O caminho de volta para casa foi botar o papo em dia. Nico contou que nas férias ele viajava sozinho pelo mundo, com uma identidade falsa e algumas coisas citando o nome de seu pai, Hades. E quando voltava da viajem, fazia supletivo.

– To na série de vocês – ele disse – E pretendo ficar.

Ai Senhor da Bicicletinha Verde Com Bolinhas Brancas.

– Sério? – Annabeth perguntou, parecendo mais interessada do que ler seus livros. – Vai ficar aonde?

– Na minha casa – Percy comentou – Era surpresa.

Que grande surpresa, Filho de Peixe, pensei.

Nem eu nem Annabeth acreditávamos que caberiam quatro pessoas naquele apartamento. Muito menos cinco, quando Tyson - irmão por parte de pai de Percy – ganhava férias na marinha e vinha visitar Percy.

Nico explicou que era por pouco tempo, até arranjar um apartamento para alugar. A tia de Nico morreu e deixou uma boa quantia para Nico, já que ela não tivera filhos. Mas Nico era um menino sério, e ia guardar parte do dinheiro para pagar a faculdade, outra o aluguel, e arranjaria um emprego.

Por incrível que pareça, ele tinha sido educado muito bem. Ou aprendido na marra que é melhor ter projetos na vida.

Quando chegamos, ficamos na casa de Annabeth. Ela e seu namorado ofereceram-se para comprar alguma comida. Podíamos usar o telefone, ou o computador, mas eles pareciam animado em deixar eu e Nico sozinhos.

Fiquei encarando o tapete enquanto Nico parecia pensar no que falar. Não sei por que estava tão nervosa a ponto de não conseguir falar. E se continuasse assim, ficaríamos naquele silêncio constrangedor eternamente, pois Nico era bastante tímido.

– Então... – disse.

– Então... – respondeu.

Nico se mexeu, sentado do meu lado no sofá.

– E aí? – ele falou.

– E aí?

– Tudo bem?

– Sim... – sorri. Que baboseira, cara. – Okay, chega.

– Chega – Nico sorriu. Nenhum dos dois sabia o que falar. Nico olhou para minha boca, depois para os meus olhos, e mordeu o lábio. Aceitei como uma provocação, e fiz algo que devia admitir que queria a muito tempo.

Eu o beijei.

E aquela chama, antes controlada, dominou todo o meu ser de modo que, quando percebi, estávamos no chão. Nico embaixo de mim, me beijando ferozmente. Sabia aonde isso ia acabar e já puxava a camisa de Nico, quando a porta a nossas costas abriu.

Nos afastamos tão rápido quanto nos aproximamos.

– Hm... – Percy sorria que nem um retardado – Nico vem cá me ajudar com a pizza.

Nico se levantou e acompanhou Percy até a cozinha.

– Eu jurava que vocês já tavam... Você sabe – Annabeth sorria que nem Percy.

Sorri maliciosamente.

– Culpa de vocês não ter acontecido – dei de ombros.

– Deu tempo o suficiente para uma rapidinha.

Dei um tapa no ombro de Annabeth, que não conseguia parar de rir.

– Cadê a menina pura e delicada que eu conheço?

– Foi embora – ela parou de sorrir – Há uma semana, mais ou menos.

– AI SENHOR – gritei animada – CONTA, CONTA TUDO!

Mas os dois voltaram com a pizza cortada. Percy soltava algumas indiretas, e eu retribuía com outras. Depois assistimos Diário de Uma Paixão, que era romântico demais pro meu gosto. Mas até que era bonitinho o filme. Annie se enroscou em Percy, enquanto ele acariciava seus cabelos. Não sabia se me aproximava de Nico, ou se ficava onde estava.

Aquilo poderia parecer que erámos namorados, algo que não era verdade. E como as pessoas reagiriam sabendo que Thalia Grace namorava um menino que aparentava ser mais velhos, mas que na verdade era mais novo?

O que Luke ia pensar?

Droga. Toda vez que eu me relacionava com alguém, Luke atrapalhava, mesmo quando não fazia nada. Eu podia estar completamente louca por alguém, mas ninguém chegaria aos pés do meu sentimento por Luke. E eu sabia disso tão bem que nem chegava a me relacionar com outros garotos. Ficar com eles em festas não era se relacionar, tecnicamente.

O babaca do Luke nunca sairia do meu coração, por mais que eu lutasse para esquecer, para ignorar. Era ele que realmente me nutria. Então, quando Nico me abraçou, e fez com que eu apoiasse minha cabeça em seu ombro, uma confusão se formou em minha cabeça. Nico era um cara muito bacana para ficar meio que usando ele.

Mas não estávamos juntos, então só me restava aproveitar a noite com pessoas que eu gostava.

No final do filme, nos dirigíamos para o carro, quando meu celular tocou.

– Alô?

– Alô? – uma voz grossa respondeu – Você tem alguma relação com Gabriela Grace?

– Filha dela, por quê?

– Senhorita, aconselho que se sente. – Okay, fiquei preocupada – Sua mãe sofreu um grave acidente na estrada principal.

Pela minha expressão, Percy já ligava o carro, e Nico me ajudava a entrar nele.

– Infelizmente – o homem, que se apresentou como Policial Evans prosseguiu – Ela não resistiu.

Minha mãe. Morta.