Hermione acordou cedo no outro dia e desceu. Sabia que Malfoy costumava acordar cedo, então tinha a esperança de encontrar com ele no café da manhã e dissuadi-lo da ideia de se entregar ao Ministério. Quando ia descendo as escadarias, contudo, viu a figura de Draco aguardando-a nos pés da escada. Ele tinha o livro de Draconiatus numa mão e uma pequena mala na outra.

- Ah, Draco. Que bom que mudou de ideia, você vai fugir!!! – falou Hermione, com uma ponta de esperança no coração.

- Essa mala não é para mim, Hermione. É para você!

- Para mim? – perguntou Hermione, perplexa. – Ah, Malfoy... você precisa fugir. Podemos fugir juntos. Podemos enviar a fórmula definitiva para Harry quando estivermos bem longe daqui.

- É tarde demais, Hermione. – falou Malfoy, num tom grave, parecendo mais triste do que o comum. – Eu recebi uma mensagem da Rússia: parece que Harry invadiu um de meus laboratórios clandestinos. Ao que parece, ele conseguiu uma fórmula. Com a fórmula nas mãos, tenho certeza que Harry deve vir atrás de mim. Mesmo que eu quisesse, Hermione, eu não poderia fugir com você. Mas não quero que se preocupe: eu falarei a Harry que você é inocente. Tenho certeza que em breve você poderá voltar a sua vida comum. Mas enquanto isso, quero que você fuja e fique a salvo, até que tudo seja esclarecido para você. Só retorne quando perceber que você não é um alvo para Harry.

Como Hermione ficou imóvel e muda, Draco continuou.

- Nessa mala há passagens para a Bulgária. Eu tenho um pequeno castelo lá. Tenho certeza que não lhe faltará nada...

- Eu não vou!!! – falou Hermione, resoluta. – Se você não fugir, eu também não vou.

- Não estou pedindo, Granger... – falou Malfoy, sério. – Você vai fugir até que esteja a salvo para voltar... está entendendo?

- Mas e você, Draco...? – perguntou, Hermione, aproximando-se de Malfoy, segurando a sua mão. E como ele fez uma pequena carícia com os dedos na mão de Hermione, ela se aproximou mais ainda e depositou um singelo beijo na face de Draco, bem próximo a seus lábios. – Draco... eu... eu...

- Não há tempo para isso, Hermione... eu sinto muito pelo que eu fiz. – Disse ele, dando um passo para trás quando percebeu que Hermione iria beijá-lo. - Coloquei você numa situação delicada com Harry. Por minha culpa você foi condenada a Azkaban. Eu sinto terrivelmente por isso.

- Eu já te perdoei por isso, Malfoy... por favor, se você ficar, será condenado a Azkaban pela vida inteira. Eu não posso conviver com isso. Eu não poderei viver sabendo que você está naquele lugar horrível...

- Então, esqueça-se de mim, Hermione... você não me ama de verdade. Só está confusa com tudo o que tem acontecido. Eu a tenho deixado confusa com meus jogos e meus planos. Na verdade, Hermione, é Potter quem você ama. E quando eu estiver preso e tudo for esclarecido, não tenho dúvidas de que você será feliz com ele.

Hermione ficou olhando Malfoy sem saber o que dizer. Talvez fosse verdade. Ela não sabia se o amava. Talvez estivesse mesmo confusa. Harry sempre foi o seu amor verdadeiro. Uma paixão silenciosa que Hermione havia guardado por anos em seu coração, mas nunca, nunca havia sentido o que ela sentia por Draco na presença de Rony ou de Harry. Se era amor, Hermione não sabia, mas significava alguma coisa... Era difícil dizer o que...

- Não se preocupe comigo, querida. Eu já estou acostumado às agruras da vida... Antes de me tornar rico e poderoso na Inglaterra, passei anos como escravo na Rússia. Hoje, Paschenko é quem é meu escravo, mas nem sempre foi assim. Azkaban não será pior... no fim, sempre há a possibilidade de fugir e espalhar meu reino do mal por aí... – disse ele, com um sorriso adorável. Hermione sentiu os olhos lacrimejarem, mas também sorriu. Sabia que ele tentava confortá-la.  Ele poderia ser um homem cruel, mas era bondade que ela via nele, uma bondade que talvez ninguém, além dela, tivera o prazer de conhecer...

E, tomada por sentimentos que nem ela conseguia decifrar, Hermione se aproximou de Malfoy e sem deixar que ele a afastasse de novo, beijou-o delicamente, suavemente, sentindo uma estranha energia passando do corpo dele para o dela e do dela para o dele. Ela espalmou as mãos no peito dele, aproximando-a cada vez mais. E ele a envolveu, como se quisesse mantê-la a salvo de todas as ameaças que ele mesmo havia atraído para si. Era um abraço. E com isso, ela esperava convencê-lo que o lugar dele era junto dela. E o que aconteceria ficou apenas na imaginação de ambos...

BOOOOMMMMM!!!

Uma explosão jogou Malfoy sobre os degraus da escada e Hermione sobre ele. Os estilhaços acertaram o rosto de Hermione que agora sangrava.  Ele a segurou para que ela não caísse e levantou-se em seguida, sacando a varinha habilmente. Já era tarde, com a explosão, a pesada porta de entrada tinha ido abaixo e uma dezena de aurores já havia entrado. Ele ainda conseguiu estuporar alguns deles, mas então Harry chegou. Estava pronto para atacar Malfoy, quando Hermione se colocou na frente dele.

- NÃOOOO!!! HARRY NÃO!!! – gritou ela, brandindo as mãos para que Harry não os atacasse.. – Por favor, não...!

