Heart Attack


Prólogo - Gélida sensação de mistério


“Querido diário de bordo... Certo... Eu não estou com você em mãos no momento e nem mesmo pretendo escrever isso, mas estou apenas relembrando os últimos acontecimentos. Depois dessa perigosa aventura em Punk Hazard, meu capitão, vulgo um idiota inconsequente e abobalhadamente sorridente, resolveu formar uma aliança com um dos piratas mais populares da Grandline da pior geração: Trafalgar Law, vulgo sociopata sádico, ardiloso e especialista em cirurgias cardiovasculares [?]. O objetivo dos dois? Derrubar um dos Quatro Imperadores. É... Eu sei... Imagino o tipo de perigo que essa loucura vai render e estou começando a fazer contagem regressiva do pouco tempo de vida que me resta... Mas... Embora seja jovem demais para morrer, este não é o meu único problema. A verdade é que... Fazia tempo que não me lembrava de como erguer uma barreira contra algumas impressões em relação ao sexo masculino. Lembrando que isto já aconteceu uma vez e não terminou bem. Fico me perguntando se essas sequências que rendem efeitos tão patéticos irão continuar enquanto eu estiver perto desse cara...”


...


Margem da ilha Punk Hazard


— Usopp!!! Eu terminei!

— Terminou mesmo Luffy!?

— Sim!!! Pessoal, venham avaliar minha escultura de gelo!

Usopp e os outros estavam numa disputa de quem fazia uma escultura de gelo idêntica a um membro da tripulação. Todos estavam eufóricos com a festa improvisada que o capitão dos Chapéus de Palha havia dado e aquele era apenas mais um entretenimento antes de zarparem.

— Nossa... Você é realmente um ótimo artista Usopp! – Franky elogiava o trabalho do atirador ao constatar a perfeição dos traços da escultura.

— Parabéns Usopp. Ficou muito igual!— Robin sorria sarcasticamente.

— V-Você... É incrível... Usopp-San... – Brook caia para trás após vislumbrar a arte tão bem trabalhada.

— Nami-San!!! O que você acha da escultura do Usopp!!?

— Aah... O quê...? – A ruiva ficou sem falas. A perplexidade decorria em seus olhos enquanto a mesma mantinha a boca mais aberta do que o comum.

— Eu dei as coordenadas ao Usopp depois que estive no seu corpo, Nami-Saaaan!!! – O cozinheiro rodeava a companheira enquanto seus olhos mantinham seu formato bizarro em forma de coração.

Nami ficou em silêncio enquanto esbanjava um semblante sombrio.

— MAS QUE PORNOGRAFIA É ESSA!!!— A ruiva desferiu um chute certeiro na escultura de gelo, após constatar que a réplica era na verdade ELA.



Numa pose indecente e ainda por cima NUA.



A escultura foi partida em vários pedaços.

— POR QUE FEZ ISSO!!! EU TIVE MUITO TRABALHO PARA FAZÊ-LA!!! – O atirador protestava indignado.

— Seu idiota!!! Quem mandou você me esculpir nua no gelo!? Você não vê que tem crianças aqui!!! – A ruiva bradava com fúria enquanto socava a cabeça do companheiro no chão de forma contínua.

— Hey Nami! Você ainda não viu a minh-

Luffy mal havia terminado de falar, quando sua escultura mal feita foi destruída em pedaços por mais um chute vigoroso da ruiva.

Todos ao redor ficaram assombrados com as ações violentas da navegadora.

— Quem te deu permissão para olhar o meu corpo enquanto esteve nele, hein Sanji-Kun!!!

— Eu não resisti Nami-San!!! Você é a mais bela mulher em todo o mun-

Antes que o loiro terminasse de pronunciar tais palavras, Nami já havia lhe dado um potente soco no nariz.

— Se acalme Nami! Você acha que não me senti incomodado por pensar que você poderia ter espionado o meu suuuuuper corpo que possui codificações exclusivas e-

— EU NÃO TENHO INTERESSE NO SEU CORPO CIBERNÉTICO! E O CULPADO DE TUDO ISSO É AQUELE MALDITO SHICHIBUKAI!!!— Quando a navegadora virou para o outro lado, deu de cara com Trafalgar Law.

Nami se assustou ao esbarrar sem querer no cirurgião, que com certeza ouviu a mesma acusa-lo de passar por aquela situação constrangedora com Sanji e os outros.

