E Se Eu Não Voltasse, Você Sobreviveria Sem Mim? escrita por GiGihh


Capítulo 34
Entre dores e amores - part 2


Notas iniciais do capítulo

>.< agora é realmente o fim...



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Final – parte 2

SADIE - SEXTA-FEIRA

Vesti um short jeans claro, uma blusa branca com desenhos de gatos em preto mais soltinha, algumas pulseiras pretas e prateadas e uma bota de cano curto com um pequeno salto. Prendi meu cabelo em um rabo alto, mas duas mechas de cabelo caíram pelo meu rosto. Passei sombra perolada e um gloss vermelho nos lábios. Estava linda por fora, mas me sentia vazia por dentro.

Sai do meu quarto em passos lentos, com a mochila nas costas. Desci as escadas e ia passar pela porta quando uma voz me parou.

–Nossa... Vai aonde assim desse jeitinho? – meu irmão descia as escadas com Zia logo atrás.

–Para o inferno. Pra onde mais eu iria? – respondi em tom irônico e nós três passamos pela porta. Comecei a colocar meus fones de ouvido, mas antes avisei Carter e Zia. - Se quiserem chegar cedo ou mesmo na hora, vão sem mim e se apressem.

–E você? – Zia perguntou preocupada.

–Vou enrolar um pouco. Cheguei essa semana inteira mais cedo e isso não é do meu feitio. – comentei e eles riram; Carter me beijou a bochecha e pediu para eu ter cuidado... Ele e Zia sumiram por entre muitas ruas. Sozinha, segui até o parque perto da escola e, ouvindo The Wanted, me sentei em um banco e fiquei só admirando o nada; o olhar perdido, não vendo nada, mas pensando no quanto eu havia sido má...

Senti alguém tirando um dos meus fones; assustei-me com a atitude inesperada, mas me acalmei.

–Max! Assim você me mata de susto. – comentei respirando fundo enquanto o policial ria; mais quatro policiais se encontravam atrás dele.

–Não devia estar entrando na escola?

–Não devia estar me esperando lá? – retruquei.

Ele me analisou tão profundamente quanto meu pai... Virou-se para os colegas de trabalho.

– Vão dar uma volta no parque; eu vou levar a menina para comer alguma coisa. – eles se afastaram e Max me levou até um pequeno restaurante. – Um suco de laranja com morango. – ele fez seu pedido, mas eu nem cheguei a ouvir suas palavras me sentia tão distante...

–Sadie, beba. – ele me entregou o copo – Você parece que vai desmaiar. – meu silencio foi à resposta – Sadie... O que te fez tão mal?

– Eu... Eu não sei! – senti lágrimas me subirem aos olhos.

–Foi algum garoto?... O Walt? – olhei para ele tão surpresa quanto culpada. – O que ele te fez? Ele te magoou, não foi?

–Acho que foi o contrario. – minha voz soou baixa.

–Você o magoou? – seu tom era reconfortante.

–Acho que nunca vou conseguir me perdoar por isso!

– E por que você fez o que fez?

–Chantagem.

[...]

Cheguei bastante atrasada, mas com os cinco policiais ao meu lado, me cercando. O diretor veio pessoalmente ver a minha chegada e vários alunos tentavam ver o que era aquilo tudo. Fui escoltada até o auditório onde todos os alunos foram reunidos.

Basicamente, todas as salas de aula estavam lá e faltava apenas a minha pessoa chegar. Sendo assim, todas as cabeças viraram quando eu e mais quatro policiais entraram (um deles ficou com o diretor para explicar alguma coisa). Fomos para um canto nas paredes. Eu encontrei meus amigos facilmente... E Ele.

Seus olhos me pareciam estranhos... Não! Senti-me perdida enquanto ele me olhava como um estranho. Voltei a sentir que nada poderia nos salvar alem de nós mesmos... Mas isso nunca aconteceria.

Os quatro oficiais da lei se espalharam pelos quatro cantos do auditório e eu fiquei escorada na parede ignorando Lion e outros garotos que me chamavam para sentar em seus colos... Não. Eu já estava cansada de magoar a mim mesma; não precisava ficar me enganando mais!

O diretor e todos os professores começaram a alertar sobre a segurança, sobre como deveríamos estar mais atentos... Não prestei muita atenção. Em algum momento Marcos chegou e se escorou ao meu lado.

–Você parece cansada. – ele não olhava para mim, mas tinha certeza de que falava comigo. Voltei meus olhos para ele: os cabelos castanhos ondulados caiam, em sua testa, desalinhados, o corpo bronzeado e os olhos inexpressíveis... Mas vermelhos.

–Você também. – respondi sem olhar para ele, voltando a olhar para o palco.

–Problemas com garotos? – por quê? Agora virou moda me perguntar sobre isso?

–Problemas com a namorada? – revidei sabendo que era exatamente isso o que ele tinha, mas precisava que ele admitisse.

Nós dois suspiramos; ao mesmo tempo viramos um para o outro.

–Vamos fazer assim: respondemos juntos, pode ser? – sugeri.

–Pode. – ele sorriu e nós ficamos em silencio por mais cinco minutos...

–Sim. – respondemos os dois juntos e rimos disso.

–Andrea anda te irritando? – perguntei voltando a minha atenção para o palco. Andrea agora estava no centro e com o microfone em mão; falava sobre a importância de não se insinuar para meninos e sobre usar roupas certas... Deuses! Pra quem se reza para ter paciência?

–Não sei bem... Acho que, acho que não combinamos muito bem... – ele queria dizer muito mais.

–Ela age como uma vadia? – perguntei tentando esconder um sorriso cínico.

