What If escrita por Olivia Hathaway, Maria Salles


Capítulo 7
Capítulo 5 - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Olha, eu cumpri minha promessa, viu? Prometi que iria postar ainda nesse final de semana e aqui estou o/ Comecei a escrever esse capítulo ontem, quando minha inspiração decidiu voltar! Ao todo foram 10 páginas, mais do que eu tinha planejado. Sim, eu não sei escrever capítulos pequenos =P
Queria agradecer a Miwa e a Bia Lins por terem sido minhas betas e pela paciência hahaha obrigada meninas ♥ ♥
Bom, nos vemos lá embaixo ;) Espero que gostem!



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O que ele estava fazendo aqui? E do lado da minha mãe?

Não, ele não podia ter entrado aqui de penetra. Mesmo que eu soubesse que ele conseguiria fazer isso. Dimitri não o tinha convidado, considerando sua distância dele. Lissa? Muito improvável. Minha mãe? Talvez... E eles estavam muito perto um do outro.

Abe abriu um sorriso de deboche quando notou minha expressão chocada. Eu o ignorei e direcionei a atenção a minha mãe. "Mãe?"

Ela deu um passo a frente, e por trás do sorriso que ela tinha, eu pude ver uma certa hesitação. "Eu não te disse que não vinha?"

"Claro" eu a abracei, feliz. "Eu só não, hm..."

"Achou que eu não estivesse falando sério?" ela se afastou para ver meu rosto. Não havia aborrecimento por eu ter duvidado dela. Muito pelo contrário. Ela estava se divertindo com a minha surpresa. "A propósito" ela se afastou, e notei que ela segurava um embrulho. "Isso é para você"

Eu peguei o embrulho, sentindo uma pontada de felicidade e descrença. Esse era o primeiro presente de aniversário de verdade que eu ganhava da minha mãe. Ela tinha me mandando alguns durante todos esses anos, mas sempre como se aquilo tivesse sido uma obrigação para ela. Nem ligar ela ligava, muito menos deixava alguma nota me dando parabéns e dizendo que se importava comigo ou algo do tipo. Ela era Janine Hathaway. Totalmente fria e profissional. E é claro, uma das melhores guardiãs que o mundo já tinha visto. Era um tanto estranho ela estar sendo amável e maternal agora comigo. Não que eu não gostasse, eu estava adorando isso. Mas é que ainda era estranho.

Eu o abri, e minha mão envolveu algo frio e sólido. Eu encarei a minha mãe, incrédula. Nem precisava olhar para o conteúdo por que eu já sabia o que era: uma estaca de prata.

"Eu pensei que você iria gostar de ter uma por perto depois de tudo" disse. Ela pegou a estaca e gesticulou para a base. "Só que dessa vez personalizada. Uma estaca só sua"

Guardiões tinham suas próprias estacas, e para não perdê-las, eles gravavam seus nomes ou algum símbolo que as diferenciassem umas das outras. A minha tinha meu nome gravado em uma letra cursiva bem desenhada. Eu encontrei seu olhar, e eu tive que segurar minhas próprias lágrimas. Estava emocionada, claro. Mas isso não significava que eu queria que os outros vissem isso.

Então Lissa se aproximou, também segurando um embrulho nas mãos. Eu logo me recompus e lancei um olhar feio para ela. "Liss, você sabe o que eu disse sobre presentes"

Ela sorriu, exibindo suas presas. "Não importa. É seu aniversário, e eu não ia deixar passar em branco"

Resmungando, peguei o embrulho e o abri. Quando vi o que tinha dentro, tive que segurar uma sequência de palavrões que provavelmente fariam Kirova expulsar o pai de Avery da diretoria apenas para ter o prazer em me punir. Oh cara. Ela não tinha feito aquilo.

"Não acredito que você fez isso!" exclamei, segurando a caixinha onde dentro havia um iPod. A felicidade de Lissa rivalizava com a fúria que eu sentia naquele momento por ela ter me dado aquilo.

