Blackout {hiatus} escrita por Santana


Capítulo 9
Instável


Notas iniciais do capítulo

Oi!! Queria agradecer às meninas pelos comentários e indicações!
Agora aproveitem que nos vemos lá em baixo.



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Tudo que eu queria agora era me trancar no quarto e sair no próximo equinócio.

Mamãe e papai vindo passar o fim de semana só poderia significar uma coisa: estou ferrada e condenada à morte pelos próximos dias.

O nome de mamãe era Amélia e sua única função era não me deixar respirar. Trazia vestidos apertados e sapatos que ela dizia “feminino”, murmurava aos quatro ventos que tivera dois filhos homens, já que eu me recusava a usar os scarpins que ela levava e os trocava por sapatilhas na primeira oportunidade, sem falar no maior dos maiores defeitos de Amélia!

Ela idolatrava Dylan Thorne.

Tipo, idolatrava mesmo.

Eu até cheguei a desconfiar que ela mandara esculpi-lo em madeira só para deixar o energúmeno lá junto aos santinhos e velas.

Um verdadeiro porre.

Meu fim de semana estava fadado à decadência.

Já papai era mais tranquilo e eu o adorava. August Collins era a paternidade que todo adolescente pediu à Deus. Tirando a parte de ser todo controlador comigo do tipo que reclama quando eu uso blusas de manga comprida no calor ou achar que eu ando me cortando (o que eu juro que nunca fiz), o que restava era somente um homem intimidador à primeira vista, robusto e sério com um olhar azul tempestuoso que parecia virar negro quando estava com raiva e que eu tenho orgulho de ter herdado. Papai parecia um verdadeiro carrasco, sei lá, o Hades, mas tudo só a primeira vista, depois ele era todo risos para cima e para baixo.

E eu tinha o mesmo gênio orgulhoso e rancoroso dele.

Combinava perfeitamente com os meus olhos azuis, devo acrescentar.

Eu estava os esperando, vestindo a minha melhor roupa para encontrar mamãe: um vestido bege que ficaria no meio da coxa de qualquer outra pessoa, mas chegava abaixo dos meus joelhos, meio rodado em baixo e apertado da cintura para cima, com um decote quadrado e manguinhas curtas.

Ela adorava aquele vestido e eu vestia para agradá-la, quem sabe ela me deixasse vestir as minhas próprias roupas quando visse que eu estava me comportando como uma daminha, como ela sempre dizia.

Desci as escadas passando pelo quarto de Stev que estava com a porta fechada. Percebi que Dylan não estava mais dormindo no sofá e havia feito o favor de tirar as xícaras sujas da estante que estava bem mais arrumada, com os nossos livros da faculdade separados por uma divisa de vidro que Stev mandara arrumar.

Estava ansiosa, fazia algum tempo que não via mamãe e papai e mesmo que às vezes eles fossem tão grudentos (exatamente esse foi um dos motivos pelo qual decidi morar com Stev) eu sentia falta de um carinho de vez em quando. Eu era humana, afinal. Sentia-me frágil e largada, Ron era o único que se arriscava a me dar um abraço mais de duas vezes na semana, eu até poderia chamá-lo para jantar.

Mas a Dona Amélia é meio homofóbica.

– Os pais do meu amigo vão chegar hoje, eu não posso, Toni – a voz do Dylan preencheu a sala e mesmo inconscientemente fiquei mais alerta para ouvir a conversa dele com a namoradinha – O quê? – ele deu um riso debochado – Não temos nada, foi outro terrível mal entendido, eu e o...

Dylan ergueu os olhos e eles se demoraram em meu rosto ruborizado, pega no flagra ouvindo a conversa alheia, mesmo que não parecesse.

– Eu vou desligar, nos falamos depois.

A sua touca estava no costumeiro lugar ocupando o alto da cabeça e deixando alguns fios negros para fora, seu olhar era curioso em meu vestido, mas seria uma puta ousadia se ele...

– Julia Collins usando um vestido? Grande novidade!

Seus olhos castanhos eram brincalhões me olhando e a mancha avermelhada havia se tornado uma bola disforme com os limites arroxeados. Senti um pouco de pena, mas ele bem que havia merecido.

– Não te devo satisfações, pelo que ainda sei. E seria um grande favor se você se recolhesse a sua insignificância e não me dirigisse a palavra.

Fui fria e cortante. Uma dor dilacerante perfurando o meu peito à medida que eu dizia aquelas palavras. Sentia que estava sendo dura, mas nada que Thorne não merecesse.

Ele se sentou no sofá, de frente para mim que continuei de pé, suas íris vagavam pelo cômodo sem ter coragem de me encarar e eu temia que se ele o fizesse eu perderia todas as guardas.

– Desculpe por hoje cedo, foi muito mal – ele frisou o muito, como se realmente estivesse sentindo aquilo – Eu não consigo fazer nada certo ao que diz respeito a você, eu sinto muito. Mas logo o Darwin, Jus? Darwin Baker?

Sua voz era incrédula, como quando eu perguntara sobre a Antonia. Algo em como ele me chamara de Jus, idêntico ao sussurro enquanto dormia fez uma coisa dançar na minha barriga. Uma coisa que eu odiava e trazia pressentimentos horríveis.

– Você bateu nele, Dylan, e é ele quem merece essas desculpas.

Dylan deu um riso debochado. E balançou a cabeça.

– Eu realmente não deveria ter batido nele, se eu pelo menos soubesse que era você quem iria cuidar de deixá-lo bem eu nunca teria relado um dedo nele.

Pensei que meu coração pararia quando Dylan se levantou sem aviso prévio e me abraçou.

