Uma Vez Mais escrita por AnaMM
Notas iniciais do capítulo
Chegou a hora!!!! Sem mais enrolações, gostaria de agradecer os comentários, sempre muito importantes, e dar as boas-vindas aos novos leitores :) vcs alegram o meu dia ♥ agora vamos pro drama ;) hehehe
Música indicada pq criei ao som dela:
http://www.youtube.com/watch?v=kcAyq0i2nBo
Lia voltou para casa pela manhã. Era um sábado e estranhou Marcela, Gil e Lorenzo acordados àquela hora.
–Você dormiu com ele, não foi?? – Gil perguntou alterado. – Não adianta mentir, a Ju me contou que você saiu com o Dinho e não voltou mais!
–Que?? – Lorenzo estava chocado, não querendo nem imaginar o que poderia ter acontecido.
–Calma, Lorenzo. Olha a cara da sua filha. – Marcela apontou, e só então Lorenzo percebeu a expressão triste e perdida de Lia. – Acho que ele finalmente contou...
–O que ele tem, pai? – perguntou com a voz fraca e falha.
Lorenzo aproximou-se de Lia, que abraçou o pai. Tremia e tentava controlar as lágrimas, sem sucesso. O médico levou a mão à cabeça da filha para consolá-la. As pequenas mãos da roqueira seguravam os ombros do pai com força. O mundo girava, suas pernas estavam bambas, temia cair.
Marcela se juntou ao namorado, passando a mão pela cabeça da enteada, tentando acalmá-la. Gil observava a mãe e o padrasto abraçarem uma Lia em prantos sem entender nada.
–O que aconteceu? Quem morreu?
Marcela se afastou de Lia aos poucos e respondeu o filho.
–Ninguém, filho... – questionou Lorenzo com o olhar.
–Lia, vem comigo, eu vou te contar tudo. – segurou a mão da filha e a guiou para fora do casarão.
–Mãe, que cena foi essa?
Marcela notou a sinceridade do filho e resolveu contar o que sabia. Lia já ia descobrir, não havia por que esconder e, talvez assim, Gil pararia de falar bobagem sobre o que não entendia.
–x-
Lorenzo levou Lia até o apartamento onde costumavam morar. Raquel abriu a porta.
–Ela já sabe?
–Pelo que eu pude notar, em partes.
Raquel acenou com a cabeça e sentou na poltrona da sala, sendo seguida por Lia e Lorenzo, que se sentaram no sofá. O médico segurou firme na mão de sua filha, sabendo que seria um momento difícil.
–O que você tem a ver com isso? – perguntou ríspida para a mãe.
–Você já vai saber, primeiro me fala o que ele te contou.
Mesmo sem resposta, Lia preferiu não insistir, não tinha ânimo para discutir com a mãe.
Lia sentiu um calafrio ao se lembrar da noite anterior.
–Ele ia dizer alguma coisa, mas – tentou controlar a voz – começou a chorar do nada e... E quando eu fui ver se ele tava bem, ele... Quer dizer, alguns cachos caíram na minha mão e... Bom, ele começou a chorar mais ainda e eu meio que concluí. – terminou secando discretamente uma lágrima solitária, na esperança de não notarem seu momento de fraqueza.
–Então você já tem uma idéia. – Raquel concluiu.
Lorenzo decidiu não enrolar.
–O Dinho me procurou assim que chegou no Rio. – aguardou a reação da filha e prosseguiu – Ele voltou antes do esperado, com menos dinheiro do que deveria. O motivo pelo qual ele voltou antes foi o mesmo pelo qual ele precisava de mais dinheiro. Ele me procurou porque precisava urgentemente de tratamento médico.
–Faz pouco tempo que essa doença foi descoberta, mas eu cheguei a cobrir alguns casos. Há uma fábrica perto do litoral africano cujo lixo tóxico tem causado alterações celulares semelhantes às de um câncer. Sem saber, o Dinho trabalhou durante um tempo nessa fábrica e ficou muito exposto.
Lia tentava manter a fachada de durona enquanto escutava. Já havia chorado na frente do pai, mas não queria mostrar fragilidade para Raquel. Câncer... Era o que desconfiava, mas ter a confirmação dos pais era mais preocupante. Sabia que havia cura, que nem todos os casos eram graves, mas não sabia qual era a situação de seu ex. Tentou se acalmar, convencendo-se de que o caso de Adriano era dos mais simples, que não aconteceria nada.
–Qual a gravidade?
–O Lorenzo me procurou porque eu cuidei dos casos na África e sei como tratar a doença, que ainda é uma incógnita para a maioria dos médicos. É difícil julgar a gravidade justamente porque é uma doença recém descoberta, e porque os africanos têm condições diferentes e o Adriano está no Brasil.
–Quantos sobreviveram?
–Lia... Como eu disse, são condições diferentes e...
–Me responde, Raquel, quantos sobreviveram?! – Lia estava começando a perder o controle.
–Dos 40 casos que eu testemunhei... Um.
Lia perdeu o chão. Foi imediatamente abraçada pelo pai, que previa sua reação.
–Ele vai morrer, pai?
–Lia, pessoas morrem, faz parte da vida. A gente está tratando o garoto com mais condições que as vítimas que foram tratadas lá, mas a chance de sobrevivência é pequena.
–Raquel!
–Lorenzo, a Lia tem que se acostumar à idéia. Não adianta nada iludir!
–A gente vai fazer de tudo para que ele seja o segundo, tá bom? – Lorenzo passava a mão pela cabeça da filha, que chorava. – A Raquel já viu o tratamento dar certo, a gente vai conseguir.
Lia tentou acreditar no pai e ignorar Raquel. Tatá, que escutava tudo por trás da porta de seu quarto, correu para abraçar a irmã e o pai.
–Eu não quero que o Dinho morra, pai! – chorava Tatá.
–Vai dar tudo certo, eu juro, eu vou fazer de tudo pra que dê certo! - Lorenzo tentava acalmar as duas.
–Lia, por que você terminou com ele? Se você não tivesse feito nada, ele não teria ido pra África! – chorava e dava pequenos tapas nos ombros de Lia
–Cala a boca, pirralha! – ainda que contrariada pela fala de Tatá, abraçou a irmã, segurando seus braços e chorando junto.
Lorenzo observava as filhas com o coração apertado. Já havia visto a cena tantas vezes por causa de Raquel, mas agora podia fazer alguma coisa. Apesar de todos os momentos em que duvidou se estava fazendo o certo ajudando o garoto que tanto fez sua filha sofrer, agora confirmava que Lia sofreria ainda mais se nada fosse feito. Não apenas Lia, como também Tatá, que sempre apoiou a relação da irmã, até quando a própria roqueira não admitia. Lembrou-se também do olhar no rosto da filha quando Dinho foi hospitalizado um ano antes. Naquela época, sabia que alguma coisa existia entre Lia e o jovem que atendia. O brilho no olhar de Dinho ao falar da ex-namorada foi fator preponderante para a escolha de Lorenzo. Oferecer auxílio ao garoto, pagar parte das despesas do tratamento de seu próprio salário e ainda monitorar Adriano nas horas vagas, ainda que não funcionasse, valeria a pena. Mesmo que não salvasse Dinho, teria a consciência limpa.
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