Meu Anjo escrita por Mari May


Capítulo 6
Ultimato para Kiba




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         Sábado, fomos ensaiar na casa de Sakura. E ela se saiu incrivelmente bem, assim como nos outros ensaios. Pelo menos vou contracenar com alguém que sabe mesmo atuar. E concordamos em deixar a cena do beijo apenas para a apresentação em vez de já ir ensaiando antes, pois assim será mais “realista”, “emocionante”, ou seja lá qual for o termo mais apropriado.

         Segunda-feira, Kakashi-sensei quis saber como andavam os ensaios e fomos para o auditório. Por isso, decidimos nos conceder uma folga naquela tarde e não ensaiamos depois das aulas.

         No dia seguinte, Kiba retornou da suspensão de uma semana e, sempre que alguém perguntava o que havia acontecido, ele respondia secamente: “Não te interessa!”

         Além disso... Não pude deixar de notar seus olhares raivosos para Sakura de vez em quando.

Será possível que ele aprontaria mais uma? Por via das dúvidas, eu ficaria de olho. Discretamente, claro.

         Na hora do recreio, vejo Kiba falando alguma coisa com Sakura, ela assentindo com a cabeça e depois falando com Ino, que assentiu também com um olhar confuso e saiu de sala com Lee, Tenten, Hinata, Shikamaru e Chouji.

Saí de sala com Naruto e, após andar um pouco, falei que precisava ir ao banheiro e que ele podia descer, aproveitando pra comprar meu lanche.

Dei-lhe o dinheiro e fiquei no banheiro até ele sumir da minha vista. Voltei à sala sorrateiramente pra ver o que estava acontecendo.

         Me aproximei, e vi que a porta estava recostada. Sem fazer o menor ruído, comecei a escutar:

- Não sei o que quer tanto falar comigo.

- Você é mais esperta do que eu imaginava... Por sua culpa, ganhei suspensão. Perdi UMA SEMANA de matéria!

- Aonde quer chegar?

- Já que a culpa foi sua, vai copiar pra mim tudo o que eu perdi.

- Hahahaha, essa é boa! – ela respondeu, sarcástica, mais uma vez enfrentando o Kiba.

- Eu não tô de brincadeira, garota! Uso a força se for preciso! VOCÊ ME PAGA!

- AAAAAH!

         Ouço o barulho de uma carteira se arrastando. Kiba empurrou Sakura???

- Shhh! Não grita! Isso é pra você aprender de vez com quem tá se metendo! Quero as matérias da semana passada e de ontem AMANHÃ, entendeu???

- Vai ficar querendo!

- Ora, sua va...!!!

- Chega, Kiba!!! – falei, adentrando a sala.

         Ambos se surpreenderam.

         Como imaginei, Sakura havia sido empurrada numa carteira com tanta força que ela virou, e agora estava no chão.

- Não se meta, Sasuke!!!

- Me meto sim, seu covarde!!! Onde já se viu tratar uma mulher com tamanha brutalidade, seu monstro???

- Cala a boca!!! Já falei pra não se met...!!!

         Não agüentei e dei um soco na boca dele.

- Ai, seu filho da...!!!

- Me sinto enojado por sujar minha mão com seu sangue imundo. Mas foi necessário.

- Grrr... – ele tentou me acertar um soco, mas não conseguiu, pois me esquivei a tempo.

         Começamos a lutar ali mesmo. Mas eu apenas contra-atacava. Kiba tentava me acertar e eu desviava. Sakura ficava olhando, assustada demais para ter qualquer reação.

Tudo estava indo bem, até que, num descuido, ele acertou meu estômago e cambaleei um pouco, de cabeça baixa. Foi a deixa pra ele me acertar em cheio no rosto.

- Argh!

- Hahahahaha, bem-feito!

- Hunf!

         Dei-lhe um chute tão forte que ele, além de cambalear, caiu no chão.

