Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 8
Capítulo 8 - Observação




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    Ele ouviu aquilo mesmo? Em menos de dez minutos, sua prima já conseguiu deduzir a pessoa que Miguel admirava? Miguel ainda não estava acreditando.
    - O que disse? - perguntou Miguel, já um pouco tenso.
    - Eu disse que já sei de quem você gosta! - Camila responde inocentemente
    Nisso, uma garota da frente olha para trás, curiosa. Miguel fica constrangido e pede, com o olhar, que Camila fosse mais discreta. Ela tapa a boca e volta a falar num tom mais baixinho. As carteiras dos dois eram uma ao lado da outra, mas não eram tão próximas assim. Miguel não parecia estar ouvindo muito bem
    - Você tá  fim da... - Camila começa a cochichar, mas Miguel faz sinal de que não estava conseguindo ouvir. Para não chamar mais atenção do professor, Camila escreve um bilhete e entrega ao primo. Ele pega o papel rapidamente e começa a ler.
    "É aquela garota ruiva que senta na segunda carteira da frente, na fileira do meu lado, não é?". Era o que estava escrito. Miguel estava realmente admirado. A prima acertou na primeira. Seria isso o que chamavam de intuição feminina? Tudo bem, que nas conversas que teve com a prima, Miguel chegou a comentar que era uma garota ruiva e tal, mas naquela sala tinha umas quatro garotas ruivas! E ele não era muito bom em descrever pessoas...como em poucos minutos Camila já sabia quem era a diferente? Não dava para subestimar a prima.
    Miguel escreve uma resposta e passa para ela. Escrever bilhetinhos no meio da aula? Miguel nunca fez isso em todos esses longos anos de vida estudantil. Era um pouvo constrangedor, ainda mais com Leandro logo trás vendo a movimentação
    - Escrevendo o que aí, cara? Já tão aprontando logo no primeiro dia? - pergunta o amigo a Miguel
    - Só umas coisinhas...sobre aquela história...
    - Aquela história? A..ah...entendi
    - Não quero dar bandeira
    - Relaxa, o professor ainda tá escrevendo um monte de coisas ali
    - Ô, Leandro! Por favor, né? - o professor grita lá da frente
    - Foi mal...- responde Leandro
    Miguel dá um risinho de leve
    - Pô, por que ele só chamou a minha atenção?
    Miguel se volta para o bilhete e escreve "É. É ela mesma". O que mais ele poderia dizer? Camila tinha acertado em cheio! Era um fato que Miguel gostava de Danieli. Pensava nela o tempo todo e seu coração batia mais forte sempre que a via. Isso devia ser amor, ou, na cabeça de Miguel, algo parecido com amor. Ele não sabia. Nunca havia se sentido assim antes. Por fim, o rapaz termina escrevendo "Como você sabe?"
    Camila pega o bilhete, lê e sorri feliz. Prontamente ela escreve uma resposta. Miguel lê "Vi você olhando pra ela de um jeito...só podia ser ela. Parabéns, ela é uma gracinha". Foi o suficiente para Miguel ficar vermelho. O garoto olha para a frente e vê Danieli ali, copiando a matéria, ajeitando o cabelo...não podia deixar de olhar pra ela. Que intuição feminina nada! Camila só viu o óbvio! Quando se está apaixonado, você tem certos hábitos involuntários. E Camila, toda metida a psicóloga e super-observadora, não podia deixar de notar o jeitinho do primo.
     Nisso, o professor já tinha terminado de escrever e começou a explicação (e ele tinha aquela mania de andar pela sala enquanto estava falando). Miguel e Camila param de se comunicar e terminam de assistir a aula. No intervalo entre uma aula e outra, Camila era grande alvo de perguntas e curiosos. Miguel apenas observava o que a prima fazia. Era natural que isso acontecesse. Podiam até ser primos, mas, para alguém de fora, era impossível dizer que os dois tinham algo em comum.
    - Então você veio de Santos? Nossa, trocou a praia por essa loucura aqui de São Paulo? - já perguntava uma pessoa
    - É que eu precisava mesmo...mas aqui também tem bastante coisa pra ver, um monte de lugares pra sair...- Camila respondia tudo muito simpaticamente
    - Ah, isso é! - completa uma das meninas ali
    - Puxa vida..e você nem pra falar que tinha uma prima, heim, Miguelito? - pergunta um garoto ali por perto
    - Outro dia a gente te viu saindo da escola com uma menina...então era sua prima...tava até estranhando, você mal fala com ninguém, mas...vai saber, né? - completa outro aluno
    - Ah, ninguém nunca me perguntou nada da minha família...- responde Miguel, já cansado da situação
    - Cê não tem jeito mesmo, heim?
