da ilha sem ao menos lhe dizer adeus.

– Problemas... Coisas que uma ladrãozinho afeminado como você nunca entenderá... – A Bruxa do Gelo redarguia entediada.

– Será que vocês poderiam ao menos dizer para onde ela foi!? – O rapaz perguntava extremamente irritado.

– Não. E eu sei exatamente quem está mandando você vir aqui perguntar isso... Diga à ele que se quiser encontra-la, terá de se desculpar pelo mal entendido, caso contrário eu não direi para onde ela foi...

– Bay, você é muito má... Diga logo ao Chapéu de Palha para onde a navegadora dele foi... – Marco intervinha pelo garoto borracha.

– Nada disso... Se quiser encontra-la, o bando todo terá de reconhecer que estavam errados em dispensá-la...

– Mas eles não sabem o que aconteceu entre ela o Trafalgar... – O loiro continuava, porém Bay não cederia.

– Então que ele mesmo conte tudo para a tripulação. Ele foi homem pra enfrentar o novato de cabelo espetado, mas não é homem para assumir que se envolveu com a ruiva...? Me poupe... Odeio esses tipinhos indecisos...

– Na verdade ele disse que isso não poderia vir à tona por causa da aliança... – John interrompia de modo sarcástico e isso fez com que Bay lhe encurralasse e lhe pegasse pelo colarinho.

– Pois diga ao Cirurgião de uma figa que enquanto ele continuar a agir como uma criança, não terá respostas... E nem o Chapéu de Palha... Agora saia da minha frente por que hoje estou sem paciência para essas ceninhas melosas de novela...! – A azulada o arremessou para fora do navio e Marco soltou um suspiro de impaciência.

– Bay... Pare com essa maldita mania de jogar as pessoas no mar...





...





“Querido diário, hoje começamos uma nova jornada! Me lembro da primeira vez que desenhei um mapa daqui... Bellemere-San ainda estava viva e eu andava com aquele vestidinho amarelo com alças verdes... Um tanto nostálgico... Eu costumava correr pela vila e sentir a forte brisa da primavera me sobrelevar a ponto de me sentir leve como uma pluma e flutuar pelo vasto oceano azul que se encontrava logo adiante... Eu almejava conhecer mais daquele oceano e fazer contagem mental de todos os tons de azul e verde quando decidi navegar pelo mundo e registrar os traços das ilhas as quais eu pisasse... Esse sonho continua queimando intensamente dentro de mim e agora mais do que nunca estou disposta a vive-lo da forma correta... Recomeçarei das ilhas que não tive chance de conhecer e então-

– Nami...! Será que você não está me escutando te chamar!?

– Aah... Me desculpe... Eu estava tão entretida escrevendo no meu novo diário de bordo que não te ouvi...

– Certo... Mas antes que comece a pular feito uma louca, tenha em mente que eu também tenho direito de comer esse doce delicioso e...

Os olhos de Nami arregalaram totalmente quando ela terminou de falar.


– NOJIKO!!! VOCÊ FEZ AQUELE DOCE DE LARANJA!!! – A voz da ruiva ecoou pelos quatro cantos da vila Cocoyashi.


– Você não precisava gritar Nami...! Ninguém precisa saber que eu fiz esse doce... – Nojiko repreendia a irmã mais nova. Ela segurava o recipiente no alto, enquanto a ruiva a rodeava, babando ao olhar para o doce de cor alaranjada sendo realçado pelos raios quentes do pôr-do-sol que vazavam pela janela aberta.

Nami havia voltado para o East Blue e ido direto para a vila ao qual foi criada junto de Nojiko.

Havia se passado duas semanas desde que decidira sair da ilha de Hera junto com Bonney. Ela havia pegado carona com X-Drake que fez questão de atravessar a Redline e deixa-la numa ilha cujo porto transitavam navios que iriam direto para os quatro mares. Ela só teve o trabalho de escolher o East Blue. De lá atravessaria a Redline novamente e depois estaria em casa, afinal, durante a maior parte de sua vida trafegou por aquele oceano...

– Já faz cinco dias que você voltou... Já decidiu o que vai fazer daqui pra frente...? – Nojiko perguntava à irmã. As duas se encontravam sentadas na mesa da cozinha. Uma de frente para a outra. O vento oscilante entrava pela janela, fazendo as cortinas se mexerem. O vento que vinha do mar era doce e calmo... A brisa do East Blue aquecia o coração da navegadora que por dois longos anos se encontrava longe de sua terra.