–É. Nem sei mais por que estamos juntos... – de repente ele parou e deu um sorriso amargurado – Ou mesmo o porquê de estar desabafando com você.

Foi a minha vez de sorrir.

–Eu também comecei a desabafar com pessoas que nunca pensei em dizer mais do que o necessário. – isso fez com que ele me olhasse de outra forma.

–E você? Continua arrasando corações por aí? – ele sorria como se eu tivesse um motivo para rir também.

–Muitos, inclusive o meu. – ele me olhou surpreso e sentido. O silencio deprimente se instalou entre nós dois; agora no centro do palco era Georgia. Notei um brilho intenso nos olhos de Marcos. - Eu adoro a Georgia. – soltei de propósito.

–Ela é incrível. – ele sorriu... Eu já tinha minha confirmação.

–Você algum dia já amou a Andrea? – perguntei sem qualquer traço de vergonha. Ele pareceu constrangido.

–Sadie... – ele ia enrolar e não me responderia.

–Eu acho que não. Ela nunca te mereceu... E você sempre mereceu alguém melhor. – fiquei quieta por 5 segundos – Mas é impressionante o quanto nós negamos o que sentimos até achar que é tarde demais.

Ele pensou bastante no que eu disse ainda admirando a mulher de sorriso fácil e sincero. Georgia estava tão simples! Vestia um jeans comum uma camiseta branca e all star da mesma cor. Andrea estava com um vestido justo bem curtinho com um blasé quase transparente (pra tentar disfarçar!) por cima... Vulgar, como sempre!

–Isso acontece com você? – ele voltou a falar.

–Isso o que? – me senti confusa por alguns segundos.

–Já... Já esteve dividida entre dois amores? – como explicar que sim...?

–Já.

–E seriam eles os dois que brigaram semana passada por você?

–Não! Lion nem consegue me conquistar como amiga; quem dirá como um amor!

–Então você sofre pelo outro garoto... O Walt Stone?

–É tão obvio assim? – perguntei olhando em seus olhos.

–Na verdade, não. Consigo dizer isso porque te conheço melhor que muitos... Para os outros, você continua a mesma menina de sempre.

–É bom saber disso... Mas você nunca esteve dividido, Marcos.

–Sadie...

–Você mesmo disse que nos conhecemos muito bem. Andrea nunca foi uma opção... Mas a Georgia... – dei um sorriso a ele – Seus olhos brilham quando a vê. Um sorriso quase sempre te escapa só quando ouve seu nome e não duvido que seu coração acelere toda vez que seus olhos se encontrem.

–Tá tão na cara assim? – ele sorriu de lado.

–Ta sim. Mas isso é lindo demais pra você esconder.

–Mas Andrea...

–Ela é muito pior do que você pensa.

Sai do auditório deixando todos para trás. Era muito bom poder andar sozinha; ninguém por perto para me incomodar. Assim eu podia “sofrer” no meu silencio. Os corredores eram infinitos e as possibilidades de fuga eram muitas...

Segui até a parte mais antiga do colégio, uma área que não era mais utilizada por ninguém. Era ali que os casais se encontravam durante as aulas ou mesmo no intervalo, ou tinha aqueles que simplesmente querem fugir de só uma aula... Todos vão parar lá. Um colégio inteiro vazio e de acesso fácil.

Entrei na antiga sala do diretor e fiquei lá... Admirando a vista da janela.

CARTER

Foi muito estranho ver a minha irmã chegando com quatro policiais ao seu lado. Já tinha começado a pensar que ela tinha aprontado mais uma vez...

Depois que ela saiu, percebi a professora procurando por alguém... Não gostei do jeito como seus olhos brilharam em vermelho. Ela saiu do auditório normalmente. Não era nada de mais... Não! Siga ela. Veja tudo o que ela faz... Ajude Sadie! . O alarme foi soado de forma urgente na minha cabeça.

Levantei e segui para fora do auditório... O silencio era quebrado apenas pelo som irritante dos saltos da mulher. Segui-os sem presa e sempre longe de poder vê-la; era guiado pelo som... Até ouvir o som da porta se abrindo.

A sala era como uma espécie de museu: existia varias peças históricas como esculturas e pinturas feitas por alunos de todas as classes... A porta estava entreaberta e me senti tentado a espiar o que ela fazia lá.

...De costas para mim, Andrea admirava uma escultura em forma de serpente! Mas não era só isso... A sala se tornou escura de repente; uma sombra era isso o que era... A sombra foi tomando formas na parede... Senti o sangue gelar quando entendi o que via: Apófis estava parcialmente ali.

–... Estamos indo muito bem, mas devagar! – Andrea disse estressada.

Pequena mortal... Andrea, a menina ainda esta cercada de amigos e eles são um grande problema...

–Pensei que se nos livrarmos daquele rapaz lindinho ela estaria derrotada.

Enfraquecida. O menino era um grande problema; agora, a família também é. O irmão sabe muito, mas também pode ser valioso... Ela deve estar só. Você deveria ter se livrado daquelas meninas e dos garotos também. Ela está sofrendo agora, mas não está vencida.

–Quero vê-la sofrer e implorar pela morte...

–Não! Ela não deve ser morta agora. O pai, por mais que eu negue, ainda é um problema...

–Pensei que ele estivesse morto...

–Não subestime os mortos, Andrea... Às vezes a morte só auxilia na beleza de jovenzinhas inocentes...

Andre soltou um grunhido irritado e a sombra riu...

–Mas então não temos riscos?

Temos que manter Walt Stone longe dela. Se eles voltarem a se unir não terei muitas chances...

