Suteki da Nee escrita por Yoruki Hiiragizawa


Capítulo 10
Queria não precisar de palavras


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: Sore ga, Ai Deshou, interpretado por Mikuni Shimokawa, abertura de Full Metal Panic ~ Fumoffu.



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 SUTEKI DA NEE
por Yoruki Hiiragizawa

 

Capítulo Dez
Queria não precisar de palavras

 

Sakura olhou pela janela do carro enquanto o colégio ficava para trás, junto a todos os olhos curiosos que estavam ali.

“Bem, lá se foi minha identidade secreta...” - Shaoran suspirou longamente, com um meio sorriso para Sakura. - “Puxa, mãe, a senhora bem que podia ter sido um pouco mais discreta...” - reclamou, observando a mulher que desviou o olhar da jovem que estava ao lado do filho para encará-lo.

“Sinto muito, mas não pude fazer nada. Não fui eu quem alugou o carro; você me conhece...” - ela o olhou ternamente. - “Eu queria ter alugado a limusine com banheira, mas não deixaram...” - completou ironicamente, vendo-o arregalar levemente os olhos.

Shaoran exalou fazendo uma expressão de assombro, mas relaxou em seguida, voltando-se para a amiga e vendo-a visivelmente desconfortável. Sorriu um pouco envergonhado lembrando que ainda não as havia apresentado.

“Desculpem a minha distração...” - começou, atraindo atenção de ambas. - “Mãe, conheça Sakura Kinomoto. Sakura, esta é minha mãe, Yelan Li...”.

“Muito prazer...” - a mulher sorriu, inclinando-se levemente para frente.

“Es-estou honrada em conhecê-la...” - Sakura respondeu evitando encarar a mãe do rapaz diretamente nos olhos. - “Agradeço por me deixar ser amiga de Shaoran...”.

“Muito pelo contrário, Srta. Kinomoto. Sou eu quem agradece por tomar conta de meu filho...” - divertia-se com o embaraço da garota e do próprio filho.

Sakura apenas sorriu, suspirando pesadamente enquanto um breve silêncio se instalou no interior do veículo, o que apenas aumentava a sensação de que era uma intrusa naquele momento.

“Quem está acompanhando a senhora?” - Shaoran indagou.

“Apenas Wei...” - a mulher disse simplesmente, fazendo-o abrir um sorriso enquanto abaixava o vidro que separava o motorista da parte traseira do carro.

“Wei!” - exclamou. - “Estou decepcionado... Por que não me cumprimentou imediatamente?” - indagou em tom autoritário.

“Perdoe-me, jovem Shaoran. Achei que gostaria de privacidade por haver uma visitante no carro...”.

“Está bem, sua atitude foi justificada...” - disse alegremente. - “Como tem passado?”.

“Muito bem, obrigado. E muito contente por encontrá-lo novamente e vê-lo saudável e alegre...”.

“Digo o mesmo...” - respondeu, voltando-se para Sakura. - “Wei foi meu tutor durante a infância. Devo a ele o fato de não ser mimado...” - constatou, fazendo a amiga rir.

“Prazer em conhecê-lo, Sr. Wei...”.

“O prazer é todo meu, senhorita. E pode me chamar apenas de Wei...” - o mordomo respondeu recebendo aquiescimento.

“Hã... Sakura...” - Shaoran a chamou em um tom de voz mais reservado. - “O que você acha de, já que Eriol e Tomoyo não comparecerão ao jantar hoje...” - ergueu uma sobrancelha, vendo-a arregalar os olhos.

Sakura se voltou para a mãe do rapaz, tendo se dado conta do que ele falava.

“Com licença, Senhora Li...” - Sakura começou, mordendo o lábio inferior. - “Eu sei que é um tanto repentino, que deve estar cansada da viagem e querendo descansar, mas eu ficaria muito feliz se aceitasse jantar em minha casa esta noite...” - concluiu o convite com o rosto levemente corado. Yelan sorriu, aceitando silenciosamente e viu os olhos verdes da garota começarem a brilhar de excitamento.

“Ela é realmente uma graça, Shaoran!” - declarou a mulher subitamente, encarando Sakura. - “Exatamente do jeitinho que você nos falou...”.

“MÃE!!” - ele a repreendeu com os olhos arregalados e o rosto de um vermelho intenso; a mulher não conseguia dizer qual dos dois jovens estava mais embaraçado.

