A Chance escrita por Cláudia Ray Lautner


Capítulo 1
A Chance / One Shot


Notas iniciais do capítulo

Minha estréia em escrever One Shots e também minha estréia em escrever outra coisa que não seja Jacob e Renesmee, então sejam bonzinhos comigo! ♥



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Pov. Leah

Os gritos horripilantes cortavam o ar da noite fria. Mesmo estando a uns 50 metros da casa branca podia ouvir com clareza os ossos de Bella se partirem enquanto a criatura a arrebentava.

Seth e eu ouvíamos tudo em silêncio. Vez ou outra ele soltava um gemido de angustia. Meu estomago revirava toda vez que a brisa mudava e eu sentia o cheiro de sal e ferro de seu sangue derramado. Mas me mantinha calada. Imóvel. Incapaz de expressar qualquer emoção neste momento.

Bella não era minha amiga. Eu não a suportava por sua enorme burrice, por tudo que ela fez Jacob passar e de quebra, o que eu passei estando ligada a mente dele como eu estava. Mas acima de tudo, ela era um ser humano e eu não era de pedra.

Como não me despedaçar, ouvindo seus gritos de dor agonizantes e o desespero cego de Jacob e do sanguessuga tentando inutilmente salvá-la?

Estremeci, quando o estalo de sua coluna se partindo chegou aos meus ouvidos. Não podia ouvir mais. Coloquei as mãos em minhas orelhas e cerrei meus olhos com força. Senti quando meu irmão pôs a mão em meu ombro e eu me esquivei como se tivesse levado um choque.

— Calma Leah. Vai ficar tudo bem.

O fitei incrédula.

— Como pode me dizer uma droga dessas? — sussurrei para ele — É claro que não vai ficar tudo bem. A coisa a está matando!

Seus olhos angustiados me sondaram.

— Eu sei. — ele disse com a voz fraca e fiquei em silêncio, sem argumentos como eu sempre costumava ter.

O que mais se podia dizer?

Puxei-o para meus braços para reconfortá-lo. Ficamos abraçados tentando em vão, abafar os sons do massacre dentro da casa branca. Tentei me concentrar nos ruídos da floresta, checando se Sam ou algum dos outros não estavam por perto. Mas não havia nada além dos gemidos agonizantes dela.

Até que de repente tudo cessou.

Soltei Seth, apurei os ouvidos e ainda pude ouvir alguém forçando seu coração a bater, mas eu sabia que tudo estava acabado. Bella estava morta.

Dentro de segundos, Jacob irrompeu pela porta com passos decididos em direção à floresta, mas seus passos logo perderam a força. Vi quando seus ombros caíram e seus joelhos cederam. O choro tomou conta dele o fazendo tremer.

Sua dor me atingia como ondas de água gelada e eu chorei com ele. Chorei porque eu sabia exatamente o que ele sentia e ao mesmo tempo, sabia que a sua dor era infinitamente maior do que qualquer coisa que eu já havia sentido.

Perder o amor de sua vida mesmo antes de tê-lo. Vê-lo morrer em sua frente por escolha própria e não poder fazer absolutamente nada. Era o pior martírio que qualquer pessoa poderia enfrentar. Não poderia nem cogitar a possibilidade de ver Sam assim.

Quando seus soluços cessaram, Jacob levantou a cabeça, e mesmo estando na forma humana pude ler em seus olhos a determinação de sua decisão.

Ele iria matar a coisa. E não iria sobreviver. O sanguessuga telepata jamais permitiria que ele fizesse isso.

Jacob se levantou e Seth fez menção de ir atrás dele, mas eu segurei-o pelo braço.

Seth me olhou como se nunca houvesse me visto na vida.

— O que está fazendo? Não posso deixá-lo fazer isto!

— Eu não vou deixar você enfrenta-lo sozinho. — disse.

E o mais rápido que eu podia, antes que mudasse de ideia, corri para Jacob, ouvindo os passos de Seth logo atrás de mim. Jacob provavelmente me atiraria do outro lado do rio, mas eu tinha que arriscar.

Entrei em sua frente e encarei com confiança seus olhos furiosos.

— Saia da minha frente, Leah. — sua voz era baixa e ameaçadora.

— Não. - eu disse com uma determinação que estava longe de sentir. — Eu não vou permitir que você acabe com sua vida desse jeito.

Um tremor percorreu seu corpo e por dois segundos sua pele tremulou como uma TV desregulada. Cerrei meus punhos e me preparei para me transformar se fosse necessário, ao mesmo tempo em que me posicionava na frente de Seth.

— Você é cega? — seu olhar pra mim era frio, mas Jacob não conseguia esconder a fúria de sua voz. — Minha vida já acabou.

— Se pensa assim, é mais idiota do que eu jamais poderia imaginar.

Ouvi quando ele quebrou o próprio dedo, com a força que ele cerrou o punho.

