Os Olhos Verdes escrita por MahDants


Capítulo 3
Capítulo 3: Os Mesmos Olhos Verdes


Notas iniciais do capítulo

E chegamos ao último capítulo... Vamos deixar as despedidas pra depois, flw?
Desculpem de verdade a demora.. Entrei em prova, passei uma semana na casa do meu pai e agora de volta ao pc, tive a ideia pra uma oneshoot Clato e eu meio que queria postá-la antes. Além disso, eu já tinha escrito boa parte do capítulo de Os Olhos Verdes e não sei onde salvei, então tive que refazer e tals... Mas ok! Aproveitem (:

Link pra quem quiser ler a one Clato: http://fanfiction.com.br/historia/379472/One_Dance_For_A_High_Heel/



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Passei a ver o mundo de outra forma, e não foi ele que mudou. Fui eu.

Beijar Finnick Odair já não é mais tão nojento. Na verdade, nesses últimos anos aprendi que necessito do contato dos seus lábios com os meus. A sensação de choque térmico é maravilhosa. Quente e frio. Sem tirar o fato de que seu cheiro fica impregnado na minha roupa quando nos separamos.

É... Passaram-se quase quatro anos (três anos e oito meses) desde o nosso beijo na caverna. Quase quatro anos desde a minha mudança de vida. Cara, o tempo passa rápido demais. Durante esse tempo, minha vida mudou de um jeito que eu jamais achei que seria possível, mas foi possível, graças a ele. Finnick Odair.

Acho que ele é um anjo. Por causa dele eu fui adotada, meu irmão foi adotado, tenho uma casa, fui pra uma escola descente, comecei a faculdade, fiz amigos... Quem diria! Annie Cresta com amigos, saindo pro cinema e pra praia com eles. Compartilhando segredos e fofocas com eles. Mas a surpresa maior não é essa...

Eu decidi aceitar um desafio: vou ser professora de inglês particular e tradutora de livros e filmes. Sim, é esse meu sonho. Inglês, a matéria que eu sempre odiei e que nunca entendi. Eu quero superar as barreiras, aprender o inglês e ser a melhor professora que o mundo já viu. E até estou conseguindo... Às vezes, converso com Finnick em inglês. É legal.

Na faculdade, fiquei amiga de Katniss Everdeen. Que é namorada de Peeta Mellark. Que é melhor amigo de Gale Hawthorne. Que é namorado de Madge Undersee. Que é irmã de Cato Undersee. Que é melhor amigo do Finnick. Resumindo? Somos uma tribo. Ah, e coincidentemente, Katniss é irmã da menina louca que tava gostando do Drew. E que agora, é namorada dele.

O Drew cresceu. A voz dele engrossou e ele disse que virou homem, o que é engraçado, comparado ao fato de que ele continua magricela e baixinho ou ao fato de que ele ainda tem medo do escuro. Não que pra ser homem ele não possa ter medo, mas... Ele ainda é um bebê, não um homem! É meu irmão mais novo, meu bebezinho. Não importa o quanto ele cresça, ele vai continuar sendo meu bebezinho. Mesmo que ele seja mais maduro que eu.

Ele quem me aconselhou a namorar o Finnick e seguir meu coração. Depois da história do “é inevitável”, eu voltei à realidade. O que eu estava pensando? Finnick era quase um irmão, já que a mãe dele era minha mãe adotiva! Não, claro que não podíamos ficar juntos.

Dois anos atrás

– Finn... – minha voz falhou.

– Não – ele acariciou minha bochecha esquerda. – Não fala nada, apenas...

– Beije? – sugeri. – Finnick, eu não posso. Primeiro, nós somos quase irmãos! Segundo, eu não sou assim... “Apenas beije”. E outra, isso foi nojento.

– Me beijar é nojento? – ele se afastou rapidamente.

– Não é isso... – mordi o lábio, nervosa. – Como foi seu primeiro beijo, Finn?

– Nojento – ele respondeu automaticamente. – Mas o que isso tem haver com...? Ah, entendi. Sabe que só deixa de ser nojento com a prática, né? – ele perguntou e eu corei.

– É! Mas nós continuamos sendo quase irmãos agora e... Eu preciso pensar.

Saí rapidamente da caverna e voltei pra praia. A noite já tinha chegado e estava frio, mas ignorei meu corpo tremendo e peguei um táxi. Quando cheguei em casa, lá estava Drew assistindo Bob Esponja com um pote de pipoca no colo. E foi aí que comecei a chorar.

Chorar sem saber o motivo. Não sabia se era de alívio, porque estava voltando pra uma casa e não para um orfanato. Ou de felicidade, porque meu irmão estava feliz. Ou de raiva, por ter estragado tudo saindo da praia daquele jeito. Ou talvez de tristeza, porque eu sabia que não podíamos ficar juntos.

Quando Selene chegou na sala pra ver o que estava acontecendo, e me viu sentada no chão, toda molhada, com a cabeça no sofá e Drew alisando meus cabelos, primeiro ela me fez tomar um banho quente para não pegar um resfriado. Depois, preparou milk-shake de morango pra mim e sentou na minha cama para conversar comigo. E eu contei tudo, como se ela de fato fosse minha mãe.

– Eu sabia que isso ia acontecer – ela sorriu.

– Isso o que?

– Annie, querida – ela enxugou minhas lágrimas. – O modo como Finnick insistiu para adotarmos você e seu irmão... Não era porque ele queria fazer o bem a alguém. E entendo o que ele viu em você.

– O que ele viu em mim? – repeti sem entender.

– Ele está apaixonado – ela respondeu. – Desde o primeiro momento que falou com você.

