Você Não Quer Dançar Comigo? escrita por Sídhe


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Então......... eu realmente gostei de escrever essa fic. Digo, foram muitos dias pensando, escrevendo, desprezando, mas quando voltei a pegar nela... bem, deu nisso. Espero que gostem, boa leitura!



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– Me diga que é mentira. - Jason disse, passando a mão nos cabelos loiros e aparados num gesto de desespero.

Piper negou com a cabeça.



– Ele falou sério. - A filha de Afrodite sabia o que dizia.



Eles foram interrompidos em sua viagem por Eros, deus do amor, que acabara de virar uma fumaça avermelhada em sua frente após piscar um olho extremamente azul para Piper. Um cheiro bom pairou no ar, enquanto eles ainda pensavam em como se dividir. O deus cupido havia sido roubado. Suas flechas haviam desaparecido, e cabia à eles interromper sua viagem para Épiro para achá-las. "Haverá recompensa, mesmo que a longo prazo", ele tinha falado aquilo, e Leo se perguntou que tipo de recompensa seria. Uma namorada para ele, talvez? Mais parecia que o garoto tinha passado um repelente fedorento contra o sexo feminino.



– Mas como vão achá-las? Ele não deu nenhuma dica. - Disse Frank, seus rosto de panda mostrando preocupação.



– Acho que eu sei. - Piper apontou para uma localidade logo abaixo da cidade que eles sobrevoavam. O pôr-do-sol destacava a fachada da placa de letras cursivas e finas. Um buffet? Leo só entendeu o que se passava quando viu casais apaixonados entrando no local, e porteiro abria sorridente as portas para eles.



– Legal, sempre quis entrar de penetra numa festa. - Falou, levantando as sobrancelhas. - Mas por que acha que as flechas estão nesse mundo cor de rosa, Pipes?



Ela ponderou um pouco à pergunta.



– Sinto isso. - Piper olhou novamente para o destino, confirmando com a cabeça o que dizia. Uma das vantagens de ser filha de Afrodite era poder ter contato com as coisas relacionadas a amor, pelo menos era o que Leo pensava.



– Hazel, Frank e Nico ficam no navio, nós vamos tentar voltar logo. - Jason disse, e Hedge brandou o seu bastão murmurando alguma coisa como 'Eu protejo esses moleques'. Os amigos os desejaram boa sorte, e o trio desceu para terra firme.



Era como na primeira vez, somente os três em uma missão suicida, o que não melhorava muito o humor de Leo. E o que piorou ainda mais o seu humor foi quando ele se deu de frente com outro trio depois de andar pouco mais que três metros na rua vizinha, que estava deserta ao invés da do buffet.



A diferença é que esse era formado por romanos.



Uma garota, na qual ele lembrou ser a pretora do Acampamento Júpiter, praticamente rosnava para eles. Sua adaga brilhava à tímida luz do luar que chegara ali. Reyna, era esse o seu nome. Ela tinha dois guerreiros ao seu lado, brandando lanças afiadas e douradas, mas nenhum parecia assustar mais do que a garota. Reyna abaixou sua arma, e deu a ordem com uma mão para os dois garotos manterem sua guarda. Ela avançou imponente, dando um olhar decepcionado para Jason. O filho de Júpiter deu um passo à frente, mas Reyna levantou seu punhal novamente, e sua mão tremia um pouco. Leo não conseguiu entender o tremor dela, mas ele sabia que ambos eram colegas antigamente.



– Jason Grace. Filho de Júpiter, ex-pretor... Traidor de Roma. - Havia remorso em suas palavras.



A mão dela continuou tremendo.



– Seus colegas vem conosco, quem trai Roma paga pelo que fez por atacar pelas nossas costas. - Ele tentou falar novamente, mas Reyna o interrompeu - Tenho uma pergunta. Sua amiga Annabeth não fazia ideia de que a balista fora disparada, mas e você?



– Reyna, não foi por querer. - Jason levantou as mãos lentamente - Houve um acidente, não deveria ter acontecido nada.



Ela suspirou entrecortado e deu um olhar de escárnio à Piper.



– Nada disso deveria estar acontecendo.



– Do que você está falando? - Piper disse. Ela apenas falara aquilo porque Reyna não parava de a fitar com agressividade. A pretora ignorou a pergunta, como se nem ao menos precisasse de resposta, o que era verdade.



– Os outros no navio já foram cercados, não adiantará de nada recorrer à sua ajuda. Centuriões. - Ela deu a ordem e os dois guardas avançaram em seus braços e os seguraram com força. Um pegou Jason, que pareceu ser sábio em não resistir, Reyna segurou Piper pessoalmente, e ela tentou usar seu charme, mas a pretora não esboçou nenhuma expressão de admiração por sua beleza, resistindo de um jeito que ele nunca viu. Leo tentou reagir quando o outro centurião o segurou, mas ele nunca seria forte o suficiente.



– Hey! - Ele reclamou. Só agora Reyna pareceu se dar conta de que o garoto estava ali.



– Você! - Apontou a adaga para ele, ainda prendendo Piper com as mãos nas costas. - Você destruiu meu Acampamento.



– Eu estava sendo possuído, madame! - Disse olhando para a ponta da arma, tentando calcular em quantos pedacinhos aquela lâmina poderia o partir.



Reyna o analisou com os olhos negros.



– Explique-se. - Sua voz soou igual a um rosnado.



– Poderia ao menos mandar o grandalhão me soltar? - Ela negou, ainda mostrando o quão perigoso era o punhal. – Eidolons. - Falou - São espíritos, eles entraram em mim e Jason. Também em Percy. - Ela olhou para o garoto loiro que havia sido pego, olhando-o numa forma de saber se havia algum sinal de que ele estava sendo tomado por um espírito maligno. - Piper nos livrou deles, um me fez atirar a balista, eu não sabia o que estava fazendo. Às pazes, um aperto de mão, abraço de grego para romana?



