Heart Attack

Contratempos




...



“Eu estava disposta a trabalhar pesado e causar uma espécie de caos em duas pessoas que de certa forma marcaram minha vida. Não estava em meus planos convencê-los a mudarem de ideia, mas me arriscaria se fosse preciso, afinal, desde que me tornei uma pirata e tive meus problemas resolvidos por meus companheiros, minha função além de viver os sonhos de Luffy e os meus também se resume a ajudar quem encontro no meio caminho. Ainda que tudo seja em vão... Vou considerar ao máximo esses contratempos.”


Já havia escurecido e Nami se encontrava escondida entre algumas rochas da margem. Ela havia se aproximado ainda mais do navio, observando tudo em total alerta e cuidando para que não fosse vista.

Depois de ver que os piratas responsáveis pela segurança haviam se distraído com um ruído do outro lado, ela se locomoveu de uma rocha para outra, porém, acabou esbarrando em alguém que nem sonhava que pudesse estar ali.

Ambas se assustaram quando miraram seus respectivos rostos.

– Você...!

– O que você...?

– O que está fazendo aqui!? Por acaso está atrás de mim!? – Nami se exaltou facilmente ao perceber que Jewelry Bonney também estava ali.

– Atrás de você...? Qual é ruiva...? Claro que não! – A glutã rebateu agressivamente.

– Mentira! O que você quer!? Me sequestrar e me mandar pro navio do Eustass de novo!?

– Aah, por favor, pare de ser paranoica! Eu não vim atrás de você, se é isso que quer saber... Eu estou nessa ilha há muito mais tempo que vocês com um... – Bonney deu uma longa pausa antes de continuar. Não sabia o que ela e Drake eram... Inimigos? Aliados temporários...? Mas não mudava o fato de que o pirata havia salvado sua vida e mantinha um débito com ele, ainda que o mesmo não tivesse cobrado nada.

– Eu estou numa carona até a próxima ilha. – Bonney finalizou impaciente.

– Não sei se posso confiar... – Nami replicava desconfiada.

– Aah, eu tenho mais o que fazer! – E então a devoradora saiu de trás das rochas e passou a seguir rumo ao navio do ruivo.

– Espere! O que está fazendo!?

– Indo consertar umas coisas...

– Consertar umas coisas...? Se você está indo pro navio do Eustass então significa que-

– Significa o quê!? Vai começar a bancar a louca de novo!? Vá se tratar! – E então a rosada fez uma careta horrível.

– Você e o Eustass estão juntos nessa!? – Nami estava indignada. Não podia aceitar que todas aquelas pobres garotas fossem capturadas e vendidas como escravas por eles.

– Hã...? Como é...? Você por acaso bateu a cabeça...? – Bonney contestou perplexa.

– Você se uniu à ele pra ajudar a comercializar aquelas mulheres para Mariejoa!? Eu não vou deixar isso acontecer!!!

– Você é tão problemática... – Bonney massageou as têmporas em resposta.

– Não vai passar daqui. – Nami apanhou o clima tact e uniu as três partes.

– Deixe de ser idiota! Eu não estou ajudando o Eustass! Dessa vez estou me opondo a ele!

– Se opondo...? Por quê...? – A ruiva contrapôs surpresa.


– Por que todas aquelas mulheres que ele está prestes a vender são minhas conhecidas e estou indo agora resgatá-las...


Por um momento Nami se sentiu chocada internamente. As mulheres capturadas eram amigas dela? Como era possível?

– Isso... É verdade...? – A navegadora arqueou uma sobrancelha.

– Mas é claro que é! Eu também sou uma pirata do South Blue! Agora pare de me encher o saco com seus sermões... Preciso dar um soco na cara daquele pivete malcriado...

Ela havia ouvido errado ou Bonney tinha chamado Kid de pivete...? Por que ela dizia como se fosse tão mais velha e experiente...?

– Eu também decidi que vou ajuda-las... – E então a ruiva abaixou a cabeça. Era imperdoável saber que várias inocentes teriam suas vidas arruinadas caso fossem vendidas. E ela não estava disposta a deixar que aquilo acontecesse.

Bonney foi pega de surpresa. Por um momento ela relutou em acreditar, mas que outro motivo faria a Gata Ladra se esconder daquele ao qual mais desejava reencontrá-la...?

– Ruiva... Você está falando sério...? – A rosada se aproximou novamente e ambas voltaram a se esconder atrás das rochas.

– Por que não estaria...? Acha que tenho algum motivo em especial para estar aqui...? – Nami dizia no intuito de que ela e o capitão não tivessem um pretexto para se reencontrar, mesmo depois do que passaram juntos há semanas.

– Mas... O que fez com que tomasse essa decisão...? – Bonney indagou confusa.