– Não é possível... – ri com nervosismo. – Quer dizer, o que ele teria visto em mim, Selene? Uma menina frágil, idiota, baixinha...

– Meiga, inteligente e com um enorme coração – ela completou. – Finnick é... Como vocês chamam? Ah, galinha... A cada mês era uma nova... Hum... Ficante. É esse o termo? Enfim, uma nova ficante aqui em casa. Até você chegar. Desde que ele te conheceu, Annie, ele não trouxe uma garota aqui.

Enquanto ela ia falando, eu me toquei o quanto ela e Finnick se pareciam. Seus cabelos louro-avermelhados estavam presos em um coque e seus olhos verdes brilhavam com divertimento.

– E isso quer dizer que...? – pergunto.

– Que ele te ama – ela disse sorrindo. – E eu sei que você também o ama. Quanto ao seu conflito, de ser errado namorar com ele por ele ser quase seu irmão... Saiba que eu não ligo.

Depois disso ela beijou o topo da minha cabeça, pegou o copo que antes tinha milk-shake dentro e saiu do quarto. Ouvi quando Finnick chegou, mas não saí do quarto, do mesmo jeito que ele não entrou. Passei aquela madrugada em claro e quando deu quatro horas da manhã, comecei a me desesperar porque fiquei perdida nos pensamentos e não tinha conseguido dormir ainda. Mas talvez, às vezes madrugadas sejam pra isso. Pensar, não dormir.



Uma semana depois disso, eu e Finnick estávamos nos evitando. Drew, nada burro, percebeu e depois da escola, quando chegou em casa, veio falar comigo. Sua expressão era tão preocupada que na hora deu vontade de rir, mas me segurei respeitando o fato de ele se importar comigo.



– Era isso? – ele perguntou levantando as sobrancelhas depois que contei tudo. – Corra atrás dele, mulher! Agarre seu homem!

– Drew... – parei de falar para dar lugar às risadas.

– Eu tô falando sério – ele disse quando parei de rir. – Deixando a brincadeira de lado, Ann, dá uma chance pra ele. Ou melhor, dá uma chance pra tua felicidade.

– Tem certeza?

– Meu Deus, Annie Cresta – ele revirou os olhos. – Eu já falei o que tu tem que fazer. A decisão é sua. Agora, se me der licença, irei comer salgadinho.

– Você não vai almoçar, não?

– Depois.

Dizendo isso, ele saiu, me deixando novamente perdida em pensamentos.



No dia seguinte, eu tentava arrumar coragem pra falar com Finnick. Até que vi a oportunidade perfeita quando Drew foi se encontrar com a “menina louca” que gostava dele e Selene estava no trabalho.



Finnick estava dormindo no sofá com a TV ligada. Lindo. Sem camisa, devo dizer. Com os cabelos cor de bronze todo bagunçado e baba escorrendo por sua boca rosada. Sua respiração estava controlada e a mão do lado de fora do sofá.

Sentei no chão em sua frente, mudei o canal e esperei. Esperei. Esperei mais... E Finnick continuou dormindo. Porque ele não acordava logo? Justo naquele momento que eu tinha decidido que daria uma chance pra nós!

Aproximei nossos rostos, colocando uma mexa do meu cabelo atrás da orelha, e experimentei mais uma vez a sensação dos seus lábios nos meus. E a única coisa que processei foi que seus lábios estavam molhados e com gosto de chocolate.

Separei-me dele e abri os olhos lentamente, encarando os traços do seu rosto. Passei delicadamente a ponta dos dedos pela superfície da sua bochecha e depois tirei os fios de cabelo que estavam grudados na sua testa suada.

Suspirei me levantando, mas fui surpreendida por sua mão em meu braço, fazendo-me abaixar novamente, e um sorriso escapando dos seus lábios perfeitos.

– Continua – ele pediu com a voz rouca, ainda de olhos fechados. –Tava tão bom...

– Finn... Finnick... Você tava acordado? – perguntei corando.

– Na verdade – ele disse abrindo lentamente os olhos mais verdes que já vi em toda a minha vida. -, eu acordei com a boca de alguém na minha... Tem alguma ideia de quem possa ter sido? – ele perguntou e eu soltei uma risada nervosa, desviando o olhar. – Você fica linda corada, já disse? Annie...

– Oi? – perguntei distante.

– Vem aqui – ele chamou, sentando no sofá, e indicando o lugar ao seu lado. Sentei e fiquei encarando o chão. – Olha pra mim!

– Não... – recusei. – Meu rosto tá muito vermelho!

– Ann... – ele sussurrou perto da minha orelha e depois beijou meu pescoço, passando a ponta do nariz no mesmo lugar em seguida. Foi inevitável não fechar os olhos e suspirar. – Olha pra mim.

Obedeci. Seus olhos verdes brilhavam para mim e seus lábios estavam curvados em um sorriso tímido. Naquele momento me perguntei como alguém podia ser tão perfeito. Sua respiração, com cheiro de chocolate, batia em meu rosto. Ele tirou uma mecha de cabelo do meu rosto e sorriu.

– Eu gosto de você, Annie.

– Também gosto de você, Finn.

– Não, você não entendeu... – ele abaixou o olhar. – Eu gosto mesmo de você. Eu acho... Que isso é amor, não sei.

– Você me ama? – pergunto sem conseguir esconder a surpresa, nem reprimir o sorriso de felicidade.

– Com toda certeza, Ann – ele sorriu. – Se eu te beijar você vai interromper o beijo, rir, dizer que isso é nojento, fugir, ba...?