– Diga isso para o Senado. - Reyna o olhou em tom de deboche.



– Percy e Annabeth estão em perigo. - Jason procurou falar também. A garota de cabelos negros deu mais atenção à ele, e Leo agradeceu internamente por não poder ser morto por ela. - Caíram no Tártaro, precisamos ir salvá-los. Por favor, Reyna, nós precisamos tirá-los de lá antes que Gaia acorde e tudo esteja perdido. Confie em mim.



A última frase a abateu mais do que o esperado por Leo. Havia alguma coisa entre Reyna e Jason, era óbvio. Ela afrouxou o aperto em Piper, mas ainda assim não a soltou.



– Dê-me uma boa razão para eu fazer isso. - Sua voz estava baixa - Vocês traíram nossa confiança, fugiram com os gregos. Por mais que não tenha sido intencional toda Nova Roma está enlouquecida. O Senado está furioso, mandei tropas para o Acampamento Meio-Sangue, a guerra já está declarada.



– E por que você está aqui e não lá, comandando elas? - Leo se arrependeu de ter perguntado, pois Reyna voltou a investir neles, sem ao menos responder sua pergunta. Ela não devia gostar muito de perguntas, pensou ele.



A garota respirou fundo.



– Você quebrou sua promessa. - Ela disse baixinho, olhando para Jason e depois para Piper. Um 'me desculpe' foi ouvido da boca do loiro, deixando um clima mais tenso tomar conta deles.



Leo bufou.



– Olha, eu não quero ser estraga-momentos-dramáticos, mas nós temos uma missão a cumprir. Ou vamos enfrentar a fúria do cara da fralda. - A garota levantou uma sobrancelha para ele e olhou para Jason em busca de uma explicação.



– Eros nos mandou procurar suas flechas, disse que teríamos uma recompensa. Precisamos que nos deixem ir.



Reyna olhou para Piper, parecendo amargada consigo mesma. E perguntou hesitante:



– Para onde?



– A rua seguinte, um buffet. Talvez elas estejam lá - Parecia uma ideia idiota, mas a pretora não se mostrou indignada, ela apenas balançou a cabeça compreendendo.



– Escutem bem. - Falou alto e claro para todos, inclusive seus colegas, ouvirem. - Compreendo que não foi sua culpa - Olhou para Leo -, mas terão de vir para o Acampamento Júpiter prestar explicações, a não ser que queiram ser mortos. - Leo engoliu em seco - Não será fácil. No entanto, deixarei que somente esta noite fiquem livres para fazer seu trabalho. Sob minha supervisão. Ao amanhecer deverão retornar.



– Mas precisamos ir à Épiro. Seria perda de tempo. - Piper reclamou.



– Tudo tem seu tempo. - Reyna falou sabiamente, guardando sua adaga. - Soltem-nos.



O garoto dos reparos suspirou em alívio, ainda parecendo meio perplexo.



– Foi tão fácil assim? - Sussurrou para Jason, que foi ao encontro de Piper encarando mal um dos centuriões.



– Não abuse da sorte, Reyna sabe o que faz. Ela sempre sabe. - O ex-pretor respondeu.



Reyna limpou a garganta. Leo finalmente pode a observar melhor. Ela usava uma armadura completa e a toga roxa de pretora com um cinto metálico, a capa púrpura balançando ao suave vento da noite. Ela era bonita, ela era poderosa. Ele não gostaria de dizer que estava começando a ter uma queda por ela. Seu nome significava rainha em espanhol, aquela foi a primeira coisa que veio em sua mente quando notou sua pose altiva.



– Irei com vocês. Precisam de ajuda. - Leo riu para a reação dela, que franziu o cenho.



– Agora quer nos ajudar?



– E você seria Leo Valdez, estou certa? Mais respeito de sua parte, garoto, não aja como se eu não estivesse lhe beneficiando. Não se nega a missão que um deus nos impõe.



– Me desculpe, mas há 30 segundos atrás vossa majestade pretendia nos matar. - Sorriu sarcástico, conquistando de cara a antipatia dela.



Ela ignorou o comentário e se virou para Jason.



– Entraremos pela porta dos fundos, é certo de que não nos deixarão pela frente com estas vestimentas. - Reyna caminhou sendo seguida pelos centuriões.



– Ela é sempre assim? - Leo perguntou, sendo obrigado a segui-la também.



– Para falar a verdade eu nunca a vi tão dura, mas ela é muito agradável quando de bom humor - Jason falou.



– Dêem um desconto à ela. - Piper disse, o olhar fixo na pretora que por vezes olhava por cima do ombro para checar sua localização. - São tempos difíceis, ela está no cargo sozinha, é muito peso até para uma pessoa como ela...



Ficou a sensação de que faltava alguma coisa naquela frase, mas ninguém se manifestou. Eles chegaram ao destino, Reyna ainda um tanto desconfiada.



– Vocês montam guarda aqui, irei adentrar o buffet com eles. - Disse para os romanos que a acompanhavam. Eles acenaram em concordância e se postaram em cada lado das portas.



– Vai entrar com essa roupa? - Leo disse para ela.



– Não tenho outra escolha. - Disse apenas, a fala suave mas assassina que dava um certo arrepio nos pelinhos do braço e nuca do garoto.



– E o plano é? - Jason falou, olhando para si para checar se estava adequado com sua camiseta e calça jeans.



– Achar as flechas e sair sem nenhum pedaço faltando. - Leo falou. Reyna deu um breve suspiro de preparação para o que tinha por vir.



– Achar as flechas e sair sem nenhum pedaço importante faltando.