Sai dali o mais rápido possível. Corri para qualquer lugar que meus pés pudessem me levar, desde que fossem longe daquela sombra... Eu precisava... Precisava o que? Eu nem sabia como reagir a tudo aquilo... Mas eu tinha uma certeza:

Walt e Sadie tinham que estar juntos.

MILENA

Sadie tinha sumido e seu irmão também. O menino que não saia do lado da loira (eu tinha certeza de que ele tinha um tremendo abismo por ela), Walt, estava muito mais quieto e desanimado do que eu já tinha visto; ele parecia estranhamente morto por dentro... Eles tinham algum problema!

~ Converse com a Georgia. De um jeito dela admitir o que sente pelo Marcos...

A mensagem da Sadie me chegou uns bons 15 minutos depois que ela saiu. Levantei e fui para mais perto do palco; nós precisávamos juntar aqueles dois. Não que isso fosse resolver as nossas vidas, mas iria deixar dois pedaços de uma mesma alma juntos. Isso seria muito reconfortante; saber que ainda existem pessoas felizes.

Eu estava usando uma blusa sem mangas branca com bolinhas pequenas vermelhas e com uma gola, um short jeans de marca (lógico!), lindas botinhas pretas e algumas jóias. Meus cabelos estavam presos em uma trança lateral... Por onde eu passava sentia olhares sobre mim.

Fiquei parada longe do povinho e não demorou muito para eu sentir uma presença ao meu lado... Uma presença agradável.

–Você não costumava ficar sozinha. – Georgia chegou com todo o seu charme natural que muitas invejam. Não consegui conter um sorriso; eu havia mudado muito durante esse mês.

–Também costumava ignorar e insultar a Sadie, mas acho que isso também mudou.

–Vocês parecem muito amigas...

O inimigo do meu inimigo é meu amigo. Já ouviu isso?

–Já, embora eu discorde que se apliquem a vocês duas. Não sei quem é este inimigo, mas duvido que essa nova amizade se quebre tão facilmente.

–Como você consegue? – perguntei tão chocada quanto reconfortada; ela era como uma mãe pra mim.

–Consigo o que?

–Consegue acalmar uma duvida, quase um medo, com simples palavras?

–Eu não sei. – ela sorriu de lado e permaneceu perto de mim. Marcos subiu ao palco; agora era a vez do inspetor falar sobre como colaborar para manter a escola segura.

–O Marcos é incrível... – comentei de propósito – Eu o adoro. É como um pai pra mim.

–É. Ele é uma pessoa maravilhosa. – Georgia sorriu e seus olhos emitiram um brilho intenso. Eu não tinha duvidas sobre os sentimentos dela.

–Você acha que ele ama a professora Andrea? – vi Georgia abaixar os olhos como se o assunto lhe causasse dor – Eu acho que não. Nunca vi se quer um sorriso verdadeiro e radiante dele ser dirigido a ela!

–O que? – a professora de artes cênicas tentava esconder um pequeno vestígio de esperança.

–É... Você gosta dele, não gosta? – perguntei como quem pergunta que dia será a prova.

–Olha Milena...

–Porque ele gosta de você. – ela ficou estática durante alguns segundos e percebi seus olhos brilharem. Georgia desviou seus olhos de mim e os focou nos olhos de Marcos. Ambos sustentaram o olhar durante alguns segundos, mas ela desviou seus olhos, constrangida e com as bochechas levemente coradas.

–Não. Milena, ele esta com a...

–Não importa. Ele não quer mais estar com aquela vadia. Ele ama você... E você o ama. – tentava olhar em seus olhos, mas era difícil já que ela parecia tímida demais para me encarar.

–Isso é tão evidente assim?

–É sim. – saí de perto da professora deixando-a pensar sobre tudo o que eu disse. O sinal indicando o intervalo iria soar logo, logo e nós teríamos nossa pequena e maliciosa brincadeira... Mas eu estava preocupada com Sadie. Lógico que eu não admitiria isso em voz alta, mas ok.

–Hey gata! – Jake chegou envolvendo meus ombros. – Tudo pronto para a nossa brincadeira? – um sorriso malicioso e muito lindo surgiu no rosto do moreno. Senti um leve arrepio.

–Tudo... Só falta a Sadie. – comentei perdendo o tom animado.

–Ela deve estar bem... – ele tentou me animar.

–Eu já não sei mais.

O sinal indicando o intervalo soou alto e claro. Deixamos as massas de pessoas irem empolgadas até só sobrar a nossa galera e alguns professores. Ninguem disse nada, mas existia a pergunta muda nos olhos de todos: onde estava a loira e seu irmão?

~ Eu não vou voltar para o intervalo. Aproveitem! =D

Achei que ela precisava ficar sozinha, então fui a primeira a ir para fora do auditório enquanto nossa galera vinha atrás.

–A Sadie não vem? – Austin se manifestou.

–Não. Ela esta aprontando alguma coisa... – dei um sorriso digno de uma marota. O pessoal acreditou e fomos até o refeitório. A tensão já tinha sumido de todos nós e a brincadeira começou quando entramos no grande espaço repleto de mesas.

Com sprays de chantilly, lambuzamos todos os desprevenidos, incluindo nós mesmos... Mas só a sujeira não era o nosso objetivo. Jake veio até mim e demonstrou o que todos logo fariam com o chantilly. O creme em excesso no meu pescoço foi chupado por ele e eu retirei o doce de suas bochechas... Antes que um de nós chegasse aos lábios notamos que as massas de pessoas já estavam se pegando; todos sem qualquer exceção... Então os lábios do moreno chegaram até os meus...