– Esse motivo não te interessa... Mas faço questão de deixar claro que irei resgatá-las custe o que custar... Nem que para isso tenha que lutar contra ele... – E então o semblante da navegadora se desfez em melancolia. Por um momento Bonney especulou os motivos em sua mente, mas por mais que quisesse chegar a uma conclusão, tudo soava equivocado demais. A glutã jamais poderia sonhar que Nami havia sido escrava em Mariejoa há pouco tempo atrás.

– Certo... Então proponho um pacto... Já que estamos aqui, por que não fazemos isso juntas...? – Ela sugeriu seriamente.

– E por que eu deveria me unir à você...? – Nami ainda não confiava em Jewelry Bonney.

– Por que eu conheço todas as entradas secretas do navio do Kid e também... Sei como derrubá-lo caso tenha que lutar contra ele... – A rosada fez uma revelação inesperada que resultou nos olhos arregalados da ruiva.

– Sabe como derrubá-lo...? Você está blefando... – Nami sorriu debochadamente. Era impossível alguém derrotar um pirata tão forte como Kid. A menos que estivessem falando de um almirante, um yonkou ou alguém muito mais poderoso e experiente, pois o ruivo era um verdadeiro prodígio.

– Acredite... Há um jeito... E será ainda mais fácil se você estiver comigo... – O sorriso confiante e determinado da devoradora apenas comprovava que ela não estava mentindo, porém Nami não conseguia entender como Eustass Kid poderia ser derrotado.

– Por quê se eu estiver com você...? O que está planejando...? – Nami contestou receada.

– Logo você saberá, mas... Acho que uma luta contra o Kid será desnecessária se você vier comigo... Ele jamais lutaria contra você, o que nos favorece nessa missão. – Bonney sorriu marotamente.

– Por que ele não lutaria contra mim...? Que motivo ele teria pra não fazer isso...? – Por um momento Nami não entendeu, embora algo dentro de si suspeitasse.

– Isso não é óbvio ruiva...? É por que ele... – Bonney fez suspense, deixando a frase inacabada.

– Por que ele o quê!? – A navegadora bradou impaciente e curiosa e Bonney terminou o que não tinha acabado.


– Por que ele é louco por você...


– Não seja ridícula... – Nami virou o rosto para o lado em frustração, enquanto sentia uma gota escorrer por sua testa.

– Ele tem sentimentos por você... Assim como o Law... Cara! Mas que triângulo amoroso sinistro! Ahahaha, mas enfim, se você falasse com esse idiota, provavelmente ele desistira de vender as garotas... E então não precisaríamos travar uma batalha desnecessária, entende...?

– Entendo... Mas eu não farei isso... – Nami replicou enfurecida.

– O quê!? Por quê!? – A glutã retorquiu indigesta.

– Por que mesmo se ele sentisse algo por mim, o que duvido, eu não seria baixa o suficiente para usar isso como álibi. Não é justo se aproveitar dos sentimentos dos outros pra conseguir algo... Então esqueça... – Nami finalizou totalmente determinada.

Bonney a encarou completamente surpreendida. As palavras da navegadora soaram tão justas que ela se recordou de alguém que também agia constantemente daquela forma.


Um certo alguém especial que passara por sua vida e deixara rastros marcantes...


A rosada sorriu satisfeita e sua expressão mudou inteiramente.

– Belas palavras garota. Você subiu no meu conceito e agora vejo que você é realmente digna de respeito...

Nami a encarou espantada. Por que de repente a voz e a feição da glutã havia mudado drasticamente...?

– O que você-

– Não se preocupe. Nós vamos resgatá-las e você também não precisará se dispor com o Kid. – Bonney sorriu determinada.

– Mas como...?

– Eu tenho um plano genial.




...




– Depois que comermos vamos para o parque de diversões!!!

– Siiiiiiiiim – Chopper, Usopp e Brook respondiam a sugestão de Luffy em uníssono enquanto todos observavam a empolgação dos mesmos sentados na mesa do bar.

– Mas nós acabamos de sair de lá... Vocês não estão cansados...? – Franky indagava surpreendido com o nível de adrenalina no sangue dos companheiros.

– Deixe eles Franky... Mas me diga... A Nami não disse que viria pra esse bar agora a noite com aquele amigo esquisito dela...? – Robin comentava com o ciborgue.

– Acho que sim... Mas é estranho que ela não esteja aqui, já que são quase oito da noite. – Franky respondeu intrigado.

O shichibukai que também se encontrava junto dos Chapéus de Palha ouvia a conversa da arqueóloga com o ciborgue. Ele também estava estranhando o desaparecimento da ruiva.


– Ooh, ela está mesmo aqui!?

– Como é linda...