Assustando um pouco Leo com a frieza com que acabara de dizer a frase, ela abriu as portas e entrou no buffet. A música estava alta e as pessoas dançavam sem dar atenção à eles. Pelo visto era um casamento, havia um bolo grande e com um coração encima do mesmo, mas os noivos não podiam ser vistos em meio à pista que mudava de cores a todo momento. Verde, vermelho, amarelo... No canto do buffet haver uma área mais calma e havia alguns casais por ali.



Reyna olhou para Piper em expectativa por ela dizer algo. A garota olhou toda a extensão do buffet.



– Estranho.



– O que é estranho? - Jason disse.



– Eu poderia jurar que elas estariam aqui, era previsível.



– Previsível demais. - Leo comentou, meio frustrado e meio confuso, passando o peso de um pé para o outro no ritmo da música que tocava. Ele conhecia a música, era She's So Cold do Rolling Stones.



– Não será uma viagem perdida, eu não abri mão de vocês por algo tão fútil. À procura. - A pretora caminhou por entre os convidados, esperando não ser detida. Uns canapés foram oferecidos à Leo, mas Reyna negou com a cabeça. Jason vinha logo atrás e Piper seguia na frente, praticamente guiando o grupo. Eles se separaram, indo um para cada lado do salão, mas após poucos minutos procurando voltaram à se encontrar próximo a uma mesa com bebidas - Nada?



Piper negou. Havia alguma coisa incomum ali.



– Podemos ir embora agora? Ou vão querer aproveitar e roubar uns petiscos? - Leo disse e Reyna o censurou com o olhar.



– Vamos dançar? - Jason falou, receoso, dando um olhar para Piper. Eles encararam os outros em dúvida, especialmente Reyna, mas a pretora acabou os autorizando. "Vá.", ela disse. Leo ainda teria que se acostumar com o fato de ela não pedir, e sim ordenar.



– Só não... comam nada. Nem bebam, estou com um mal precentimento. - Piper disse antes de pegar a mão do namorado que a guiou para longe deles. Algo no fundo da mente de Leo dizia que o filho de Júpiter estava querendo fugir deles.



E ambos estavam sozinhos ali, com a cara de peixe morto encarando várias outras pessoas dançarem. Ele não fazia ideia do que se passava pela cabeça da guereira ao seu lado, então procurou se sentar numa mesa vazia que estava perto. Leo ainda tinha receio de que ela pudesse levantar sua adaga e o ameaçar de morte, mas tudo que ela fez foi permanecer de pé ao lado da cadeira dele, encarando algum ponto invisível onde ele suspeitava ser o lugar onde Jason havia sumido com Piper. Foi como se batesse um gongo no cérebro dele e o acordasse para tudo. Reyna estava sendo dura por dor. Era exatamente o mesmo que ele, mas talvez fossem diferentes. Ele usava o humor como técnica de defesa. Parecia que para a pretora uma arma e uma cara de poker era a melhor opção.



– Eu diria para irmos embora. - Ela falou, quebrando o silêncio.



– Uh, o que? Nós dois?



– Não. Me refiro a todos. Não faz sentido continuar aqui.



Leo puxou o canto da boca em concordância.



– Quer dançar?



Reyna o olhou incrédula. Ele falou sem intenção de soar ameaçador, na verdade nem sabia que aquelas palavras tinham saído da sua boca antes de ouvir a si mesmo. Estava indo tudo tão rápido: um momento eram inimigos, e agora estavam prestes a ter uma aproximação extrema. Ela pareceu hesitante.



– E eu deveria? - Ele gostou do fato de ela ter o respondido com uma pergunta. - Você é Leo Valdez, o garoto que atirou uma balista no meu lar.



– Eu estou... arrependido? - Ela o encarou ao ouvi-lo dizer aquilo.



– Perdoe-me, mas isto não é o suficiente. - Reyna empinou seu nariz - As coisas não funcionam dessa maneira.



– Então me ensine como elas funcionam, babe. - Leo propôs, encarando aquilo com um desafio. O babe saiu largado e sem importância, mas Reyna não gostou da proximidade que ele causou.



A garota suspirou após ser arrastada hesitantemente para a pista de dança.



– Não deveria estar fazendo isso.



– Você só sabe falar o que eu deveria ou não fazer - Ele respondeu no mesmo tom.



– Alguém deve tomar uma posição.



– E a sua é aqui, ponha as mãos nos meus ombros e vamos dançar essa porcaria de música.



– Somente uma música. - Leo se empertigou com a fala dela.

Reyna não sabia porque estava aceitando dançar com Leo Valdez. Ela deveria ter o matado quando podia, mas uma coisa lhe passara por sua mente antes mesmo de chegar naquela pequena cidade depois de os seguir durante quilômetros. Ele lhe perguntara mais cedo o porque dela não estar em Nova York, comandando suas tropas para atacar o Acampamento Meio-Sangue. Reyna não o respondera por precaução, guardar para si mesma. Após Annabeth ter mostrado que não tinha nenhum conhecimento sobre o mal-entendido, ela começou a pensar que devesse checar as coisas antes que tivesse certeza do que fazia. Tanto que não o fizera quando eles partiram em fuga, ela os mandou serem caçados. O por que? Jason. Ele estava... grego. Havia mudado, não havia dúvidas, mas ela não poderia atacar sem estar certa do que acontecia ali. E se nem mesmo ele soubesse do que acontecera? Ela não puniria todo o seu lado com uma guerra. Ela fora atrás deles pessoalmente, os pegaria e saberia de tudo. Reyna precisava saber de tudo.

No entanto, ela agora estava mais incomodada com a mão em suas costas, próxima de sua cintura. A mão era mais quente do que o normal, o que a fez analisar novamente o rosto do garoto que a olhou confuso, mais do que a própria pretora. Ela queria falar alguma coisa e quebrar a tensão entre eles, tanto quanto saber o porque da pele de Leo estar fervendo, mas passou a prestar mais atenção à música que tocava.