O ambiente no carro, depois disso, foi de puro desconserto entre os dois jovens, que não conseguiam olhar um para o outro sem que seus rostos adquirissem uma tonalidade avermelhada, e só foi quebrado quando chegaram à residência dos Kinomoto.

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"Já cheguei!" - Sakura anunciou ao abrir a porta da casa.

"Seja bem vinda, filha!" - Fujitaka respondeu do andar superior. Sakura sorriu e voltou-se para os visitantes.

"Entrem, por favor!" - tomou a dianteira, indo até a sala. Passos foram ouvidos na escada.

"Sakura, você se lembra onde eu guardei meu diário de viagens? Não o encontro em..." - Fujitaka interrompeu a frase com os olhos levemente arregalados, vendo a mulher que estava ali. Shaoran imediatamente deu um passo à frente.

"Sr. Fujitaka, eu gostaria de apresentá-lo a minha mãe..." - o rapaz falou educadamente.

"Eu sou Yelan Li, muito prazer..." - ela se curvou e sorriu. - "Espero não estar incomodando...".

"De forma alguma, Sra. Li..." - cumprimentou-a. - "Eu sou Fujitaka Kinomoto. Bem vinda à nossa casa..." - disse, indicando-lhe o sofá, para que se sentasse. O que ela fez elegantemente, após agradecer. - "Não preciso dizer para se sentir em casa, não é mesmo, Shaoran?" - o homem olhou para o jovem e sorriu, vendo-o concordar.

"Papai, sobre o livro..." - Sakura começou pensativa. - "Talvez o senhor o tenha levado para o porão, junto com seus diários antigos. Eles estavam na mesma prateleira do escritório..." - viu o pai balançar positivamente a cabeça, em forma de agradecimento.

"Darei uma olhada lá embaixo mais tarde..." - disse apenas, encerrando temporariamente o assunto. Desviou os olhos para Shaoran que estava encostado na parede e depois voltou a encarar a filha. - "Eriol e Tomoyo não viriam com vocês?".

"Viriam, mas fomos surpreendidos por minha mãe no portão do colégio ao final das aulas e eles acharam melhor remarcar o compromisso..." - Shaoran suspirou, pensando que Eriol provavelmente havia antecipado o convite que foi estendido a sua mãe.

"E, como já estava quase tudo pronto, tomei a liberdade de convidar a Senhora Li..." - Sakura comentou esperando não ser repreendida mais tarde. - “Aliás, Shaoran, não tem problema deixar o Sr. Wei lá fora?”.

“Não, não!” - Shaoran riu divertido. - “Não se preocupe com isso...”.

“Mas...” - ela o encarou com incerteza.

“Não precisa se preocupar, Srta. Kinomoto...” - Yelan a encarava com um sorriso. - “Wei voltou ao apartamento para desfazer a bagagem e deverá preparar algo para jantar por lá.”.

“Se é assim, então... tudo bem!” - a jovem silenciou, encarando o pai.

“Muito bem! Já que seremos apenas nós quatro, deixem-me preparar um chá para antes da refeição. Com licença..." - Fujitaka disse educadamente, retirando-se para a cozinha. Sakura suspirou pesadamente e olhou para Yelan com um pequeno sorriso.

"Com licença, eu vou levar meu material para o quarto e trocar de roupa..." - explicou-se um pouco envergonhada.

"É claro, querida, não se preocupe..." - disse, vendo-a assentir e seguir para a porta. Ela parou e se voltou para Shaoran com um sorriso no rosto.

"Qualquer coisa que quiser é só falar com o Shaoran, ele poderá atendê-la..." - sorriu, saindo da sala e escapando de uma almofada que fora jogada em sua direção. - "É melhor você colocar isso no lugar, Shaoran..." - advertiu, com um tom de riso na voz, enquanto subia as escadas.

Shaoran caminhou até onde a almofada caíra e a pegou, voltando ao sofá para ajeitá-la. Reparou o olhar surpreso que a mãe tinha em seu rosto e sentou-se ao lado dela.

"É, eu sei..." - começou a conversar em chinês com a voz baixa, suspirando e olhando para a janela. - "Não foi assim que fui ensinado a me comportar na casa dos outros..." - ouviu a mãe rir e abriu um pequeno sorriso.

"Tem razão. Os anciões ficariam malucos se o vissem agindo dessa forma..." - ela comentou reparando nos detalhes da pequena e aconchegante sala. - "Você está irreconhecível, meu filho..." - disse encarando-o, após alguns segundos de silêncio.

"E isso é bom ou ruim?" - ele perguntou encarando-a. Yelan sorriu.

