Filhos De Caim escrita por Walber Florencio


Capítulo 1
Capítulo-Único




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11.942 anos a. C.

Durante muitas milhas entre o Mar Mediterrâneo e o Rio Tigre, não havia nada. Somente as areias do deserto. Uma vasta extensão de terra infértil, que ia ganhando cor à medida que as águas do Tigre penetravam no solo.

Um bando de crianças choronas, mal vestidas e famintas corria por entre as tendas agrupadas em volta de um pequenino lago, algo semelhante a um oásis. Algumas mulheres preparavam a comida, reunidas em volta de uma fogueira, enquanto as mais velhas olhavam as crianças. Os homens caçavam e colhiam nos arredores do acampamento. Havia cerca de trinta famílias ali, ou talvez até mais. Eram os descendentes de Caim. Já estavam ali há algum tempo, embora o local fosse só um acampamento.

Os humanos veneravam seus antepassados, principalmente os falecidos Adão e Eva, que eram os maiores dentre os antigos. E quanto mais os chamados filhos de Caim prosperavam, mais crescia o ódio dos arcanjos.

***

O conselho dos arcanjos, a alta cúpula da sociedade celeste, estava reunido no Palácio Celestial. Era um majestoso castelo de luz, lapidado em ouro e mármore. Em seu interior, sentados em suntuosos tronos de luz, os arautos de Deus, os arcanjos Miguel, Gabriel, Lúcifer, Rafael, Ariel, Azrael e Balthazar. Cada um deles representava uma das sete castas de anjos.

O conselho era presidido por Miguel e ele tomava todas as decisões. O Pai nunca se via presente, embora a sua força se fizesse sentir em todo lugar. Nenhum dos anjos normais jamais vira a face de Deus, nem mesmo os arcanjos tiveram essa dádiva, com exceção de Miguel. Por isso, o Príncipe dos Arcanjos levava à tona suas vontades, justificando como a vontade Dele.

Ariel, a Dominadora de Fogo, e Rafael, a Cura de Deus, foram os únicos arcanjos a se opor à opinião de Lúcifer, que sugeriu exterminar os filhos de Caim como a saída para o fim da adoração aos “macacos”. Todos os outros, inflamados pelo ciúme dos “bonecos de barro” concordaram com a ideia. Miguel, assim sendo, deu a ordem ao seu exercito de querubins.

***

A legião de querubins, os anjos guerreiros, cortou o céu, deixando o interior da enorme nuvem que explodia em fogo e calor logo atrás de si. Era formada pelos vinte anjos escolhidos a dedo por Miguel. Formidáveis guerreiros, conhecidos e temidos pela frieza e a obsessão à lealdade para com Miguel.

Miguel ia à frente da legião. Era um anjo imponente, corpo musculoso, o rosto cheio de cicatrizes horrendas, adquiridas nas Batalhas Primordiais. Mantinha os negros e longos cabelos atados em uma trança comprida e a barba por fazer. O corpo atlético coberto por uma belíssima armadura de ouro, com placas não só torácicas, mas também para braços e pernas. O barulho de suas asas fazia o solo do deserto tremer como que atingido por um terremoto.

Já era quase noite quando os habitantes do acampamento sentiram o chão tremer e viram o céu pegar fogo.

Ninguém sabia ao certo o que fazer. Os idosos olhavam a explosão no céu, que aqueceu o ar gelado do início da noite. Os adultos hesitaram por um momento, mas logo depois ficaram esperando, todos olhando para cima, contemplando o belo espetáculo de luz e cores, concluindo que aquilo só podia ser uma manifestação de seus heróis.

Como que em um gesto mútuo, os habitantes do acampamento puseram-se de joelhos a proferir preces. Todos rezavam por si, e a maioria agradecia aos deuses pela visão que mudaria as suas vidas. Infelizmente, eles estavam certos.

Então, alguém avistou uma formação de homens com asas deslizando no firmamento, semelhantes aos pássaros, com algo de metal dourado sobre o peito, e espadas brilhantes nas mãos.

Ao alcançar o acampamento que se estendia abaixo deles, Miguel fez um movimento com sua espada, apontando na direção da pequena aldeia, solitária na imensidão do deserto.

Os homens e as mulheres permaneciam ajoelhados, rezando, enquanto as crianças e os idosos corriam apavorados, já pressentindo o perigo que estava por vir.

O primeiro anjo a atacar foi Miguel, brandindo sua magnifica espada flamejante, a Chama de Deus, em um golpe circular, fazendo queimar uma das tendas ao centro do acampamento, fulminando seus ocupantes.

Agora, a maioria fugia. Alguns atacavam com as inúteis armas que possuíam, e outros esperavam parados a chegada de seu cruel destino. Não havia como escapar. As tendas estavam em chamas e a fumaça já atingia o céu, iluminado agora pela luz da lua cheia que acabara de nascer no horizonte.

O Príncipe dos Arcanjos, então, desceu em voo rasante por entre as pobres almas. O alado abriu ao máximo suas gigantescas asas brancas com as bordas afiadas e, enquanto passava por entre os homens, suas penas cortavam as cabeças dos indefesos mortais, que tombaram de imediato, o sangue sendo rapidamente absorvido pela areia grossa.

Quando enfim, a chacina havia acabado Miguel ordena o retorno da legião. Estava terminada sua tarefa de por fim aos filhos de Caim. Restavam dois ou três acampamentos humanos, mas aquele era o maior dentre eles.

No entanto seu extermínio serviria de exemplo para os demais bonecos de barros.


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Notas finais do capítulo

Esta história não terá uma continuação, mas eu gostaria de saber o que vocês acharam... Comentem, please! =)



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