Ele a encarou firmemente com seu típico olhar desprovido de emoção e ela temeu que ele pudesse falar ou fazer qualquer coisa antipática depois de ter sido citado no diálogo com Franky.

A neve e a suave brisa gelada acariciavam com esplendor a face e as onduladas madeixas ruivas. A navegadora estreitou os olhos no ímpeto de continuar o encarando e ele não moveu um milímetro de seu olhar. Continuou a fita-la de forma enigmática. Houve uma pausa nebulosa entre ambos, porém a situação reverteu logo em seguida.

— Preciso que me ajude com algo importante, garota do tempo.

— Hã...? – “Garota do tempo”? – Pensava ela. Nami arqueou uma sobrancelha após tais palavras. Aquela voz tão grave que expressava tanta imponência e mistério unida àquele sotaque galante do North Blue, despertou certa inquietação na ruiva.

— Por que precisa da minha ajuda...? Há outros membros mais fortes na tripulação. – Indagava de modo relutante.

— Você não disse anteriormente que era para confiar mais em você...? - Law sorriu de modo ousado e Nami se sentiu um pouco constrangida, já que ela e Usopp se empolgaram demais quando nocautearam Buffalo e Baby 5.

— E-eu estava me referindo aos membros menos favorecidos em termos de força, usar suas habilidades quando o inimigo pensar em escap-

— Você sabe criar fogo e água, certo?

— Sim. Por quê...?

— Já que o Chapéu de Palha resolveu dar essa festa e estamos perdendo tempo, pensei em atrasar Doflamingo bloqueando o túnel por onde saímos.

— Você quer acabar com a única entrada que liga o laboratório à margem?

— Exatamente.

— E como vamos fazer isso...?

— Venha comigo. Ao entrarmos no túnel vou te explicar. – Ele deu às costas para ela e Nami ainda ficou com um ponto de interrogação na face, mas... Por ora era melhor fazer como ele havia dito, pois ninguém melhor do que o shichibukai conhecia Doflamingo.


...



— Está ficando cada vez mais escuro!

— Eu não trouxe uma lanterna. Vai me dizer que não é capaz de criar combustão?

— Eu já disse antes que posso criar esse elemento, mas... Por que exatamente estamos indo para o fundo...?

— Quero causar uma avalanche e isso poderia prejudicar a costa da ilha.

— Hmm... – A navegadora observava o cenário ao redor e calculava como faria o que ele havia proposto ao entrarem no túnel. E mesmo que o plano dele fosse retardar a chegada do inimigo, ela tinha certa curiosidade em saber mais sobre os poderes de usuário dele.

Em instantes, uma auréola passou a rodear a mão do cirurgião. Nami atentou para aquele sinal, e aos poucos um enorme campo de força com a forma de uma esfera tomou conta do local.

— Agora vá e faça como te instrui no caminho.

— Certo...

Nami possuía várias técnicas novas. Fruto de seu bom desempenho em Watheria. E estava pronta para colocar em prática mais uma de suas especialidades com o tempo.

Ela correu para dentro do campo de força e aos poucos incidiu com o Clima Tact nas paredes do túnel. Uma espécie de muralha de fogo acendeu, e as chamas se alastraram até o horizonte, pois aquela técnica era muito eficiente. Logo depois, Nami usou outro procedimento e apagou as chamas ao redor com infinitas bolhas que expeliram água. O plano basicamente era fazer com que a terra sofresse um choque térmico e ficasse menos densa para que avalanche tivesse menor impacto.

Quando terminou a técnica, Nami correu para fora do campo de força e então Law assumiu.

Um movimento foi o suficiente para fazer a terra desmoronar dentro da esfera. A ruiva prestou o máximo de atenção naquela sessão de movimentos em que o mesmo fazia com sua espada. Nenhum resquício de tremor ou terra era perceptível fora do campo e Law desfez o círculo com simetria. Ela julgara que o cirurgião era muito mais forte do que imaginava. Porém...


Um tremor pôde ser sentido fora da esfera.


— Hey! Por que o chão está tremendo!? Você disse que isso não aconteceria!!!

— Se essa montanha tiver sofrido alguma colisão por fora, então...

— Quando chegamos lá fora, Franky estava lutando com aqueles dois! Um dos raios dele pode ter atingido o topo da montanha!