Eu roubei uma chave

Peguei um carro no centro onde os meninos perdidos se encontravam

Peguei um carro e peguei o que eles me ofereceram

Para me libertar

Eu vi as luzes se apagarem no fim da cena

Eu vi as luzes se apagarem e eles estavam na minha frente

O toque dele era acolhedor. Era diferente do que sentia com Jason. Não que ela estivesse sentindo algo pelo graecus, Leo era nervoso e não lhe agradava tanto quanto o ideal. Eles eram muito opostos. E seus Acampamentos em guerra, quando deveriam estar juntos e lutando contra Gaia. Mas aquela era a realidade, na qual ela enfrentaria de frente. E, assim como na letra, tentaria se libertar do peso.



Em meus sonhos de espantalho

Quando eles quebram meu coração em pedacinhos

Ser uma rosa de um vermelho brilhante quebrando o concreto

Ser um coração dos desenhos animados

Reyna voltou de seu pequeno torpor quando Leo limpou a garganta e disse, levantando uma sobrancelha:



– Você não quer dançar comigo?



– Como disse anteriormente, não deveria. - Falou formal, após ele parar de dançar e soltar sua mão. Um frio repentino tomou de conta de seu corpo. Mas ela já havia se acostumado ao frio.



Acenda um fogo, acenda uma faísca

Acenda um fogo uma chama em meu coração

Nós iremos correr soltos

Nós estaremos brilhando na escuridão

– Seria contra as regras, pretora? - Leo usou um tom sarcástico que ela odiara - Regras são feitas para serem quebradas.



– Regras são feitas para serem seguidas - Disse tentando manter a calma, encarando-o fixamente nos olhos do garoto intencionando intimidá-lo. Curioso, pensou, ela achou ter visto uma faísca no olhos castanhos de Leo, como uma chama, um fogo crescente. Por um segundo o analisou em busca de alguma informação de que ele estivesse sendo possuído por Eidolons novamente. Mas não, não havia nenhuma, fora apenas sua mente lhe pregando uma peça maldosa.



Leo se encostou à uma coluna e começou a mexer no cinto de ferramentas que era estranho aos olhos de Reyna.



– O que faz? - A garota perguntou, olhando desconfiada para o objeto mágico. Ela tocou sua adaga embainhada somente por defesa.



– Construindo uma bomba nuclear para destruir o seu mal-humor. - Deu uma risada seca. Reyna fez um 'hum' com a garganta, não aprovando a fala dele, e deslizou seus dedos do punho da adaga.



– Não diria que sou mal humorada.



Leo a olhou incrédulo.



– E eu sou o coelhinho da Páscoa.



Se limitou a dar um olhar de escárnio.



– Você não aprecia o meu humor - Leo disse.



– Talvez eu não precise. - Ralhou, recomeçando a briga. Ele não respondeu, continuou trabalhando com as mãos num silêncio incômodo.



Ela acabou por sentar-se novamente perto de onde estavam, revendo os fatos acontecidos até agora. Reyna não sentia mais tanta vontade de ameaçá-lo à morte. No fundo, ela pedia para que nada acontecesse a eles. Os romanos eram vingativos e não deixariam nada passar despercebido por seus olhos, mas deveriam ser justos. Deveriam trabalhar juntos, por mais que houvessem diferenças. O clima entre ambos foi quebrado ao som da voz do garoto filho de Hefesto.



– Posso te fazer uma pergunta? - Leo mexia com seus dedos incansáveis em pequenas engrenagens e ferramentas.



Ela assentiu.



– Você não se sente cansada? - Pareceu perdido por alguns segundos - Quero dizer, nós estamos juntos agora. Não, não daquele jeito - Ele percebeu os sentidos que as palavras tomaram e deu um sorriso nervoso - Mas está do nosso lado, não está?



– Você não entende. - Ela pensou que ele fosse se sentir um pouco ofendido, mas apenas lhe dirigiu um olhar. - Assim como eu, você não está do meu lado. Podemos estar separados por uma rivalidade de séculos, unidos por um inimigo em comum. Mas ainda assim, separados. Gaia nos aproximou mas não a ponto de nos unir por completo. Tudo graças a você.



Leo revirou os olhos.



– Sabia que aquela história de compreensão era papo furado.



– Compreendo que não foi sua culpa. - Repetiu - A culpa é de Gaia. Mas ela usou você, você foi o instrumento. De certa forma tenho minha parcela, eu o mandei para o navio com Octavian. Mas graças a você estamos em meio a isso.



– Está dizendo que querendo ou não, a culpa foi minha? - Leo perguntou, agora realmente soando ofendido.



Reyna levantou-se em busca de Jason e Piper, procurando chamá-los para irem embora. Ela olhou por cima do ombro com armadura e o encarou.



– Interprete como quiser. - E saiu andando entre os garçons e vestidos cintilantes.



... Aquilo fora há muito tempo, lembrou. Tempo o suficiente para ele poder vê-la ressurgir entre os convidados acompanhada de Jason, após a dança com o mesmo como padrinho.



Reyna ainda parecia desconfortável com um vestido de noiva, fazendo Leo rir toda vez que ela insistia em cutucar a longa e simples saia.



– Tornozelos fracos? - Perguntou assim que Jason saiu e foi dançar com Piper. Afrouxou a gravata borboleta que apertava seu pescoço, e sua esposa - a palavra ainda soava estranha - se sentou ao seu lado.



– Quem dera - Deu um sorriso que lhe foi encantador, mesmo depois de ele ter a feito sorrir várias vezes antes. - Somente penso que passei tempo demais com os outros, enquanto deveria ter permanecido aqui com você.



Ele queria sorrir de orelha pontuda a orelha pontuda.



– Não está me ameaçando de morte - Disse, protegendo a cabeça com os braços e olhando-a desconfiado - Quem é você e o que fez com a minha Reyna?



'Minha Reyna.', pensou, feliz.