"Você me disse uma vez que queria um"

"Sim, eu disse. Mas não significa que você vai comprar tudo o que eu desejar" Eu balancei a cabeça, ainda incrédula. "Vocês saíram da Academia para fazer compras e nem me avisaram"

Lissa riu. "Queria que isso tivesse sido verdade. Hoje em dia a internet nunca te deixa na mão"

Eu balancei o iPod nas minhas mãos. "Sério, não precisava. E Dimitri provavelmente vai viver confiscando ele nos nossos treinos"

"Desde que você use apenas nas corridas, eu não me importo"

Todos riram. Eu olhei para ele e me surpreendi a ver que ele também parecia divertido. Eu estava mais do que feliz por vê-lo relaxado no meio de todo mundo. Era algo inédito, e lindo.

Adrian foi o próximo. Havia um sorriso malandro em seus lábios quando ele me entregou um extravagante pacote dourado. Tinha até um laço vermelho com detalhes de glitter. Pelo tamanho do dele, eu chutava que seria algum vestido de veludo vermelho com um decote, ou até mesmo banhado de diamantes. Fiquei surpresa ao ver que era uma pulseira com um pingente de rosa cheio de pedrinhas coloridas.

"Surpresa, pequena dhampir?" perguntou.

Eu guardei a pulseira dentro da caixinha e sorri para ele. "Sim, mas de um jeito bom. Estava esperando algo super escandaloso"

O sorriso se ampliou. "Você sabe que eu posso aparecer com algo super escandaloso a qualquer momento, certo? Ainda temos o quê, umas dez horas até a meia noite?"

“Adrian” eu disse, com a minha melhor cara séria. “Se você realmente estiver pensando em aparecer com algo escandaloso, eu sugiro que você aproveite bem essas dez horas. Porque elas provavelmente serão as últimas da sua vida”

Aquilo arrancou outro coro de risadas, e alguém limpou a garganta. Eu olhei para o lado e meu coração quase afundou no peito com a visão que tive.

"Você também não, camarada!"

Dimitri estava parado a poucos centímetros de onde eu estava, segurando um embrulho. E eu pude ver que ele estava lutando para segurar um sorriso. “É seu aniversário. Espero que goste”

Deslumbrada, eu peguei o pacote das suas mãos e o abri. Uma jaqueta de couro preta, muito bem trabalhada e com bolsos estratégicos e grandes o bastante para esconder uma estaca. Era uma daquelas jaquetas que os personagens mais fodas usavam nos filmes de ação. O tipo de jaqueta que combinava comigo e que aumentaria ainda mais minha reputação de matadora de Strigoi.

Olhei para ele e segurei a manga da jaqueta. "Eu só acho que o seu fornecedor de jaquetas de couro tem muito bom gosto"

O sorriso escapou, e sem conseguir conter minha empolgação, eu me inclinei para frente e o abracei. Aquilo o pegou desprevenido, mas segundos depois ele o retribuiu, me puxando mais para perto. Suas mãos pousaram nas minhas costas, e calor passou por nós.

Eu estava empolgada demais para segurar meus sentimentos. Dimitri não costumava me dar presentes - ele só o tinha feito uma única vez. Tinha sido um gloss, um que eu tinha reclamado que estava acabando. E aquele simples presente significou muito mais do que joias e outras coisas caras que alguém poderia me dar. O mesmo era com este presente.

"Feliz aniversário, Roza" ele disse, seus lábios muito próximos do meu ouvido. Sua voz estava carregada de sotaque, indicando que ele estava tão afetado quanto eu com aquela proximidade.