– Não existe beleza mais encantadora do que essa em todo o mundo...

– Meus olhos se sentem lisonjeados com tamanha visão...


Todos os homens e mulheres que se encontravam aos arredores do bar estavam enfeitiçados com a beleza extrema da Imperatriz Pirata que se preparava para entrar naquele bar na presença de suas duas irmãs e mais cinco guerreiras Kuja que as acompanhava.

Enquanto Hancock sentia todos os olhares invadirem seu espaço, a visão de alguém ao qual ela não via a muito tempo prendeu sua atenção.

Ele estava ali, sentado numa mesa, devorando pratos repletos de carne. O apetite monstruoso, os maus modos na mesa, a alegria por comer sua comida favorita e por último... A visão do chapéu de palha pendurado em seu pescoço.

– Luffy... – Ela sussurrou completamente apaixonada enquanto sentia suas bochechas esquentarem e seu coração disparar violentamente.

– LUFFY-SAMA!!! – Margaret e as outras guerreiras Kuja gritaram o nome do capitão enquanto corriam na direção do mesmo, deixando a imperatriz para trás e revoltada.

Luffy virou o rosto para aquelas que chamaram seu nome e então o capitão sorriu completamente feliz ao revê-las.

– O que vocês tão fazendo aqui!? – O garoto deu um pulo na direção de todas.

– Ancoramos nessa ilha há alguns dias. – Margaret respondeu animada.

– Estamos felizes em revê-lo tão bem.

– Já faz mesmo muito tempo... Como tem passado Luffy...? – Dessa vez era Sandersonia que perguntava ao rever o capitão em sua frente desde que o mesmo desembarcara no Arquipélago de Sabaody.

– Eu estou bem! E onde estão as suas irmãs!?

– Elas estão ali... – E então a pirata apontava para Marigold que acenava do outro lado do bar e Hancock que se encontrava paralisada ao lado exibindo um sorriso extremamente torto e apaixonado.

– Hancock! Há quanto tempo!!! – Luffy acenava de volta a fim de cumprimentar a shichibukai depois de tanto tempo.

– Luffy... Você está sorrindo e chamando meu nome...? Isso significa que finalmente iremos nos casar...? – A imperatriz segurava as bochechas enquanto suspirava extremamente maravilhada, sendo incapaz até mesmo de ir onde seu amado se encontrava, de tamanho nervosismo.


– Heh... Que cena mais patética... Acha mesmo que o Chapéu de Palha entende esses seus sinais grotescos...? Você o espantará em vez de fazê-lo reparar em você...


A voz fria, arrogante e extremamente indiferente. A presença de uma aura sombria e assassina. A frase que ressoava como pura provocação e sarcasmo demasiado.

– Trafalgar Law...?

Hancock replicou em tom de desprezo, para logo depois encará-lo como se o mesmo não passasse de um inseto, reduzindo-o a nada logo em seguida.

– Você é uma louca obcecada ou algo assim...?

– Cale-se maldito... Eu sequer dei autorização pra que falasse comigo, então não se refira a mim dessa forma... – O modo autoritário e audacioso da imperatriz arrancou um sorriso desaforado do cirurgião.

– É melhor tomar cuidado Boa Hancock... Posso a qualquer momento destruir essa pose soberba...

O olhar da morena acendeu e ela o defrontou de forma penetrante e colérica. Seus olhos que reluziam como dois diamantes negros, exibiam um ódio descomedido.

– Você não ousaria... – Retorquiu em baixo tom.

– Às vezes fico imaginando qual seria a cara que você faria quando todos descobrissem... Seria algo bem divertido de presenciar... – Aquele maldito tom atrevido e impassível já havia lhe tirado do sério antes, mas naquele momento Hancock sentia como se estivesse prestes a cometer o maior dos homicídios.

– Vá sonhando seu desgraçado... Se você pensar em dizer qualquer coisa, farei questão de arrancar a sua cabeça e enviar de presente para o Doflamingo...

Law estreitou o olhar. Se questionou se ela sabia da relação obscura entre ele o loiro.

– No dia que você tentar algo... Estarei pronto para fazê-la em pedaços... E quem terá a cabeça arrancada e enviada de presente será você... E o remetente... Será um Tenryuubito em especial... O que acha...? – E mais uma vez ele sorriu. Aquele sorriso que desenjaulava a ira sobre-humana da imperatriz.

– Unf... – E então a shichibukai jogou uma mecha de cabelo para trás de forma esplêndida, ergueu a cabeça e passou a caminhar nobremente até seu amado, ignorando totalmente a presença detestável de Trafalgar Law.

O cirurgião não pôde deixar de conter um riso abafado ao observar a cena.

Ele concluiu que Boa Hancock era uma comediante de alto nível.