SADIE

–Você nunca foi muito forte sozinha. – a voz vinha carregada de desprezo e felicidade. Andrea estava do outro lado da sala e havia trancado a porta. Tirei os olhos e mais o meu corpo da janela. Não precisava que me dissessem o quão burro eu estava sendo por estar sozinha, mas não deixaria ninguém se ferir por minha causa.

–E você nunca aprende que sozinha ou não eu sempre serei melhor que você. – ele fechou a cara e seus olhos começaram a assumir um tom avermelhado.

–Não sabe com quem esta brincando...

–Sei mais do que imagina. – deixei meus medos de lado e toda a minha preocupação foi direcionada a apenas uma pessoa... – Andrea, por favor, não escute essa voz. Você não precisa dela! – o rosto da mulher se tornou uma mascara de surpresa e logo a risada repleta de escárnio surgiu.

–Acha que vai conseguir me enganar? Tola! Você só quer o poder e acha que esse rostinho bonito te consegue tudo, mas não! Você não vai conseguir nada de mim... Muito menos me tirar esse poder que você não tem! – a cada palavra carregada de raiva, seus olhos escureciam e seus cabelos medianos voavam com um vento forte que não existia. Poder. Era isso o que a cercava e não o vento; o poder que carregava sua voz e cercava suas ações há muito tempo.

–Não quero poder... Andrea, me escute! Não preciso e não quero tirar nada de você... – ela riu mais uma vez – Por quê? Por que me quer morta? – ela ia começar a responder, mas não seria a resposta que eu queria – Não! Quero ouvir o que você pensa. Ignore essa voz e só me diga o porquê.

–ESTOU CANSADA DE FICAR PARA TRÁS! VOCÊ E SUAS AMIGAS NÃO DEVERIAM SER COMO SÃO! QUERO VOCÊS MORTAS E NUNCA MAIS SEREI PASSADA PARA TRÁS! NUNCA...

Ela começou a correr em minha direção... Então apelei para outra estratégia.

–Por isso você matou a Annabella. – ela parou quando ouviu esse nome.

–Ela mereceu morrer do jeito que morreu.

–E você se sentiu muito melhor depois de cravar a faca no pescoço da sua irmã, não foi?

–Aquela vadia tinha tudo o que era pra ser meu! – ela rosnava e a raiva parecia dar e tirar, ao mesmo tempo, suas forças. – A pequena Bella era tudo naquela família.

–Ela era só uma menina, Andrea! – eu disse horrorizada mesmo já sabendo da história toda.

–Não importa! – ela sorriu de uma forma macabra e confesso que me arrepiei – Vi o medo em seus olhos quando peguei a faca. Ela implorou que eu a deixasse em paz... Mas eu dei paz a ela e paz a mim mesma! Vi aquele sangue espesso e quente saindo do seu corpo delicado e perfeito... Depois matei minha mãezinha desprezível... Papai fugiu e enlouqueceu não muito tempo depois.

Um minuto de silencio se fez presente, mas ela continuou.

–Você me lembra muito ela... Annabella – seu tom de voz abaixou – É parecida demais... Tambem é forte... Delicada... Linda... Perfeita demais... Vou sentir o mesmo prazer tirando sua vida... – sua voz começou a ficar rouca... E de repente, a voz não era mais dela – Boa morte, Sadie Kane! Foi muito divertido brincar com você e com todos...

Apófis tinha agora total controle sobre a minha professora... Mas nenhum dos dois sabia que o colégio inteiro tinha escutado nossas palavras... Mas antes de qualquer coisa, a antiga sala agora estava em chamas... E o Caos vinha pra cima de mim com força.

MILENA

Antes de todo o silencio se estabelecer e as duas vozes se destacarem, o pátio era um caos: meninos e meninas estavam se pegando abertamente, casais se assumiam e outros se formavam; o importante era não desperdiçar aquele creme adocicado e a oportunidade de desobedecer às regras sobre namoro da escola.

Jake e eu parecíamos nunca ter experimentado caricias antes. Suas mãos firmes me envolviam o corpo e seus lábios tiravam o chantilly do meu corpo. Enquanto isso reparei ao longe no refeitório duas pessoas a quem eu nunca esqueceria: Marcos e Georgia olhavam tudo surpresos de mais para falar...

Liz e Emma correram até os dois e os cobriram de chantilly. Eles se olharam chocados... E depois seus corpos se encontraram em beijo ardente e doce. Eu ri muito. Finalmente as coisas funcionavam para nós!

... Carter apareceu confuso, mas assim que viu a Zia puxou-a para perto de si enquanto os dois se lambuzavam e se beijavam ao mesmo tempo. Liz, Emma e até Gabi pegavam os nossos garotos apenas por pegar, já que não existiam nada alem de desejo nos olhos dos seis... Walt tinha uma menina nos braços que não parava de agarrá-lo e que, estranhamente, me fez sentir raiva...

Finalmente entendi o que estava errado!

Larguei Jake e sai na direção da vadia. Peguei Marcella pelos cabelos e a arrastei até longe do Walt; joguei-a no chão e, quando ela ia começar a gritar, enchi sua boca de chantilly e cobri todo o seu rosto.

–Fique bem longe do que não é seu vadiazinha! – rosnei para ela enquanto apenas Jake e Walt me encaravam surpresos e confusos.

–O que...? – Walt começou.

–Você tem problema? O que estava fazendo com aquela coisa?

Ele me olhou abismado.

–Eu não entendia antes, mas agora entendo tudo. Você deveria estar coma a Sadie e ela com você!