"Ainda não me conformo que você também gastou seu dinheiro me comprando um presente" ele se afastou levemente para trás, para ver meu rosto. "Eu te disse que não precisava"

Isso me rendeu uma das raras e genuínas risadas de Dimitri. Ele tinha a mesma expressão despreocupada de Lissa quando eu a repreendi por ter gastado sua mesada - mas no caso de Dimitri, era seu salário de guardião - com um presente. “Como eu falei antes: é seu aniversário. E, bem, isso é algo que eu acho que você deveria ter no seu guarda-roupa”

“Concordo com o Guardião Belikov” eu ouvi Christian dizendo. Ele se aproximou de nós com aquele seu jeito cínico. “Agora você tem o traje de guerra completo. Só falta a licença para matar”

"Definitivamente" murmurou Abe. Eu tinha esquecido de que ele estava aqui. Havia um brilho de excitação em seus olhos, junto com o que reconheci ser orgulho, o que era totalmente maluco. Ele nem sequer me conhecia. O máximo que ele teria ouvido sobre mim seria sobre a minha reputação – não que ela fosse uma das melhores. E não era. Mas minhas recentes façanhas tinham dado o que falar nas últimas semanas.

Eu desviei meus olhos dele e olhei para Lissa. "A propósito, onde vocês arrumaram esse bolo?"

“Christian que fez” Avery disse, apontando para ele. Christian sorriu com a expressão que cruzou meu rosto.

“Não se preocupe, Rose” falou “Eu não o envenenei. Ainda”

“Não importa. Você vai comer o primeiro pedaço” Coloquei minha mão em seu ombro e sorri. “Eu não quero arriscar”

***

“Você não tem mais cabides?”

Eu levantei meu olhar para minha mãe, que estava de frente para o meu guarda roupa. Ela segurava a blusa preta com lantejoulas que Avery tinha me dado de presente.

“Veja na outra porta” instruí.

Meu quarto era grande, porque tinha sido feito para acomodar duas pessoas. Mas como o número de garotas dhampir nas Academias era baixo, eu acabei ganhando um quarto só para mim. Entretanto, isso não significava que eu teria um maior número de mantimentos, como cabides.

Ela encontrou alguns, e rapidamente colocou a blusa no guarda-roupa. Enquanto isso, eu estava separando os presentes que tinha acabado de ganhar de suas respectivas caixas.

Eu entreguei o vestido que tinha ganhado de Abe mais cedo. Era um vestido longo com vários tons de azul, feito de seda. E gritava dinheiro, assim como suas roupas.

“Abe foi muito generoso” eu disse. Minha mãe me olhou. Apontei para o vestido. “Com o presente e tudo mais. Já que eu mal o conheço”

Ela demorou um pouco para responder. Parecia estar imersa em pensamentos. “Sim, ele foi”

Eu a estudei por um momento. “Foi você que o chamou para a festa?”

“Sim.” Sua expressão se tornou dura. “Não me olhe com essa cara. Ele não é uma má pessoa”

“É, eu fiquei sabendo que ele está envolvido com as doações da escola. Mas isso não cobre aquela aparência de gangster dele e nem aquela arrogância. Eu ainda acho que ele está envolvido no mercado negro”

“As aparência enganam” disse secamente, colocando o vestido no guarda-roupa. “E Abe não está envolvido com negócios ilegais. Ele é um negociante honesto. Ele conhece e faz favores para muita gente, e é por isso que ele tem a influência que tem.”

“O tipo de influência que fez algum subordinado seu contar ao meu respeito certo? Provavelmente ele quer me usar para conseguir mais fama, ou mexer os pauzinhos para que eu acabe sendo guardiã de um Moroi multimilionário ao invés de Lissa. O lucro certamente seria maior.” A última opção era a que mais combinava com ele.

“O que você disse?”

“Nada” eu estava desesperada, e até mesmo atordoada. Eu queria saber os motivos que trouxeram Abe até a Academia. Especificamente até mim. Mas eu não conseguia pensar em algo razoável. Não dava quando se tratava de Abe.