"Você é quem tem de me responder isso..." - disse suavemente. - "Como se sente?" - perguntou.

"Sinto-me bem..." - disse apenas.

"Então é bom..." - ela abriu um pequeno sorriso, vendo-o concordar. Shaoran abaixou a cabeça, ficando pensativo por um instante. - "Algum problema?" - ela perguntou, fazendo-o voltar a encará-la.

"Apenas estava imaginando o que a senhora veio fazer aqui..." - comentou, olhando para a porta da cozinha e completou, voltando a falar em japonês. - "Mas acho melhor deixarmos para conversar sobre isso mais tarde..." - levantou-se e auxiliou Fujitaka a arrumar a mesa de centro para servir o chá.

Da sala, ouviram o barulho de algo caindo pesadamente no chão do andar de cima. Shaoran se levantou imediatamente e correu em direção à escada, com Fujitaka logo atrás de si.

“Sakura! Está tudo bem?” - questionou preocupado e com o pé já no primeiro degrau. Yelan levantou-se e se encontrava em pé ao lado do sofá.

“Está tudo bem! Eu estou bem! Não se preocupe!” - ela respondeu, abrindo a porta do quarto e descendo rapidamente as escadas, resmungando algo incompreensível, enquanto amarrava o cabelo em um rabo-de-cavalo. Parou por um instante ao encontrar Shaoran a esperando ao pé da escada com uma expressão preocupada. - “O que foi?” - indagou com um sorriso amarelo.

“Que barulho todo foi aquele?”.

“Apenas o som dos meus cadernos caindo no chão...” - disse, passando por ele com a cabeça levemente abaixada.

“Seus cadernos... de poesia?” - ele a viu confirmar, desconfiado. - “Foram apenas seus cadernos que caíram?”.

“Sim...” - ela respondeu com a voz baixa.

“Então, porque você não olha para mim?” - segurou-a pelo braço, forçando-a a erguer o rosto. - “Sakura, você tem um galo na testa!” - repreendeu-a, puxando-a até o sofá da sala e forçando-a a se sentar.

“Mas não foi nada!” - ela começou, vendo-o ir até a cozinha e voltar no instante seguinte com uma bolsa de gelo que era guardada na geladeira, nas mãos.

“Eu não quero ouvir nada. Você não é confiável em situações como esta...” - ele rebateu, dando a bolsa para ela segurar contra a cabeça.

“O que foi isso?” - Yelan indagou, contendo uma risada diante da reação de seu filho com a japonesa.

“É que essa garota aqui tem a terrível mania de não querer preocupar ninguém, então é preciso ficar atento para saber se há algo errado...” - Shaoran falava, voltando a auxiliar Fujitaka com o chá.

“Você fala como se eu não pudesse tomar conta mim mesma...” - a garota bufou levemente, cruzando os braços.

“Do jeito irresponsável que você age, não podemos arriscar, nee Sakura...” - encarou-a.

“Isso é exagero! Eu me descuidei um pouco uma vez e você age como se eu fizesse isso o tempo todo...” - ela reclamou cansada.

“Você desmaiou durante a Educação Física, Sakura!” - foi a resposta indignada do chinês.

“Estou totalmente perdida nessa conversa...” - Yelan comentou com Fujitaka, uma pitada de curiosidade em sua voz.

"No ano passado eu participei de um congresso sobre civilizações pré-colombianas em Cuzco. No dia em que eu parti de viagem Sakura acordou um pouco indisposta e febril, mas não disse nada e também não demonstrou sinais de fraqueza para que eu não desistisse da conferência porque, como meu filho mais velho também estava fora da cidade, ela ficaria sozinha..." - Fujitaka explicou, fazendo Yelan olhar de forma velada para a jovem.

"Isso é muita irresponsabilidade, minha jovem..." - a mãe de Shaoran comentou, observando-a abrir um sorriso sem graça e olhar para Shaoran que a encarava com as sobrancelhas contraídas.

"Mas isso não foi tudo..." - o rapaz cruzou os braços. - "Apesar de estar se sentindo mal, essa cabeça-oca ainda foi assistir a aula e me deu um susto enorme quando desmaiou no meio da educação física..." - suspirou pesadamente, lembrando-se do que acontecera naquele dia. Fujitaka riu um pouco antes de falar de novo.