– Deveria saber que faria alguma piada suja. - Disse mais para si mesma do que para ele. E então, de súbito, veio uma lembrança de uma que ele havia feito, a única que havia realmente a assustado.



– Aqui. - Ele apareceu ao lado dela com um copo de ponche em cada mão pegos na mesa de bebidas ao lado, e entregou um para ela - Pensando? - Deveria ter percebido a expressão vazia dela. Reyna assentiu com a cabeça. - Sobre?



– Nós. - Respondeu simplesmente. - E na sua infantil tentativa de se passar por morto. - Bebericou o líquido rosado no copo, olhando irritada de soslaio para ele.



– Eu mereci o Oscar, não acha? Acho que depois da lua-de-mel devemos ir para Hollywood. Você é a Rose e eu sou o Jack, vamos fazer a melhor regravação de Titanic de todos os tempos. - Piscou um olho.



– O que eu fiz para merecer você? - Disse, enquanto Leo saía sorrindo para cumprimentar mais convidados atrasados chegando. Ela ficara ali, na sua vez de se sentir sozinha, enquanto girava o copo nas mãos, apreciando ter alguma coisa para adoçar seu paladar que tinha um gosto excêntrico por açúcar. Reyna passou a analisar o salão em que estavam, reconhecendo cada canto dele. Já estivera ali antes.



E fora naquele salão que tiveram as primeiras de suas muitas discussões, e fora naquele salão que sentira a mão quente dele em sua cintura, despertando sentimentos antes negados. Negados, mas não por muito tempo. Se ela pudesse saber o que se passava na mente de Leo, ela quebraria a dúvida do que ele sentia também. Não haviam sido amigos à primeira vista, ele nunca seria o tipo que ela esperaria. Mas, ao pensar naquilo, as memórias de anos atrás voltaram.



"Ele era irresistível. Não a entenda mal, não era aquele irresistível como Jason fora. Irresistível porque ele não a conquistou de fora para dentro, e sim de dentro para fora. Depois se viu atraída por tudo nele, somente depois passou a gostar realmente de Leo e parou para pensar: Eu preciso dele. Com Reyna fora assim. Talvez um pouco mais difícil do que parece, mas fora exatamente dessa forma que ele a conquistou. De dentro para fora, como fogo. O fogo cresce e se espalha, antes só uma faísca. Leo era fogo.



Mas Reyna não podia se deixar levar por aquilo. Não, ela só seria mais fragilizada ainda. Seu trabalho, sua reputação... seu coração não aguentaria ser quebrado novamente. A pretora saiu andando para seu escritório, o som da armadura em movimento ecoando no corredor frio junto do estalar de sua capa.



– Não dê mais um passo. - Um braço barrou sua porta. Ela olhou a dona e viu uma garota de olhos de tempestade a encarando com raiva - Quero ter uma palavrinha com você.



– O que seria? - Rosnou de volta, franzindo as sobrancelhas por receber uma ordem de alguém que não costumava obedecer.



Annabeth deu um suspiro de aborrecimento.



– Você é cega?



Reyna não respondeu por pura incredulidade, continuou fitando a garota esperando que ela continuasse.



– Ou simplesmente ignora? - A loira continuou a intimidando, dando um passo mais para frente e encarando a pretora - Não consegue ou não quer ver?



– Do que diabos está falando, Chase? - Rebateu.



– Não se faça de desentendida, isso eu sei que você não é. - Agora elas estavam cara-a-cara. Reyna tocou o punho de sua adaga como sempre fazia quando era questionada ou desrespeitada. Annabeth viu seu movimento e voltou seu olhar para os olhos negros dela. - Está o machucando, e aposto que a você também, Reyna.



Ela queria não saber do que a filha de Atena dizia, mas o pior é que ela sabia. Leo. Mas Reyna não queria admitir que estava sendo magoada, apesar de estar se corroendo por dentro.



– Não sabe o que eu sinto, não pode me dizer o que fazer ou me julgar. De meus sentimentos cuido eu, assim como do meu Acampamento.



– Leo não merece isso. - A loira insistiu, a voz mais forte.



– Abaixe o tom. - Reyna mandou.



Annabeth balançou a cabeça com força em negação.



– Nem você merece. - Reyna permaneceu em silêncio ao ouvir a frase, e a garota continuou - Você não é má pessoa, Reyna, eu lhe conheço, e também conheço Leo. Está o fazendo sofrer mais do que ele sempre sofreu. Ele já está se culpando pela morte de Hazel e Frank, mas você o parte com um só olhar!



– Eu não posso! - Gritou em desespero. Ela quase nunca gritava.



– Vou contar uma história. Acho que vai lhe fazer bem ouvir. - Annabeth disse - Quando eu caí no Tártaro, eu só tinha Percy. Ele era o meu chão. Percy se sacrificou ao não me soltar, nós dois caímos. Juntos. Lembrei de quando ele desapareceu, eu quase morri, você sentiu o mesmo quando Jason desapareceu, pude ver isso em seus olhos quando te conheci. Eu via aquela expressão toda vez que me olhava no espelho. Mas depois da queda, eu nunca mais pude cogitar a opção de viver sem Percy. Eu o amo, Reyna, o amo muito.



– Sei aonde você quer chegar - Reyna a interrompeu.



– Pois não parece. - A loira exclamou.



– Eu não posso - Ela repetiu, abrindo a porta de seu escritório e intencionando fechá-la, mas Annabeth colocou a mão na madeira e não a deixou fechar.



Por que não pode?– Entrou no quarto onde uma Reyna relutante batia na madeira de sua mesa por raiva.



Reyna a encarou o mais raivosamente que pôde.



– Saia. Isto é uma ordem. - Falou somente, indicando com a cabeça a saída. Annabeth pareceu ofendida mas obedeceu, marchando para fora da sala. Depois que a loira saiu e Reyna teve certeza que estava sozinha, uma relutante vontade de chorar veio, e ela se fez de forte, ignorando a dor.