...




Nami e Bonney finalmente conseguiram driblar a segurança do navio de Kid e se infiltraram pelos acessos restritos.

O primeira etapa do plano da glutã se baseava num disfarce. Ela e Nami se colocariam como simples garotas, igualmente entre todo aquele grupo.

E foi o que as mesmas fizeram ao entrarem na fila das mais de trezentas mulheres capturadas na hora exata em que os companheiros do capitão lhes transferiam para uma de suas novas embarcações.

Kid havia conquistado cinco novos navios e nomeado cinco comandantes para o posto.

– Andem devagar por este corredor. – A voz de Killer podia ser ouvida logo a frente, pois o mesmo havia ficado responsável pela organização das filas onde todas as mulheres caminhavam acorrentadas para seus aposentos.

Um cenário de horror e desespero onde os gritos de muitas podia ser ouvido.

– Hey não esbarre em mim! – Uma garota gritava descontroladamente ao perceber que alguém havia lhe empurrado, porém... Quando a mesma ousou olhar para trás, deu de cara com a figura de uma mulher totalmente sombria...

– Me desculpe... – Foi a única coisa que a mesma disse para justificar, mas apenas o olhar dela foi o suficiente para fazê-la entender que a mesma era um tanto temível...

Sua aparência era estranha. Possuía longos cabelos negros e repicados grotescamente. Sua maquiagem era pesada e seu olhar soava melancólico e ao mesmo tempo sinistro.

Aquele era o disfarce de Nami.

Atrás dela havia uma adolescente de longos cabelos lisos e louros e olhos azuis. Sua expressão era de terror e espanto.

E então Bonney reduziu a idade com sua habilidade para que seu disfarce fosse perfeito.

Enquanto Killer conduzia a fila por onde as mesmas sairiam para seus aposentos provisórios, Nami e Bonney disfarçadas puderam ver o ruivo do outro lado observando toda a movimentação.

O mesmo olhar impiedoso e demasiadamente atroz. O aspecto grandiosamente imponente e tão radiante que podia ser sentido há quilômetros. Sua postura áspera causava um terror desigual em qualquer que o fitasse uma única vez.

A ruiva se sentiu estranhamente perturbada ao rever Eustass Kid em circunstâncias quase piores que a da vez anterior. Ela jamais podia imaginar que voltaria para aquele navio por um motivo suicidamente heroico.




...




Havia amanhecido e vários grupos foram tirados de seus aposentos para uma espécie de teste. A categoria daquele teste se resumia a algo extremamente importante, pois iria diferenciar as mulheres fortes das fracas. O objetivo: Evitar uma fuga.

– Os seis primeiros grupos já saíram. – Killer avisava ao capitão que se encontrava sentado numa cadeira em frente a um círculo desenhado na areia da praia.

– Elas já estão cientes do que irá acontecer...? – O capitão inquiriu.

– Sim.

Todas foram separadas por pares aleatórios e se posicionaram ao redor do círculo.


– Não há regras e tudo é permitido. E todas que vencerem fiquem do lado direito do círculo.


Quando Killer terminou de falar, os combates iniciaram.

Nami e Bonney que estavam disfarçadas acharam aquela situação um absurdo.

– Por que temos que lutar umas com as outras...? – Nami replicava em baixo tom para a glutã que se encontrava ao lado.

– O Kid não é idiota... As mulheres do South Blue são conhecidas por sua força física magistral. Se houver muitas delas juntas, pode acontecer uma fuga em massa que nem mesmo ele e seus homens conseguiriam parar... – Ela dizia enquanto tentava disfarçar ao máximo.

– Eu não tinha ideia que havia mais de trezentas mulheres aqui...

– Coloque uma coisa na sua cabeça ruiva... O Kid não joga pra perder...


Depois da maioria dos longos combates acontecerem e todas terem de esperar debaixo do sol escaldante, havia chegado a vez de Nami.

– É a vez de vocês duas. – Killer principiava o combate onde a ruiva enfrentaria uma garota que mantinha uma feição irritada. Ela era alta, cabelos castanhos claríssimos e longos, e os olhos verdes muito penetrantes.

– Vamos logo terminar com isso. Quando passar por todas essas idiotas, eu mesma irei acabar com a sua raça... Kid... – E então a garota que tinha um porte firme se referia ao capitão com muita raiva e ousadia.

– Isso é alguma piada...? Acabar comigo...? Se pudesse ter feito isso, não estaria aqui e prestes a ser vendida como uma reles escrava... – Logo atrás e sentado numa cadeira, Kid respondia a menção petulante da garota.

– Isso é o que nós vamos ver, seu bastardo... – Ela respondeu com ódio, para logo depois cuspir, mostrando o quanto o achava sórdido.