“Shaoran se encarregou de vigiar Sakura nos quatro dias que fiquei fora, para evitar que ela se esforçasse demais...” - o senhor Kinomoto suspirou, retirando os óculos do rosto por um instante e limpando as lentes. - “Sakura sempre se preocupou mais com os outros do que consigo mesma e isso não me deixava muito tranqüilo quando eu tinha que viajar..." - Fujitaka explicou, com um sorriso. - "Mas agora eu posso ficar mais descansado, sabendo que Shaoran estará por perto..." - viu a garota abaixar a cabeça corada.

“Vamos deixar isso pra lá e o tomar o chá antes que esfrie.” - Shaoran disse reparando o estado de embaraço de Sakura. Sentou-se ao lado dela no sofá, encarando-a com um sorriso terno e falou em tom de confidência. - “Sabe que eu fico chateado quando lembro disso porque me preocupo com você, não é?”.

“Eu sei...” - suspirou, olhando nos fundo dos olhos castanhos. - “Mas também não gosto quando você fica me lembrando disso...”.

“Desculpe. Prometo não fazer isso de novo, está bem?” - falou pegando uma das mãos de Sakura.

Os adultos observaram a interação dos filhos em silêncio; Fujitaka suspirou pesadamente antes de se voltar para a mãe de Shaoran.

“Com licença. Vou terminar de preparar o jantar...” - levantou-se.

“Eu o ajudarei!” - Sakura se prontificou.

“Não é necessário, meu bem. Faça companhia para a senhora Li...” - disse caminhando para a cozinha.

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“Estava delicioso!” - Shaoran elogiou ao terminar de comer. - “Mais uma vez, meus cumprimentos ao chef...” - encarou o senhor Kinomoto com um largo sorriso no rosto.

“Muito obrigado, meu jovem. Mas espero que tenha guardado lugar para a sobremesa...” - comentou vendo o rosto do rapaz se iluminar.

“Sempre tem espaço para sua torta de chocolate, Sr. Fujitaka...” - falou, fazendo todos dar risada.

“Parece-me que isso é algo bastante comum por aqui...” - a mãe do garoto observou.

“Ah, sim... Shaoran já é ‘hóspede permanente’ em nossa casa, não é mesmo?” - o homem comentou suavemente, antes de se levantar. - “Sakura, ajude-me a retirar a mesa, por favor...”.

“Ah,...! Sim!” - começou a limpar a mesa, mas parou ao ver Shaoran ajudando. - “Você não precisa fazer isso, sabia?” - encarou-o, inclinado levemente a cabeça para o lado.

“Não é questão de necessidade. Eu quero fazer isso...” - respondeu, passando pela garota e pegando também os pratos que ela segurava.

Sakura o acompanhou com os olhos, mantendo um terno sorriso no rosto, durante alguns segundos, antes de pegar os pratos para a sobremesa no armário.

“Sabe, Sr. Fujitaka...” - Li começou ao se sentar novamente à mesa. - “Eu ainda não sei o motivo pelo qual o senhor me chamou aqui hoje...”.

“Achei que não fosse perguntar...” - Fujitaka sorriu, vindo em direção à mesa com a torta nas mãos. - “Sakura...”.

“Já sei! Já sei! Pode deixar...” - ela se levantou num pulo, saindo da cozinha.

“Como você sabe, eu viajarei na próxima terça-feira por causa de uma expedição e...” - partia o bolo, mas parou por um instante para observar o rapaz que o encarava desconfiado. - “E por causa disso ficarei fora pelos próximos quarenta e cinco dias o que significa que não estarei presente no seu aniversário...”.

“Aqui está papai...” - Sakura retornou trazendo um pacote retangular embrulhado em papel de presente verde. Após entregar o embrulho para o pai se voltou para Shaoran que a encarava, balançando negativamente a cabeça.

“Senhor Fujitaka, n-não precisava se preocupar com isso. E-eu...”.

“Eu sei perfeitamente o que você vai dizer, mas não quero ouvir…” - o homem mais velho ergueu a mão, fazendo Shaoran interromper a frase. - “Apenas abra, mas com cuidado...” - entregou o presente ao jovem.

Shaoran segurou a caixa suspirando pesadamente e olhou para Sakura que se inclinava levemente sobre ele com um enorme sorriso, esperando que desembrulhasse o pacote. Com cuidado para não rasgar o papel, Li o abriu arregalando os olhos ao ter o conteúdo revelado.

“Minha nossa! Minha nossa!” - o chinês ergueu rapidamente o olhar para o homem à sua frente, descrente. - “I-isso... isso é...” - não precisou concluir a frase e já viu Fujitaka anuir sorridente. Mal podia acreditar no que tinha em mãos. Era um livro muito antigo com as páginas já amareladas, a capa era simples, de couro e na frente se lia, meio desgastadas, duas palavras: Howard Carter. - “Eu nem consigo acreditar...”.