— Precisamos sair daqui... A terra já desabou completamente dentro do círculo.

— Então vamos agora!-

Um tanto alarmada e na tentativa de correr rapidamente para fora do túnel, a ruiva tropeçou em seu próprio salto e automaticamente seu corpo tombou na direção de Law. Ambos foram ao chão logo em seguida.

Nami desabou em cima do cirurgião de forma tão atrapalhada que o impacto fez com que o gorro dele saísse de sua cabeça.


Aquela posição era um tanto embaraçosa.


Os dois se encararam por um tempo considerável, pois seus rostos estavam a poucos centímetros um do outro. Nami se manteve imóvel diante daquela situação esdrúxula e passou a reparar atenciosamente naqueles olhos tão frios que pareciam lhe ferir intimamente. Uma expressão tão congelada como o topo de uma geleira no auge de uma nevasca e tão incompreensível como as correntes versáteis do oceano e a atmosfera emblemática das ilhas mais perigosas do Novo Mundo. Era a definição perfeita para aquele olhar. O semblante dele lhe assombrava e também lhe fascinava, fazendo com que tivesse o estranho desejo de decifrá-lo. Ao mesmo tempo em que pensava se afastar, sentia-se tentada em continuar paralisada, contemplando o que estava diante de si.

Law se sentiu incomodado perante a recente feição da ruiva. O olhar que lhe era lançado soava como o de uma doce e inocente criança. Aquele par de orbes castanhos que flamejavam de tão intensos. Uma característica bastante apreciativa e um tanto interessante. Ele sorriu de canto logo em seguida. Nami não entendeu.

Ela não conseguiu prever o audaz movimento dele. A única coisa que pôde sentir logo em seguida foi a mão do cirurgião tocar seu rosto. Naquele instante, um impetuoso arrepio na espinha foi a única sensação que ela conseguiu sentir. Aos poucos ele deslocou sua mão para o pescoço dela, atentando para a face da navegadora que adquiriu um leve tom avermelhado.


Ele estendeu ainda mais o sorriso cínico.


Os dedos emaranharam-se nos longos e macios fios ruivos até chegar à nuca, e ele pôde sentir a doce fragrância cítrica dela. Um aroma tão agradável que parecia violentamente lhe entorpecer.

Mas... Um efêmero movimento fez com que a navegadora se assustasse. Ele havia puxado o rosto dela para mais perto do seu e aos poucos passou a sussurrar palavras quase inaudíveis em seu ouvido.

— Se não quiser morrer, eu sugiro que saia de cima de mim agora mesmo...

A face de Nami modificou completamente. Ela tomou um choque de realidade. Aquilo que mais parecia uma carícia era na verdade uma ameaça? — Mas que audácia!— Pensava ela. – Primeiro ele me seduz e depois quer me matar!?— Pensava mais uma vez, muito mais indignada e se sentindo patética por cair nas teias daquele maldito traiçoeiro.

— E se eu não sair...? O que você vai fazer...? — Provocava de modo arrogante e ligeiramente posicionando o Clima Tact para desfechar um ataque que ele jamais sonharia.

Law sorriu cinicamente enquanto manteve seu olhar fixo nos dela. Nami também não desviou os olhos dele e se manteve séria, transparecendo sua típica expressão imperiosa, porém ainda não conseguia compreender aquele sorriso cínico.

— O teto está desabando diante de nossas cabeças... Se não sair de cima de mim, morreremos soterrados...

A ruiva arregalou os olhos no mesmo instante. Então era isso que ele queria dizer quando se referiu a sair de cima dele? Aquela situação tirou tanto sua atenção, que havia esquecido completamente do perigo que corriam. Automaticamente ela se sentiu envergonhada por pensar que o mesmo pretendia seduzi-la e assassiná-la ali mesmo.

— Me descul-

— NAMI-SWAAAAAAAAAAAAAN!!! EU VIM TE SALVAAAAAR!!!

— Sanji-Kun...!?

— Nami-Swan, você... – O loiro que antes corria freneticamente gritando pelo nome da companheira, teve uma ligeira surpresa ao se deparar com a cena em sua frente. Zoro que chegou logo depois também se espantou com o que via.