A diferença de altura era gritante me afoguei em sua camisa enquanto ele me afagava, acariciando a minha bochecha, me apertando mais forte, me dando carinho.

– Se eu soubesse que você sairia dali com ele nunca teria feito aquele escândalo, eu nunca teria ficado com Antonia, nunca teria te feito mal e nunca, nunca mesmo, pequena, teria saído do seu quarto sem que você me deixasse dizer o que eu sentia quando estávamos juntos... eu nunca, Jus...

Sua voz estava abafada e um tanto confusa. Os acontecimentos vieram aleatórios me causando uma coisa estranha no coração... E algo como ele me chamou de pequena... Céus! Havia algo lindo em como ele falara aquilo que quase não me deixou respirar. E aquela loucura de “dizer o que sentia quando estávamos juntos”? Nunca me pareceu tão errado não tê-lo escutado.

– O que você sente? – ele indagou se afastando poucos centímetros para que o meu azul tempestuoso (e um tanto comovido, devo confessar) se encontrasse com aqueles castanhos lindos que ele possuía. – Eu preciso saber o que você está sentindo agora, Jus.

Seu tom era de total súplica e inquietação. Sua mão acariciava a minha cintura e inconscientemente senti o meu nariz encostar-se a sua bochecha quente, bem no machucado. Fechei os olhos quando ele suspirou sôfrego e me perguntei se era o mesmo suspiro que ele soltava antes de chorar. Os seus dedos me apertaram mais, cintaram o vestido e subiram até o meu rosto, acariciando-o.

Eu sinto uma confusão, Dylan... Eu sinto...

– Ficarei louco – ele sussurrou e seu hálito quente alcançou o meu rosto tão perto – Enquanto não souber o que você sente com isso.

Seus lábios frios tocaram a ponta do meu nariz e logo depois passaram se arrastando preguiçosamente para a minha bochecha, onde selou rápido, com pressa para chegar aos meus lábios.

Então ele me beijou. Dylan respirava forte e nossos corações batiam um contra o outro fortemente. Não passara de um simples encostar de lábios intenso. Ele puxou delicadamente o meu lábio inferior entre os seus e continuaria se o barulho das chaves não nos trouxesse de voltar para a realidade.

Tão rápido quanto ele começou aquilo Dylan se afastou e se jogou no sofá respirando fundo e, mais uma vez, não me encarando.

Eu também não tinha a mínima coragem de olhar para ele, o meu coração batia rápido demais.

Eu já estava começando a ficar com raiva de mim.

Stev passou pela porta sem mamãe e papai. Torci secretamente para que eles tivessem desistido.

– Oi, os dois estão lá embaixo conversando com a Srtª Prism do andar debaixo, eu vim ver se tá tudo ordem e – ele me lançou um olhar acusador – se vocês dois não estão brigando.

– Vou esperar lá em cima, me chama quando eles chegarem. - dei de ombros.

Subi as escadas correndo e odiando aquele vestido. O que aconteceria se Stev não tivesse chegado? Não me controlaria, Dylan era uma droga e a abstinência estava me matando.

Deitei na cama ainda bagunçada e retirei uma foto debaixo do travesseiro. A mesma foto que Dylan havia colocado no bolso da minha jaqueta quando fomos ao antigo apartamento de seus pais.

Eu ainda não acreditava que ele havia revelado aquela foto.

– Eu quero ficar aqui com você. – ele se jogou na minha cama, ainda sem camisa e com a expressão brincalhona mais fascinante que eu já vira.

Estávamos no meu quarto e ele nunca aparecia por lá a não ser à noite, então fiquei meio encabulada quando ele entrou lá aquele horário e colocou um por um dos livros da faculdade que estavam largados em minha cama em cima da escrivaninha.

– Dylan, deixe isso aí, por favor. – pedi.

Ele se levantou e pegou a câmera fotográfica esquecida em cima da prateleira. Ele estudou a melhor posição que ela ficaria.

– Enquadramento perfeito, está linda assim. – ele disse mais para ele mesmo do que para mim.

Ameacei me mover, mas ele pareceu um pouco desesperado.

– Não, Jus! Fique exatamente aí.

Ele deu passos largos e rápidos e me alcançou, segurando a minha nuca e a minha cintura. Seus dedos tocaram a pele exposta pela minha roupa de dormir. Ele aproximou os seus lábios do meus, estava tão perto, mas não me beijou.

– Eu ativei o temporizador.

Ele sorriu, quase com a boca encostada a minha e naquele mesmo momento o flash disparou.

Dylan estava feliz e foi com o mesmo sorriso no rosto que ele saiu do quarto carregando a câmera fotográfica e me deixando sem ação.

– Isso fica comigo.

Quando eu havia me tornado tão boba? Quando me tornei tão instável a ponto de não controlar os meus sentimentos; a ponto de não saber o que estava sentindo? Pela primeira vez, refazendo os passos de Dylan na minha mente caiu a ficha de que eu estava entregue, mas ainda tinha a completa certeza de que não estava apaixonada.

Eu precisava sair dessa.

E precisava de alguém para me ajudar.


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Notas finais do capítulo

O que acharam do capítulo? Sou suspeita, mas gostei muito.
Demorei? É... to tentando não deixar vocês na mão e agora estou de féeeriaaas!
Qual a série de vocês? Já concluíram? Acabei de passar pro terceiro e to tão ansiosa!! Mal posso esperar para o último ano de colégio e nem me vejo nele, porque só tenho 15!
Então, nos vemos no próximo capítulo, gente. Digam o que gostaram e se tiverem sugestões, podem mandar ver.
Isso aí.