“O que é?” - Yelan perguntou, sem entender o motivo de toda aquela euforia.

“É uma cópia do diário do descobridor da tumba de Tutankhamon sobre a expedição...” - entregou-o nas mãos da mãe. - “Só fizeram uma edição desse diário. É praticamente uma peça de coleção!”.

“Eu sabia que você ia gostar...” - Sakura se sentou ao lado de Shaoran.

“Eu adorei!” - encarou o pai da amiga. - “Muito obrigado, Sr. Fujitaka! Mas...” - começou meio envergonhado. - “Não precisava ter preparado tudo isso só para me entregar o presente. Poderia ter deixado com Sakura para...”.

“Sim, é verdade. Mas se eu fizesse isso não poderia ver a expressão do seu rosto ao abrir o presente... Isso foi impagável...” - respondeu deixando-o ainda mais encabulado. Voltou a servir a sobremesa.

“O senhor mima demais meu filho, Sr. Kinomoto...” - Yelan disse com riso na voz.

“Eu sinto muito, Sra. Li e espero que me perdoe se o tiver estragado...” - comentou brincando. - “É que meus filhos não se interessam tanto por esses assuntos...”.

“Ah, não é bem assim...” - Sakura tentou se defender. - “Eu gosto muito de ouvir as histórias que o senhor conta, mas não me sinto confortável para discuti-las como o Shaoran faz...”.

“Eu sei disso, meu bem. Eu não a estava criticando...” - Fujitaka a tranqüilizou. - “Agora, que tal deixar a conversa de lado para saborearmos a sobremesa?”.

“Seria ótimo! Porque do jeito que Shaoran está babando em cima do prato vamos acabar nos afogando...” - disse rindo.

“Ah, também não exagera, nee...” - o rapaz reclamou, ameaçando dar um peteleco na testa da amiga.

“Não ouse...” - ela pronunciou num tom ameaçador, estreitando os olhos.

“Ou você vai fazer o quê?” - desafiou-a aproximando um pouco mais a mão da fronte da garota.

Aceitando ao desafio, Sakura inclinou-se na direção do chinês, enquanto um pequeno sorriso se insinuava em seus lábios.

“Eu tenho uma caixa cheia de fotos suas durante o último festival que, tenho certeza, sua mãe adoraria ver...” - sussurrou, vendo-o arregalar os olhos e se afastar lentamente.

“Então, vamos comer?” - o rapaz perguntou, fingindo que o diálogo anterior com Sakura não acontecera.

A garota sorriu divertida com a reação de Li. Foi uma boa idéia lembrá-lo das fotos do festival em que apresentaram uma Bela Adormecida travestida. Nessa peça os papéis femininos foram feitos pelos garotos e os masculinos pelas garotas; Shaoran acabara sendo sorteado para interpretar a princesa.

‘Ele andava tão nervoso naquela época. Qualquer coisa o tirava do sério e ele estava tão nervoso na noite da apresentação... ’, ela pensou com um sorriso divertido, mas foi com um olhar levemente entristecido que Sakura levou o primeiro pedaço da torta à boca, lembrando-se da decepção que sentira por não ter conseguido fazer o papel de príncipe.

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Sakura saiu correndo de casa. Estava, para variar, atrasada, então foi com espanto que encontrou Shaoran na entrada da alameda que levava para o colégio.

“Bom dia, Sakurinha...” - ele sorriu assim que a garota parou à sua frente.

“Bom dia!” - ela respondeu ofegante. - “Que estranho encontrar você aqui nesse horário. Dormiu demais hoje, é?”.

“Na realidade, eu estava esperando por você...” - disse caminhando, com a amiga ao seu lado.

“Por mim? Por quê?” - ela indagou, fazendo-o encará-la de forma ofendida.

“E agora eu preciso de motivos para esperar minha melhor amiga? Isso é um absurdo!” - ele exclamou, recebendo um olhar desconfiado. - “Está bem, eu confesso. Estou um pouco receoso de aparecer no colégio sozinho hoje. Por causa do que aconteceu ontem...”.

“Eles certamente vão te atacar com dezenas de perguntas, não é?” - Sakura sorriu para ele de forma encorajadora.

“Ou isso ou... tochas, foices, machados e canivetes suíços...” - ele falou de forma séria, arrancando gargalhadas da garota.