–Ela gosta do Lion... – ele começou, mas pude ver um brilho intenso de dor ali em seus olhos.

–Não, não gosta e também não gosta de você. Vocês são muito burros! Sadie mente o tempo todo e por diversas razões... Não consegue pensar por que ela mentiu agora? Você pertence a ela... E ela a você!

Antes que ele respondesse os professores restantes e a direção apareceram no pátio pedindo por ordem. Os policiais que vieram com a Sadie também surgiram... E as duas vozes se destacaram e o silencio reinou... Não demorou a Carter, Walt, eu e o resto da nossa turma puxar a galera que corria para salvar a loira.

Ela já tinha salvado cada um de nós e nós variamos todo o possível por ela.

SADIE

Ela me jogou no chão tentando me cortar com uma faca... Reconheci a lamina como sendo a mesma que tirará a vida de Annabella; ainda existiam manchas de sangue seco no instrumento... Joguei a faca para longe, fazendo-a sumir no fogo. Minhas unhas foram cravadas no rosto da professora enquanto eu sentia pequenos filetes de sangue escorrer. Joguei-a para o lado e me levantei... Para onde eu poderia ir? A sala inteira estava em chamas, mas eu não processava bem o calor.

Senti uma vontade indescritível de chorar... Não por mim, mas por aquela vida, aquela alma perdida em um mar de Caos. Tentei encostar em algo sólido, qualquer coisa que pudesse apoiar meu corpo.

A fumaça tapava minha visão do que ainda não tinha sido consumido pelas chamas e o ar começava a pesar ao meu redor... O rosto saiu do meio do fogo vindo até mim. Suas mãos puxavam meus cabelos presos e o ar começou a me faltar... Então era assim que terminava? Era esse o começo do fim?

Não eu precisava tentar... Senti uma sombra de uma brisa fraca me dando forças... Joguei aquele corpo para longe antes que ela voltasse a chegar até mim.

– Annabella perdoou você por todos esses anos; ela te perdoou por tudo... Ela queria que você voltasse a estar bem... Ela te admirava pelo o que você era... Você era o modelo dela... Sempre foi!

–NÃO! ELA ESTA MORTA! – sua voz voltou ao normal, mas logo o Caos assumiu seu corpo de novo – Não vai conseguir, pequena maga! Não deixarei que estrague meus planos...

–Annabella? – chamei o espírito com um sorriso no rosto, mas com um olhar melancólico.

–Ola. Quem é você?

–Não importa agora. Quero falar da sua irmã.

Seu sorriso falso sumiu no mesmo instante.

–Ela era o meu modelo; sempre foi o meu ideal... Mas ela não percebia isso e meus pais também não. – papai olhou de mim para ela chocado enquanto eu passava meu celular a ele.

–Por que...?

–Por que estou morta? – Bella sorriu com tristeza. - Minha irmã era deficiente mental, por isso eu era o orgulho dos meus pais. - lágrimas surgiram nos olhos da menina – Ela sempre foi tão forte!

Meu silencio era devido ao choque... Meu pai só olhava de mim para ela.

–Ela podia melhorar; o seu problema não era muito grave... E ela melhorou. Foi o dia em que mais estive feliz. Mas nossos pais agiam como se nada tivesse mudado... Andrea se rendeu ao ódio naquele dia; tirou o orgulho dos olhos da família que a rejeitou...

–Isso é o que mais te dói, não? – minha voz soou muito compreensiva – Saber que seus pais destruíram as duas filhas.

–O que mais me dói é não poder perdoá-los!

Fiquei quieta decidindo se contava ou não, mas Annabella sofria tanto que não tive coragem de negar contar uma verdade, mesmo ela sendo tão dolorosa.

–Andrea me persegue. – a menina levantou seus olhos como se só agora me visse – Ela me quer morta; a mim e as minhas amigas pelo motivo que matou você primeiro.

–Por orgulho ferido? – Bella me olhou confusa – O que vocês fizeram para ferir o orgulho de minha irmã?

–Nada... A não ser, aos olhos dos outros, sermos mais bonitas que ela...

–Ajude-a! Por favor, eu te imploro, menina... Ajude minha irmã a se encontrar! Se eu não pude perdoá-la pessoalmente você pode transmitir minhas palavras...

–Não subestime os mortos... – isso pareceu mexer com ela; tossi diversas vezes, me engasgando com a fumaça logo depois. Minha visão começou a escurecer devido a falta de ar e o fogo que parecia não sumir... – Andrea... Eu te perdôo!

Deitada no chão, meu mundo pareceu girar e minha professora voltou aos poucos ao normal, enquanto todas as sombras gritavam em desespero. O corpo caiu no chão inconsciente, mas, finalmente, normal. Levantei do chão e usando o resto das forças que me sobravam, protegi seu corpo do fogo usando magia.

Não demorou em entrarem pessoas na sala em chamas. O fogo foi sumindo e minha visão também. A ultima coisa de que tive certeza foi de braços fortes me envolvendo com cuidado e de alguém levando a professora também... Depois o mundo virou nada alem de uma grande sombra.

CARTER

Invadir a sala foi fácil e como Walt, Zia e eu chegamos primeiro que os outros começamos a apagar o fogo. Minha irmã estava sentada no chão e concentrando suas forças em proteger aquela vida, o corpo inconsciente de Andrea deitado no chão, mas ela estava fraca.

Deixei que Walt a pegasse, assim que vi a dor em seus olhos. Sadie desmaiou no instante em que Walt a ergueu nos braços.