– Eu decidi continuar com o meu sonho... Mas sozinha... – Ela replicava calmamente com um sereno sorriso nos lábios. Desde que viajara com Luffy e os outros ela não se sentira tão calma... Sentia falta de estar em casa... De estar ao lado de sua irmã... De vestir suas roupas, como o vestido comprido de cores neutras ao qual trajava naquele momento, ou deixar os cabelos trançados frouxamente, de modo que alguns fios ruivos se encontrassem devidamente soltos... Ela sentia falta de deitar em sua cama e relembrar as vezes que sonhava em viajar pelo mundo... Ela sentia falta da fragrância suave e deliciosa das laranjeiras... Tudo ali lhe fazia extremamente bem...

– Mas você vai mesmo deixar as coisas como estão...? Não pretende voltar e se redimir com o Luffy...?

– Não... Ele agiu certo e não o culpo... A decisão de voltar para cá foi totalmente minha... – Ela dizia enquanto mordiscava um pedaço daquele delicioso doce.

– Hmmm... Mas será que não bate nenhuma dor na consciência de ter deixado os dois homens que te amam se matarem enquanto você está aqui fingindo que nada aconteceu...? – Nojiko provocava de forma irônica e Nami já conhecia aquele típico jeito de falar que a deixava com certa raiva.

– Eu não quero nunca mais saber deles... Decidi que não sofreria mais e mesmo que os dois tenham se matado, eu não me importo... – Ela retorquiu determinada, imune a qualquer tipo de remorso ou arrependimento...

Nami havia decidido que era tudo ou nada...

A decisão mais egoísta e mesquinha que tomara havia lhe poupado de muita frustração e pela última vez ela colocou dentro de si que jamais se apaixonaria de novo... Depois da experiência terrível que tivera, era o mínimo para a sua saúde mental e emocional...

Ela havia decidido partir com as estações e ir com a correnteza...

Ela viajou com calma e deixou tudo fluir naturalmente, enfraquecendo suas fraquezas...

Ela queria dormir como um bebê e acordar com o sol... Jogar tudo para o alto e não ter nada concluído... Queria fazer de seus atuais dias os mais longos como a vivacidade que entrega a felicidade em sua porta...


Ela queria ser apenas naquele dia... A garota que fugiu...


A amante que realmente amou... A dançarina que dançou... A última canção...

Ela não queria tomar partidos... Não queria fazer sentido... De notas ou centavos...

Ela desejava estar viva... E queria se esconder... Ela queria pensar que sua mente era maior que seu coração... Ela queria seguir... Mas não ser guiada...

Se sentia ultrapassada... E passada despercebida... Era desajeitada e caprichosa na hora de entender tudo errado...

Ela não queria mais procurar por respostas nunca questionadas...

Chegar tarde demais... Ser aquela que pedem para partir...

Ser sobrepujada... E derrotada...

Ela estava cansada de se sentir tranquila... Exausta de se sentir aliviada...

Mas quando a escuridão chegou às rosas, o fogo atingia o ar e as cores que ela havia criado voaram repentinamente... Ela desejava apagar todas aquelas ardentes memórias...

E extinguir tudo de seu coração...

Enquanto Nami aproveitava o deleitoso fim de tarde ao lado de sua irmã, comendo uma das coisas que mais adorava, sentindo o cheiro suave do mar do East Blue entorpecendo suas narinas e se recordando de cada doce momento do seu passado, não havia arrependimentos... Apenas alegria, nostalgia e paz...

Nami sentia o sabor agridoce de laranja fazer seu paladar delirar... O barulho das crianças brincando ao ar livre... As pétalas das flores desfilando pela atmosfera pacífica... Os raios solares invadindo sua casa e sua mente, clareando os cantos mais escuros e gelados... Reanimando tudo... Aquecendo tudo...

Ela suspirou o ar do entardecer... Satisfeita por tudo o que estava vivendo naquele momento...

O remédio perfeito para curar as feridas...

E provavelmente apenas cinco dias eram suficientes... Toda a dor que ela havia passado já não causava mais nada...

Ela estava pronta para se aventurar novamente...?

Enquanto Nami permaneceu com os olhos fechados, apenas aspirando o ar daquele ambiente, Nojiko reparava no dedo anelar de uma de suas mãos.

– Uau... Esse anel é lindo... Onde conseguiu...? – A garota perguntava com certo brilho em seus olhos. Estava fascinada pela luz daquela joia.