“E você é algum tipo de monstro, por acaso?”.

“Ah, vai saber o que estão pensando de mim...”.

“Exagerado...” - ela disse, engatando seu braço no dele. - “Mas eu não posso ficar com você o tempo todo hoje. Tenho reunião com o comitê organizador da gincana...”.

“Pode deixar que eu dou um jeito. Só não queria estar sozinho ao entrar no colégio...” - ele falou, prendendo levemente a respiração, antes de passar pelo portão. Mas o movimento de alunos àquele horário era bem pequeno, visto que estavam em cima da hora. - “Se bem que, chegando nesse horário não há como me ‘atacarem’, nee?”.

“Ora, e ainda implica comigo...” - ela o soltou e apressou alguns passos deixando-o para trás por alguns instantes, até que sentiu seu braço ser segurado. Voltou-se para trás, encontrando os olhos castanhos do chinês, encarando-a com carinho.

“Sakura...” - chamou-a, sorrindo levemente. - “Obrigado!” - Depositou um breve beijo na testa dela, depois passou pela garota, indo para a sala na frente.

Sakura arregalou os olhos, tocando com a ponta dos dedos o local que Shaoran beijou. Aquele gesto fora totalmente inesperado...

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Shaoran estava sentado na sombra da árvore em que costumava passar os intervalos do almoço com Sakura. Comia lentamente um sanduíche que comprara na cantina enquanto lia um livro obrigatório para a disciplina de Literatura. Interrompeu a leitura quando notou uma sombra ser projetada em sua direção e ergueu a cabeça, esperando ver a amiga à sua frente, mas estava enganado.

“Li, eu gostaria de conversar com você...” - Yamazato falou num tom de voz completamente fora do normal. Até parecia estar insegura.

“Por que será que eu não estou surpreso em vê-la aqui?” - ele cruzou os braços, impaciente. - “O que você quer, Yamazato?”.

“Eu... eu acho que lhe devo desculpas e...” - ela falava, notando que a expressão do garoto não mostrava nenhuma mudança. - “Queria dizer que eu estava enganada sobre você...”.

“Oh! Jura?” - ele balançou ironicamente a cabeça rindo. - “Estranho você ter percebido isso em um momento tão oportuno!”.

“Não é bem assim...” - ela tentou argumentar, mas ele não daria a ela uma chance de se explicar.

“Sinceramente, Yamazato, eu não ligo para o que você pense...” - levantou-se ficando cara a cara com a garota que engoliu em seco. - “E não tenho tempo a perder com pessoas interesseiras...” - declarou, começando a se afastar da garota.

“Então sugiro que preste muita atenção na Kinomoto...” - ela adicionou rapidamente, fazendo-o parar. Não iria permitir que aquela conversa terminasse daquela forma. - “Porque me parece bastante óbvio que ela só esteve perto de você durante todo esse tempo por puro interesse!”.

“Você não faz a mínima idéia do que está falando...” – ao falar olhou para trás com uma expressão serena e um sorriso suspeito, encarando a garota diretamente nos olhos. Percebeu que um pouco de desespero tomava conta dos olhos da ruiva, dando de ombros continuou andando, com certa satisfação interior.

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“Nossa! Eu não fazia idéia do trabalho que dá organizar uma gincana...” - Sakura se espreguiçou, ao sair da sala de reuniões.

“É a primeira vez que você representa sua turma?” - Yoshida perguntou, acompanhando-a.

“É sim!” - ela suspirou. - “Eu geralmente evito me envolver com essas coisas. Não me sinto muito confortável...”.

“Ué, e por quê?” - ele estranhou. - “Pelo que pude perceber você tem um grande espírito de liderança... Apesar da sua timidez no começo...”.

“No começo?” - espantou-se. - “Eu não parei de tremer um segundo enquanto falava...”.

“É, mas você foi uma das que mais falou e deu idéias...” - Isamu riu, vendo-a ficar vermelha.

“Não tem graça...” - murmurou, abaixando a cabeça.

“Bem, de qualquer forma essa foi apenas a primeira reunião...” - ele sorriu para ela. - “O trabalho de verdade começa na semana que vem...”.

“Ai... nem quero pensar nisso...” - ela suspirou, sentindo-se um pouco cansada, mas feliz ao mesmo tempo.

Ficaram em silêncio por algum tempo. Sakura adquiriu uma expressão pensativa. Estava um pouco preocupada com Shaoran.