Não o deixei terminar a pergunta. Desajeitadamente me aproximei e colei nossos lábios. Quando sua língua pediu passagem, eu continuei achando o ato nojento, mas mesmo assim não me afastei, eu queria aquilo. Queria o gosto de chocolate da sua boca, queria seu cheiro de perfume masculino por perto.

Quando nos separamos, olhei no fundo dos seus olhos e disse:

– Eu... Acho que também te amo, Finn.


E foi assim que aconteceu... Agora, estamos em uma pizzaria. Eu, Finnick, nossa tribo, Drew, Prim e Selene, no meu aniversário de 21 anos. Acho que nunca ri tanto em minha vida. Meus amigos são uns loucos.


– Caraca, esse sapato tá tão apertado! – reclama Peeta. – Meu pé vive crescendo...

– Pelo menos alguma coisa em você tem que crescer, né, Peeta? – falo referindo-me a sua altura, já que ele é nanico, e não entendo quando todos começam a rir maliciosamente olhando pra mim. – Que foi?

– Nada, Annie – responde Finnick. – É só a mente suja desse povo.

– Vocês pensaram o que? – pergunto.

– Não é possível você ser tão ingênua, Ann – fala Drew. – Até eu, que sou seis anos mais novo!

– Dá pra alguém me explicar qual a mente poluída de falar “Alguma coisa em você tem que crescer”? – peço irritada e Finnick cochicha em meu ouvido, fazendo-me arregalar os olhos. – Meu Deus! Que mentes podres...

A mesa estoura em risadas e sinto meu rosto esquentar. Eu ia adivinhar que eles iam maliciar minha inocente frase? Credo... “Deu a entender que você falou que o amiguinho dele é pequeno, Ann”. Ridículos.

– Já chega, gente – fala Madge, parando com as risadas. – Estamos deixando Annie constrangida. Ela não tem culpa de ter a mente extremamente pura.

– Finnick, meu amigo – fala Gale com divertimento. – Você já mostrou seu...

– Gale! – Madge interrompe a pergunta do namorado, que com certeza não seria nada apropriada. Gale é podre e tarado.

– Que foi, amor? – pergunta ele com a maior cara de inocência. – Só estou impressionado, com o fato de Annie continuar sendo tão inocente. Geralmente, quando a pessoa perde a virgindade, deixa de ser inocente... Na verdade, muita gente perde a inocência antes de perder a...

– Gale Hawthorne! – exclama Madge um pouco mais alto.

– Ok... Desculpem – ele se rende.

– Sem problemas, cara – fala Finn, embora seus punhos estejam cerrados embaixo da mesa.

– Ei – sussurro em seu ouvido. – O que foi?

– Nada, Ann, deixe pra lá.

– Finnick!

– É só que... – ele fala baixo para que mais ninguém na mesa possa ouvir. – Me chateia o Gale falando de você assim. Você é minha namorada, Ann, e isso foi falta de respeito.

– Foi uma pergunta normal, Finnick. Ele só queria saber se a gente... Você sabe...

– Você não entende – ele beija minha bochecha. – Deixe pra lá.

Continuamos rindo e conversando até duas e pouco da manhã. Katniss sempre fechada, Peeta sempre sendo fofo com ela, Cato sempre engraçado, Gale sempre podre, Madge sempre meiga... E Finnick... Finnick sempre perfeito. Ele é inteligente, bonito, forte, fofo e engraçado. O melhor namorado de todos.

Eu e Finnick nos despedimos de todos e ele disse que queria dar uma volta comigo. Prendo meus cabelos em um nó e entro no carro. Enquanto dirige, Finnick mantém a mão em minha perna esquerda, mas não de forma desrespeitosa. Apenas um hábito.

Sorrio quando o vejo estacionando em frente à praia vazia. A rua está silenciosa, sem carros ou pessoas. Ao abrir a porta, o vento gelado da noite bate em meu rosto e sorrio, sentindo o cheiro da maresia.

Finnick segura minha mão e caminhamos juntos até a areia. Ficamos minutos andando em silêncio até que ele para de repente e me vira pra ele. Segura meu rosto com as mãos e olha no fundo dos meus olhos.

– Feliz aniversário – ele diz sorrindo daquele jeito.

– Não é mais meu aniversário, Finn.

– Eu sei... – ele me beija. – Mas ainda tenho um presente!

– Presente? – digo fazendo biquinho e Finnick ri.

– É... Não é algo material... – ele diz meio envergonhado.

– Não ligo pra isso, Finnick – digo revirando os olhos.

– Então, você sabe... Eu gosto muito de escrever...

– O que não faz sentido, já que você está cursando arquitetura, que é na área de exatas, não de humanas.

– E escrevi isso – ele continua como se não tivesse sido interrompido e tira um papel do bolso.

– O que é isso?

– Posso ler? – ele pergunta.

O que é isso?

Annie Cresta – ele começa. – Esse nome não saía da minha cabeça. Desde o nosso primeiro encontro seus olhos verdes rondavam minha mente. Suas bochechas coradas, seus cachos castanhos... Deus, como ela parecia uma boneca! Uma boneca pequena, frágil e perfeita. Uma boneca com tantas tristezas, mas mesmo assim sorrindo para a vida.

Sei que deveria começar um texto me apresentando, apresentando o enredo da história, mas não. Ela é o foco. Ela é o enredo da história. Ela é tudo. Sei que também não deveria ficar pensando nela com outra garota na cama, mas era inevitável.

Naquela tarde, tinha uma garota, Cashmere, que insistia ser minha namorada e eu estava de saco cheio disso. Então fui até o único lugar que achei apropriado: a caverna na praia.

