Depois de um longo tempo caminhando nas ruas do Japão, decidimos procurar algum lugar para comer.

Havia centenas de estabelecimentos abertos, inclusive restaurantes, o único problema era que nenhum de nós três sabíamos Japonês.

– Acho melhor apostarmos em algum antes que anoiteça. - comentou Dennis.

– Que tal aquele ali? - Nicholas apontou na direção de algo parecido com lanchonete dos Estados Unidos, exceto pelas embalagens e comidas diferentes. O lugar era chamado de 秋吉静岡*.

*Na forma de leitura é chamado de "Akiyoshi Shizuoka" e não possuí necessariamente um significado e pode ser interpretado como *um sobrenome* + *nome da cidade*.

Virei-me para olhar onde seu dedo apontava e encontrei um estabelecimento que lembrava um Starburcks Japonês. Era um pequeno restaurante com variadas opções de comida embaladas e com algumas cadeiras em torno de uma bancada que cobria a "cozinha".

Assenti com a cabeça.

– Só espero que não passe mal. - riu Dennis.

– Ela não vai. - Nicholas se aproximou de mim e pegou minha mão.

Assim que chegamos ao local, fui até a bancada para fazer o pedido. Havia algumas pessoas na frente então, acabei tendo que esperar. Enquanto isso, torcia para que o atendente soubesse Inglês.

– こんにち, あなたは何をしたいですか?* - perguntou o atendente com o nome de Kayto no crachá.

*Boa tarde, o que vai querer?

– Desculpe, não falo Japonês, o senhor entende Inglês?

– Sim, senhorita. - o homem concordou de um jeito engraçado.

Suspirei, aliviada.

– Acho que vão ser três pratos de macarrão.

Kayto me encarou por alguns segundos, parecendo não entender. Logo depois, ele arregalou os olhos e concordou com a cabeça.

– Nós não servir isso aqui. Farei Udon que irá gostar. - então, o homem se virou para preparar o prato.

Apesar de não ter ideia do que era aquilo, decidi esperar para ver no que ia dar. Kayto voltou-se para mim após alguns minutinhos e pediu para que eu me sentasse. Fui até os dois irmãos que já estavam sentados e, esperei o Udon ficar pronto.

– O que você pediu? - perguntou Den.

– Não faço ideia.

Nicholas me fitou com uma expressão séria e perguntou:

– O homem não sabia Inglês?

– Sabia mas, disse que não tinha macarrão e ia preparar um tal de Udon. - sorri em resposta.

Nic riu e passou a mão nos cabelos castanhos, parecendo mais relaxado.

– Udon é um tipo de macarrão Japonês um pouco mais grosso que Spaguetti e feito de farinha. Não pode ser tão ruim. - ele disse enquanto guardava o mapa de Shizouka nos bolsos.

Não demorou muito para que viessem entregar o nosso pedido. Eram três tigelas de macarrão com uma espécie de sopa. Ela levava algas, lascas de peixe e um tipo de pastel de legumes frito. Senti um pouco de receio antes de comer e esperei que Dennis ou Nicholas experimentasse primeiro.

Nicholas quis se aventurar primeiro então, pegou o hashi* e tentou provar o macarrão. Entretanto, acho que ele não sabia como utilizá-lo e acabou derramando um pouco de sopa na calça. Não consegui conter o riso.

*São aqueles palitinhos que servem como talheres no Japão.

– Pare de rir, Sarah! Estou pagando mico, parece que fiz xixi nas calças. – disse Nicholas fingindo estar me repreendendo.

Dennis começou a gargalhar para me acompanhar e nós dois fomos aos risos pegar um guardanapo para Nic.

Quando voltamos, Nicholas já tinha experimentado o Udon e nos assegurou que era delicioso.

– Tudo bem, é minha vez. – Dennis falou já pegando uma colherada do macarrão.

O observei enquanto comia para ver sua expressão. Den me encarou e fez uma cara de nojo, acabei empurrando minha tigela para longe e neguei a comer.

– Seu idiota, aposto que gostou. – Nicholas disse para Dennis.

– Gostei sim, mas queria ver qual seria a reação dela. – Den sorriu e colocou a tigela na minha frente.

Tomei coragem e depois de alguns minutos tentando aprender a utilizar o hashi, provei o tal de Udon. Por incrível que parece, era delicioso e lembrava muito a massa do Spoletto só que com vários ingredientes diferentes que davam um toque á mais. A sopa que o acompanhava também era gostosa, bem leve e estava quentinha.

Comemos tudo rápido e seguimos á procura de um lugar para ficar. Já havia anoitecido e a lua estava á vista rodeada por inúmeras estrelas naquele imenso céu escuro. Era um cenário lindo e, por mim, ficávamos ali olhando.

Paramos no primeiro hotel que vimos e adentramos. Não era muito grande, mas aconchegante. O local era pouco iluminado apesar de ter várias luminárias acessas, o papel de parede era bege e junto com várias almofadas coloridas tornavam o lugar agradável.

Nós três nos dirigimos ao que parecia ser uma recepção e Nicholas fez o pedido.

– Gostaríamos de nos hospedar.

A recepcionista parecia muito confusa e gritou algo em Japonês para uma outra mulher no canto da sala. As duas começaram a conversar ou discutir, não sabia ao certo. E, pouco depois, a segunda mulher nos entregou uma chave com o número 305.

Dennis e Nicholas se entreolharam e negaram com a cabeça para a mulher.

– Não, por favor, são dois quartos.

– お部屋の鍵となり、楽しい時間を過ごす。!* – respondeu a mulher, apontando para as escadas.

*É uma chave para o quarto, tenha uma boa estadia.

– Nós não temos opção, vamos. – chamei os dois rapazes e comecei a subir as escadas.

Logo, encontramos o quarto desejado e entramos. Era um quarto para uma família, com certeza. Havia duas “camas”, uma de casal e uma de solteiro. Na verdade, eram colchões no chão.

Após perceber isso, Nicholas e Dennis saíram em disparada em direção ás camas. Os dois se jogaram na cama de casal e disseram juntos:

– Eu fico com ela!

Comecei a rir e fui até a outra cama que havia sobrado. Olhei para os dois que me encaravam esperando uma salvação e disse, sorrindo:

– Já que insistem, deixo vocês dois juntos e eu fico com essa.

Nicholas e Dennis discutiram nos cinco minutos seguintes enquanto fui me trocar no banheiro. Assim que voltei, os irmãos já haviam se apoderado da televisão.

Bufei e me deitei no colchão que escolhi. Coloquei o cobertor sobre meu corpo inclusive, o rosto e permaneci assim até que desligassem a televisão. Nicholas veio até mim e tirou o cobertor para poder beijar minha testa.

– Boa noite, baixinha. Amanhã temos muito o que fazer, descanse.

Ouvi quando Dennis colocou o travesseiro sob a cabeça e resmungou algo. Sorri para Nicholas e gritei um sonoro “bons sonhos, resmungão!” para Den que, tirou o travesseiro da cara e lançou um beijo em minha direção.

E então, atravessei a famosa ponte da realidade para o mundo dos sonhos.