Nami ficou em silêncio, observando o olhar colérico que era direcionado ao ruivo, porém, sabia que tinha de se concentrar no atual combate.

Não seria fácil vencer... Mas ela tinha um trunfo...

Quando a garota elevou os punhos fechados em posição de ataque, Nami apenas a encarou indiferente e então... A garota reagiu de um modo ao qual ela não estava habituada.

A aparência de seu disfarce parecia intimidar qualquer um, prova disso era como o ruivo passou a observá-la atentamente, um tanto curioso.

Por dentro a navegadora se sentia completamente coagida e estranha... Temia que ele pudesse descobrir sobre seu disfarce, mas...

Ela precisava se concentrar e tirar a imagem de Eustass da sua cabeça.

– Está pronta, noiva cadáver...? – A garota provocou, porém teve o silêncio esmagador de ruiva.

E quando Nami menos esperava, ela já havia corrido em sua direção para lhe desferir um soco.

A navegadora apenas esquivou cuidadosamente, porém, o que lhe esperava era uma sessão de vários chutes e socos que não foram fáceis de escapar.

Nami continuou em silêncio enquanto ouvia a garota rir descaradamente de sua cara.

– Você está mesmo lutando a sério...? Por que parece que está fugindo como um pato espantado, embora sua cara seja assustadora...?

– Eu não tenho experiência em combates no mano a mano, porém tenho habilidades com o bastão. – A voz fria e quase rouca que Nami apresentava combinava com sua aparência obscura.

– Bastão...? Mas se não possui reflexos bons sem armas, o que dirá se segurar uma...? Você só pode estar curtindo com a minha cara!

– Quer apostar...? – O sorriso ousado que a navegadora exibia foi o ponto culminante para provocar a impetuosa ira da garota.

– Certo... Então tente... Mas não me culpe se eu desfigurar a sua cara sem querer...

Quando ela finalmente cedeu, Nami retirou duas partes de um bastão que estavam presos em seu short e os uniu em um só.

– Espero que esteja preparada... Garotinha... – A navegadora sorriu macabra. Bonney que observava tudo de longe, mesmo disfarçada, não deixou de fazer uma careta engraçada ao ver as atuais atitudes da ruiva.


– Capitão! Um grupo de caçadores de recompensa invadiu a costa! – Um dos subordinados do novato aparecia repentinamente dando a notícia.

– E daí...? Dê um jeito neles... Não está vendo que estou me entretendo ao ver essas garotas brigarem...? – Ele respondia de forma intransigente.

– Mas eles não são um grupo qualquer... Lembra-se do clã de caçadores que enfrentamos há um ano naquela ilha...?

– O quê...? Esses malditos estão aqui!? – O tom do ruivo mudara drasticamente.

– Sim... Sabe que não será fácil vencê-los...

– Isso foi há um ano... Vamos ver do que eles são capazes ao me enfrentarem no momento onde estou me divertindo... Todos irão morrer... – A cruel e ardente ira do capitão foi o bastante para novamente chamar a atenção de Nami. Ela suspirou descontente pelas atuais palavras do ruivo e tudo o que a mesma teve logo em seguida foi a imagem do capitão se ausentando do local onde os combates estavam sendo realizados.

Até quando ele mataria por puro capricho...?

E quando a mesma pensava sobre tal, era obrigada a suportar a maldita sensação de ter passado por isso quando estava com o cirurgião.

Por que Law e Kid eram tão implacáveis a ponto de descartarem vidas como se não fossem nada...?

Tais pensamentos lhe incomodavam tanto que um furor desigual passou a tomar conta de si, ansiando fazê-los entender que uma vida valia muito...

– Vamos logo com isso... Ou você está com medo...? – A garota provocava de modo atrevido.

– Medo...? Isso é algo que definitivamente você vai aprender a ter... – O olhar de Nami se difundiu em audácia. Ela Iniciaria ali a sua grande missão em dar uma lição nos dois novatos idiotas: Trafalgar Law e Eustass Kid. E ela começaria...

Por Eustass Kid...




...




– Já são quase quatro da tarde e a Nami não voltou desde ontem... Estou preocupada... – Robin comentava com Franky. Os dois haviam voltado para o Sunny enquanto os demais ainda estavam ocupados com a turnê pela ilha.

– Algo deve ter acontecido... Ela voltará mais cedo ou mais tarde...

– Eu sei, mas-

– Eu sei onde a Nami está... – Uma voz invadiu a conversa dos dois companheiros.

– Você... – Robin dizia um pouco surpreendida ao encarar John.

– Então se você sabe diga onde ela está! – Franky perguntava desconfiado.