– Isso aqui...? – Nami olhou para a peça de metal que havia ganhado de Eustass Kid... Ela nem mesmo havia lembrado de tirá-la depois da confusão.

– Isso... Você roubou ou ganhou de presente...? – Nojiko indagava de modo cínico.

– Eu ganhei... Por incrível que pareça... – A ruiva respondia petulante.

– Certo, agora me diga... Qual dos dois lhe deu isso...? – A irmã mais velha inquiria sarcasticamente. Sabia que aquele assunto poderia ferir a ruiva, mas aquilo fazia parte do plano de reabilitação.

– Do Eustass... Mas também não tem a mínima importância e quer saber...!? – Nami retirou a peça do dedo e ergueu na direção de Nojiko.

– Pode ficar!!!

A garota de cabelos lilás a encarou duvidosa e um pouco desacreditada.

– Se não quer por que não vende...?

– Por que eu me lembraria dele quando usasse o dinheiro do anel e... Espere... Isso me fez lembrar que aquele outro cretino ficou me devendo dinheiro...! – Nami se recordava da vez em que fez o cirurgião lhe prometer que pagaria um bilhão de berries por enfrentar Doflamingo junto com ele.

– Certo, dona flor e seus dois maridos, eu ficarei com o anel, mas só por que sei que você ainda está com a cabeça quente, então antes que jogue fora e se arrependa depois, vou me certificar de guarda-lo para você até que realmente decida o que fará com ele. – E então Nojiko pegou o objeto da mão da irmã.

– Se gostou pode ficar com ele mesmo... Eu não me importo... – Nami fez um bico de desprezo.

– Vou pensar no seu caso... – Nojiko correspondeu com um sorriso.

Naqueles dias as duas mataram as saudades passando todo o tempo juntas.





...





– Capitão, o navio está pronto para zarpar!

– Você fez a revisão junto do marceneiro...?

– Sim. Estamos prontos para enfrentar esse tipo de viagem... Mas depois de cruzarmos a Redline tudo ficará mais fácil...

– Certo. Então todos se preparem para partirmos... – E então o ruivo ordenou a partida de seu navio já pronto para um destino específico.

– Kid... Acho um pouco arriscado viajarmos com você neste estado... Ainda está se recuperando da última luta... – Killer replicava ao capitão por ver seu estado. E de fato o ruivo não estava em sua melhor forma...

Depois de lutar por quase trinta e duas horas sem parar contra o Cirurgião da Morte, além de nenhum dos dois vencer, ambos acabaram completamente machucados, restando até mesmo sequelas graves...

– Não importa... Eu estou decidido e vamos seguir o novo percurso... – O capitão ordenava enquanto se encontrava com o tórax enfaixado.

– Você tem certeza...?


– Certeza absoluta... Não descansarei enquanto não chegar no East Blue...





...





– O Trao tem algo a dizer, então prestem muita atenção! – Franky bradava em meio à roda que havia formado junto de todos os tripulantes do bando de Chapéu de Palha.

Depois de muito tentar, o ciborgue havia feito com que o Cirurgião saísse de seu Submarino e dissesse sobre a decisão que havia tomado.

Embora fosse um médico perito em cirurgias, ele ainda se recuperava da luta contra Eustass Kid. Não havia sido fácil lidar com seus recentes machucados, mas era ainda mais difícil saber que não havia conseguido acabar com seu inimigo.

Mas havia algo que estava doendo... Muito mais do que qualquer dor...

E este era saber o estrago que havia feito na vida da navegadora que decidiu fugir em meio às suas decisões...


– Eu irei atrás da Nami-Ya... Mas irei sozinho...


Todos se chocaram com o que o mesmo havia falado.

– Por que você e não todos nós...? Isso é muito estranho! – Usopp dizia enquanto tentava entender aquela situação complicada.

– Por que você iria atrás da Nami-San!? Está excluindo os verdadeiros companheiros dela para ir sozinho!? Nos explique por que está resolvendo fazer tudo individualmente! – Sanji ordenava. Estava cansado de todo aquele mistério envolvendo o cirurgião e a navegadora, e embora algo passasse por sua cabeça, ele ainda não conseguia entender.

– Nos dê um motivo... – Luffy exigia.

– Toda essa situação envolvendo a minha batalha contra o Eustass está ligado a ela...

– Eu já desconfiava... Mas há coisas que não fazem sentido... – Robin contestava e embora já soubesse do motivo, queria que o cirurgião confessasse de uma vez.