Ela se sentou na minha cama, com uma perna por cima da outra. Seus olhos castanhos se encontraram com os meus. “Vamos dizer que ele ouviu sobre seus feitos, e que queria te conhecer melhor. E Rose, depois do ataque e daquela missão de resgate, muitos estão curiosos sobre você. Acredite em mim, você não tem motivos para ser tão hostil com ele”

Eu estava começando a dizer que eu era hostil com Abe porque ele me provocava com aquilo quando a minha mão que estava viajando pela jaqueta de couro que ganhei de Dimitri se esbarrou em algo. Eu franzi o cenho, e puxei o objeto. Surpresa estampou meu rosto quando vi que era um saquinho preto de veludo.

Eu o abri e balancei. Uma corrente de ouro com um pingente de coração caiu na palma da minha mão. Tive que fechar minha boca para que ela não se abrisse em um 'O' de exclamação. O choque que tive mais cedo por conta dos presentes não chegava nem perto do que o que eu sentia nesse momento.

Segurei a corrente e observei o pingente, ainda deslumbrada. Eu não consegui identificar a pedra que tinham usado para fazê-lo. Mas o que mais tinha me chamado atenção foi um detalhe dele: parte da pedra vermelha usada estava um pouco descorada. Não, não tinha sido feito por alguém. Era algo daquela própria pedra mesmo. Era isso que o tornava ainda mais bonito - tirando o fato de que tinha sido me dado por Dimitri.

"O que é isso?" a voz da minha mãe me trouxe de volta. Eu congelei onde eu estava. Merda, merda e merda. Ela não poderia ver como aquele colar tinha mexido comigo, porque ela começaria a suspeitar. Eu me recompus e olhei para ela, erguendo o colar. Surpresa tomou conta do seu rosto. "É - é muito bonito. Quem te deu?"

"Dimitri"

Eu poderia dizer que ela estava quase tão surpresa quanto eu. Eu esperei pela raiva e pela acusação por eu ter me envolvido com meu professor, mas não aconteceu. Ela se aproximou mais e segurou o pingente. "Isso certamente foi muito inesperado vindo dele." Seus olhos caíram em mim, e sua voz não soou acusatória. Apenas curiosa. "Vocês são mais próximos do que eu imaginava"

Opa, estávamos navegando em águas perigosas. Eu coloquei meu cabelo atrás da orelha e fitei o colar. "Somos bons amigos, só isso. E você sabe, Dimitri tem muitos poucos amigos"

Dimitri constantemente passava a maior parte do tempo sozinho, quase sempre na companhia de um de seus romances de faroeste. E ele parecia gostar daquela solidão. Claro, ele também conversava com os outros, e todos o respeitavam. Mas não havia aquela intimidade, apenas colegas de trabalho que ele gostava. Eu diria que eu e a tia de Christian, Tasha Ozera, éramos as únicas pessoas que chegávamos perto de amigos para ele - e seu amigo já falecido Ivan Zeklos. Mas eu tinha ido muito mais além.

Eu tinha furado aquela barreira, dando a ele uma conexão onde conseguíamos partilhar nossas emoções, crenças e força. Ajudávamos um ao outro a crescer. E o mais importante: havia entendimento entre nós, entendimento que acontecia sem precisarmos de palavras.

E mesmo assim, algumas vezes eu percebia que ele ainda se sentia sozinho.