"Por que não pode?", as palavras ecoavam, cada vez mais fortes. "Por que não pode?" E ela pensou no motivo: Porque ela tinha medo. O medo é o que impulsionava as pessoas a se manterem vivas, e era assim que achava. Se se mantivesse longe de Leo, ela não sofreria. Mas agora tudo parecia confuso. "...não pode?" Sua cabeça latejava, os músculos tremiam, as imagens de Jason e Leo vindo em sua mente, e, de repente, não sentia mais nada em relação ao loiro. Remorso, talvez, mas não mais que isso. O que passou está passado.



Reyna se levantou e rumou para seu quarto, não adiantaria de nada passar a noite cuidando dos papéis de Nova Roma no estado atual, enquanto pensava se poderia um dia fazer com que aquela dor passasse...



"... pode?"



Na manhã seguinte ela se viu entrando na enfermaria do Acampamento junto de seus galgos, onde um garoto latino com orelhas élficas e sobrancelhas arqueadas dormia um sono leve. Ao som dos passos dela, Leo acordou. O filho de Hefesto esfregou os olhos e fez uma expressão surpresa e cansada quando reconheceu o rosto severo de Reyna à sua frente.



– Bom dia - Ele disse, se sentando e tocando os pés no chão, espreguiçando-se. Leo esperou um cumprimento de volta que, como previu, não veio. Ao contrário da dona, os cães o saudaram com lambidas de metal nas bochechas.



– Vocês partem daqui a algumas horas, suas coisas já estão preparadas, Petrus tratou de cuidar do navio. Espero que já esteja o suficiente recuperado. - Ela falou solene, sem ao menos dar um passo mais próximo da cama dele.



– Ansiosa por eu ir embora, huh? - Zombou, coçando atrás das orelhas de Aurum, parecendo ter mais cor nas bochechas de tom puxando para o marrom, numa nitidez de nacionalidade latina. Reyna pensou ter visto um pouco de fumaça saindo dos ouvidos dele, o que aconteceu mas ele não pareceu ter notado. Piper e Annabeth apareceram na soleira da porta antes que ela pudesse dizer algo.



– Estamos prontos. - Disse a morena, dando uma boa olhada nos dois - E vocês ainda não se mataram.



– Estávamos quase. - Leo falou, em seu tom sarcástico.



Reyna se aprumou e se dirigiu às meninas, fechando a porta da enfermaria ao sair, dando um olhar de escárnio no garoto.



– Só me resta agradecer pelos serviços prestados ao Acampamento Júpiter. - Estendeu a mão para um aperto de mãos formal e a mão de Annabeth a envolveu, os olhos cinzentos a avaliando em negação pela noite passada, mas ela ignorou - Onde estão os outros? Devo falar com cada um pessoalmente.



– Deveria agradecer primeiramente à Leo, não acha? - A loira disse, e Reyna pôde identificar uma nota de raiva em sua voz. - Mas respondendo a sua pergunta, Percy está com Jason lá fora, enquanto eu e Piper vamos cuidar dos últimos detalhes.



Últimos detalhes, pensou Reyna. Aquelas duas palavras a deixaram desconfiada, ainda mais quando ambas as gregas a encaravam como num desafio.



– Entendo. - Falou, usando o mesmo tom que Annabeth usara. - Mandarei Póllux chamá-los ao meu escritório, todos vocês. Quando partirem, quero poder dar uma despedida em nome de todos os semideuses romanos. Nos vemos em breve - E sem esperar uma resposta delas, Reyna voltou a entrar na enfermaria em busca de Aurum e Argentium.



Ouviu um 'BAM' quando a porta fechou às suas costas, e quando a mão tocou a maçaneta e a girou com força, a porta se recusou a abrir.



– Um dia vai me agradecer por isso! - Reconheceu a voz de Piper no outro lado. 'Filha de Vênus estúpida', praguejou em sua mente. Ouviu o riso de Leo e se virou para ele.



– Está envolvido nisto, não está?



Dulzura, juro que sou inocente. - Levantou as mãos em defesa.



– Então abra esta porta - Ordenou, ignorando o apelido fora de hora - Você pode abri-la mais facilmente do que qualquer chave.



– Dê um chute, têm tornozelos fortes.



Ela dirigiu um olhar gelado a ele, capaz de congelar a própria alma do rapaz. Leo levantou o indicador.



– Uma condição. - Disse.



Reyna o encarou.



– Diga.



Leo suspirou, mexendo no cinto de ferramentas mágico que descansava em sua mesa de cabeceira. Montava alguma coisa com as pecinhas, talvez uma forma de destrancar a porta. Não teve coragem de dirigir um olhar a ela, mas fez uma pergunta.



– O que somos nós?



Pela primeira vez, Reyna não sabia o que dizer. Tinha medo de magoá-lo, magoá-lo e magoar a si mesma, mas decidiu que seria melhor se magoar agora do que no futuro.



– Não existe nós.



Ela pensou que Leo iria fazer tudo, tudo, menos dar uma alta risada. Ele a encarou sem cessar, era incrível como ele era o único que poderia fazê-la se sentir nua mesmo usando sua cara de poker de sempre, mesmo analisando a todos de cima a baixo, falando em forma de ordens, dando as regras.



– Acho que precisa aprender a mentir, mi reina.– Disse no máximo de sarcasmo que podia. Reyna tocou sua adaga na bainha, mas hesitou. - Ora, vamos, não me ameaçaria, não é? - Mudou de ideia. Puxou a adaga, empunhando-a na direção de Leo, que a olhava boquiaberto. As coisas já estavam passando dos limites. Atirou o punhal, que passou ao lado da cabeça dele, atingindo em cheio um calendário que dizia 'Aproveite as férias no Acampamento Júpiter', acertando o traseiro de um pégaso estampado nele.