Yoshida a observava pelo canto dos olhos. Estava prestes a quebrar o silêncio para perguntar se estava tudo bem quando a viu sorrir e seu rosto se iluminar. Quando olhou para frente, viu Li vindo em sua direção.

“Ah, vejo que ainda está vivo...” - Sakura disse brincando. - “Foi perseguido por muitas hordas revoltas?”.

“Não... Na realidade todos estão me evitando...” - Shaoran comentou num misto de alívio e apreensão. - “Eu espero que isso tudo não afete meu relacionamento com o pessoal...”.

“Ah, não seja bobo...” - a garota disse de forma terna. Ele sorriu de volta e então olhou para Isamu.

“Como vai, Yoshida?” - cumprimentou-o de forma um pouco séria.

“Muito bem, obrigado...” - o rapaz disse e olhou para Sakura. - “Eu já vou! Vejo você na segunda-feira, Kinomoto...” - acenou para a garota e passou pelo chinês meneando a cabeça.

“O que ele quis dizer com aquilo?” - Shaoran inquiriu erguendo uma sobrancelha de forma desconfiada.

“Nada demais... Ele também está no comitê organizador da gincana...” - Sakura sorriu levemente.

“Ah...” - Li disse um pouco desconfiado. - “Mudando de assunto... Você deixou minha mãe bastante impressionada ontem...” - ele sorriu um pouco envergonhado.

“Ainda bem! Eu detestaria saber que ela não gosta de mim...” - ela suspirou levando uma mão ao peito.

“Como isso seria possível, Sakurinha?” - ele perguntou carinhosamente. - “Aliás, minha mãe exige dar um jantar de agradecimento para você e seu pai antes que ele vá viajar...” - falou em tom quase autoritário.

“Ora, mas não há necessidade de...”.

“Nem mais uma palavra, Senhorita Kinomoto...” - ele a interrompeu. - “Mamãe também disse que tem um assunto a tratar com seu pai e, embora não tenha me explicado o que seja, parece ser importante porque ela queria fazer o jantar hoje...”.

“Mas hoje será o jantar de oficialização do noivado de Touya...” - Sakura o encarou, contraindo levemente os ombros. - “E o papai vai viajar na terça-feira...”.

“Eu disse para minha mãe que vocês já tinham compromisso hoje. Por isso ela decidiu marcar a data para amanhã...” - ele sorriu para ela de lado.

“Nós íamos ao cinema com Eriol e Tomoyo amanhã...” - ela falou com cara de choro.

“Pois é... mas eu não consegui contar isso para ela...” - encarou a amiga com ironia.

“Ah... Está bem! Eu ligo para Tomoyo cancelando o cinema...” - ela suspirou pesadamente. - “Sinto muito Brad, mas não poderei vê-lo nesse final de semana... Que tristeza ter que deixar o Orlando esperando por mim... O que eu vou dizer ao meu adorado Eric?” - ela choramingava cabisbaixa.

“Sakura!” - Li a encarou incrédulo. - “O que é isso?”.

Isso o quê?” - ela ergueu uma sobrancelha. - “O que você esperava? O filme tem deuses gregos no elenco...”.

“Tanto faz, mas...” - ele interrompeu a frase, suspirando. Não havia motivo para tanto alarde, uma vez que Sakura era uma garota. ‘Não! Ela é uma mulher! E uma bela mulher...’, corrigiu-se, mas era difícil para ele pensar nela daquela maneira... Sakura sempre fora, simplesmente, Sakura.

Mas... o quê?” - ela perguntou, tirando-o de seus pensamentos.

“Mas uma mocinha não devia ficar falando esse tipo de coisa...” – falou com tom infantil, apertando de leve o nariz da garota e recebendo um olhar torto.

Sakura detestava quando falavam com ela como se ela fosse uma criança, especialmente quando esse tratamento vinha dele. Afastou-se da mão do chinês e acabou dando um passo em falso.

Quando viu a garota pender para trás, Shaoran puxou-a por um dos braços, segurando-a pela cintura. Fora um ato de puro reflexo.

Ela estava com os olhos arregalados e as maçãs de seu rosto adquiriram uma tonalidade rósea pelo súbito contato com o corpo de Shaoran e, também, pela forma estranha como ele a encarava. O rapaz abriu um sorriso terno olhando no fundo dos olhos esmeralda, o que fez o coração da garota acelerar.

“O-o que... o que foi?” – Sakura finalmente conseguiu encontrar as palavras.

“Eu nunca havia notado como você é frágil...” – ele disse, soltando-a e colocando uma mecha do cabelo da garota atrás da orelha.