         Antes que levantasse, o peguei pelo colarinho e disse:

- Fui eu quem deu a idéia das impressões digitais. Você sabe que meu pai trabalha com essas coisas. – Kiba arregalou os olhos, surpreso com a revelação – Por isso, não se atreva mais a ameaçar a Sakura. Por mais que ela tenha te ofendido, você não devia ter tomado atitudes tão baixas, seu canalha escroto!!! – dei uma joelhada em seu estômago, fazendo-o tossir – Vamos fazer um trato: deixe a Sakura em paz e não vou dar queixa de você pra direção. – tiro meu celular do bolso da calça e lhe mostro – Gravei uma parte da conversa de vocês aqui e tudo o que falamos. Cuidado com o que fizer daqui pra frente, a não ser que queira ser expulso. Deixa de ser bunda mole e assuma seus erros. Copie as matérias que perdeu em vez de se aproveitar dos outros com suas ameacinhas infantis. Vê se cresce!!!

         Após meu discurso, larguei Kiba de qualquer maneira. Ele saiu de sala furioso, resmungando alguns palavrões, e gemendo de dor por causa dos ferimentos. Mas não era nada que precisasse de enfermaria.

         Meu caso era mais crítico, pois além dele ter me machucado, eu estava febril desde ontem à noite.

         A força esvaiu de minhas pernas e caí de joelhos.

- Sasuke-kun!!! – Sakura exclamou, vindo na minha direção.

- Não se preocupe... Eu só...!

         Ela me interrompeu, pondo a mão na minha testa.

- Credo! Você tá ardendo de febre!

- Já disse que...!

- Cala essa boca!!! – ordenou, me assustando com o tom de voz de repente elevado – Como tem coragem de bancar o valentão nesse estado???

- Mas foi “bancando o valentão” que te salvei daquele verme, sua ingrata! – respondi, bastante indignado.

- Não é isso, seu ignorante!!!

- Então, o q...???

- Vem, vamos pra enfermaria JÁ!!!

- Mas não preci...!

- Cala a boca, já falei!!!

         Assim, fui arrastado (literalmente) pela dama de cabelo rosa até a enfermaria, ao mesmo tempo em que filosofava sobre como uma menina tão doce e delicada poderia virar uma fera quando irritada.

         Chegando lá, muito a contragosto, deixei a enfermeira me atender. Ela perguntou como consegui aqueles ferimentos, e respondi que havia tropeçado. Ela pareceu não acreditar muito, mas pelo menos me poupou de mais perguntas e me mandou ficar em repouso lá na maca, que ficava no cômodo ao lado.

         Ouvi quando Sakura perguntou se poderia ficar comigo até o final do recreio, e a enfermeira disse que sim.

         Então, ela veio e sentou no banco que ficava ao lado da maca.

- Como se sente?

- Cansado.

- Antes cansado do que desmaiado.

- Você é muito exagerada...

- Por pouco você não perde pro Kiba!!! E se desmaiasse no meio da briga??? – sussurrou pra enfermeira não ouvir, mas expressando sua revolta.

- Não interessa! Eu tinha que agir rápido!

- Pondo sua saúde em risco, Sasuke-kun???

         Ao ver aqueles olhos esmeralda prestes a derramar lágrimas, enfim entendi que sua aparente ingratidão tinha outro nome: preocupação.

         Estático, observei-a lutando para parar de chorar.

- P-poxa... – ela disse, entre soluços – E-eu já estava m-me sentindo culpada... P-por você estar s-se metendo em brigas p-por minha causa... E d-depois... D-descubro que as coisas podiam t-ter sido piores... Porque v-você estava... D-doente...

         Ela não conseguia parar de chorar. E agora quem estava se sentindo culpado era eu por tê-la chamado de ingrata.

- Se te serve de consolo, as coisas não foram piores. – ela me olhou nos olhos, as lágrimas ainda escorrendo – E você não tem culpa de nada. Pare de chorar.

         Ela tentou parar, mas não adiantou muito...

- Ai, meu Deus... O que tenho que fazer pra você parar de se preocupar tanto???

- Melhorar. E, depois, não correr riscos desnecessários por minha causa.

- Mas não foi desnecessário.

- Você só pode estar brincando!!! Por que tem feito tanto por mim, Sasuke-kun???

- Se eu puder fazer alguma coisa pra tornar esse mundo um pouco mais justo, é o que farei. E Kiba estava sendo injusto com você. Uaaah... Por isso... Não podia deixar... As coisas... Como... Estavam...