Gostava do mar. Não por um motivo metafórico ou especial. Simplesmente gostava. Gostava da água gelada em meu corpo, gostava do vento, gostava da areia grudando em meus pés, gostava do cheiro de maresia, gostava do som das ondas... O mar era o único lugar que me acalmava. Então fui em busca da minha calmaria.

E acabei encontrando ela.

Ela chorava, soluçando, abraçada aos joelhos. As pontas dos seus longos cabelos cacheados estavam molhadas e seus olhos verdes claros estavam cheios d’água. E, diferente de todas as outras pessoas que conheço, seu rosto não estava inchado ou vermelho por causa do choro, apenas a pontinha no seu nariz.

– Q-quem é você? – ela perguntou soluçando e com a voz chorosa. Sua voz era doce. Não um doce infantil e enjoativo. Era doce como chocolate. Gostaria de ouvir mais sua voz.

– Finnick. E você?

– Eu não deveria falar meu nome para um estranho – ela falou e ergui as sobrancelhas. – O que faz aqui?

– Explorando – menti. – E você?

– Refletindo.

– Ou fugindo do mundo... – disse. É por isso que eu estava ali. Por qual outro motivo ela estaria ali também? – Algum problema?

– Não. E mesmo se tivesse eu não falaria pra você! Nem te conheço... – outch!

Pelo visto, somente a aparência dela era de boneca. Não, me recusei a acreditar. Ela só foi grossa porque estava triste e precisava de ajuda.

– Deixe-me ver se entendi... – disse tentando iniciar outro diálogo. – Você costuma vir aqui longe de todo mundo pra refletir e de tanto refletir acaba chorando... Sua vida é tão ruim assim?

– Pior do que você imagina – respondeu recomeçando a chorar e naquele momento, meu coração apertou. – Me desculpe. Meu nome é Annie Cresta.

Ela olhou diretamente nos meus olhos e os encarou por um tempo. Também encarei os dela, mas dessa vez eles estavam sem muitas lágrimas. Eram de um verde meio azul, misteriosos, bondosos, bonitos... Suas bochechas ficaram vermelhas e tudo que eu mais queria era saber o que se passava em sua mente.

– Que bonitinho... Você está corada! – disse rindo pelo nariz. – Então Annie, quer dividir?

Ela permaneceu misteriosa com todos seus conflitos e a única coisa que eu poderia fazer era tentar distraí-la. Passamos a tarde juntos e juro, Annie era diferente, carregada de uma ingenuidade encantadora. Sim, ela era de fato uma boneca.

E quando deixei ela no orfanato que morava, sua voz ainda ecoava em meus ouvidos. Eu necessitava falar com ela novamente, necessitava ajuda-la, necessitava ter seus lábios nos meus...

Quando peguei Glimmer para ter uma diversão noturna, meus pensamentos se voltavam pra Annie e sabia que ela jamais seria como Glimmer, Cashmere ou qualquer outra menina com quem eu já fiquei. Annie se daria o respeito.

Uma onda de admiração subiu em meio peito. Justo ela, que tinha todos os motivos do mundo para ser infeliz, era quem mais trazia felicidade, quem mais se importava com os outros...

Naquele momento, qualquer um que me dissesse que eu estava apaixonado por uma garota dois anos mais nova que conheci na praia em estado depressivo não estaria mentindo. Foi repentino? Foi. É verdade que mal a conhecia? É. Mas dane-se. Finnick Odair pela primeira vez na vida não queria só brincar com os sentimentos de uma garota.

Não a queria apenas como mulher, um ser do sexo oposto. Queria ela como melhor amiga, confidente, namorada. Queria sentir o amor dela e queria amá-la. É isso... – ele termina de ler.

– Finnick – começo.

– Não, espera – ele diz. – Tem o outro lado. Nem sei o que é isso, mas vamos lá: arroz, fandangos, guaraná... Ah, não, é a lista da feira. Tenho certeza que escrevi mais alguma coisa... – ele revira os bolsos. – Achei! Estávamos juntos há um ano. Eu e Annie. E devo dizer que não estava errado sobre ela. Meiga, de respeito, simpática, engraçada e cheia de amor pra dar...

E sim, eu a amava. O primeiro amor de verdade. Não como aqueles de escola que dura uns dois meses e depois passa. Eu amava Annie Cresta como Severus Snape amava Lily Potter, como Romeu amava Julieta, como brasileiro amava futebol, como Drew amava pudim, como ratos amavam queijo, como os adolescentes amavam dormir, como a Lua amava as estrelas, como os peixes amavam as águas, como Atena amava a cultura...

Se esse negócio de alma gêmea existe, tinha certeza que Annie era minha metade da laranja. Não havia outra. E... – Finnick corou. – Droga, esqueci de terminar.

– Eu te amo, sabia? – digo com lágrimas nos olhos. - Amo muito. Muito, muito, muito.

– Também te amo – e nos beijamos novamente. – Não foi nada demais, mas...

– Eu amei, Finnick – digo. – Caramba, olha pros meus olhos! Eu tô chorando seu filho da mãe.

– Eu faço um texto desses no seu aniversário e você me ofende? Nossa, Annie...

– Idiota.

– Annie... Não quero que se assuste, mas... Você já pensou no futuro? Em nós?

– Como assim? – pergunto ainda olhando nos seus olhos. – Você tá falando de... Casamento?

– É... Não agora! Claro que não... Você ainda tem 21 anos, mas... Sei lá, no futuro... – ele cora e acho isso muito fofinho.

– Finnick, não imagino outro futuro que não seja ao seu lado.

Ele segura minha cintura e me gira no ar, fazendo-me rir feito uma criancinha de sete anos. Sinto-me livre agora, livre como um pássaro. Há essa associação na minha mente, entre Finnick e liberdade, pra ser honesta.