— Leah, saia da minha frente. — ele repetiu. — Não é você quem eu quero machucar.

O fitei por um momento, observando seus tremores, tentando encontrar uma maneira de ganhar tempo o suficiente para que ele recuperasse a razão.

— Jake, vem comigo. — joguei para ele, desesperada. Era a minha carta na manga e se não funcionasse, se não o fizesse hesitar, não haveria mais nada que eu pudesse fazer.

Mas por sorte, ele hesitou.

— O que você disse? — perguntou.

— Eu disse para vir comigo. Lembra-se do que você disse há alguns dias? Que quando tudo acabasse iria viver como um lobo e esquecer tudo isso? Todos esses sentimentos humanos que só trazem dor e sofrimento? Ainda há tempo Jacob! Você pode fazer essa dor sumir e eu vou te ajudar! Vem comigo! — pedi mais uma vez me sentindo a mais tola das criaturas, em pensar que ele faria uma coisa dessas.

Ele apenas me olhou.

— Eu e Seth não vamos deixar você entrar, então para cumprir seu plano suicida você terá que nos matar também. — blefei.

Pronto. Eu já havia usado todos os meus trunfos.

Seus olhos raivosos se alternaram entre mim e Seth e pensei que ele não ouviria a razão. Mas então, com uma convulsão ele explodiu no lobo marrom avermelhado, rosnou para mim e correu para a floresta.

Olhei ternamente e pesarosamente para meu irmão, a terceira ponta do triângulo que restou da minha família. Seth apenas balançou a cabeça, compreensivo.

— Cuide da mamãe. — eu disse antes de deixar o calor percorrer por meu corpo, me transformando em um ser onde os sentimentos e as emoções eram mais fáceis de administrar.

Corri seguindo o cheiro de Jacob até que fiquei há três metros dele.

Como enxurradas, todas as suas lembranças dos últimos minutos de Bella invadiram também a minha mente. Tentei não sucumbir a sua dor e dar-lhe privacidade, deixar de ser eu mesma e me tornar parte dele enquanto os quilômetros aumentavam entre mim e a única vida que eu conheci. Talvez nunca mais tornasse a vivê-la.


*****


Jacob não pensava e nem sentia, apenas agia. Era como uma aeronave no piloto automático. Nós caçávamos, comíamos e dormíamos. Nós corríamos, tomávamos banho quando achávamos algum riacho, comíamos e dormíamos de novo.

Em sua mente havia apenas o vazio, o nada. Guiava-se apenas pelos instintos. Não sabia como ele havia conseguido bloquear todos os seus sentimentos e pensamentos ou se ele apenas havia conseguido um modo de escondê-los de mim. Eu lhe dava o espaço que ele precisava como havia prometido há algumas semanas. Eu prometi que seria invisível e estava cumprindo. Jacob merecia isso.

O fato era que eu nunca havia me sentido tão livre como sentia agora. Faziam apenas sete semanas que deixamos nossas almas destruídas para trás. Eu odiava comer carne crua e dormir no relento, mas toda escolha demanda sacrifícios e consequências.

Depois de tantos anos vivendo na sombra das lembranças do que Sam e eu havíamos tido, era libertador não ver nem sentir nada alem da brisa batendo em meu pelo, e o som das minhas patas e as patas de Jacob batendo na vegetação seca.

Eu sabia que não viveríamos assim para sempre, que em algum momento de nossa existência, olharíamos para trás e veríamos a vida e as pessoas que deixamos. Que em algum momento iríamos romper esse laço tão profundo que nos unia aos seres que só nos fizeram sofrer e então, iríamos querer voltar.

Não sabia quanto tempo levaria, mas aconteceria. E eu aproveitaria minha liberdade enquanto ela estivesse em minhas mãos.


*****


Depois de algum tempo, talvez mais algumas semanas, caminhando sem destino, percebi os primeiros sinais de que Jacob estava voltando a seu corpo. O peguei pensando em Billy, quando viu uma placa de PESCA PROIBIDA a beira de uma estrada no Norte do Canadá.

Quando percebeu o próprio deslize, ele fez algo que me pegou de surpresa.

Falou comigo.

“Leah” — ele chamou em seus pensamentos e ouvir sua voz falando diretamente comigo, depois de tanto tempo, me encheu de conforto de um jeito que não esperava.

“Sim, Jake.” — respondi.

“Me desculpe.”

“Pelo o que?”

“Por ter sido tão rude nestes últimos dias. Você não merecia o meu silêncio.”

“Talvez eu não, mas você merecia um tempo de reflexão sozinho e eu o entendo. Mais do que você possa imaginar.”

Jake balançou a grande cabeça avermelhada e sua mente voltou a cair no silencio.