    E a aluna nova era só sucesso! E claro que não demorou nada para que aquele tipo de assunto viesse à tona.
    - E largou o namorado lá por Santos mesmo? - pergunta uma das meninas
    - Ah! Namorado? Que nada, não tô namorando ninguém, não! - responde Camila
    A resposta não podia ser mais efetiva. Era totalmente perceptível o sorriso no rosto de mais de metade dos moleques dali. Já Miguel, apenas ouvia a conversa por ouvir mesmo e fazia algumas contas (dever de Matemática não feito). Leandro resolve mexer um pouco
    - E a Camilinha já chegou arrasando, heim? - diz Leandro baixinho
    - Natural. Ela também fazia sucesso na cidade dela - diz Miguel, sem parar de escrever
    - Vixi...se prepara que os moleques vão cair matando em cima dela
    - Pode ser. Mas ela sabe se cuidar
    - Até daquele ali, ó - diz Leandro apontando com a cabeça para um figura que se aproximava. Miguel para de escrever um instante. Aquele cara, não! Não era o Antônio? Ou o Toni, como ele gostava de ser chamado? Miguel não gostava desse cara. Nunca conversou muito com ele, mas nas poucas vezes que trocaram palavras, esse Toni sempre fazia alguma piada tosca ou insistia em lembrar Miguel que ser nerd é uma droga. "Esse joguinho de novo? Vai jogar alguma coisa de macho, ô!". Foi uma das frases mais marcantes que Miguel ouviu dele, enquanto estava na sala, tranquilamente, lendo uma reportagem sobre um novo jogo online para todas as idades. Toni era do tipo que só jogava jogos de futebol ou jogos de tiro em primeira pessoa clichês. Bem, talvez gosto por jogos não seja lá um dos maiores motivos para ter birra de uma pessoa, mas para Miguel isso já era suficiente. O fato é que, do mesmo jeito que sentia afeição por Danieli, Miguel sentia raiva desse Toni. Mas não tinha com o que se preocupar. Camila não era tonta de dar trela para um cara daqueles. Corpo malhado em academia? Ah, ela não ligaria pra isso! E aquela correntinha ridícula no pescoço? Nem pensar. Ela não iria querer nada com ele, iria? Miguel começou a ficar mais tenso. Ele nunca tinha se preocupado muito com Toni porque, para ele, Danieli nem existia. Mas Camila podia despertar o interesse daquele imbecil. Ninguém merece ter um cara daqueles ligado à família!
    - E aí? Vai ficar por muito tempo por aqui? - pergunta Toni, chegando como se já estivesse na conversa há muito tempo
    - Ah, não sei. Pelo menos até o fim do ano eu garanto. Vai depender muito do trabalho do meu pai - responde Camila
    - Pô, se precisar de qualquer coisa é só falar. Se quiser eu te mostro aí a escola... - continua Toni com aquele tom de malandragem que Miguel odiava
    - Ah, relaxa. Meu priminho aqui já me apresentou várias coisas!
    O pessoal olha para Miguel que, naquele momento, estava só contornando os números do seu dever de casa...uma típica forma de disfarçar.
    - Né, Miguel?
    - É, é sim - o garoto responde timidamente. Ah, como ele odiava quando o foco da conversa ficava nele desse jeito...
    - Podicrê, o Miguelito aqui! Gente fina pra caramba! - diz Toni, dando uns tapinhas amigáveis nas costas de Miguel que, a essa altura, já estava se roendo de raiva por dentro. Mas o que ele podia fazer? Encarar um grandão daqueles era suicídio! Leandro só estava ali atrás, rindo baixinho e disfarçadamente.   
    Miguel apenas dá um sorrisinho de leve e volta para sua lição. Ainda tinha muita coisa...apesar de Miguel já estar acostumado a fazer esse tipo de dever sob pressão. Nisso, foi inevitável dar mais uma olhadinha em Danieli. Ela estava ali, só com as duas amigas de sempre, conversando entre elas. Aquela cambada de vagabundos ainda iria amolar sua prima por um bom tempo, quando Camila poderia conversar com Danieli? E mais: e se as duas não conseguirem ser amigas? E se Danieli ficar constrangida de ser amiga de uma garota tão popular? A mente de Miguel já começou a ficar cheia de dúvidas e ansiedade. Por fim, o próximo professor entra na sala. Miguel ainda precisava terminar seu dever. Mas o garoto já estava com a mente ansiosa. "Camila...você tem que me ajudar..."


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