– Eu te amo – ele fala mostrando os dentes brancos em um sorriso gigante. – Já disse isso?

– Já, mas eu gosto de ouvir. Então, não me incomodo em ouvir de novo.

Ele ri e começamos a caminhar de volta para a calçada. E tudo acontece rápido demais. De repente um cara aparece e enfia a faca na minha garganta, apertando-a contra minha pele. Ele ameaça me matar e Finnick avança.

Eu não consigo enxergar a briga. Mas sei que eles estão brigando. De repente, ouço o disparar de uma arma e fecho os olhos, rezando para quando retornar a abri-los, o cara esteja morto e Finnick sorrindo galanteador em minha direção. Outro tiro e passos apressados. Forço-me a abrir os olhos, tremendo.

Não tento evitar o choro que se segue. Corro até Finnick e pego sua mão, chorando. Ela ainda está quente e uma lágrima escorre dos seus olhos. Os olhos verdes perfeitos. Sua camisa preta está ensopada de sangue, mas não consigo encarar o ferimento por muito tempo.

– Finnick... – soluço e junto nossos lábios, deixando minhas lágrimas em seu rosto. – Por favor, Finnick... Finnick!

Os lábios dele se mexem, tentando emitir algum som, mas nada sai. Isso não pode estar acontecendo. Claro que não pode. Observo melhor seus lábios... Ele está formando as palavras “Eu te amo”. Quero responder “Eu também te amo, meu amor”, mas esqueci como se fala.

De repente, sinto a temperatura da sua mão cair e o brilho dos seus olhos vai sumindo. Não queria essa imagem na cabeça. Queria lembrar sempre dos olhos verdes brilhantes e cheios de vida de Finnick, não estes opacos e sem expressão.

Levanto soluçando e corro até a praia. Tiro os sapatos, o vestido, e entro de calcinha e sutiã mesmo no mar. Nado até a caverna que nos conhecemos. Finnick se foi. Eu não devia ter deixado o corpo dele lá jogado na calçada, mas estava doendo ver Finnick Odair sem vida. Morto.

Solto um grito de frustração. Ele não pode ir assim! Estávamos bem há alguns minutos, fazendo planos, falando sobre casamento... Ele leu um texto que fez para mim, disse que me amava! Agora estou sozinha. Sim, sozinha. Drew cresceu, preciso aceitar o fato de que ele não é mais meu irmãozinho frágil e indefeso.

O nó que antes prendia meus cabelos se desfez, lágrimas rolam pelo meu rosto e mil lembranças vindo à tona. Foi neste mesmo lugar que nos conhecemos, que trocamos primeiros olhares, que demos nosso primeiro beijo, que exploramos o corpo um do outro... Foi aqui que nos descobrimos e foi aqui que descobri o amor.

Ah, o amor... Um sentimento tão puro e simples que por tantos anos evitei. O amor é uma coisa estranha. É quando você percebe que sua vida só não basta e aquele alguém é o único capaz de te fazer feliz completamente. Quando seu coração bate em um ritmo descompensado e um sorriso involuntariamente se forma ao pensar em determinado momento. Amar é saber todos os defeitos da pessoa e mesmo assim conviver de com eles.

Defeitos... Finnick é cheio deles. Ou era. Era insuportável o modo como ele agia: como se eu fosse uma boneca de porcelana prestes a rachar. Fechava a cara sempre que um de seus colegas olhava diretamente pra mim, ciúme bobo. Além de ser extremamente convencido, desastrado e preguiçoso.

Preguiçoso do tipo: parar uma frase no meio dela, por preguiça de continuar. Ou então, transformar “Pudim” em resposta pra tudo, com preguiça de pensar em alguma coisa. Lembro de uma vez que estava chovendo muito e eu estava na faculdade sem querer levar chuva na caminhada até o ponto de ônibus. Liguei pro Finn naquele dia e ele disse que estava com preguiça. Brigamos, claro que brigamos, o que custava ir me buscar? Mas contei até três, respirei fundo e desliguei o telefone. Não adiantava brigar contra sua preguiça.

Ou quando eu estava fazendo meu trabalho de recuperação em inglês, ainda na escola. O cartaz estava lindo: cartolina amarela, fotos coloridas, letras personalizadas... Demorei o dia inteiro fazendo ele e no fim do dia, quando já estava terminando, Finnick derrubou café nele.

Mas, como disse, amar é perdoar e aceitar os defeitos. Ele não fazia por mal, era da natureza dele ser desastrado, preguiçoso e irritante. Longe de mim tentar mudar seu jeito de ser.

Se há um lugar que me ligue a Finnick assim, com lembranças vindo a tona a cada minuto, este lugar é aqui. A caverna escura é como um símbolo da nossa história. Na entrada, um grande F. O. + A. C. dentro de um coração está cravado na rocha e coraçõezinhos menores ao redor representando cada mês do nosso namoro.

No total, há 44 corações. Colocaríamos mais um em dois dias.

Colocaríamos.

É difícil encarar que ali terá somente 44 corações para sempre. É difícil também encarar que nunca mais irei vê-lo. Que nunca mais ele vai me irritar com seu ciúme excessivo. Que nunca mais ele vai rir quando eu estiver tentando acertar a pronúncia de uma palavra em inglês. É difícil saber que a partir dessa noite, quando os pesadelos me atingirem, ele não estará lá, sentado no chão ao lado da minha cama, fazendo carinho em minha mão até eu pegar no sono novamente.

Está frio aqui. Já deve ser umas quatro horas, a lua minguante daqui a pouco deverá sumir, para dar lugar ao Sol. Assim como eu, ela estava sozinha. Não havia estrelas com ela e não há Finnick aqui comigo.