“Como assim?” – ela perguntou, sendo atingida por uma onda de confusão.

“É que eu... eu sempre a vi como alguém tão forte...” – Li mantinha um olhar de admiração no rosto. A verdade é que não tinha certeza do que estava falando, mas algumas vezes sentia que alguma coisa mudava na amiga ou, talvez, fosse ele quem estivesse mudando? Observou a expressão um pouco atordoada de Sakura e decidiu mudar de assunto. – “Olha quem está vindo ali...” – falou, desviando o olhar para o corredor. – “Hei, Yamazaki, o que ainda faz por aqui?”.

“Sou responsável pelas tarefas de classe hoje...” – o rapaz disse sorridente. – “E vocês?”.

“Eu estava esperando a Sakura sair da reunião do comitê esportivo...” – Li disse, continuando o caminho ao lado do amigo em direção à saída. Sakura ficou parada no mesmo lugar, perdida em pensamentos até ouvir o chinês chamá-la para irem embora.

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Hikari tomava uma xícara de chá confortavelmente sentada em uma poltrona no quarto de Akio, enquanto a ruiva repetia pela centésima vez o desfecho da conversa que tivera com Shaoran Li no horário do almoço.

“Se ele pensa que vai se livrar de mim agindo dessa forma, está muito enganado...” – disse, bufando de raiva e jogando-se de costas sobre a cama.

“Eu nunca a vi tão nervosa por ter levado um fora...” – Akami, que estava sentada no batente de uma das janelas do quarto, comentou dando uma risadinha.

“Não me provoque, Akami!” – esbravejou, sentando-se e fuzilando a amiga com o olhar.

“Mas ela está certa, Akio...” – Hikari reforçou, colocando a xícara sobre a mesa de centro. – “Se eu não a conhecesse diria que está apaixonada pelo Li...”.

“Não seja ridícula!” – falou com voz de escárnio. – “É bem verdade que já fui dispensada algumas vezes antes, mas nunca com tanta grosseria...” – ela estava indignada. – “Eu não vou aceitar isso! Não vou mesmo!”.

“Se você diz...” – Hikari murmurou e deu de ombros, pegando novamente a xícara de chá.

Akio fingiu não ter ouvido o que a loira disse e voltou a se deitar, encarando o teto por segundos incontáveis. Akami olhava para o jardim da casa da ruiva através da janela e Hikari sorvia o chá tranqüilamente. As amigas da garota sabiam que era apenas uma questão de tempo até que ela recomeçasse com o discurso de vítima. E estavam certas.

“Quem ele pensa que é?” – Yamazato perguntou, mais para si do que para as garotas que a acompanhavam.

Akami suspirou pesadamente, balançando negativamente a cabeça.

“E então...” – começou, voltando-se para a amiga. – “O que você pretende fazer agora?”.

Yamazato se sentou, encarando a morena com um sorriso malicioso. Akami estava certa. Não era de seu feitio ficar reclamando sem tomar alguma atitude. Iria mostrar àquele chinesinho que cometera um grande erro ao fazer pouco caso dela.

“Ele vai se arrepender de ter me irritado...” – declarou decidida. “Vou fazê-lo rastejar aos meus pés. Custe o que custar...”.

Continua...

 

 

 


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Notas finais do capítulo

Aiya, minna!
O que eu posso falar sobre esse capítulo? Eu estou começando a pensar que, sem querer, o Shaoran-kun fez a Yamazato gamar nele... o.ò Será?? Aiaiai... Será que isso vai ser problema?? Hein? O que tem o Yoshida? O.o Ah... Eu não sei também o que devemos esperar dele... Vocês acham que ele vai causar problemas?? Alguma sugestão de como resolver a situação?? O_O Não!! Yamazato e Yoshida dentro de um carro que despenca de um barranco e explode não é opção... sinto muito!! XDD


Curiosidade: Logo depois de concordar em cancelar o cinema, Sakura se lamenta por não poder ver Brad Pitt (Aquiles), Orlando Bloom (Paris) e Eric Bana (Hector) - galãs de Tróia, filme que eles iriam assistir no cinema - para o caso de vocês terem se perguntado “quem são esses caras??”...


Sem muito mais o que comentar por hoje.

Beijinhos e até a próxima...Yoru

p.s.: A confusão quanto às postagens foi resultado de minhas tentativas de colocar música de fundo nos capítulo 9 e 10 também, o que, como devem ter percebido, não deu certo. Peço desculpas...



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