– Você me dá medo. - Leo disse, ainda de olhos fechados. Espiou por um olho, vendo Reyna cruzar os braços e se escorar na parede.



– Estamos fazendo isso de novo. - Declarou. - Brigando. Como sempre fizemos, sem nenhuma significativa melhora.



– Bom, levando em conta que você só acertou um pedaço de papel dessa vez, foi melhor do que quando apontou essa coisa pra minha garganta.



– Era meu dever, mas você foi poupado perante os deuses.



– E agora você está me poupando. - Disse, e ela tentou não pensar que aquilo insinuava o início da discussão dos dois. Não teve tempo para respirar, e Leo já voltara a sua pergunta inicial - O que somos nós?



Ela caminhou para perto da cama dele, criando expectativa, mas apenas puxou a adaga enfiada no calendário, admirando rapidamente sua lâmina dourada e voltando a enfiá-la na bainha.



– Dois adolescentes que passaram por uma guerra contra titãs e monstros, com as mesmas dores - Seus punhos se fecharam - Com as mesmas perdas e sofrimentos, mas que são opostos e que não conseguem declarar paz um ao outro.



Leo deu um muxoxo, esperando outra resposta.



– Sabe, acho que você está errada. - Voltou a mexer nas peças antes deixadas de lado pelo susto, com seus dedos incansáveis - Não somos tão opostos assim. - Parou de construir a geringonça, mostrando-a a ela. Reyna fingiu não sentir uma corrente elétrica ao ver que a mão dele estava anormalmente quente, e pegou o objeto. Não era um tipo de chave, nem de longe. - Lembra? - Disse - Você havia dito que tinha perdido seu colar de Hylla. E agora não pode mais o pegar de volta, então eu fiz um novo.



Quase que delicadamente, o tocou e viu que havia algo como uma coroa desenhada no metal, envolvendo uma letra R com arabescos. Aquilo não teria sido feito em tão pouco tempo.



– Há quantos dias está fazendo isso? - Perguntou, pousando o objeto na cômoda ao lado.



– Só me levaram algumas horas, e uma noite sem sono. - Ela o encarou - É detalhado. Tinha que fazer algo bonito. E não me importo de ficar sem dormir, porque não consigo de qualquer jeito. - E agora o observando melhor, ele poderia estar recuperado, mas as olheiras eram claramente vistas, a aparência cansada. Leo nunca fora bonito, mas agora parecia realmente acabado.



– A guerra é algo honroso e sujo. - Começou, falando mais para si mesma, revirando o pingente entre os dedos novamente, observando-o mais - Você vive e morre por ela.



– A honra te traz e a honra te joga na lama e pisa na sua cabeça pra afundar um pouco mais. Sei como é. - Disse, sorrindo sem graça para o trocadilho mal feito. Reyna não fez uma expressão.



Ela parecia muito centrada na letra R em seu novo pingente.



– Como você consegue? - Perguntou, e Leo a olhou confuso - Sorrir?



– Ah, é só puxar os cantos da boca assim - Sorriu novamente, mesmo com os arranhões em seu rosto e com as olheiras grandes e definidas.



A piada foi uma das piores que ela já tinha ouvido, mas aquilo a fez dar um sorriso de canto, somente por vê-lo sorrindo ali, na sua frente. O coração dela bateu mais rápido: um colar, um sorriso, uma porta trancada. Ele estava tentando encurralá-la e deixá-la sem saída, e ela caíra na armadilha. Ou se deixara caír.



– Viu? Está conseguindo. - Ele disse, espirituoso. Fez um som de aprovação - E nós não estamos mais brigando... estamos?



– Por enquanto. - Falou.



– Deixe de ser tão pessimista. - Resmungou - Veja só o meu estado! Aposto como estou um tacho sem nem olhar para o espelho. E o que faço? Continuo sorrindo. Sobrevivemos a essa guerra, o que parecia impossível. Deveria dar o braço a torcer, se é que me entende. - Olhou-a significativamente.



Pare.– Ela disse, fechando a mão com força ao redor do pingente. Reyna o olhou com um pouco de raiva - Pare de querer se aproximar de mim, Leo, não vai adiantar. Vamos ir direto ao ponto, eu não posso me aproximar de você. Não devo.



Finalmente ele pareceu não sorrir por algo que ela disse, e a filha de Bellona se sentiu esmagada por ver os olhos tristes dele se prendendo ao chão. Ela ainda conseguia ver as chamas dançando neles quando pousou o colar novamente na mesa de cabeceira.



– Só peço uma chance, não vou estragá-la, Reyna. Eu prometo, só me dê uma chance. Só uma, umazinha de nada, por favor...



Reyna negou com a cabeça.



– Não implore, é ridículo. - O censurou, ainda tentada com a oferta e assustada com a reação dele.



– Como se eu em si já não fosse. - Falou, bufando depois.



– Você e sua insegurança. - Apontou com o indicador - Não deve se deixar torcer o braço. Qualquer um pode fazer uma ato heroico, mas você se sacrificou por todos, enfrentou e venceu. Não abaixe essa cabeça ou eu a corto.



Leo deu uma pequena risada.



– Às vezes eu acho que você realmente se importa comigo. - Reyna se arrepiou pelo olhar que ele a deu.



– Mas eu me importo. - Protestou.



– Então não vai cortar minha cabeça? - Levantou uma sobrancelha, voltando a seu tom engraçado.



– Por maior que fosse a vontade, não. - Respondeu, bufando, e desviando o olhar.



Leo riu, mas poucos segundos depois voltaram à seriedade, com um silêncio incômodo os rondando. Aurum e Argentum foram até os pés de sua dona, e ela lhes acariciou atrás das orelhas metálicas, ignorando os olhares de Leo.



– Você é o único de quem eles gostam. - Falou, baixo, dando um meio sorriso que a fez assustar até a si mesma.