Minha mãe demorou para responder. E quando ela o fez, eu vi aprovação em sua face. "Você tem razão. O Guardião Belikov é mesmo muito reservado. Mas ainda continua sendo um dos melhores guardiões, além de um homem honrado que leva muito a sério o dever. Vasilisa tem sorte em tê-lo como seu guardião. E você, em tê-lo como mentor, parceiro e amigo. É o tipo de homem que você deve manter por perto e aprender tudo o que ele ensinar. Tenho certeza que ele nunca te deixará na mão"

Aquilo doeu um pouco. Eu sabia que Dimitri era um homem honrado e que levava muito a sério seu dever - esses tinham sido dois dos motivos que me fizeram me apaixonar por ele. E tinham sido eles que fizeram Dimitri hesitar antes de tomar a decisão mais complicada da sua vida: desistir da guarda de Lissa para ficar comigo. Tecnicamente ele tinha violado o mantra dos guardiões, que falava que tínhamos que colocar nossos Moroi em primeiro lugar. E eu tinha certeza que aquilo ainda estava corroendo ele por dentro, mesmo que ele não demonstrasse.

Por outro lado, era bom saber que ela aprovava Dimitri. Na verdade, era impossível não aprová-lo. Eu já sabia que ela o admirava, mas ela nunca tinha discutido isso tão abertamente como agora. Eu poderia dizer então que ela estaria mais do que feliz em me ver com Dimitri do que com Adrian, por exemplo. Ou não.

Tive vontade de contar a ela sobre meu complicado relacionamento amoroso com ele para ver sua resposta, mas tive a sensação de que ela não seria nada boa. Não consegui segurar um sorriso. Aposto que ela até retiraria tudo o que tinha acabado de dizer, e ainda o chamaria de pedófilo ou coisas do gênero - mesmo eu sendo uma adulta agora.

Então não, nada de contar a ela sobre Dimitri. Quem sabe num futuro próximo, quando estivéssemos mais familiarizadas uma com a outra. Seria mais fácil para ela compreender depois de provavelmente ter um ataque de nervos e de tentar até matá-lo.

"Por que você está sorrindo?" ela tinha ficado séria e especulativa novamente.

Eu balancei a cabeça. "Não é nada. Olha, você sabe que pedra é essa?"

Ela pegou o colar da minha mão e o estudou por um momento. "Hm... ela me é familiar, mas não me recordo o nome. Eu tinha visto algumas peças com ela quando fui a Kiev no ano retrasado."

Kiev ficava na Ucrânia. Minha mente começou a trabalhar, e o meu coração, a acelerar. Eu apostava que deveria ter em mais locais naquela região da Europa, como a Rússia.

"Mãe, você acha que na Rússia também tem esse tipo de pedra?"

Ela ainda não tinha tirado os olhos do colar. "Sim, lugares como a Rússia também devem ter esse tipo de pedra." ela me entregou o colar. "Só tome um pouco de cuidado. Esse colar é um tanto velho, pode ter sido herança de família."

Pode ter sido herança de família. Novamente, eu prendi a respiração. Yeah, eu definitivamente teria que conversar sério com Dimitri mais tarde. Não me leve a mal, eu estava mais do que feliz em ter recebido mais um presente dele, mesmo que fosse uma joia. Na verdade, eu estava muito emocionada porque aquilo tinha um real significado para ele, já que provavelmente era uma herança de família e tudo mais.

Até onde eu me lembrava, uma pessoa não dava uma joia que pertenceu a algum antepassado seu sem ter um bom motivo.

Minha mãe estava prestes a dizer algo quando uma batida na porta a interrompeu.

"Rose?" a voz de Lissa ecoou do outro lado do quarto.

Minha mãe prontamente se levantou. Eu esperava vê-la irritada por ter sido interrompida, com seus lábios pressionados em uma linha fina em claro aborrecimento. Mas ela não estava assim. Havia hesitação lá, e um certo desconforto. E seus olhos pareciam estar divididos entre falar algo ou ficar calada. Aquilo só aumentou ainda mais a minha curiosidade.

"Você tem alguma coisa para me dizer?" eu pressionei.

Ela suspirou. "Temos um jantar para ir mais tarde. Com Abe"

Dessa vez foi eu que me levantei da cama. "Você não pode estar falando sério!"