         Minha visão foi ficando embaçada, até que “apaguei”. O cansaço físico me dominou por completo.

         Quando acordei, Sakura estava debruçada num pedaço do meu travesseiro, adormecida, ainda sentada no banquinho. “Ela não deve ter saído do meu lado um segundo sequer...”, pensei. “É mais gentil (e preocupada) do que eu imaginava...”

         Ela estava com a testa apoiada sobre os braços cruzados. De repente, virou a cabeça de modo que pude visualizar seu rosto. Pude contemplar seu semblante sereno enquanto dormia. Só de olhá-la já me sinto bem. E ela é tão... Naturalmente bonita...

         Sinto minha face queimar após tal constatação.

         Droga! Por que a simples presença dela me faz tão bem??? Por que admirá-la me deixa tão sem-graça???

- Uh? Sasuke-kun, já acordou? Aaah, não acredito que cochilei! Desculpa!

- Não precisava ter ficado aqui.

- Claro que precisava! Me senti no dever de...! Ué, Sasuke-kun, você está mais vermelho ou é impressão minha?

- Quê?! – droga, o rubor ainda não tinha passado...

- Será que sua febre piorou??? Essa não! Melhor chamar a enfermeira e...!

- Não! – protestei, segurando seu braço quando estava prestes a se levantar – Só... Só fiquei aqui. Não chame ninguém.

         Senti o rubor piorar. Por que estava me expondo ao ridículo daquele jeito???

         Então, ela sorriu docemente para mim e disse:

- Como quiser.

         Nos encaramos por alguns segundos.

- E então, o que quer fazer pra passar o tempo? – ela perguntou.

- Sei lá. O que você sugere?

- Hum... – ela faz uma cara pensativa.

         Acabamos jogando forca, jogo da velha, entre outras coisas que envolviam papel. Ela tinha um bloco de anotações no bolso. Disse que era por gostar de escrever poesias, e como as idéias podiam surgir a qualquer momento, sempre carrega um no bolso.

         Por fim, o sinal bateu, anunciando o final do penúltimo tempo de aula do dia, que perdemos porque dormimos. A enfermeira veio e disse que já estávamos ali há tempo demais. Perguntou se eu ia pra casa ou se estava disposto a assistir o resto da aula, e antes que eu pudesse responder que estava disposto...

- Ele vai pra casa. Precisa descansar.

- Como?! Agora deu pra decidir minha vida, é?!

- Do jeito que você é teimoso, podia estar morrendo que não admitiria pra assistir a aula! Você vai pra casa e pronto!

- HEIN?!

- Então, está decidido: ele vai pra casa. – assentiu a enfermeira.

- Ei, isso não é justo!!! E o livre arbítrio???

         Então, Sakura conseguiu permissão para não assistir aula e me levar em casa, pois meus pais estavam trabalhando e meu irmão iria dormir na casa de amigos, ou seja, por enquanto não tinha ninguém pra me buscar e cuidar de mim – por mais que eu insistisse que não precisava.

- Seja bonzinho e fique quieto aí no banco. – disse-me no ônibus.

- Putz, quanto exagero... Não estou com nenhuma doença mortal, sabia?

         Sentada ao meu lado, no banco da janela, ignorou-me completamente olhando a paisagem.

         Bufei, me conformando com a teimosia dela.

         Minutos depois, chegamos. Abri a porta e ela entrou, parando de andar de repente.

- Que foi?

- Agora que me toquei: é a primeira vez que venho na sua casa, Sasuke-kun!

- Uau. Fascinante. – debochei.

         Mas ela nem se importou. Estava deslumbrada, olhando cada cômodo, sendo seguida por mim.

- Onde é a cozinha?

- Hã? Por aqui. – respondi, guiando-a até lá, sem entender o por quê da pergunta.

- Ótimo! E seu quarto?

- No segundo andar.

         Fomos até lá.

- Ótimo de novo! Sasuke-kun, vai tomar um banho e se deitar enquanto preparo um lanche pra você!

- Mas hein?!

- Anda, Sasuke-kun! Não espera que eu vá tirar sua roupa, né?!