Nami ainda não tinha se levantado de cima do cirurgião e a posição em que ambos estavam era um tanto embaraçosa. A ruiva sentiu seu rosto arder em chamas. Já Law suspirou impaciente, esperando que ela se levantasse.

— Meninos... Não é nada disso que estão pensando! Eu apenas tropecei e-

— O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO COM A MINHA NAMI-SAN, SEU ALIEN PERVERTIDO!!?— Sanji desferiu um violento chute na direção do shichibukai, porém o mesmo rapidamente empurrou Nami, se levantou e bloqueou o golpe com sua espada.

— Pare com isso Sanji-Kun! Foi um acidente!

— Eu não vou te perdoar seu maldito! – O loiro bradava com fúria. Law o encarou seriamente, tentando medir o nível de estupidez do mesmo.

A ruiva sentia uma veia pipocando em sua testa. Só tinha um jeito de acabar com aquele mal entendido. Já Zoro, observava tudo com uma expressão tediosa. Aquela cena era ridícula demais para suportar.

— Pare com isso seu cozinheiro mulherengo... Você não está ouvindo essa bruxa falar...? – Dizia de forma desinteressada enquanto tentava bocejar.

Quando o loiro deu por si, já havia recebido uma forte bofetada em sua cabeça.

— EU DISSE QUE FOI UM ACIDENTE, SEU IDIOTA!!!

— A Nami-San é tão... Forte...! – O cozinheiro segurava o galo na cabeça enquanto sorria abobalhadamente.

— Que ele é um idiota eu concordo, mas... POR QUE RAIOS VOCÊ TAMBÉM ME BATEU!!?— Dessa vez era Zoro que protestava exaltado.

— Isso é por você ter me chamado de bruxa na frente dos outros... – A ruiva limpava as mãos enquanto mantinha sua feição autoritária.

— Sua...

— E se não calar a boca, vai levar outra... – A navegadora sorriu de forma maldosa para o espadachim que a encarou de volta com ódio. Era possível ver as faíscas saírem dos olhos de ambos.

Law arrumava seu gorro de volta na cabeça, desprezando as cenas idiotas ao redor. Sanji o encarou tão aborrecido, que a primeira coisa que fez depois de tudo aquilo, foi tentar proteger a sua “amada”.

— Hey, o que está fazendo Sanji-kun!!? Me ponha no chão!!!

— Isso aqui vai desmoronar Nami-San! Vou te levar de volta agora! – O loiro que pegava a ruiva no colo, passava a correr rapidamente em direção à margem, deixando Zoro e Law para trás.

— Me coloque no chãããããão!!!— De longe era possível ouvir os alaridos da navegadora de modo ecoante.

Zoro defrontou Law de forma indigesta. Obviamente o cirurgião notava aquilo e suspeitava do por que, porém, o espadachim definiu a questão logo depois.

— Se precisava de alguém pra ajudar a causar essa avalanche, podia ter pedido a mim.

Law manteve sua expressão gélida e deixou que o silêncio pairasse por algum tempo antes de responder.

— É verdade, mas você deve saber... – O cirurgião dava uma pausa sombria antes de continuar.


— As habilidades dela são incomparáveis...


O espadachim continuou o encarando, porém Law já andava para fora do túnel. Zoro constatava algo suspeito naquela frase, mas por ora não faria nem diria nada. O tempo diria o que aquele sujeito planejava.


...


— Esse ferimento está horrível! Por acaso alguma pedra caiu em cima da sua cabeça, Sanji!? – Chopper contestava ao fazer um curativo no local inchado. O cozinheiro sorria de forma abobada enquanto seus olhos mantinham o formato de coração.

— Sim... Uma pedra arremessada pelo furacão do amor...

— Imbecil...— Nami pensava ao observar o jeito estranho do companheiro sendo tratado pela rena, mas um vulto interrompeu sua linha de pensamento. O cirurgião havia passado bem ao seu lado como um impetuoso vento incisivo.

Ela o observou por um tempo enquanto o mesmo andava em direção ao navio de guerra. Ele foi se distanciando e a visão da ruiva foi encoberta por vários marinheiros que festejavam com Luffy e os demais.

A navegadora se sentiu um pouco intrigada ao se lembrar do episódio estranho no túnel. Era uma sensação que já havia tido antes, porém, se recusava a acreditar que algo assim poderia ser revivido tão repentinamente.

Ela sorriu pateticamente.

— Sem chance...