"Não retruque, Rose" a velha e irritadiça Janine Hathaway estava de volta. "Apenas esteja pronta e lá no horário certo. Com roupas decentes, de preferência"

Eu ignorei o insulto sobre minhas roupas. "Por que diabos eu tenho que jantar com ele?" vi um certo incômodo em seus olhos. "Ele te pressionou para fazer isso, certo? Eu sabia! Sabia que ele era um -"
"Rosemarie!" vociferou, e eu imediatamente parei de falar. Ela continuou. "É um jantar formal. Como eu disse a você mais cedo, ele quer te conhecer melhor. E arrume essa cara"

Eu arrumei. Mas não significava que eu estava feliz em ter que ir para aquele jantar. Ela me disse para encontrá-la no apartamento de Abe, no prédio de visitas. Era o mesmo prédio onde ficava o apartamento de Adrian e Avery, para variar.

Enquanto me arrumava para o tal jantar depois que Lissa se foi, eu considerei a ideia de fugir para o quarto de um dos dois. Provavelmente minha mãe não me encontraria lá, nem os guardiões. Eu poderia inclusive fazer Adrian usar compulsão neles se ele estivesse sóbrio.

O que me impediu de fazer isso foi a imagem que tive de Abe rindo da minha cara por eu ter me escondido. Eu não iria dar esse prazer para ele.

Peguei a roupa mais decente que eu tinha para um jantar: meu melhor jeans e casaco. Não havia necessidade de usar um vestido. Deixei meu cabelo solto, passei uma maquiagem leve e calcei um par de botas de montaria que eu tinha comprado quando ainda morava em Portland.

Quando cheguei até o apartamento, fui recebida por um dos guardiões de Abe. Ele estava vestido formalmente com um terno, o que era um tanto curioso. Era tipo de vestimenta que os guardiões usavam quando estavam vigiando eventos formais. Mas se bem que visuais extravagantes eram a marca registrada de Abe.

“Ah, aí está você” eu o vi caminhando até onde eu estava. Abe vestia um terno preto com uma gravata verde, que combinava com um dos lenços que ele usava no bolso. Ele também manteve as joias. Aposto que as pessoas o zoariam por se vestir assim se ele não fosse tão assustador. “Achei que não fosse aparecer. Janine já estava ficando preocupada” ele olhou para o dhampir. “Obrigado, Pavel”

Eu retribuí o sorriso, tentando parecer mais adulta do que provavelmente parecia. “Eu sei como esse jantar é importante, velhote. E além do mais, sou responsável.”

“Ah,” ele disse de novo, “então você definitivamente era como eu pensava.”

Revirei os olhos e ofereci meu braço quando ele ofereceu o dele. Não que eu quisesse ficar mais perto dele do que o necessário, mas seria falta de educação recusar.

E afinal de contas, era somente um jantar com minha mãe e um Moroi com cara de gangster que tinha enorme influência no mundo Moroi – até mais do que muitos da realeza. E era um dos financiadores da escola.

É só um jantar, fiquei me lembrando, embora eu soubesse que não ia ser tão fácil assim. Na verdade, esse iria ser o jantar mais complicado e confuso que eu já tive em toda a minha vida. Porque parada a poucos metros de nós, estava minha mãe.

Ela tinha acabado de se levantar da mesa – onde estavam todo o tipo de comida. E novamente tive que me conter para que meu queixo não caísse. Porque naquele momento, eu sentia que minhas roupas não eram nada apropriadas para um jantar desse tipo. Eu me sentia como uma mendiga.

Minha mãe usava uma blusa de manga feita de seda, que deixava exposta grande parte da sua pele bronzeada. Ela inclusive estava usando joias, mas estas eram discretas – uma corrente de ouro e brincos pequenos. E o seu cabelo vermelho estava solto, seus cachos quase tocando seus ombros. Era como se ela realmente tivesse tentando se arrumar. Ela desviou seu olhar do meu ao ver meu choque.