Mas a partir deste momento, ele não conseguiu mais esconder todos seus pensamentos de mim. Ele tentava ardentemente encobri-los, mas eu sempre capturava uma ou outra imagem, que me alcançava junto com a dor aguda.

Ele lamentava a perda de Bella, a perda de sua casa, a perda de sua família. Por mais que ele se esforçasse, não conseguia esconder as saudades das praias nubladas de La Push, das conversas com Billy, e dos momentos com ela.

Sempre ela. Por mais que ele tentasse ela sempre estaria ali.

Eu o entedia mais do que eu queria, mas do que eu devia. Jacob construiu uma barreira em torno de si mesmo e tentava não deixá-la desmoronar e expor quem ele realmente era: apenas um menino com responsabilidades em seus ombros; apenas um garoto que havia amado mais do que deveria.

Assim como eu. As semelhanças eram o que nos mantinha unidos, dia após dia, caminhando sem destino pela neve. Por mais que o silencio fosse sufocante, era infinitamente melhor do que encarar de perto, as dores da realidade que deixamos para trás.


*****


Mais algum tempo passou, mas eu não sabia dizer o quanto. O tempo havia perdido o significado. Jacob, em intervalos irregulares falava comigo. Era raro, mas acontecia.

Só que este dia estava sendo diferente. Não estava conseguindo acompanhar seu raciocínio até que eu vi passando por sua cabeça, flashes de casinhas de madeira cobertas pela primeira neve da estação.

“Está pensando em dormir sob um teto hoje, Jacob Black?” — provoquei levemente.

Talvez” — ele admitiu.

“Mas não temos dinheiro” — argumentei.

“Às vezes você complica demais as coisas, Leah.”

Fiquei confusa com alguns outros flashes de pensamentos que ele teve, mas escondeu rápido demais para que eu pudesse entendê-los.

“Vem comigo” — ele disse e começou a correr em direção à estrada que ha pouco, havíamos cruzado.

Andamos pelo acostamento, uns 300 metros e logo chegamos a uma curva para direita. Acompanhando seu pensamento pude ver em sua mente qual era seu objetivo, mas eu não reconhecia o lugar, mesmo sentindo o nosso rastro provando que já tínhamos passado por aqui.

Quando o céu ficou todo azul escuro, nós chegamos. Era uma casinha abandonada no meio do nada. O lado esquerdo do teto da varanda havia desabado e as cores há muito já haviam saído das paredes. Os cupins começavam a corroer as pilastes principais. Mesmo estando em óbvio estado de deterioração, a cabana me pareceu aconchegante. Eu poderia sim, dormir umas 34 horas até recuperar minhas forças. Seria um teto sobre nossas cabeças, mesmo que um teto pronto a desabar.

Mas isso era normal. Sempre havia mesmo, algo querendo cair em cima de nós.

Jacob ouviu minha aprovação melancólica e riu consigo mesmo. O som de seu riso, escondido por tanto tempo me pegou novamente de surpresa.

“Espere aqui” — disse.

Em seguida Jacob voltou à forma humana e eu virei o rosto. Eu já o tinha visto nu outras vezes, mas eu não era obrigada a ficar olhando todas as vezes que ele decidia esquecer que eu era mulher.

Jacob entrou na casinha decadente para checá-la. Minutos depois voltou usando uma calça enorme, que só não caia porque ele a havia preso com uma corda. Em suas mãos ele tinha uma trouxa.

— Acho que ela não vai cair, e tem um colchão quase em bom estado de uso. — disse sorrindo, enquanto me estendia à trouxa. Mas seu sorriso não era o mesmo de sempre. Era vazio.

Porém tinha sido uma grande gentileza da parte dele. Eu o encarei esperando que se virasse para que eu pudesse me transformar e me vestir.

Quando não o fez, rosnei pra ele. O que estava pensando? Que eu ficaria nua na frente dele de bom grado? Já não bastavam os acidentes quando eu explodia dentro de minhas roupas?

Jacob revirou os olhos, como se eu estivesse exagerando e suspirou enquanto me dava às costas:

— Tudo bem, Leah. Mas eu já te disse... Você pensa demais.

— E você pensa de menos. — respondi já em minha forma humana.

Por um momento, fechei os olhos e pendi minha cabeça para trás apenas sentindo as folhas em baixo dos meus pés humanos, e a brisa gelada soprando em minha pele nua. Não sabia o quanto sentia falta de ser humana até estar em duas pernas novamente.

Agachei procurando dentro da trouxa, algo que servisse. Encontrei um vestido de algodão e alças bege, enorme, que varria o chão. Quando o vesti, acabei rindo.

Jacob se virou e fez uma careta:

— Ficou... Bom. — ele mentiu.

— Mente muito mal, Jacob Black. — eu disse enquanto me abaixava para rasgar a barra na altura dos meus joelhos. Peguei o pedaço de pano que arranquei e o amarrei na cintura. Fiquei parecendo uma gestante, mas antes parecer uma grávida do que um fantasma.