– Peço por favor que não contem isso para mais ninguém. Eu cheguei à conclusão que vocês dois são as pessoas mais sensatas desse navio e então... Antes de reportarem aos outros sobre isso-

– O que está acontecendo!? – Franky interrompeu de forma agressiva.

– Onde a Nami está...? – Robin perguntava calmamente.


– Ela está no navio do Eustass Capitão Kid.


John disse de uma vez, mas antes que o ciborgue e a arqueóloga pudessem se perguntar o porquê, uma pessoa que acabara de subir no Sunny parecia mais chocado com a revelação do que eles dois.

Os olhos do Cirurgião da Morte se estenderam em espanto.





...





Ela respirava ofegante e uma mancha de sangue podia ser vista em sua testa. Pingos de suor escorriam por seu rosto e uma feição de espanto não parecia estar disposta a se ausentar de sua face.

A garota que acabara de ser derrotada por Nami a encarava atentamente enquanto seu corpo se encontrava estirado no chão. Mas a sombra da navegadora cobriu por completo o sol de suas vistas.

Nami sorriu assombrosamente sinistra por conseguir a vitória. Suas táticas com aquele bastão havia de fato acertado em cheio uma guerreira perita do South Blue com certa facilidade, porém...

Quando a garota finalmente se deu por vencida, a navegadora não aceitou e isso fez com que vários subordinados de Kid tentassem pará-la a força.

– Por que estão mandando todas lutarem contra as outras!? De quem foi essa ideia ridícula!? - A navegadora protestava exaltada.

– São ordens do capitão! Agora fique quieta e vá para o outro lado onde estão as outras!

– Me obriguem!

Killer observou tudo em silêncio, estranhando as atitudes daquela mulher. Ela parecia um tanto ousada por fazer tal cena, mas... Havia algo familiar nela que ele não conseguia se recordar direito...

Depois de machucar vários de seus companheiros, Killer resolveu agir.

– Levem-na para a tenda do capitão. Ela terá uma bela lição dele próprio por contestar sua decisões.

– Vocês são uns fracos! Por que estão me tirando daqui!? Me enfrentem se tiverem coragem!

Nami estava descontrolada. Já havia passado dos limites ter de aturar as inconsequências daqueles dois...

– Sua burra... – Bonney que observava tudo de longe não estava entendendo por que a ruiva estava agindo daquela forma tão impulsiva.




...




Nami tentava desesperadamente se soltar das algemas ao qual haviam lhe prendido. Ela havia sido levada para dentro de uma tenda preparada especialmente para o capitão, pois os mesmos ficariam na margem da ilha por vários dias seguidos.

– Droga... – Ela replicava ao tentar se soltar de todas as formas, mas era obvio que não conseguiria.

Sua raiva havia passado dos limites, ela sabia... Mas se sentia farta pela forma ao qual piratas como Law e Kid resolviam as coisas... E isso reforçava ainda mais a imensa vontade de seguir Luffy até o fim de sua jornada... Apesar de sempre coloca-los nas situações mais perigosas, seu capitão agia honestamente e fazia justiça do seu jeito, mas...

Sem tirar a vida de ninguém...

Mas como ela os convenceria do contrário...? Quando pensava sobre tal, se sentia enfurecida, já que os mesmos eram peritos assassinos... Porém...

Ela não se daria por vencida...

Antes que pudesse terminar de raciocinar, alguém acabava de entrar na tenda.

Vários objetos ao redor da tenda passaram a tremer e muitos deles caíram no chão.

E para a sua surpresa, a pessoa ao qual entrara na tenda era...

– Você...? – Ela articulou em baixo tom e ele sequer havia se dado conta de que ela estava ali.

Kid se encontrava totalmente ensanguentado e suas roupas rasgadas.

Nami passou a observá-lo atentamente.

Depois de semanas ou melhor, meses sem vê-lo, estar tão perto daquela forma era totalmente estranho.

O ruivo retirava o típico óculos que provavelmente era usado em situações onde seu magnetismo se encontrava no nível mais elevado. Em seguida a túnica, e o colete que se encontravam ensanguentados também foram retirados, deixando o peitoral cicatrizado a mostra.

Quando Nami finalmente percebeu, ele já havia tirado...

Tudo...

Ela virou o rosto num misto de perplexidade e embaraço. O que ele faria quando percebesse que ela estava ali...? Ou melhor...

O que ele faria se a reconhecesse...?

O ruivo ergueu um grande recipiente com água que havia numa mesa ao lado e em seguida derramou sobre sua cabeça.

Nami só conseguiu ouvir o barulho da água caindo no chão.

Ele apanhou uma toalha para se secar, e finalmente olhou para frente, avistando uma mulher acorrentada no canto da tenda.

– Quem é você...? – Ele se aproximou devagar e por um momento Nami teve medo que o mesmo lhe reconhecesse, mas...