Estou me sentindo do mesmo jeito que me senti anos atrás, quando eu tinha sete anos e Lauren chegou em minha casa, dispensou a babá e falou do acidente que matou meus pais.

Eu nem me lembro deles direito, apenas lembranças embaçadas, e se não fosse a foto deles que carrego comigo, já teria esquecido seus rostos. Na foto, mamãe segura Drew na cama do hospital, no dia que ele nasceu, e papai está olhando para os dois com um sorriso gigante no rosto. Eu tirei a foto.

Eles eram bonitos. Mamãe tinha um cabelo loiro com as pontas ruivas, dando a impressão de estar em chamas. Seus olhos eram verdes, como duas pedras de esmeralda. Seus traços eram delicados e o que mais se destacava eram suas bochechas um pouco gorduchas. Já papai, tinha um rosto meio quadrado, mas mesmo assim era bonito. Usava óculos e tinha os cabelos castanhos e cacheados.

Lembro que sentávamos junto em frente ao computador, eu e papai, e resolvíamos questões de lógica juntos, mesmo que eu tivesse apenas 5 ou 6 anos. Lembro o quanto mamãe brigava comigo, mandando eu tirar os pés sujos de cima do sofá branco ou então brigava porque eram sete horas e eu ainda não tinha tomado banho.

Como eu queria eles aqui comigo... Mas o acidente tirou eles de mim, assim como a arma tirou Finnick de mim. Estou sozinha. Restou apenas eu e Drew. Não, não sobrou nem o Drew. Ele não precisa de mim. Ninguém precisa de mim.

Se ninguém precisa de mim, qual a minha missão? Porque estou aqui, vivendo? Porque esse pensamento está me deixando sufocada? Não, não são os pensamentos, eu realmente parei de respirar. Faz quase meio minuto que estou boiando de cabeça pra baixo na água gelada e salgada. Quarenta segundos. Quarenta e um.

Experimento abrir os olhos e vejo o chão do mar cheio de conchinhas. Logo, meus olhos ardem e sou forçada a fecha-los novamente.

Quarenta e dois.

O rosto de Finnick se forma em minha mente. Sua pele pálida, traços duros, boca rosada...

Quarenta e três, quarenta e quatro, quarenta e cinco...

Vejo meus pais. Depois de tantos anos, falta pouco para nos encontrarmos novamente.

Cinquenta. Um minuto.

Sou forçada a engolir água salgada. Meu corpo clama por oxigênio, mas tudo que encontro é água. Eu poderia levantar minha cabeça e acabar logo com isso. Meu corpo fica mole e me forço a continuar lutando, mas no fim, a inconsciência vai me tirando do mundo. Minha cabeça lateja.

Dois minutos.

Eu amo Finnick. Amo Finnick Odair.

Dois minutos e dez.

Volto à minha infância, quando eu tinha um ano e meio. É estranho o fato de que durante toda a minha vida eu nunca lembrei de cenas tão antigas, mas agora, quase inconsciente, eu lembre. Lembro detalhadamente quando tive catapora, com um ano e meio. Minha roupa era rosa e eu chorava no colo de papai.

Depois me vi com quatro anos. Eu estava correndo no parque, fugindo de papai que tinha os óculos tortos, com um rabo de cavalo balançando em minhas costas. Ainda com quatro anos, eu estava na cama com mamãe, vestindo um pijama rosa da fada Sininho e ela me contava histórias pra dormir.

Com cinco anos, eu jogava lógica com papai no computador. Ainda com cinco anos, mamãe trançava meus cabelos enquanto contava que estava grávida. Com seis anos, eu estava no hospital, tendo o dedo agarrado por uma mãozinha pequenininha do novo Cresta. Logo depois papai colocou Drew no colo de mamãe e eu tirei uma foto deles.

Com sete anos, papai e mamãe foram viajar de carro e deixou eu e Drew com a babá. Lembro de montar um quebra-cabeça da Hello Kitty com ela na noite de 26 de Outubro e lembro de Lauren chegando, levando-me com ela.

Luna, minha primeira e única amiga no orfanato, me chamando pra brincar de boneca, Luna apertando as bochechas de Drew, Luna sendo adotada e Carly chegando. Carly batendo em mim, quando eu tinha 12 anos.

Eu sozinha no recreio da escola, eu e Lauren conversando, eu e Drew na praia... Com 14 anos eu comecei a trabalhar na McDonald’s e virei amiga de Tyler. Com 16 anos o orfanato ia fechar, conheci Finnick, fui adotada.

Quanto mais recente a lembrança é, mais nebulosa ela fica. Lembro de Finnick, eu e Drew empinando pipa em um parque e lembro da Katniss e eu fofocando. E aí eu volto a me ver com um ano.

Onde eu estou? Forço-me a lembrar o que estou fazendo e porque, mas não consigo lembrar o que eu fiz. Quem sou eu? Algumas imagens continuam passando em minha mente, mas eu não lembro. Estou... Na água?

Eu morri? Essa pergunta me faz voltar parcialmente a realidade. Isso é a morte? Eu morri, não morri? Quer dizer, faz quase uma hora que estou embaixo d’água, o Sol já deve ter saído. Poderia me levantar agora, mas não quero. Está tão tranquilo aqui. Sei que estava chorando antes, mas porque? Não sei. Só sei que antes doía e agora estou em paz.

E então acontece. No pé da minha barriga, sinto algo. Sinto. Eu estou sentindo. Meu nome é Annie Cresta e estou viva. Viva. E senti um chute na minha barriga.