Ele sorriu vaziamente, como antes, observando o jeito que dei no vestido.

— Agora está melhor. — ele disse e começou a andar de volta à cabana.

O segui através da relva molhada e gelada.

Quando olhei a casa por fora achei que ela devia estar péssima por dentro. Mas eu me enganei... Estava pior do que eu tinha imaginado.

As teias de aranha e o musgo dominavam cada canto da cabana. Nem parecia que em algum dia, este lugar já tinha sido habitado por algum ser humano.

Olhei para Jacob.

— Não me olhe com essa cara. — ele me disse — Melhor que o chão da floresta.

Passei a mão por cima da mesa, e olhei para a palma suja.

— Será mesmo?

Jacob deu de ombros.

— Você quem sabe.

— Eu não estou reclamando. — me defendi e suspirei ao olhar o colchão horrível jogado em um canto. - Só que seria pedir demais ter roupa de cama limpa de vez em quando?

Ele me olhou melancólico e me arrependi de minha boca grande.

— Jacob, desculpa. Eu não quis te cobrar nada, eu só...

— Não, tudo bem. - ele me cortou — Eu já volto. — disse e saiu antes sem me dar chances de me explicar melhor.

Que ótimo! Minha insensibilidade às vezes me surpreendia. Ele estava passando a maior barra com a morte da garota que amava e eu ainda o pressionava quanto às condições de higiene da cabana que ele nem precisaria arrumar se estivesse sozinho. Eu devia ser eternamente grata por ele me dar à fuga que eu precisava.

Desse jeito Jacob acabaria me mandando para casa, se é que nesse minuto ele não estava correndo a 100 km por hora fugindo de mim. Não seria a primeira vez que alguém me abandonava. Eu estava preparada para lidar com isso a qualquer momento.

Sai para fora, sentei no primeiro degrau da varanda e olhei para o céu escuro. Não havia estrelas. As nuvens estavam carregadas e provavelmente nevaria mais tarde, então se Jacob não voltasse eu ficaria por ali mesmo e resolveria de manhã o que fazer de minha vida.

Porém, minutos depois, Jacob apareceu do meio das árvores com mais uma trouxa nas mãos. E por mais que eu estivesse alegre por ver que ele não tinha me deixado para trás, isto não era motivo para sorrir como uma imbecil e para meu coração galopar como um cavalo selvagem, era?

— Você voltou! — eu disse tolamente.

Ele me fitou como a tola que eu era.

— Claro que sim! Porque não voltaria?

— Talvez porque eu tenha agido como uma idiota em um momento inapropriado?

Ele sorriu do jeito frio que tinha aprendido e passou por mim para entrar na cabana.

— Eu já estou acostumado com este tipo de atitude sua.

— Tá bom. Acho que eu mereci essa. — eu disse.

Jacob riu. De uma forma leve e divertida. Um riso de verdade.

— Eu estou brincando. Você tem que aprender a relaxar e baixar a guarda de vez em quando Leah. — ele ergueu a trouxa e a colocou em cima da mesa suja.

Ignorei seu comentário, e me aproximei para ver o que ele tinha dentro da sacola improvisada.

— O que você tem ai? — perguntei já abrindo trouxa.

— Algumas coisas para se manter as condições básicas de higiene. — ele disse com ironia.

Arfei de alegria quando minhas mãos encontraram um frasco de xampu. E não era só o que havia, também estavam dentro da trouxa roupas limpas, apesar de feias, sabonetes, creme dental e comida enlatada.

— Onde você conseguiu tudo isso? — perguntei enquanto tentava abrir um pote de picles.

— Roubei de uma barraca de acampamento aqui perto. — ele respondeu dando de ombros.

Olhei para ele, me sentido mal repentinamente.

— Porque está fazendo isso, Jake? Se for só por mim, não precisa...

— Não seja tola! Eu fiz porque tive vontade. Agora pare de fazer suposições e de se preocupar, apenas aproveite! — ele me disse sorrindo.

Ri com ele e me voltei para a mesa. Quase gritei quando achei um lençol limpo e Jacob ria a cada nova descoberta minha. Um riso sincero.

Parecia que o velho Jacob estava voltando. Pelo menos em parte.


Pov. Leah


Algumas horas depois, a neve caía do lado de fora da casa, e era uma dessas raras ocasiões em que eu agradecia por meus genes de lobo. Não sentir frio era uma das poucas vantagens.

Jacob arrumou Deus sabe onde, madeira seca e acendeu a lareira velha e nós esquentamos a comida enlatada que ele havia trazido sentados no colchão forrado com lençóis limpos. Eu havia tomado um banho, creio que o mais demorado de minha vida para tirar todas as camadas de sujeiras possíveis. Vesti uma blusa de moletom cinza enorme, tão grande que nem precisei da calça. Acho que todas as pessoas dessa região são obesas. Os feijões ainda quentes queimavam a minha garganta tamanha era a minha saudade de comer comida de verdade.