- C-claro que não! – respondi, constrangido - Não seja ridícula!

- Então, vai logo! – ela disse, rindo, me fazendo ter certeza que só disse aquilo pra eu não ter como rebater de tão sem-graça que eu ficaria.

         Mesmo assim, por incrível que pareça, não consigo ter (tanta) raiva dela.

         E, por mais patético que fosse, não consegui contrariá-la. Obediente, tomei banho e me deitei. De qualquer modo, estava mesmo cansado.

         Fechei os olhos, esperando que a moleza do meu corpo passasse e a febre também.

         Em questão de minutos, a porta se abriu, revelando minha mais nova “pseudo-enfermeira particular” com uma bandeja.

- Fiz leite quente e sanduíches.

- Obrigado. – agradeci, sentando-me com dificuldade e pegando a bandeja.

- Espero que goste! – falou, sorridente, sentando na beirada da minha cama – Isso não tem como ficar ruim, é fácil de fazer... Hehe...

         Desviei o olhar daquele sorriso hipnotizante, tão hipnotizante que me incomodava.

- Posso explorar seu quarto enquanto come?

- Hã?

- Posso, posso???

- Er... Tá. – assenti, estranhando o pedido repentino.

         Parecendo uma criança que brinca de pirata explorando uma ilha recém-descoberta, Sakura vasculhava cada cômodo do meu humilde e aconchegante cantinho. Com uma empolgação tão grande que chegava a dar medo.

         Ao ir em direção à minha escrivaninha, deparou-se com uma foto de família.

- Sasuke-kun, estes são seus pais, seu irmão, e quem é esse homem te segurando no colo?

- Meu tio. O tio Madara.

- Mas aqui você tá tão pequeno... Tinha o quê, uns cinco ou seis anos?

- Seis. Por quê?

- Não tem nenhuma foto recente com seu tio? – ela indagou, tirando os olhos da foto e me encarando.

- É que... – baixei os olhos – É uma história complicada...

- Ah, m-me desculpe! Eu não devia ter perguntado! – repreendeu-se, voltando a sentar na beirada da minha cama. – Não queria ser intrometida, mas a curiosidade falou mais alto e...!

- Tá, tá, pare de se desculpar tanto por tudo e por nada. – interrompi.

         Ela engoliu em seco. Voltei a comer meu sanduíche.

         De repente, a campainha tocou.

- Eu atendo. – ela disse, saindo do meu quarto.

         Quando voltou, disse, sorrindo:

- Olha só quem veio te ver!

         Atrás dela, surgiu Naruto.

- Era só o que me faltava... Uma maluca exagerada aspirante a médica que gosta de explorar quartos alheios, e agora o maior retardado sem-noção, chato, inconveniente e burro da face da Terra!

- ...também te amo, Sasuke.

- Disponha, Naruto.

- Cara, o que aconteceu??? Sumiu na hora do recreio, e tive que até que comer o lanche que tinha comprado pra você!

- Graaande sacrifício. – debochei.

- É! Depois, a Sakura aparece pegando seu material e o material dela, dizendo que vocês tinham que ir embora com urgência, e pô... Você nem pra me falar nada...

- Não te devo satisfação.

- Hunf! Saiba que amanhã não só eu vou vir, mas o grupo todo!

- QUÊ?!

- Isso aí! Hoje, eles tinham outros compromissos, mas amanhã vão estar livres, e aí a gente vem te fazer companhia!

- Nossa, mal posso esperar. – falei, sem emoção alguma.

- Hehehe... E aí, Sakura, quando sai o almoço?

- Uh? Ah, sim! Já vou preparar!

- Veio aqui só pra comer, né???

- Acha mesmo que eu seria capaz de me aproveitar do seu estado pra arranjar uma desculpa pra comer na sua casa???

- ...

- Hein???

- É... Acho que você não seria tão esperto a esse ponto...

- ...morra.

         Então, Sakura desceu e foi preparar o almoço, e Naruto ficou conversando comigo.

         Apesar dele ser tudo o que me irrita numa pessoa e mais um pouco, é meu melhor amigo. Isso eu tenho que reconhecer.

 


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