Kid passou a observá-la cuidadosamente e então conseguiu relembrar quem era ela...

– Você é... – Ele ficou em silêncio durante um tempo e a navegadora arregalou os olhos, embora estivesse de cabeça baixa, onde as longas madeixas negras e repicadas escondiam perfeitamente seu rosto.

– Esquece... Eu não sei quem você é... Só me recordo de ser uma das últimas que vi lutando antes de sair da praia.... – E então ele desistiu, voltando para onde estava anteriormente.

A ruiva suspirou aliviada, mas quando olhou pra frente, lá estava ele... Perfeitamente de costas, ajeitando as peças que compunham seu braço de metal.

Um doce olhar consternado foi lançado, e ela realmente se perguntava por que que ele havia sofrido um acidente tão cruel a ponto de ter seu braço amputado.

– Eu pressinto de longe quando me olham com compaixão... – A voz raivosa ressoou mais como uma ameaça do que um simples comentário, e então Nami se tocou e mais uma vez abaixou o olhar.

– Por que te trouxeram para cá...? – Perguntava um pouco desinteressado enquanto continuava ajustando o braço metálico.

– Por que prendeu todas essas mulheres!? – Ela respondia com uma pergunta exaltada. Embora não tivesse apagado de sua memória o que havia vivido com ele, Nami não misturaria as coisas e não desistiria de resgatar todas aquelas mulheres dali.

– Isso não é da sua conta... E por que está fazendo tanta questão delas sendo que se encontra na mesma situação...?

– Por que eu sei que estão as mandando para o inferno! Mariejoa é lugar mais sujo do mundo! – A voz da navegadora soou intimidante e severa.

– Eu concordo, mas negócios são negócios... E não se exclua do grupo... Você também será levada... – Kid dizia enquanto sorria de forma sádica. Seu rosto resplandecia uma ferocidade suave.

– Você... É sórdido demais... – E então ela fechou os olhos em repulsa. Será que estava enganada a respeito dele...? Seria tarde demais fazê-lo entender que seus métodos eram cruéis e desprezíveis...?

– Não é a primeira vez que me dizem isso. Então não vai conseguir me atingir dessa forma... – Kid parecia calmo demais. Nami estranhou aquilo. Seus gestos mostravam uma espécie de placidez, embora ainda estivesse fazendo crueldade com as pessoas.

Quando o ruivo retirou a toalha que cobria a parte debaixo de seu corpo, o mesmo acabou saindo totalmente despido na frente dela.

Ela arregalou os olhos com o que vira e então examinou...


Toda a potência dele...


Aquilo definitivamente não estava em seus planos... E por mais que não quisesse, não conseguia retirar os olhos do que vira...

– Por que está calada...? Por acaso está com medo...? – Ele se aproximou, enrolando a toalha na parte debaixo de seu corpo mais uma vez e se agachando na frente dela, tentando entender o que estava acontecendo.

Por um momento os olhares de ambos se cruzaram e então... Ele se sentiu preso por algum motivo, se questionando por que aquela mulher parecia ser um pouco diferente e ao mesmo tempo conhecida...? Mas não poderia... Não se recordava de tê-la visto antes...

Mas havia algo que estava lhe atraindo nela, porém não conseguia entender exatamente o quê...

A navegadora fixou seus olhos nos dele por um momento considerável. Por mais que relutasse, não havia chance de reconhece-la. A cor de seus cabelos... A cor de seus olhos e sua pele... Tudo estava diferente e fazia parte de um disfarce... Então ele jamais se lembraria quem ela realmente era... Mas... Um impulso a fez duvidar sobre suas conclusões, no momento em que ele elevou o queixo dela para o encará-lo...

O semblante de suspeita que ele esbanjava estava arrancando arrepios impetuosos na ruiva. Céus, se ele descobrisse, o que faria...?

– Por que tenho a estranha sensação de que te conheço de algum lugar...? – Ele contestou enquanto a analisava precisamente.

– Esqueça... Você não me conhece... – Ela desviou o olhar para baixo.

– Será...? Estou incerto sobre isso... – Nami se sentia completamente estremecida toda vez que o olhar dele recaia sobre seu rosto. Ela estava desacostumada ao pressentir os olhos tão vermelhos lhe fitarem intensamente como se quisesse enxergar além do que de fato estava em sua frente.

– Você está enganado, então tire logo suas mãos de cima de mim... – E então ela esquivou o rosto num movimento abrupto e violento.

Kid sorriu petulante. Aquela mulher era uma das poucas que lhe rejeitava... O que fez com que ele se lembrasse daquela ao qual ansiava desesperadamente reencontrar.

A navegadora do chapéu de palha.