Submerjo, cuspindo água, tossindo e tremendo. Tiro o cabelo do rosto e tento controlar minha respiração ofegante. Olho pra fora e vejo que ainda está escuro, não passei nem três minutos embaixo da água. Eu ia me matar? Que dor de cabeça horrível.

Tento lembrar quando foi minha última menstruação. Acho que... Que estou cansada. Vou até a areia, no fundo da caverna, encosto a cabeça na parede, e apago.



Quando chego em casa, Drew arregala os olhos ao me ver. Talvez por estar toda molhada, talvez por ter passado 24 horas sumida, talvez por estar com cara de choro... Ele se aproxima e pergunta tímido:



– O que aconteceu? – então começo a chorar. Chorar de verdade, soluçando e sem conseguir parar. Um choro desesperado. – Cadê o Finnick? Ele te fez alguma coisa? – nego com a cabeça e choro mais, sentando no chão. – Aconteceu alguma coisa com ele, então?

Não respondo, apenas choro. Como vou dar a notícia? Ninguém avisou nada ainda aqui? Ninguém reconheceu o corpo? Será que acharam ele? Drew grita por Selene pedindo um calmante pra mim. Engulo o comprimido e sinto meu corpo sendo guiado até o banheiro. Sinto minhas roupas sendo tiradas e sinto a água quente da banheira em meu corpo. Quando terminei o banho e troquei de roupa, o calmante fez efeito e eu apaguei.


Acordo aos poucos e pisco os olhos para lembrar-me onde estou e o que aconteceu. Do lado da cama, Drew está sentado olhando para a parede e roendo a unha. Ele não percebe que acordei, então fico olhando meu irmãozinho.


Na verdade, exagerei quando disse que ele quase não tinha crescido, que continuava magricela e não era o homem da casa. É mentira. Drew está forte, alto – mais alto do que eu - e bonito. Seus cabelos negros estão mais compridos, comparado ao tamanho dele anos atrás. Sua personalidade também mudou. Drew perdeu um pouco de sua ingenuidade infantil. Antes, ele falava tudo que queria sem nem pensar, hoje ele está mais tímido, mais pensativo... Talvez seja a adolescência.

– Drew – o chamo.

– Annie! – ele se levanta e corre pra me abraçar. – Você acordou...

– Dormi quanto tempo?

– Quase dois dias! – ele responde com cara de quem acha isso o máximo. – Ann... O que aconteceu? Onde... Onde está o Finnick?

– Eu estou grávida, Drew – digo de repente.

– O que?

– Na verdade, é uma suposição – explico. – Há uns seis meses, eu e... – engulo em seco antes de pronunciar seu nome. Pigarreio e continuo: - Eu e Finnick estávamos... Hum... Você sabe!

– Prossiga.

– E a camisinha veio estourada – digo corando. – Na hora, não achamos nada demais e... Bom, continuamos.

– Espera – ele diz com uma expressão confusa. – Seis meses?

– É estranho! – confesso. – Mas... Parando pra ver, minha menstruação não vem faz seis meses.

– Céus, Annie... – ele fala rindo. – Como você é tapada!

– Drew! – repreendo rindo também.

– E cadê sua barriga? – ele pergunta. – Já era pra estar grande!

– Bom... Uma vez vi na televisão, que em algumas mulheres, a barriga não cresce muito... – digo incerta. – É uma suposição, Drew. Eu nem sei se é verdade!

– Tá – ele assente. – Cadê o Finnick?

Meu sorriso some. Ele poderia ter morrido sabendo que teria um filho, um herdeiro. Nem isso pude dar pra ele! Não vou chorar, não de novo. Respiro fundo, belisco a palma da mão para evitar o choro e olho nos olhos de Drew.

– Não me peça detalhes – digo. – Vou contar de uma forma básica, mas não interrompa.

– Tudo bem.

– Ele... – hesito. Como será que o Drew vai reagir?

– Para de chorar e fala logo, Ann.

– O Finnick tá morto, Drew – digo cedendo ao choro e abaixando a cabeça, deixando as lágrimas escorrerem silenciosamente no meu rosto. – Estávamos na praia e chegou um ladrão. E... E ele atirou no Finn. E na hora eu não consegui ficar lá. E... E eu tentei me matar, mas aí senti um chute na barriga. Meu filho me salvou.

– Annie... – diz Drew também com voz de choro. – Sinto muito.

É por isso que amo meu irmão. Ele era muito apegado a Finnick e está sofrendo ao extremo. Porém está engolindo o choro. Ele está sendo forte por mim, está tentando me apoiar.

– Eu te amo, Drew – digo abraçando-o.

– Chega de choro – ele diz se levantando. – Afinal, sou um homem. E homens não choram!

– Ora... Mas é claro que choram! – digo sorrindo. – Deixe de besteira, Drew. Posso te pedir um favor? Dá a notícia para Selene?

– O que? – ele arregala os olhos. – Como...?

– Por favor?

– Tudo bem... – ele cede. – Contanto que me leve no médico junto com você quando decidir saber se eu vou ganhar um sobrinho ou não.

– Contanto que aceite minha proposta – digo. – Eu acho que não conseguiria ficar aqui, sabe, onde Finnick morava... E quero dar uma casa ao meu filho... Eu vou comprar um apartamento! Entendo se quiser ficar aqui, mas saiba que as portas dele sempre estarão abertas para você.

– Você tá falando sério? – ele pergunta. – Morar, tipo, eu e você? E meu sobrinho ou sobrinha?

– Sim – respondo. – Era esse o plano desde o começo, lembra? Quando eu atingisse a maior idade, virar sua responsável legal e tal...

– Eu vou com você.