Fiquei estático vendo a dor do menino e a força e bondade da minha irmã; ela com certeza sabia ser má, mas era boa e sabia ser justa. Depois do que tinha visto hoje, não tinha certeza se poderia chegar a fazer o que Sadie fez. Eu não conseguiria poupar aquela vida...

Os policiais levaram o corpo de Andrea enquanto o diretor dispensava os outros alunos. Na secretaria, deixamos o corpo inconsciente de Sadie descansar no sofá. A respiração dela era quase inexistente e seu coração batia de forma bem fraca. Walt, ajoelhado ao lado do sofá, tinha os olhos marejados. Milena e as outras meninas choravam em silencio copiosamente. Zia me abraçou e, nós dois, assim como Walt, tínhamos os olhos marejados. Todos sofriam ali... Ninguem mais do Walt.

O policial amigo da minha irmã entrou com um aparelho de oxigênio. Sadie estava cada vez mais pálida... Não! Não podia perdê-la! Ela era tudo o que me restava de uma família...

O movimento em seu peito devido à tosse foi maravilhoso de se ver. Todos gritaram e suspiraram aliviados. Seus olhos se abriram fracos, desceram pela lateral de seu corpo até encontrar sua mão... Sua mão sendo segurada firmemente por Walt...

–Me desculpa? – ele sussurrou; Walt só assentiu.

[...]

–Eu não acredito que você protegeu a professora do fogo! – as meninas exclamavam abismadas com o fato. Todos nós andávamos em direção a saída. Andrea seria levada para uma clinica de reabilitação e depois seria presa por seus crimes.

–Ela sofreu mais do que parece. – minha irmã era incrivelmente sábia, mas eu nunca diria isso a ela.

–Mesmo assim – Gabriela retrucou de forma mais calma – Não existe desculpa para o que ela fez.

–Existe sim. – Sadie sorriu para as caras abismadas – Eu a perdoei por tudo. – ela deu de ombros – Não vivo no passado e guardar rancor seria ruim para nós duas...

Chegamos ao portão e, subitamente, paramos de andar.

–Tudo vai ser diferente agora, não vai? – Austin tinha uma sombra de medo.

–Vai. – Emma respondeu.

–Mas será que será melhor? – Miguel tinha a mesma duvida; todos tinham a mesma duvida.

–Eu espero que sim. – Sadie olhava para longe.

Segundos foram passados em silencio até a noticia surpreender a todos...

–Eu vou embora – Sadie olhou abismada para Walt, assim como todos. – Não sei se volto, mas preciso passar um tempo longe daqui. – a frase, estranhamente, parecia ter um complemento: longe de você!

Eu sabia que Sadie estava arrasada, mas ela não demonstraria. Eu sabia que não.

–Quando você vai?- perguntei o que ninguém foi capaz de perguntar.

–Agora mesmo. – eu não fazia idéia de como Sadie ainda estava viva depois de tudo isso. Eu com certeza estaria despedaçado. Pude ver minha irmã suspirar.

–Ainda tenho que falar com o Max. – ela falou mais para si do que para os outros; ela se virou para Walt – Faça uma boa viagem. – ela lhe deu um leve abraço e foi embora... Mas eu fui o único que vi uma única lágrima escorrer por aquele rostinho de porcelana.

O pessoal se despediu de Walt e foi embora; Milena simplesmente balançou a cabeça de forma negativa e saiu. Zia também foi embora... No fim éramos apenas Walt e eu.

–Sei por que você está indo e o que quer fazer. – comentei olhando para frente.

–Então diga.

–Fugir não vai aliviar a dor que você sente, Walt. E se você se livrar de Anúbis... Dará na mesma.

–Não posso mais ficar me iludindo, Carter. Anúbis também não. Fazer isso é o melhor para nós três.

–ELA TE AMA! – gritei já cansado de ver os dois sofrerem – Vê se coloca isso na sua cabeça: ela só mentiu pra proteger você. Eu nunca vi nada tão forte... Mas veja você mesmo. – assim como Sadie fez, mostrei a Walt tudo o que minha irmã tinha me mostrado, tudo o que ela sentia... – Agora você já sabe, como e por quê. – ele continuou em silencio olhando para baixo – Decida o que é melhor sozinho, mas pense. E se for embora... Se você for, não volte para magoar a minha irmã. Ela já passou por coisas demais.

Foi a minha vez de ir embora.

SADIE

[...]

Uma semana. Uma semana era o tempo que eu tinha passado me sentindo tão fazia por dentro quanto possível... Eu culpava a ausência do colar por isso.

Dizem que o tempo cura tudo. Mas eles não conheceram a dor que nós dois passamos ou mesmo as cicatrizes que essa dor causou. Se a mágoa fosse algo físico, eu suportaria. Agora a única coisa que é capaz de me curar é a única que está e machuca minha mente.

Eu decidi que, se pudesse, esqueceria dele e seguiria em frente. Afinal eu tinha feito grandes milagres.

Todas as tardes, ignorando os pedidos dos meus avôs e dos meus amigos, eu visitava Andrea. Todos os seus médicos e os policiais que acompanhavam o caso se surpreenderam com a minha vontade de estar lá e de querer ajudá-la. Quando ela estava consciente, longe dos remédios, eu conversava com ela; contava sobre sua família, sobre como eles sentiam muito e que lhe pediam perdão.

No fim, ela conseguiu sorrir sinceramente para mim. “Obrigada por não desistir de mim!” as palavras ficaram guardadas no mais fundo de mim; não conseguiria esquecer o quão bonita Andrea estava ao ser sincera.