“Sabe Janine, acho que você poderia se passar como irmã de Rose facilmente. São muito parecidas” Abe disse com um sorriso. Eu o encarei, chocada. Senhoras e senhores, ele tinha acabado de flertar com ela? Ele também era maluco a ponto de não temer a própria morte?

Mas ao invés de minha mãe socá-lo por ter cantado ela, ela permaneceu parada com um sorriso torto no rosto. Whoa, eu definitivamente estava perdendo uma coisa grande aqui. Mas não ia deixar isso passar em branco.

“Eu juro que se eu te ouvir cantando ela mais uma vez,” eu apontei para a porta “eu saio daqui e deixo vocês jantando sozinhos.”

Aquilo arrancou outra risada dele. “Sim, vocês definitivamente são parecidas. Especialmente com as ameaças. Encantador!”

Revirei os olhos.

“Então” eu disse depois que sentei na mesa. “Eu suponho que esse não é um simples e formal jantar, certo?”

“Não mesmo” disse Abe, soando como se tivesse feito uma piada interna. Ele olhava diretamente minha mãe, com expectativa. Mas ela permaneceu com a expressão inalterada.

“Está com fome, Rose?” perguntou ela, apontando para a comida. “Garanto que você irá gostar da comida”

Eu observei a mesa. O cheiro estava divinamente bom, mas a aparência dos pratos era um pouco estranho. Havia peixe, um tipo de salada que não reconheci, canja e – para a minha surpresa – iogurte. O que era muito esquisito. Tipo, quem comia iogurte junto com toda aquela comida? Aliás, aqueles pratos eram estranhos para mim, e alguns não pareciam ser muito apetitosos – em especial um que era uma mistura de arroz, pimenta e iogurte. E olha que eu comia de tudo.

Eu olhei para cima e encontrei os olhos negros de Abe fixados em mim. Mais especificamente nos meus peitos. Eu estava prestes a xingá-lo por estar olhando eles quando vi que não eram eles que tinham captado sua atenção. Era o meu nazar, que eu tinha ganhado da minha mãe no Natal. Ele era mais ou menos do tamanho de uma moeda de dez centavos, e tinha o formato de um olho azul. Eu recentemente tinha descoberto que ele me protegia das coisas ruins que as pessoas podiam fazer comigo. E é claro, que meu pai tinha dado ele de presente para minha mãe, há muito tempo atrás.

A blusa que eu usava o deixava totalmente exposto. Eu rapidamente apertei meu casaco para cobri-lo. O olhar de Abe então cruzou com o meu, sagaz e misterioso. Mas havia também uma chama de emoção naqueles olhos.

Eu desviei o olhar e comecei a pegar um pedaço do peixe. Já que iria comer, começaria por um prato conhecido. “Pode começar com o interrogatório se quiser, velhote. Ouvi dizer que você está interessado em mim”

“Interessado não” ele coçou sua barbicha. “Apenas curioso. Porque sabe, não é muito comum encontrar por aí novatos que já mataram Strigoi antes mesmo de se formarem. Especialmente uma garota”

Eu entendi aonde ele queria chegar. Ele tinha sido atraído pelas minhas façanhas, e queria saber de mais detalhes e conhecer mais de perto a garota que agora era considerada a heroína da escola. A heroína que via fantasmas, diga-se de passagem. Minha mãe tinha razão.

Então eu comecei a dar a ele uma breve explicação das táticas que eu tinha usado no ataque e alguns detalhes a mais sobre o que tinha acontecido na caverna. Ele parecia absorto no que eu dizia, mas não totalmente. Eu senti que o ar se tornava cada vez mais pesado, como se um deles estivesse prestes a fazer uma grande revelação.

Em uma tentativa de eliminar essa tensão, eu perguntei da origem daquela comida esquisita.

“É comida turca” respondeu Abe, enchendo seu copo com uma bebida que não reconheci. Ele arqueou uma sobrancelha. “Você nunca comeu isso antes, certo?”