– Ou seja, você não me odeia. - Disse ele.



– Nunca lhe odiei. - Defendeu-se, franzindo o cenho. - Por mais que fôssemos inimigos, o ódio seria um sentimento muito forte e negativo para definir o que sinto em relação a você.



– Então sente alguma coisa?



– Definitivamente - Sentou-se no chão e os cães ficaram um de cada lado - É... incômodo. - Falou, não se importando de estar se abrindo para ele. - Mas é alguma coisa.



– Isso é melhor que ódio. - Constatou - Ainda tenho alguma chance com a rainha do gelo?



– Você é insistente. - Suspirou.



– Não vai se livrar de mim tão fácil. - Ele disse, com um sorriso triste e pequeno.



– O que quer dizer?



– Eu não vou desistir. - Falou, se levantando e indo de encontro a ela. A cada passo que ele dava, a frase de Annabeth aparecia. "Por que não pode?". Leo se sentou ao seu lado, com cuidado com o joelho ferido e enfaixado, uns poucos arranhões no rosto, recebendo carinhos de Aurum, que deitou a cabeça em seu colo. - Você foi a primeira pessoa em que eu realmente senti que foi diferente. - Ele admitiu, e tudo que ela pôde fazer no momento foi ouvir, estática, o que ele tinha a dizer - A única que me fez ter certeza de que eu gostaria de ficar junto. Por muito tempo. Pode parecer loucura, mas cá entre nós, eu nunca fui normal. - Reyna observou como chamas brilhavam nos olhos de Leo, sorrindo para o autômato, e elas eram da mesma cor dos olhos de rubi do cão mecânico. A garota se perguntava se somente ela via aquelas labaredas nos olhos castanhos de Leo.



"Por que não pode?"



E então ela viu que tudo estava na sua frente, o tempo todo. Reprimido, isolado, frio e protegido. Ela só estava quebrada. Envolta por um gélido escudo que, ao invés de a proteger, a machucava e atrasava. E Leo? Leo só tinha um coração e olhos fogosos. Naquele momento, Reyna revisou a si mesma e percebeu: Não doía. Nada, nem coração, nem reputação, ela não se importava.



Ambos pareceram perceber o quão seus rostos estavam próximos.



– Ainda estamos trancados aqui. - Disse ela, quase num sussurro. Leo se aproximava dela, visivelmente nervoso, mas decidido.



– Quem se importa? - Falou, quase inaudível, e Reyna sentiu seus lábios serem aquecidos.



Ela sorriu com a lembrança.



Uma garota surgiu dentre a pista, com seus cabelos de cor de chocolate presos num coque elegante, com o vestido destacando suas curvas bem feitas e os olhos caleidoscópicos. Piper lançou um olhar significativo a ela. Quando Reyna olhou, Leo não estava mais a seu lado, não sabia onde ele havia ido, mas decidiu ficar ali, o esperando, enquanto a filha de Afrodite caminhava a seu encontro.



Piper olhou para Leo, cumprimentando Póllux e outros semideuses romanos, e voltou seu olhar para Reyna.



Reyna se levantou e ficou frente-a-frente dela. Os seus olhos mudaram para um tom de azul, fazendo-a automaticamente lembrar o azul dos olhos de Jason, que agora para ela não era nada mais do que um amor passado.



– Obrigada. - Sua voz saiu solene e um pouco hesitante, mas firme. Piper sorriu, compreendendo suas palavras.



– Eu disse que um dia me agradeceria.



– Eu não esperava que isso viesse de você. Depois de tudo. - Reyna tentou não mencionar o fato de já ter brigado com ela por conta de Jason.



– Sabe, agora eu percebo que não foi por acaso que não encontramos as flechas aqui, neste buffet. - Piper olhou para Leo, de relance - Agora compreendo. Eros, o cupido, nos trouxe aqui por esse motivo. Ele disse: "Haverá recompensa, mesmo que a longo prazo". Eros me fez ser atraída até aqui, junto de Jason e Leo, como uma filha de Afrodite. O mal pressentimento que senti, foi, na verdade, somente uma reação.



Reyna pegou a linha de raciocínio dela.



– Nunca houveram flechas.



– Sim, e veja no que resultou. - Apontou a cabeça sem uma certa direção, indicando o local em si.



– Hey, Piper! Quero lhe apresentar uma pessoa - Percy apareceu do nada, com Annabeth em seu braço. Ela piscou para Reyna.



– Oh, claro. - Piper disse, sorrindo - Acho que terminamos por aqui, então.



Reyna sorriu para ela, dando olhares a Percy de confirmação do fim da conversa. Apenas por alguns segundos ela ficou sozinha, mas então Leo voltou e se sentou a seu lado.



– Da próxima vez que darmos uma festa, temos que lembrar de não convidar o Don, ele está comendo todos os talheres. - Disse, fazendo-a rir. A música que tocava mudou, e ela reconheceu o começo.




Eu roubei uma chave



Peguei um carro no centro onde os meninos perdidos se encontravam

Peguei um carro e peguei o que eles me ofereceram

Para me libertar

Eu vi as luzes se apagarem no fim da cena

Eu vi as luzes se apagarem e eles estavam na minha frente



– Me dá a honra? - Ela se levantou e estendeu a mão para ele. Leo levantou uma sobrancelha. - Você não quer dançar comigo?




– A Sra. Valdez não está quebrando as regras por aqui? - Disse, divertido - Geralmente é o Sr. Valdez quem chama para dançar.



– Eu realmente não me importo com as regras.



Leo deu um sorriso brilhante, se levantando e puxando-a para o salão, entrelaçando seus braços.



Dulzura, vamos por fogo nessa pista de dança.



Acenda um fogo, acenda uma faísca

Acenda um fogo, uma chama em meu coração


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews, recomendações ou um chute no traseiro?