Jacob comia em silêncio ao meu lado. A alegria que ele a pouco tinha demonstrado já havia desaparecido. Eu fazia uma ideia de sobre o que ele estava pensando, mas me incomodava não poder ouvi-lo.

Não é da sua conta! — eu dizia a mim mesma.

Mas este pensamento não era o suficiente para afastar o estranho incomodo de não saber o que passava em sua mente.

Quando Jacob percebeu que eu o observava, ele ergueu os olhos e me deu o seu sorriso frio. O velho Jake tinha desaparecido.

— O que foi? — perguntou.

— Nada eu só... Estava imaginando no que você estava pensando.

— Você não iria querer ouvir. — ele murmurou.

— Nunca vamos saber se você não me disser.

Ele balançou a cabeça em negativa.

— Não. Você já teve decepções demais, já tem seus próprios fantasmas. Não merece que os meus também te assombrem.

— Eu não tenho medo de sofrimento, Jacob. Se eu tivesse não estaria aqui com você.

Ele me olhou por um longo tempo e eu sustentei seu olhar. Seus olhos sempre foram tão escuros e expressivos?

Apesar de ter pleno acesso a sua cabeça nunca meu coração se acelerou tanto ao sentir suas emoções. Senti uma repentina vontade de acariciar seu rosto, na esperança de afastar sua angústia. Apertei firme minhas mãos em punho, para não fazer tal besteira.

De repente ele se levantou.

— Vou tomar um banho. — sussurrou e foi em direção ao banheiro.

Abaixei os olhos para minhas mãos, evitando olhar suas costas nuas. O que estava havendo comigo? Eu acabaria estragando tudo com esses ataques repentinos de carência. Nós já tínhamos problemas demais para tipo de este tipo de coisa.

Me senti mal por ele ter percebido o clima estranho entre nós e não me surpreenderia nada se ele quisesse manter uma distância maior daqui para frente.

Abracei meus joelhos e fiquei encarando o fogo e ouvindo a água caindo.

Logo ele voltou vestindo uma das calças de moletom que havia roubado e com sua feição recomposta. Sentou-se do meu lado e também fitou o fogo. Eu tentei não ficar olhando as gotículas brilhantes de água que caiam de seu cabelo, que estavam ficando compridos, e pousavam em seu peito.

— Nós somos uma dupla complicada, não acha? — ele disse olhando as chamas. — Ambos com as vidas quebradas.

Mexi as mãos nervosamente e sorri de forma melancólica.

— Eu acho que a única forma de alguém me suportar é ter a vida tão destruída quanto a minha.

Jacob virou-se para mim penalizado.

Que maravilha! — pensei ironicamente — Era isso mesmo que eu queria: ser digna de pena!

Então, pela milésima vez nesse dia, ele me surpreendeu. Jacob ergueu a mão e deslizou seus dedos em meu rosto deixando minha pele em chamas por onde passou. Eu prendi a respiração e tentei acalmar meu coração estúpido, antes que ele percebesse.

— Você é uma garota muito bonita, Leah. Porque ficou este tempo todo sofrendo perto dele? Porque não foi embora, procurar a felicidade que você merece? — perguntou em um sussurro.

Fiquei encarando as chamas tentando decidir o que responder, sentindo as chagas de meu coração partido arderem. Era muito difícil falar de Sam. Geralmente eu sairia com alguma resposta irônica e mandaria pessoa cuidar própria vida. Mas por alguma razão desconhecida eu queria falar.

— Acho que pelo mesmo motivo que você. — respondi quase que inaudivelmente. — Eu não queria estar perto, mas tão pouco conseguia me afastar. E infelizmente eu tinha a desculpa perfeita. Precisava cuidar da minha mãe e de meu irmão depois que Harry morreu.

Engoli seco para dissipar o nó que se formava em minha garganta enquanto via ele balançar a cabeça. Jacob sabia muito bem do que eu estava falando.

— Mas não vale à pena e nem nunca vai valer. — ele afirmou.

— É uma droga que só descobrimos isto tarde demais. — sussurrei.

Seus olhos intensos prenderam os meus por alguns segundos até que ele segurou meu rosto entre suas mãos grandes.

— Talvez não seja tão tarde... — murmurou roucamente antes de tomar minha boca num beijo.

Não foi suave. Foi um beijo ardente e cheio de um desejo desesperado e eu retribui com o mesmo ardor. Abracei seus ombros enquanto sentia suas mãos por meu corpo.