Neguei com a cabeça. “Não. Mas até que a comida é boa. Só não arrisco aquele bolo de arroz com iogurte”

Ele riu da expressão que cruzou meu rosto. “Engraçado, porque sua mãe adora esse prato. Ela acha que é algo exótico. Mas fez a mesma cara que você fez quando o viu pela primeira vez”

Eu me engasguei com um pedaço de carne. “Como é que é?”

Abe não olhava para mim, mas sim para minha mãe. Seu rosto estava ansioso. “Por que não conta logo para ela, Janine?”

“Contar o quê?” eu olhei para minha mãe, exigindo uma resposta. Ela não olhou nos meus olhos, e aquilo me desesperou. “Mãe, o que está acontecendo?”

Ela pousou o garfo na mesa, e só agora notei que sua mão tremia. Eu perguntei novamente, ciente de que só a estava deixando mais nervosa.

“Rose” ela começou, olhando diretamente nos seus olhos. Eu senti que uma bomba estava prestes a explodir “O real motivo pelo qual estamos aqui não é para ter um jantar de negócios.” Eu estava prestes a abrir a boca quando ela continuou. “Por favor, tente nos entender antes de tomar uma decisão precipitada. Nós decidimos...” ela fechou os olhos por um momento. Ela os abriu, e estava prestes a falar quando Abe a cortou.

“Nós decidimos que já estava na hora de você conhecer seu pai”


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Notas finais do capítulo

Ai caramba, e agora???

Sim, eu sei que vocês querem me matar por ter feito isso, mas é que eu amo torturar vocês com um suspense HUSAHUSHAUUSAUHSAUSUHAHUA

O que acharam do capítulo? Deixei muito meloso? Esse jantar foi super complicado de escrever e me sinto um tanto insegura Abe é complexo demais, especialmente a relação dele com a Rose e a Janine.

E o segundo presente do Dimitri, vocês gostaram? Eu o coloquei justamente por ser da família dele, acho que teria mais significado. Esse colar eu me inspirei em um que eu ganhei quando fiz 15 anos, de uma tia-avó. A pedra dele é da Polônia ou da Ucrânia (não me lembro muito bem) e foi trazido pelos meus bisavós, que moravam lá (sim gente, tenho sangue polaco nas veias hahahaha). Também não sei o nome da pedra (nem essa minha tia sabia hahaha mas é lá daquela região mesmo.) Aqui o link para quem quiser ver: http://img829.imageshack.us/img829/8846/colard.png

Ah sim, queria agradecer todos os comentários que recebi! Já disse que amo todos vocês né??? E que fico supeeeer emocionada quando leio todos os reviews?? Sério, eu estou amando saber que vocês estão adorando a fic!!! Mais uma vez, obrigada e obrigadaaaaa *----------------*

Marecontreiras sua LINDA (não sei seu nome hahaha) MUITO OBRIGADA PELA RECOMENDAÇÃO *O* *O* *O* eu quase chorei quando vi *--------* ♥ ♥ ♥ vc não sabe o quanto aquilo significou pra mim!! E ah, tem mais outra recomendação, mas não consegui ver de quem que era e o que estava escrito =( Se for de alguém, comentem aí pra eu saber!! Odeio ficar no suspense =P

E se mais alguém quiser aproveitar pra recomendar, fique a vontade ^^

Bom, acredito que seja isso!

Por favor, me digam o que acharam!!! Não tenham medo de me xingar e de dizer que não gostou, ok? AH SIM: Me contem também como vocês acham que a Rose irá reagir!!! Eu quero muito saber disso!!!!
Sábado estarei indo pra Manaus fazer minha matrícula na faculdade, mas vou dar um jeito de postar até lá (provavelmente na sexta, ok?) =)
Obrigada por tudo, pessoal!!! ♥ ♥

Beijos ;*
— Anita