– Você... É uma mulher muito atraente... – O ruivo provocava audaciosamente.

– Saia de perto de mim...! Se você tentar algo, vai se arrepender!

Ele riu ousadamente em resposta.

– Eu não estou pensando em tentar nada com você... Não estou interessado e- O barulho de uma explosão acompanhado de uma grande pressão fez com que instintivamente seu corpo caísse sobre o dela.

Ainda por cima dela, os rostos de ambos praticamente se encontravam próximos... Tão próximos que ele podia sentir a respiração dela bater em sua face. E de alguma forma ele sabia... Que aquela linda e misteriosa mulher parecia mexer com algo dentro de si... Mas a pergunta era... Por quê...?

Quando Nami também percebeu a gravidade do que estava acontecendo era tarde... As lembranças de quando se despediram após o sequestro ecoaram intensamente em sua cabeça e ela não pôde desviar o os olhos dos dele, tentando entender por que havia se deixado levar tão facilmente por aquele magnetismo.

E antes que eles pudessem reagir naturalmente, uma voz estridente e extremamente horripilante repercutiu de forma ensurdecedora do lado de fora.


– APAREÇA SEU NOVATO DESGRAÇADO!


Então o capitão se levantou rapidamente de cima da navegadora e correu para fora da tenda.

Ele se espantou completamente com o que vira.

Todos dois navios que estavam ancorados ao redor do seu foram explodidos através de tiros de canhão de outro navio que se encontrava há quase meio quilômetro.

O cenário era horripilante. Havia cadáveres por todos os lados, mortos impiedosamente pela explosão causada por aquele navio.

Muitos aliados e as mulheres que seriam vendidas havia sido mortos naquela explosão.

E naquela altura, algumas delas que haviam sobrevivido corriam desesperadamente para as estradas interligadas à costa da ilha a mando de Jewelry Bonney.

E enquanto Kid olhava atentamente para aquele cenário horrível, mais uma vez a mesma voz podia ser ouvida.

– APAREÇA EUSTASS CAPITÃO KID! RENDA-SE OU DESTRUIREMOS O RESTO DE SEUS NAVIOS!

Aquela voz era desentoada de forma raivosa e parecia ser refletida através de um porta-voz há uma longa distância.

– Maldição... – O ruivo replicou ao ver que havia sido pego numa emboscada.

– Kid! Vamos sair daqui agora!

– O que está acontecendo Killer!? – O capitão inquiria.

– Um dos subordinados de Charlotte Linlin nos achou e disse... – O loiro pausou.

– O que ele disse!!? – O capitão contestava completamente exaltado.

– Disseram que ela está atrás de dois novatos que a provocaram... O destruidor dos navios de seus aliados e aquele que comeu todos os doces que seriam entregues à ela há algumas semanas atrás...

– O quê!? Você está brincando!? Por que essa maldita viria atrás de mim logo agora...?

– Isso não importa! Vamos sair daqui ag-

Outro tiro de canhão fez com que mais um navio explodisse e tudo voasse pelos ares.

Em meio a tudo o que estava acontecendo, Bonney entrou rapidamente na tenda onde Nami estava presa.

– Ruiva, vamos cair fora daqui agora! – A rosada logo ia quebrando as correntes onde a navegadora se encontrava algemada.

– O que está acontecendo lá fora!!? – Nami interrogava de modo alarmante. Mesmo sem ver com seus próprios olhos, era nítido que um ataque terrorista parecia predominar o local.

– A Big Mom está vindo pra cá! Vamos dar no pé antes que sobre pra nós também!

– Como assim!? Por que ela está aqui!? Espere... Será que ela veio atrás do Luffy!? – Nami se recordava do episódio onde o garoto desafiara a pirata dizendo que havia comido todos os doces que seriam entregues à mesma.

– Atrás do Chapéu de Palha!? Ela está atrás do Kid! Ele detonou com dois navios de aliados dela há algum tempo atrás! Então vamos embora agora! – Bonney puxava a garota para fora com todas as suas forças enquanto lhe obrigava a correr dali.

Quando Nami saiu da tenda, viu a imensa pilha de cadáveres e vários navios incinerados. A tripulação inteira de Kid se encontrava na margem, prontos para se defenderem enquanto o ruivo seguia na linha de frente.

Nami sentiu um imenso pesar ao avistar tantas pessoas mortas naquele massacre, mas...

Um barulho estrondoso acompanhado de um clarão tomou conta de todos os seus sentidos.

Elas voaram com a pressão de uma nova explosão, porém o barulho era totalmente reconhecível por Nami.

Um relâmpago havia sido disparado na direção de Kid e então após abrir os olhos com muita dificuldade a ruiva percebeu...


Que ele havia sido atingido...