Eu sabia que as emoções fortes dos últimos tempos eram demais para ele e que ele estava apenas extravasando. Eu não era nem um pouco idiota ou infantil para imaginar, por um segundo sequer, que ele podia sentir algo mais que atração por mim e tinha certeza que depois viriam o arrependimento e sentimento de culpa.

Mas eu não podia evitar sentir seu gosto e seu calor junto a mim. Não podia evitar agarrar seu pescoço forte e pressionar seu corpo no meu. Então, me entreguei aos meus desejos e lidaria com o resto depois.

Jacob agarrou meus cabelos e os puxou para que eu inclinasse a cabeça e ele tivesse acesso ao meu pescoço. Distribuiu beijos e mordidas enquanto eu gemia agarrada a seus ombros. Quase que raivosamente, ele puxou a barra do meu moletom e eu ergui os braços para ajudar a tirá-lo.

Ele abaixou a cabeça para beijar os meus seios nus e foi subindo os lábios até os meus para mais um beijo ardente. Coloquei as mãos em seu peito e o empurrei até deitá-lo no colchão e montei em cima dele. Jacob agarrou minha cintura e soltava leves gemidos enquanto eu mordiscava seu pescoço e tórax.

Eu não tinha ideia do quanto o desejava até o primeiro beijo, e agora estávamos quase incendiando a cabana. Era como uma faísca e gasolina: ambas inofensivas separadas, mas que queimavam rapidamente quando se tocam. Combustão instantânea.

Tirei sua calça, a única peça que ele usava, e ele sentou para me ajudar. Assim que terminei de despi-lo, rapidamente fui puxada de novo para seus braços. Eu arfei de prazer quando suas mãos calejadas agarraram meus quadris e ele me penetrou de uma só vez.

Agarrei seu pescoço enquanto Jacob abraçava minha cintura e me ajudava com os movimentos. Eu gemia e sussurrava seu nome enquanto sentia o desejo se acumulando em meu ventre prestes a explodir. Quando achei que não aguentaria mais, ele parou.

Olhei para ele inquisitivamente e ofegante. Jacob também ofegante segurou meus cabelos abaixo da nuca e olhou em meus olhos. Meu coração já acelerado disparou e eu me perdi na escuridão de seu olhar.

Ele me puxou para mais um beijo, mas dessa vez foi diferente. Foi lento, sensual e quase romântico. Antes que eu pudesse pensar sobre isso, ele me deitou de costas sem descolar os lábios dos meus. Os movimentos que sua língua fazia me levaram ao delírio. Sem deixar de me beijar, Jacob me penetrou novamente e o prazer que senti foi sobrenatural.

Enlacei seus quadris com minhas pernas e ele abraçou minhas costas e começou a se mover lentamente. Eu gemia em seus lábios sentido seu gosto, seu hálito, seu cheiro.

Quando ele intensificou seus movimentos, meu mundo já estilhaçado explodiu em mil pedaços e eu tinha certeza que nunca mais voltaria a ficar inteira.


*****


Na lareira só existiam brasas quando eu finalmente recuperei meu fôlego e meu coração se acalmava. Eu estava deitada no ombro dele, com o rosto escondido em seu pescoço, sentido o fogo se acalmar, desfrutando de seu cheiro e do momento de silêncio, quebrado apenas pelo silvo baixo do vento lá fora e pelo crepitar da madeira.

Nossos corpos suados e exaustos estavam enroscados e iluminados pelo fogo escasso da lareira. Jacob não falava nada e eu não queria que falasse. As desculpas e as promessas de “isso não vai mais acontecer” poderiam demorar um pouco mais. Eu não me importava.

Ele acariciava meus cabelos com uma mão e outra repousava em minha cintura. Sentia minhas pálpebras pesadas e sua caricia só aumentava meu sono.

Senti-lo tão perto de mim era reconfortante e ao mesmo tempo era assustador. Reconfortante porque eu nunca tinha me sentido tão leve em toda minha vida, nem durante minha fase mais feliz ao lado de Sam. E assustador por que era inútil mentir para mim mesma que eu não estava me apaixonando por Jake, mesmo sabendo que me machucaria, mesmo sabendo que seu coração jamais me pertenceria.

Mas será que era egoísmo de minha parte, desejar que ficássemos assim para sempre? Sem cobranças e sem encarar a realidade? Eu acho que não.


*****


Acordei com a claridade extremamente branca entrando pela janela, sozinha. Em algum momento da noite, Jacob havia me coberto com um lençol. Não fazia ideia de que horas eram, mas isso não importava.

Me sentei no colchão e olhei em volta, procurando algum vestígio de que ele poderia estar por perto. Mas eu não via nem ouvia nada.

Não sabia como me sentir em relação a isso, se ficava feliz ou triste pelo inevitável adeus ter sido adiado.

Eu não queria isto para mim, eu não merecia isto. Não poderia continuar ao lado dele fingindo que nada aconteceu e sendo sua sombra enquanto ele fugia. O momento que eu mais temia havia chegado. Era hora de voltar para casa.