Passamos alguns minutos em silêncio. A ideia de ir para um apartamento me surgiu agora, já que de fato, morando ali mil lembranças sempre voltariam à tona. Começo a lembrar de alguns momentos, mas não consigo mais chorar. Acho que já chorei demais durante minha vida toda. A morte dos meus pais, o bullying no orfanato, a depressão na adolescência, a morte de Finnick... Gostaria de saber como ainda estou aqui, viva. Até mesmo quando eu tento desistir, algo me faz voltar atrás e tentar de novo.

Eu... Eu estou feliz, de certa forma. O mais feliz que alguém que recebeu tantas patadas da vida pode estar. Vou ter um filho ou filha, um pedacinho de mim e vou ter meu irmão por perto. Acho que tudo está em ordem.

– Sabe, Drew... – começo. – Quer dar uma volta na praia? Sabe... Como nos velhos tempos?

– Eu não vou correr atrás dos pombos!

– Tudo bem – digo ajeitando seus cabelos rebeldes. – Dessa vez, você pode sentar ao meu lado na areia e observar o mar, ok?

– Ok.

– “Talvez o ok venha ser o nosso para sempre” – recito A Culpa é das Estrelas.

– Ah, não Annie, você lê demais! E outra, essa frase é usada para um casal. Você é minha irmã! Não rola... – ele reclama.

– Vamos logo, baixinho.

Levanto, ponho os chinelos e vou esperar Drew do lado de fora da casa. Quando ele chega, passo o braço em seus ombros e vamos caminhando, até chegar na praia... Eu e ele. Ele, meu irmão, meu melhor amigo, meu cumplice. Juntos. Para sempre e todo o sempre.


Meu nome é Annie Cresta.


Tenho 25 anos, cabelos castanhos e olhos verdes. Meus pais morreram quando eu ainda era criança e hoje moro em um apartamento de frente ao mar com meu irmão mais novo e com meu filho de quatro anos, Finnick II Cresta Odair. Ou só Nick, se preferir. E antes que você pense: não, não sou uma vadia que engravidou de qualquer um e o pai não quis assumir. O pai do meu filho é Finnick Claflin Odair, que morreu antes mesmo do Nick nascer.

Quando mais nova, eu costumava ser iludida. Acreditava em contos de fada e acreditava que um dia o mundo viveria em paz. Acreditava acima de tudo no amor e acreditava no meu final feliz. E esse final feliz, era eu conhecer alguém que chegaria em minha vida, assim, sem mais nem menos e bagunçaria tudo. Eu odiaria esse alguém por isso, mas seria tarde demais, já estaria apaixonada. Então íamos namorar, terminar, e namorar de novo. Íamos noivar e nos casar. Ter filhos e depois de tanto tempo, tinha certeza que ele ainda me amaria.

Hoje, sei que meu ideal de felicidade estava errado. Eu conheci alguém, que chegou na minha vida, assim, sem mais nem menos e bagunçou tudo. Fiquei com ódio dele por isso, mas já o amava. Namoramos e... Bom, acabou aí. E não, não sou infeliz por isso.

Acho que tive muitas perdas... Meus pais, Finnick... Mas posso dizer que sou feliz. Precisei sim de um amor. Precisei viver meu conto de fadas por alguns anos, mas não, minha felicidade não se resume a um homem. Tenho meu filho e meu irmão. Tenho liberdade e independência. Tenho minha casa e meu trabalho. Falando em trabalho... Assumi um desafio de me formar em uma área que odiava na escola, o inglês e agora sou professora particular e tradutora de livros de romance. Além de falar espanhol, italiano e francês.

Ok, talvez essa felicidade toda seja uma farsa, se eu for ser honesta. Às vezes, tenho vontade de voltar no tempo e ter continuado no mar, de cabeça baixa até morrer afogada. Às vezes, a saudade que sinto de Finnick chega a doer mais que uma bala em meu peito.

Saudade de seu cheiro, de sua voz, da sua risada, dos seus carinhos... E o mais importante, saudade dos seus olhos. Os olhos que transmitiam confiança, carinho, liberdade... E às vezes, quando esses momentos de tristeza voltam e eu tenho vontade de morrer, eu corro até o quarto do meu filho, o abraço apertado e olho em seus olhos. Porque sim, são os mesmos. Os mesmos olhos verdes...


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Notas finais do capítulo

Aceito recomendações.
Se vai ter gente querendo me matar porque eu matei o Finn? Talvez.
Mas esse era o plano desde o início! Se vocês forem ver os gêneros da fic tem "Deathfic" e "Tragédia", todos já sabiam que um dos dois iam morrer!
Mas enfim, muito obrigada à todos que comentaram e que leram. Aqueles que abraçaram essa fic e me apoiaram! Ela foi curtinha, tô sabendo, mas mesmo assim... Estou aberta para mais reviews e se alguém... Bom, se alguém quiser recomendar... Eu JURO que não ficaria triste. Eu ia ficar feliz, até. SABE??????
Ou talvez eu não mereça recomendações... A história foi tão curtinha! E eu ainda matei Finnick. Deuses egípcios, eu sou uma pessoa horrível!
Adeus, pessoas. Beijos *-*

LEMBREM-SE DE IR LÁ EM "HISTÓRIAS QUE ACOMPANHO" E MARCAR A FIC COMO LIDA, FLW?

Ah, eu tenho uma fic Peeta e Katniss, caso não queiram me abandonar: http://fanfiction.com.br/historia/298397/Um_Toque_Um_Cheiro_e_Uma_Voz/
E lembrem-se da One Clato!! (Ficaria feliz com reviews lá).
Tá, parei.
Adeus.