– Eu direi... Assim que trazê-la de volta... – Law terminou de modo determinado e todos esbanjaram as típicas feições de reprovação.


– Luffy... Tenho algo a dizer, embora seja somente a minha opinião, cabe a você fazer o que eu digo ou propor outra coisa... – Dessa vez era Zoro quem entrava repentinamente no assunto.

– Diga Zoro...


– Não devemos mais confiar no que esse cara diz e acho que essa aliança deve ser desfeita agora...


– O QUÊ!? Mas-

– Me deixe terminar... – O esverdeado exigiu.

– Termine... – Luffy não entendia o porquê, mas deixaria que o espadachim desse sua opinião, afinal, Zoro era um dos membros mais centrados do navio naquele tipo de situação.

– Deixe-o ir atrás da Nami... E então vamos ouvi-la... Mas dependendo do que ela disser, quero que você avalie a permanência dessa aliança... Caso contrário, desfaça na mesma hora.

– Eu acho válido. Não podemos decidir nada sem a presença da Nami... Se ele diz que tudo é por culpa dele, precisamos ouvir o lado dela nessa história misteriosa... – Robin completava o que Zoro propunha anteriormente.

– Eu também não entendo o que está acontecendo, mas vamos confiar que ele traga a Nami de volta Luffy! – Dessa vez era Chopper que pedia.

Depois de ouvir todos os seus companheiros, uns a favor e outros contra, Luffy decidiu dando sua própria opinião.

– Eu já decidi... E acho que você deve ir atrás dela... – O garoto dizia com tom de determinação.

– Mas Luffy, você sabe que depois de tudo o que aconteceu não podemos confiar nele! – O cozinheiro protestava.

– Eu disse para a Nami não voltar se ela me desobedecesse... Mas acima de qualquer coisa nós a queremos de volta...

– Mas-

– Trao... Vá e encontre a Nami... Diga a ela para voltar... – O garoto borracha pausou a frase para logo depois enfatizar o término dela.

– DIGA QUE ELA TEM UM NAVIO PRA NAVEGAR! QUEREMOS NOSSA NAVEGADORA DE VOLTA! – Luffy praticamente gritou. Todos o encararam seriamente e no fim de tudo a decisão acabou sendo unânime.

Law encarou o bando todo cuidadosamente. Sabia que não podia falhar com nenhum deles.

– Eu prometo que a trarei de volta... – E então o cirurgião firmou o pacto.

– Mas... Alguém aí sabe para onde ela foi...? – Usopp contestou confuso.

– Só há uma opção... A vila Cocoyashi... – Sanji dizia enquanto acendia um cigarro.

– É verdade... Para onde mais ela iria...? – O atirador ria enquanto se recordava da época quando eles tiveram um grande trabalho com a ruiva.

Law apenas sorriu discretamente depois de ouvir o bando contando histórias que ele não sabia sobre a ruiva...

E ele estava finalmente determinado a se redimir com ela depois de tudo.

Ele prometeu a si mesmo e logo prometeria à ela também que nunca mais a faria sofrer de novo, por que pela primeira vez em toda a sua vida...

Trafalgar Law estava arrependido...




...




– Você está certa de suas decisões...?

– É claro que estou! Planejei novas metas para a minha vida Nojiko... A partir de agora não serei mais uma pirata... – A ruiva revelava à irmã enquanto ambas se encontravam na frente do túmulo de Bellemere.

– Mas... Você tem uma recompensa... Não pode se dar ao luxo de ser pega pela marinha... E por mais que eu a queira por perto, não quero que corra perigo por causa de uma decisão maluca e impensada... – Nojiko era um tanto fria e racional. Isso era uma das características que fazia com que Nami nunca se preocupasse com ela.

– Não se preocupe Nojiko... Eu estarei segura e sabe por quê...?

– Hmmm... Por quê...?

– Por que eu não sou mais tão fraca... Tenho meus próprios métodos para fugir... E agora mais do que nunca...

– Mais do que nunca...? – Nojiko a remedava fazendo com que a mesma terminasse a sentença.

– Por que a partir de hoje não sou mais uma mulher sentimental...

Nami estava decidida a fazer com que o sol congelasse diante da frieza que estava prestes a revelar a todos que cruzassem seu caminho.

Mas a pergunta é... Como Eustass Kid e Trafalgar Law reagirão quando descobrirem...?