Também tínhamos novos casais na escola: Jake e Milena finalmente saíram dos olhares de cobiça e embora ninguém saiba dizer se vai durar ou não, é visível que eles estão felizes. Georgia e Marcos estavam irradiando felicidade. Era tão reconfortante observar a felicidade e a paixão intensa daqueles dois que eu conseguia esquecer o mundo.

Eu sou um daqueles poucos magos que conseguem ver o futuro, assim como a minha mãe, e enquanto observava aqueles dois não consegui deixar de sorrir com o que vi:

Já havia se passado dois anos. Marcos estava lindo com o seu smoking em um lindo altar. Atrás e para o lado estávamos nós: Milena e eu com vestidos brancos daqueles curtos na frente e mais longos atrás; madrinhas, nós éramos as madrinhas e damas de honra ao mesmo tempo... Georgia era o centro das atenções com o vestido branco e o buque de rosas amarelas...

A visão sumiu, mas o meu sorriso, naquele dia, permaneceu.

Carter e Zia ficaram em Londres e só voltariam no começo do ano, já que os iniciados estavam viajando ou com suas famílias. Era muito bom ter meu irmão por perto. Ele parecia ser o único que entendia como eu estava e dedicava sempre sua atenção em mim. Quem nos visse pensaria que éramos aqueles irmãos unidos que nunca brigam e nem se separam...

Meus pais e os deuses pareciam saber que tudo estava bem e eu esperava que, agora, o sorriso de Annabella chegasse até seus olhos e que sua família finalmente tivesse a paz que precisavam.

Hoje era sexta-feira; exata uma semana desde que eu não o via. Já tinha passado grande parte da minha tarde andando de skate com meus amigos. Já eram 5h da tarde.

Agora eu tomava um banho longo e morno. Coloquei uma calça dourada e uma regata preta com alguns babados nas mangas, uma bota de cano curto e algumas pulseiras. Passei apenas um pouco de rimel a prova de água e um gloss de morango nos lábios. Penteei meus cabelos e saí do meu quarto.

–Linda como sempre. – meu avô me beijou a testa e me deixou sair.

Caminhei sem prestar atenção no que estava ao meu redor. O Starbucks era quase um ponto de encontro para mim. Iria encontrar duas pessoas lá... Marcos e Georgia estavam já sentados em uma mesa próxima a janela. Sorri vendo os dois juntos...

–Oie – eles sorriram quando me viram. Pedimos nossos cafés e nós começamos a conversar sobre arte: musicas, instrumentos e danças. Foi divertido, mas eles não tinham me convidado para isso.

–Sadie, nós... – a voz de Georgia sumiu quando ela não soube o que falar.

–Nós – continuou Marcos – queríamos saber como podemos te agradecer. Podemos te dar algo...

–Não! Podem parar por aí. – reclamei - Não quero ouvir mais nada. Alem do mais, não fui só eu.

–Milena nos contou que foi você quem percebeu nossas reações. – a professora finalmente conseguiu falar.

–Mesmo assim...

–Queremos lhe dar algo em troca. – Marcos insistiu.

–Está bem! – me rendi erguendo as mãos para cima e rindo enquanto os dois sorriram vitoriosos – Querem me dar algo, não é? Então continuem com esses sorrisos tão radiantes que estão nos rostos de vocês.

–Sadie... Isso não é um presente. – Georgia reclamou surpresa com meu pedido.

–É sim! Vocês não sabem o quanto os sorrisos eram falsos uma semana atrás; nem sequer conseguiam alcançar seus olhos como agora. Vocês não têm que me dar nada, mas se insistem em me dar um desejo é isso: não quero ver vocês infelizes nunca mais!

Com lágrimas nos olhos, ganhei dois abraços fortes.

Não demorou muito para eu ir embora. Afinal, já estava escurecendo e uma ameaça de chuva pairava no ar. Mesmo assim, recusei a carona dos dois pombinhos.

O caminho todo foi doloroso. Todos os sentimentos e sensações que eu vinha ignorando durante toda a semana vieram com força e foi difícil me controlar para continuar andando.

Eu estava simplesmente perdida na distancia. A última vez em que nossos olhos realmente se encontraram, eu não era nada além de uma estranha para ele. Eu queria apagar meus pensamentos relacionados a ele, mas era algo impossível. Comecei a desejar que Walt não tivesse aparecido naquele dia no beco sem saída, assim nenhum de nós estaria sofrendo (se é que ele sofria por mim). Eu ia acabar perdendo minha cabeça...

Um relâmpago cortou o céu e uma chuva forte começou a cair. Meus cabelos já estavam colados no meu corpo assim como as minhas roupas, mas não me importei com isso. Era o meio do outono e já estava bastante frio. A água caia gelada sobre mim; senti o corpo tremer, mas ignorei isso também... O frio nunca me incomodou mesmo.

Se eu não conseguia esquecê-lo, poderia pensar nos bons momentos que nos tivemos, nas melhores sensações que já senti: ele me fazia perder o chão, girar no ar, me deixava louca, perdida em seus olhos, o jeito que se aproximava devagar olhando profundamente em meus olhos... Eu guardaria tudo de bom e jogaria o resto fora se conseguisse, mas acho que eu preferia sentir dor a não sentir mais nada.

Achei que amar fosse fácil, mas tinha sido difícil de encontrá-lo. Queria me entregar a ele; deixar meu coração me guiar até ele... Mas mesmo que ele voltasse como poderíamos estar juntos? Apófis ainda me preocupava.

Será que outro alguém ainda viria para me fazer sorrir e curar essa dor? Que falasse o que eu preciso e tivesse um sorriso tão doce quanto o dele? Não, eu sabia que não. Às vezes eu me pergunto se eu viverei sem...