- NÃO ATIREM!!! AURORES, NÃO ATIREM!!! – ordenou Harry para os aurores, todos conhecidos de Hermione, que não sabiam o que fazer.

Hermione respirava descontroladamente e lutava para permanecer na frente de Draco que queria afastá-la a todo custo.

- Hermione, saia da frente!!! – pediu Harry, preocupado. O que Hermione estava fazendo? Ela deveria estar confusa, só podia estar. Harry a estava libertando das garras de Malfoy. Era a chance de finalmente livrá-la, depois de tanto sofrimento. O que ela estava fazendo?

- Não, Harry... se vai nos matar, mate logo, mas não pense que vou sair da frente de Malfoy...

- Você está confusa, Hermione. – falou Harry, abaixando a varinha e colocando-a no chão. – Eu não vou fazer nada que a coloque em perigo, está vendo? – falou ele, num tom calmo, tentando não assustá-la.

- Saia da frente, Granger... – dizia Malfoy, tentando puxá-la para o lado, mas Hermione virou-se e o abraçou. Malfoy ainda tentou puxar os braços de Hermione, tentou arrancá-la de seus braços, mas ela permanecia abraçada a ele, demonstrando uma força incrível.

- Hermione... largue-o e venha para mim, querida... – falou Harry, tentando manter a calma. Ver Hermione abraçando Malfoy daquele jeito havia despertado uma fúria interna nele. Se Hermione não estivesse no caminho, ele certamente mataria Draco Malfoy de uma vez por todas.

- Para que, Harry? Para você me enfiar em Azkaban, novamente? – falou Hermione, sentindo as lágrimas novamente escorrerem em seu rosto, enquanto lutava para permanecer junto de Draco.

- Não, Hermione. Eu fui injusto. Todos nós fomos. Gina era a verdadeira traidora. Ela contou tudo. Eu sei que você é inocente, querida. Só quero te proteger... por favor, venha para mim...  eu te protegerei.

- Tem certeza disso? – dessa vez foi Malfoy quem perguntou. Harry  ficou aturdido.

- Você sabe disso. Sabe que Gina é a traidora, por que está perguntado?

- Não seja estúpido, Potter. – falou Malfoy, rispidamente. – Eu sei que Gina é a traidora. Só quero ter certeza de que quer proteger Hermione e não condená-la a Azkaban.

- Eu não quero isso. Foi um erro. Você, Gina e Skeeter planejaram isso. Levaram-me ao erro. Um erro pelo qual jamais me perdoarei. – falou Harry, segurando-se para não explodir. Ah, se Hermione não estivesse ali, nos braços de Malfoy, Draco com certeza já estaria morto ao chão.  Mas o que aconteceu, a seguir, foi algo que Harry jamais imaginaria que acontecesse.

Malfoy começou a se aproximar de Harry, arrastando Hermione consigo. Ela lutava, não queria se mover. Percebeu que Draco a daria para Harry.

- Draco, não... você não pode... eles vão te matar... Draco, não...

Draco se aproximou de Harry  a ponto de ficarem a poucos centímetros de distância. Poderia esticar os braços e arrancar Hermione de Malfoy, mas ficou tão surpreso com o que seu inimigo fazia que não conseguiu reagir.

- Em Azkaban, quando você me entregou Hermione, eu a protegi. Espero que me retribua o favor, Potter. – Disse Draco, puxando o braço de Hermione e estendendo-o para Harry. - Se você a machucar, eu juro que irá se arrepender amargamente...

Harry franziu o cenho, ao perceber que Draco falava sério. E estendeu os braços para puxar Hermione. Ela lutou para não largar Malfoy, mas Draco afastou os seus braços e Harry a segurou pela cintura firmemente, afastando-a dele.  Assim que os dois foram afastados, os aurores puxaram Malfoy e o arrastaram para fora.

- Não!!!- gritou Hermione, lutando para sair dos braços de Harry, mas ele a manteve firme.

- O que está acontecendo com você, Hermione? Eu estou te ajudando... Não vê? Malfoy é o vilão. Ele tem te manipulado todo esse tempo. Brincado com os teus sentimentos. Sabe-se lá o que mais...

Hermione virou-se para Harry. Ele parecia preocupado com ela, mas Hermione preocupava-se ainda mais com Malfoy.

- Ele é bom, Harry... no fundo... ele é bom... ele foi bondoso comigo. Deixe-me ir com ele. Se ele for condenado a Azkaban, eu quero ir junto. Acho que eu mereço o mesmo destino, porque tenho vivido sob a proteção dele. Não lutei pelo bem, fui indiferente à todos. Pensei somente em mim mesma. Eu mereço o meu castigo. – Hermione reclamou, tentando empurrá-lo, mas Harry a segurou.

- Hermione... o que aconteceu? Vocês... vocês dormiram juntos? Foi isso o que aconteceu? Por que se ele tocou um só dedo em você, eu juro por Deus que o mato aqui mesmo... – disse Harry num tom sério. Hermione não lhe dava bolas. Estava mais preocupada com o carro (um carro de trouxas modificado para voar ) que levava Malfoy para longe. Era tarde demais para ele...

- Fala Hermione!!! Diga a verdade!!! – gritou Harry, tomado pela raiva.

Mas Hermione virou-se para ele, com mais raiva ainda.

- Ora, Potter! – disse ela, com cinismo na voz. – Se estava tão preocupado que Malfoy pudesse tocar em mim, porque me entregou para ele em Azkaban, hein? Eu quis que você me protegesse, Harry. VOCÊ, Não Malfoy! E o que você fez??? Você me machucou, Harry, mas do que Malfoy poderia ter me machucado.  VOCÊ – completou ela, não controlando mais as lágrimas que brotavam em seus olhos -  Não, não dormi com Malfoy, porque ELE não quis...