Pov. Jacob


Devia ser umas três horas da tarde, mas eu não podia ter certeza. Eu não tinha certeza de muitas coisas ultimamente. Desde que os primeiros sinais de luz do novo dia surgiram que eu estava sentado à beira de um lago olhando a correnteza, refletindo longe de Leah. Foi muito difícil, quase doloroso ter que me soltar de seus braços e deixá-la dormindo, mas eu precisava respirar e pensar sem o perfume de sua pele me confundindo.

Meu peito ainda não havia cicatrizado, mas eu fazia de tudo para esconder as feridas abertas dela e não era difícil. Me sentia bem perto dela. Não curado e nem vivo de novo, mas me sentia melhor do que deveria. Nós conseguimos construir uma sólida amizade, baseada em experiências de vida semelhantes. Dois corações partidos podiam ajudar a catar os cacos um do outro.

O oceano de dor, não parecia tão grande, tão intransponível com alguém flutuando ao seu lado.

Mas aí eu estraguei tudo, quando não pude ignorar a louca vontade de provar sua boca para ver se era tão doce quanto parecia e acabei perdendo o controle.

E agora? Como ficariam as coisas entre nós? Fingir que nada aconteceu e seguir nosso curso indeciso estava fora de cogitação. Mas seria justo com nós mesmos, ficarmos juntos quando nossos corações pertenciam a outras pessoas?

Fechei olhos sentindo a dor aguda em peito, me lembrando que eu não tinha mais um coração. Ele tinha partido junto com Bella. O que eu colocaria no lugar dele?

Não precisei pensar muito, para ter minha resposta.


Pov. Leah


Ele tinha ido embora. - pensei quando os últimos raios de sol davam adeus atrás das montanhas.

Passei horas em pé na varanda, tentando decidir qual a melhor forma de dizer que estava tudo bem e que deveríamos seguir nossos caminhos, mas ele nem ao menos apareceu.

Tentei não me magoar com isto e segurar as rédeas do meu coração antes que eu me ferisse, mas já era tarde demais. Quantos golpes mais o destino ainda pretendia me dar? Porque eu estava fadada a amar quem nunca seria meu?

E agora, como eu poderia voltar para casa? Eu já não tinha mais nada. Minha vida era um beco sem saída. Minha família já não era o bastante para me segurar em La Push.

Abracei meus ombros. Meu peito doía insuportavelmente, mas iria passar. Sempre passava. Eu era forte e iria sempre me levantar, não importa quantas vezes à vida a me derrubasse.

Entretanto todas as minhas convicções e certezas desabaram quando Jake surgiu das árvores.

Ele parou longe da cabana e me fitou. Seus olhos negros me sondaram por um tempo como se tentasse encontrar uma resposta. Não sei se ele encontrou, mas o sorriso que abriu para mim era a minha resposta.

Corri para ele e me joguei em seus braços quentes. Ele me abraçou com força antes de me soltar, mas não largou minhas mãos.

— Onde estava? — perguntei da forma mais suave possível. Não queria que parecesse uma cobrança, porque não era. Na verdade não me importava onde ele esteve, mas sim que ele voltou para mim.

— Eu precisava pensar. — sussurrou.

O fitei. Rugas de preocupação cobriam os olhos escuros. Não resisti a vontade de tocá-lo e acariciei seu rosto.

— Jake, não precisa se culpar pelo que aconteceu. — murmurei — Foi muito bom, mas nós somos adultos... Bem quase. — fiz uma pausa tentando sorrir. Não tive sucesso. — Mas podemos lidar com isso de forma madura.

Minha língua queimou com a mentira. E claro que eu não conseguiria lidar com mais essa decepção. Só não queria pressioná-lo por uma atitude impensada.

Ele me encarou por um tempo como se eu fosse uma alienígena, mas logo desatou a rir. Rir não: gargalhar.

Dei um soco leve no ombro dele.

— Do que está rindo?

— De você Leah. Sua imaginação é muito fértil às vezes. — Jacob disse quando conseguiu parar de rir.

Olhei carrancuda para ele, mas minha expressão se suavizou assim que ele beijou minhas mãos.

— Acho que meus planos são diferentes dos seus. — murmurou.

Minha boca ficou seca.

— Quais são seus planos? — minha voz era só um fio.

Seus olhos brilhavam e eu não conseguia decidir se isso era bom ou ruim, até que ele decidiu acabar com o suspense.

— Quero que fique comigo Leah. — disse com voz intensa.

Minha boca ficou dormente, mas mesmo assim sussurrei:

— Mas eu já estou com você...

Ele sorriu e fitou meus lábios. Com uma mão ele segurou minha nuca e com a outra ele segurou minhas costas.