Meu pulso foi agarrado com força e um puxão forte me fez girar. Meu corpo colidiu com outro e a principio não notei quem era já que a chuva dificultava bastante... Mas seria impossível não reconhecer o calor daquele corpo. As lágrimas finalmente surgiram e começaram a cair... Quando seus lábios chegaram aos meus...

Foi como se fosse o primeiro beijo: o toque singelo, lento e quase apreensivo, como se experimentássemos um doce completamente desconhecido. Meus lábios e os deles se encaixavam tão bem... Descansei minhas mãos em seus braços que cercavam minha cintura... E me afastei.

–Não... Walt, eu não posso... – não poderia colocá-lo em risco.

–Sadie, eu já sei... – sua voz foi tão doce e tão cheia de dor que mais lágrimas caíram dos meus olhos – Não vou deixar você enfrentar o Caos sozinha e não importa o que diga, eu sempre vou estar aqui com você. – suas mãos me acariciavam o rosto.

–Como soube?

–O Carter...

–Eu não sei se mato ele... Ou se agradeço. – ficamos em silencio por alguns segundos, deixando a chuva prateada cair sobre nós – Não posso por você em risco... Eu não suportaria...

Seu corpo voltou a se encontrar com o meu, enquanto ele erguia meu queixo, me forçando a olhar em seus olhos... O brilho em tom de chocolate surgiu...

–Eu já vi de tudo acontecer. Já vi milagres e vi a dor desaparecer... Mas continuo sem ver nada que me encante tanto quanto você. Como, onde e quando não me importa. Eu sempre vou dar tudo de mim a você, loira... Sempre. – seus lábios voltaram aos meus e assim ficaram. Suas mãos subiram pelas minhas costas trazendo um calor gostoso contrario da chuva. Eu só parei com as mãos em sua nuca, prendendo-o a mim sem fazer qualquer força.

–Não vai me deixar mais? – sussurrei ainda entre o beijo molhado que ele me dava. Era com grande esforço que nossas vozes saiam... Senti um peso ao redor do pescoço e, mesmo sem olhar, já sabia que Walt tinha devolvido meu colar.

–Nunca mais – cheio de desejo e ambição, sedento por verdades, Walt voltou a colar seus lábios aos meus. Foi algo intenso e foi o primeiro beijo em que nenhum de nós se conteve. As mentiras já tinham sumido e cada caricia era uma verdade. Tive a impressão de ser puxada para cima; envolvi meu braço ao redor de seu pescoço, deixando minha outra mão escorre sobre o braço que me prendia a ele.

Mas é lógico que o ar não colabora comigo... Walt parou os beijos em selinhos, como se temendo separar seus lábios dos meus...

–Sadie... Você me ama como eu amo você? – não tive duvidas nem receios... Nunca mais teria.

–Não... – ele olhou em meus olhos, cheio de dor – Eu sempre vou te amar mais! – nunca vi um sorriso tão radiante.

–Então você me ama? – seu tom era o mais alegre possível.

–Sim.

–Sim? – nenhum de nós cabia em si de tanta felicidade.

–Sim! – ele me girou no ar e, enquanto a chuva banhada por um luar prateado caía, mais beijos foram trocados.

[...]

Naquela noite me sentia em paz comigo mesma, embora soubesse que o caos logo voltaria, mas eu nunca estive sozinha e nunca me senti mais segura... Fechei meus olhos... E adormeci.

Assim que abri os olhos reconheci aquele lugar vagamente. Notei que estava na minha condição de humana e isso era satisfatório... Mas notei que estava em um cemitério...

–Sadie. – a voz me chamou as minhas costas... Esperei tempo demais para ouvir essa voz de novo. Anúbis tinha um meio sorriso e um brilho intenso nos olhos chocolates. Não perdi meu tempo com palavras... Em menos de um segundo os lábios do deus já estavam sobre os meus...

Já havia me perguntado se um de nós sobreviveria se o outro não voltasse. Eu não sabia a resposta, mas ela sempre esteve estampada em cada lugar em que pudéssemos olhar.

Como o outono sobrevive sem o vento? Ou a primavera sem as cores? Assim como a noite é escura e cheia de terrores, o dia é claramente belo, irradiando esperança. Tínhamos o ódio e o amor. Preto e Branco. Inverno e verão. Dor e prazer. Vida e morte... Sempre haveria opostos... E um oposto sempre precisa do outro para existir... Precisávamos um do outro!

Independente do que outros digam ou pensem, eu cheguei até a resposta: nenhum de nós sobreviveria sozinho. Se ele não voltasse... Se eu não voltasse... O mundo seria incompleto e cinza para nós. Nevaria no verão e os lábios nunca mais se incendiariam em desejo...

Soquei o ombro de Anúbis com força.

–Ai! – ele exclamou ainda com um sorriso no rosto.

–Você me deixou esperando por tempo de mais, cachorro. – reclamei com toda a razão.

Ele riu.

–Então eu vou te compensar por isso. – ele chegou mais perto, afastando meus cabelos do meu rosto.

–É bom mesmo.

Se eu não voltasse, você sobreviveria sem mim?

... Não!


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Notas finais do capítulo

Mesmo depois de esta fic terminar, manifeste sua opinião: coment, favorite ou recomende! Responderei e agradecerei mesmo depois de bastante tempo.
Obrigada de coração a todos sem qualquer excessão, mesmo aqueles que abandonaram a fic no meio ou só deixaram de comentar... Todos foram realmente importantes e fizeram dessa fic ser maravilhosa de escrever.
Amores, eu adoro vocês...
Beijos =D



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