— Quero que fiquemos juntos como ficamos ontem à noite e pelo tanto de tempo que quisermos... — seu halito quente nublou meus sentidos e tudo em que eu podia me concentrar era nos movimentos hipnóticos de seus lábios.

Ele havia dito mesmo o que eu imaginei ter ouvido?

— Você me quer? — gaguejei.

Seus olhos brilharam divertidos e cheios de promessas.

— Muito. — sussurrou.

— Por quê? — perguntei idiotamente. Porque eu não calava a boca, o beijava e aceitava o que a sorte estava me dando, mesmo que durasse pouco?

A verdade é que eu era cética demais. Queria saber bem em quem terreno estava pisando.

Jacob suspirou e pude ver o quanto ele estava exausto mentalmente. Mas ele não me deixou sem resposta.

— Porque eu não sei mais se conseguiria viver longe. — revelou. - Quando estou com você a dor fica adormecida e eu tenho esperança que um dia ela desapareça de vez. Mas não vou mentir e nem usá-la como fui usado. Por isso quero que saiba que eu não te amo, mas preciso que me de a chance de te amar. E eu sei que posso.

As palavras saíram de sua boca, mas eu não podia acreditar. Era bom demais para ser verdade! Por vários segundos tudo que eu pude fazer, foi fitá-lo. Minha vontade era de me beliscar para saber se não estava sonhando.

— E agora, tem aquele momento constrangedor que o cara espera uma resposta para uma declaração sincera ... — ele brincou, mas era óbvia a sua ansiedade.

Sorri mal acreditando no presente que o destino me reservou. Enlacei seu pescoço e tomei seus lábios nos meus. Quando nos separamos sem fôlego, ele ainda perguntou:

— Isto é um sim? — seu sorriso era imenso.

Eu ri e acariciei seu cabelo.

— Isto é um “não custa tentar”!

O sorriso dele se ampliou enquanto me pegava em seu colo e me levava de volta à cabana velha, para me fazer sua mais uma vez.

Meu coração ameaçava explodir de felicidade, uma alegria que eu jamais imaginei que sentiria de novo.

Mas eu não estava me enganando, porque eu sabia que talvez ele nunca dissesse que me amava. Talvez nunca amasse. Mas Jacob sempre cumpria suas promessas.

Então eu sabia que esse carinho seria sempre constante, porque isso não era por mim. Fazia parte de quem ele era. Sempre me faria rir, e me diria algo irônico quando eu estivesse sendo absurda. Sempre ia me sentir feliz e desejada ao lado dele. E eu podia conviver com isso.


Pov. Jacob


Fitei pela última vez a cripta branca vazia. Eu não devia sentir pesar ou dor pelo fim que eles tiveram, mas eu sentia. O buraco em meu peito só ficava maior.

Eu e Leah havíamos voltado na noite anterior e soubemos que os sanguessugas italianos tinham exterminado o Clã que já deveria estar morto há muito tempo. Bella, que eu acreditava estar morta, pereceu na verdade nas mãos frias dos vampiros malditos.

Doía. Não tanto quanto antes, mas eu não conseguia evitar sentir. Não conseguia evitar que minha fúria contra os vampiros crescesse. Não conseguia evitar o ódio contra minha família, contra a matilha. Os Cullens procuraram ajuda, mas Sam se negou. Não quis se envolver numa missão que não era dele. Os Volturi vieram fazer sua justiça, a mesma que eu queria aplicar: matar o monstro, a aberração que não deveria existir e mataram todos que a defenderam.

A batalha foi violenta, mas sem perdas humanas. Finalmente Forks estava livre da influência constante dos vampiros. Finalmente meu povo pararia de sofrer mutações por conta dessas aberrações de coração frio.

Só que por mais que tentasse, eu não me sentia vingado. Me sentia apenas vazio em minha dor. Por meses estive preso em mim mesmo tentando não sucumbir ao sofrimento, me agarrando ao fio de esperança que Leah me proporcionava. Mas o precipício aumentava e eu me agarrava às bordas dele com desespero.

Eu queria me sentir livre. Não queria mais sentir dor.

Neste momento, fitava as chamas consumindo as paredes claras, estourando as vidraças e transformando em cinzas as mobílias finas conquistadas com anos de trapaça.

A casa dos Cullens se resumiria a nada e era o mesmo que eu queria para o meu passado. Que ele se transformasse em cinzas junto com esse amor doentio por uma garota que sempre preferiu a morte a ficar comigo. Eu a odiava com a mesma intensidade que um dia eu amei.

Eu estava decidido, não permaneceria nas cinzas. Construiria em cima delas um alicerce sólido com Leah, sempre esperando que isso fosse o suficiente.

Dei as costas para meu passado e deixei que minhas duras lembranças queimassem no fogo, enquanto eu corria de volta para os braços da única pessoa que me impedia de cair de vez no precipício.


~ FIM ~



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